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Cuidando do cuidador: qual é o 

perfil de saúde de nossas merendeiras?

Cuidando al cuidador: ¿cuál es el perfil de salud de nuestras cocineras?

 

*Acadêmica bolsista PROBIC do Curso de Nutrição

do Centro Universitário Franciscano –UNIFRA, Santa Maria, RS.

**Acadêmica voluntária PROBIC do Curso de Nutrição do UNIFRA

****Professora Orientadora, Nutricionista, Mestre do Curso de Nutrição do UNIFRA

*****Professora Voluntária, Enfermeira, Mestre do Curso de Enfermagem do UNIFRA

******Professora Voluntária, Enfermeira, Doutora do Curso de Enfermagem do UNIFRA

*******Professora Voluntária, Farmacêutica

Doutora do Curso de Enfermagem do UNIFRA

(Brasil)

Viviane Ribas Miron*

Cláudia Luisa Stefanello**

Karen Mello de Mattos***

Juliana Silveira Colomé****

Regina Gema Santini Costenaro*****

Adriana Dornelles Carpes******

karenmattos@unifra.br

 

 

 

 

Resumo

          Atualmente a alimentação escolar possui melhor qualidade evoluindo do fornecimento de alimentos industrializados para uma refeição completa elaborada com alimentos in natura. Embora as merendeiras possuam papel fundamental nesse contexto, muitas não possuem uma percepção adequada quanto o que é alimentação saudável e saúde. Este trabalho teve por objetivo verificar a percepção sobre alimentação saudável e saúde de merendeiras atuantes em escolas localizadas em Santa Maria/RS. Foram utilizados dois instrumentos de pesquisa, sendo um questionário sobre a percepção em relação à alimentação saudável e uma anamnese composta por idade, estado civil, dietas alimentares efetuadas, número de refeições consumidas ao dia. A maioria afirmou já ter feito dieta, sendo o emagrecimento o principal motivo. Referindo-se ao consumo de doces, 75% consomem e as frituras são consumidas por 63% das merendeiras. Os achados deste estudo mostram a necessidade de um maior número de ações de educação nutricional junto a essas profissionais, de forma que venham a ter mais saúde e qualidade de vida.

          Palavras-chave: Alimentação, saúde, mulheres, merenda escolar.

 

Abstract

          Currently, school meals have evolved better supply of foods for a meal prepared with fresh food. While the cooks have key role in this context, many do not have a good perception about what is healthy eating. This study aimed to verify the perception of healthy eating and health for school cooks working in schools located in Santa Maria / RS. Were used two research instruments, a questionnaire on perceptions about healthy eating and an anamnesys composed of age, marital status, diets made, number of meals consumed daily. Most reported having dieted, weight loss is the main reason. Referring to the consumption of sweets, 75% consume and fries are consumed by 53% of the cooks eat this meals. The findings of these studies show the need for more nutritional education activities among these professionals, so that may have more health and quality of life.

          Keywords: Feeding. Health. Women. School feeding.

 

Trabalho de Projeto de Pesquisa PROBIC: Saúde e alimentação saudável na percepção

das merendeiras. Centro Universitário Franciscano, UNIFRA (Santa Maria, RS)

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    O papel das merendeiras no cenário escolar é de suma importância para que as atividades de promoção da saúde sejam desenvolvidas de forma adequada. Esta profissional é responsável pelo preparo da alimentação escolar, sendo que esta alimentação deve ser adequada a fim de suprir as necessidades nutricionais dos escolares. Porém, na maioria das escolas, a merendeira exerce funções além do preparo da alimentação escolar em virtude da escassez de recursos humanos e financeiros às vezes encontrados. Funções como treinar um novo recurso humano, repassando seus conhecimentos, muitas vezes adquiridos pela prática cotidiana, podem ser desenvolvidas pela merendeira conforme refere Carvalho e colaboradores (2008).

    Desta forma, esta profissional exerce uma grande jornada de trabalho, onde sofrem pressão e o desgaste físico, gerando, muitas vezes, ansiedade, a insatisfação com sua profissão e o desencadeamento de doenças (NUNES, 2000). Tendo em vista a importância do papel da merendeira no cenário escolar, a presente pesquisa tem por objetivo verificar a percepção das merendeiras em relação à alimentação saudável e saúde, bem como verificar os cuidados com a saúde.

Materiais e métodos

    O presente trabalho possuiu delineamento híbrido (quali-quantitativo), sendo o delineamento quantitativo de cunho transversal com coleta de dados primários sendo estes coletados especificadamente para o propósito do estudo (PEREIRA, 1995). O delineamento qualitativo ocorreu por meio de análise de conteúdo. A população alvo constituiu-se por mulheres merendeiras de ambas as faixas etárias atuantes nas escolas cadastradas ao Projeto Saúde nas Escolas localizadas em Santa Maria- RS.

    O critério de exclusão da presente pesquisa foi ser do gênero masculino, independente da faixa etária, bem como recusar-se a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas individuais para aplicação dos instrumentos de pesquisa ocorridas no período de março a dezembro de 2009 nas dependências das escolas.

    Foram utilizados dois instrumentos elaborados pelas próprias pesquisadoras: um Um questionário sobre a percepção em relação à saúde e alimentação saudável, que possuirá questões referentes ao tema cujas respostas serão discursivas e uma composta por: idade, histórico familiar, patologias presentes, medicamentos utilizados, tabagismo, alcoolismo, consultas médicas efetuadas, número e tempo de internações hospitalares, causa das internações hospitalares, dietas alimentares efetuadas, número de refeições consumidas ao dia e líquidos consumidos.

    A presente pesquisa consistiu em um PROBIC intitulado “Saúde e alimentação saudável na percepção das merendeiras” que foi vinculada ao Projeto de Extensão Saúde nas Escolas sendo este aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Franciscano–UNIFRA sob registro número 262.2007.2. A pesquisa foi aceita previamente pelas escolas e merendeiras participantes. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias de igual valor. Os dados quantitativos coletados foram armazenados em uma planilha no Programa Microsoft Excel versão 2007 e receberam tratamento estatístico descritivo simples com média e percentual. A análise de conteúdo foi efetuada por meio da categorização das respostas mais encontradas.

Resultados e discussões

    Participaram da pesquisa dezesseis merendeiras atuantes em seis escolas municipais de Santa Maria/RS. Dentre estas, 100% possuíam faixa etária entre 40-60 anos, com média de idade de 50,94 anos (±4,85), sendo 81,25% casadas e 18,75% viúvas.

Quando questionadas em relação aos cuidados com a saúde por meio de dietas conforme a figura 1, 63% já haviam feito dieta, sendo que destacaram-se que 40% fizeram dieta para fins estéticos e 20% em virtude de tratamento de patologias. As demais, 38% referiram não ter efetuado algum tipo de dieta.

Figura 1. Efetuação de dietas alimentares e suas causas por merendeiras. Santa Maria/RS, 2009

    Segundo Cordás (1993), o ideal de corpo perfeito preconizado pela sociedade leva as mulheres a uma insatisfação crônica com seus corpos, adotando dietas altamente restritivas e exercícios físicos extenuantes como forma de compensar as calorias ingeridas a mais. A insatisfação crônica com a imagem corporal tende a colocar a mulher em uma busca constante pela beleza (MINERBO et al, 1997).

    Quanto à quantidade de refeições diárias, 63% referiram fazer de 5-6 refeições e 38% referiram fazer somente três refeições (figura 2). Conforme Hann et al (2001), uma alimentação saudável associa-se a uma variedade de alimentos constituintes da dieta, como o aumento do consumo de frutas e outros vegetais, adequação na ingestão de fibra dietética e baixo consumo de gordura total e saturada. Em um estudo realizado por Figueiredo; Jaime; Monteiro (2008) com 1.267 mulheres com 18 anos ou mais de idade do município de São Paulo, observou-se um consumo diário de frutas de 51,7%.

Figura 2. Números de refeições diárias efetuadas por merendeiras. Santa Maria/RS, 2009

    O consumo de hortaliças para 75% das entrevistadas é diário, sendo semanal para 25%. Referindo-se ao consumo de doces, 75% consomem e 25% não consomem. Quanto ao consumo de frituras, 63% (n=10) das merendeiras afirmaram consumi-las semanalmente.

    De acordo com evidências apresentadas pelo Relatório Mundial da Saúde, a baixa ingestão de hortaliças é um dos dez principais fatores de risco que contribuem para a mortalidade no mundo. As frutas, legumes e verduras, como parte da alimentação diária, poderiam ajudar a prevenir as principais doenças crônicas não-transmissíveis como as doenças cardiovasculares e os diversos tipos de câncer (WHO, 2003).

    Ao analisarmos a presença de patologias, verificamos que 75% das participantes apresentavam alguma patologia e 25% da população avaliada não referiu sofrer alguma patologia. Dentre as patologias citadas pelas entrevistadas, a Hipertensão Arterial Sistêmica foi mencionada por 58,33% das participantes, onde quatro mencionaram a presença do histórico familiar para a doença e três possuem a patologia sem a presença de histórico familiar. A obesidade foi referida por 25% das participantes, sendo que duas citaram a presença da patologia em suas famílias e uma citou não possuí-lo. Diabetes mellitus e hipotireoidismo foram referidas por 8,33% das participantes respectivamente, que também referiram a ausência de histórico familiar. Em virtude das patologias encontradas, os medicamentos mais utilizados pelas merendeiras foram: 6,25% foram os hipoglicemiantes e 43,75% anti-hipertensivos.

    A prevalência de hipertensão associada à obesidade e a rotina de trabalho na produção de refeições que em sua maioria são efetuadas em pé, pode contribuir para o aparecimento de doenças venosas principalmente em mulheres devido às alterações hormonais (BERTOLDI; PROENCA, 2008).

    Em relação aos cuidados com a saúde ao observamos a tabela 1, verificamos que 50% das participantes já foram internadas em hospitais e 50% não foram internadas. A principal causa de internação foi para a realização de procedimentos cirúrgicos (como colecistectomia), com o tempo de duração prevalente de menos de uma semana para 37,5%. Das entrevistadas 6,25% são tabagistas e o não consumo de álcool foi referido por 100%. No que se refere à realização de consultas médicas, 43,75% afirmaram realizar pelo menos uma consulta médica ao ano, 31,25% de duas a três e 25% afirmaram realizar mais de três consultas médicas ao ano.

Tabela 1. Cuidados com a saúde efetuado pelas merendeiras. Santa Maria/RS, 2009

    O uso indiscriminado e globalizado do tabaco na sociedade contemporânea é responsável por quase cinco milhões de mortes anuais em todo o planeta. Estima-se em 500 mil as mortes anuais do sexo feminino em decorrência do tabagismo, sendo que esta tendência encontra-se em ascensão em todos os países, principalmente entre as mulheres jovens (INCA, 2001).

    Ao serem questionadas sobre “O que é uma alimentação saudável?” as repostas obtidas foram: para 50% das entrevistadas é “Comer corretamente”, para 18,75%, a alimentação saudável é: “Importante para ter saúde” e “Saber comer” para 6,25% seria a definição correta do que é uma alimentação saudável. Não souberam responder a este questionamento 25% das participantes. Apesar das respostas obtidas, observousse que as entrevistadas souberam efetuar uma definição geral sobre o conceito, não apresentando conhecimento e/ou opinião sobre quais seriam os alimentos indicados para uma alimentação saudável, bem como suas as quantidades recomendadas. Fato este refletido no consumo alimentar inadequado destas mulheres, onde o consumo de doces e frituras prevaleceu.

    A saúde na percepção das merendeiras consiste em: “Ter uma boa alimentação e praticar exercícios” 37,5%; “Sentir-se bem” para 18,75%; “É vida” para 12,5%; “É ter qualidade de vida” para 12,5% e saúde “Começa pela boca” 6,25% não souberam responder 12,5%. Observasse que para as entrevistadas a saúde consiste principalmente por alimentação saudável e prática de atividade física. Nenhuma das participantes referiu o conceito de que saúde é o completo bem-estar físico, social e mental.

Conclusão

    Os resultados obtidos com a presente pesquisa mostram que apesar das merendeiras efetuarem o número adequado de refeições ao dia, as mesmas possuem uma qualidade nutricional inadequada, com o consumo excessivo de doces e frituras, o que refletiu na prevalência das doenças encontradas, como a hipertensão arterial. Diante do exposto, torna-se necessário aprofundar a discussão sobre o papel de uma alimentação adequada na promoção da saúde. Sugere-se a realização de um maior número de ações de educação em saúde e nutricional junto a essas profissionais, de forma que venham a ter mais qualidade de vida.

Referencias bibliográficas

  • BERTOLDI, Clarissa Medeiros da Luz; PROENCA, Rossana Pacheco da Costa. Doença venosa e sua relação com as condições de trabalho no setor de produção de refeições. Revista de Nutrição,  Campinas,  v. 21,  n. 4, ago.  2008.

  • CARVALHO, Alice Teles et al. Programa de alimentação escolar no município de João Pessoa – PB, Brasil: as merendeiras em foco. Interface (Botucatu),  Botucatu,  v. 12,  n. 27, p 823-834,  2008.  

  • CORDÁS, Táki Athanássios. Fome de cão. Quando o medo de ficar gordo vira doença: anorexia, bulimia e obesidade. São Paulo : Maltese, 1993. p.103-110.  

  • FIGUEIREDO, Iramaia Campos Ribeiro; JAIME, Patricia Constante; MONTEIRO, Carlos Augusto. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.42, n.5, 2008.

  • HANNAH, Clayton S. et al. Validation of the Healthy Eating Index with use of plasma biomarkers in a clinical sample of women. The American Journal of Clinical Nutrition, v.74, n.4, p 479-486, 2001.

  • INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Abordagem e tratamento do fumante - consenso 2001. Rio de Janeiro: Inca; 2001.   

  • MINERBO, Marion et al. Beleza feminina: um tema da clínica contemporânea. Revista Brasileira de Psicanálise, São Paulo, v.31, n.3, p.809, 1997

  • NUNES, Bernardete de Oliveira. O sentido do trabalho para merendeiras e serventes em situação de readaptação nas escolas públicas do Rio de Janeiro. 2000. Dissertação (Mestrado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. 2000.

  • PEREIRA, Maurício Gomes. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan; 1995. 583 p.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health Report 2003: Shaping the future Geneva: WHO, 2003.

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