efdeportes.com

Órtese lombar e dos seus efeitos sobre a atividade 

eletromiográfica dos músculos eretores da coluna

 após tarefa de levantamento de carga: estudo piloto

Órtesis lumbar y sus efectos sobre la actividad electromiográfica de los 

músculos extensores de la columna después de levantar una carga: un estudio piloto

Lumbar orthisis and its effects on the EMG activity of erector spine muscle after load lifting task: pilot study

 

*Escola Educação Física e Esportes. Universidade de São Paulo, São Paulo

**Grupo de Pesquisa em Treinamento de Força

Centro Universitário Hermínio Ometto, UNIARARAS, Araras

***Grupo de Pesquisa em Movimento Humano: Implicações

no Aparelho Locomotor e Cardiorrespiratório

Centro Universitário Hermínio Ometto, UNIARARAS, Araras

****Departamento de Ciências Fisiológicas

Laboratório de Fisiologia do Exercício

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos

Matheus Guidugli de Oliveira* ** ***

Caio Guidugli de Oliveira** ***

Denise Chiaradia** ***

Ana Paula de Aguiar** ***

Paulo Henrique Silva Marquez de Azevedo** ****

João Carlos de Oliveira** *** ****

joaooliveira@linkway.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A dor lombar está associada epidemiológica as exigências ergonômicas e a fadiga dos músculos extensores da coluna. O uso do cinto elástico lombar (CEL) tem sido sugerido para minimizar tal problema. Assim objetivamos verificar o efeito do CEL sobre a atividade eletromiográfica (EMG) dos músculos multifídeo (MU), iliocostal (IL) e longuíssimo do tórax (LT) e a percepção de dor (escala analógica visual [EVA]). Para isso um único sujeito saudável, sem histórico de lombalgia nos últimos 90 dias foi submetido a uma tarefa de levantamento de carga (5 séries até a exaustão voluntária) com peso equivalente a 30% de sua massa corporal em seis sessões (3 com cinto [CC] e 3 sem cinto [SC]) randomizadas. A EMG e o escore da EVA foram registrados antes e após a tarefa. A interação no desenho experimento foi verificada pelo Anova de 3-Fatores para medidas repetidas. Houve decréscimo da EMG e interação significante (p < 0,05) entre os tratamentos (pré-fadiga, pós-fadiga) vs condição (sem cinto [SC], com cinto [CC]) para o MU. Para IL e LT houve aumento da EMG e interação significante (p < 0,05) entre os tratamentos (pré-fadiga, pós-fadiga) vs condição (sem cinto [SC], com cinto [CC]). Não houve interação significante (p > 0,05) entre os ENSAIOS para nenhum dos músculos estudados. O escore da EVA apresentou decréscimo em relação aos ensaios SC. Os dados sugerem que o CEL alterou a co-atividade dos músculos iliocostal e longíssimo do tórax e que possivelmente isto promova um efeito protetor sobre o músculo multifídeo.

          Unitermos: Dor lombar. EVA. RMS.

 

Abstract

          Low back pain is associated epidemiological requirements ergonomic and fatigue of the extensor muscles of the spine. The use of elastic lumbar belt (ELB) has been suggested to minimize this problem. So we verified the effect of ELB on the electromyography activity (EMG) of muscle multifídeo (MU), iliocostalis (IL), and longissimus thoracis (LT) and the perception of pain (visual analog scale [VAS]). A single healthy subject with no history of back pain over the past 90 days was subjected to a load lifting task (five sets until volitional exhaustion) with weight equivalent to 30% of their body weight in six trials randomized (3 trials with belt [WB] and 3 trials unbelted [UB]). The EMG and VAS scores were recorded before and after the task. The interaction in the experimental design was verified by ANOVA three-way for repeated measures. There was a decrease of EMG and significant interaction (p < 0.05) between TREATMENTS (pre-fatigue, post-fatigue) vs. CONDITION (WB, UB) to the MU. For IL and LT increased EMG and significant interaction (p < 0.05) between TREATMENTS vs. CONDITION. There was no significant interaction (p > 0.05) between TRIALS to any of the muscle. There was decrease in VAS score in the WB trials against the UB. The data suggest that the ELB has changed the co-activity of iliocostalis and longissimus thoracis that perhaps this will promote a protective effect on muscle multifídeo.

          Keywords: LBP. VAS. RMS.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

1 / 1

Introdução

    Por serem de caráter repetitivo as atividades laborais acabam causando estresse nos músculos envolvidos em tais tarefas1. Torna-se então inevitável o desencadeamento da dor aguda e posteriormente crônica2. A imposição de posturas que exigem tensões contínuas resultante de algumas atividades ocupacionais pode desencadear a LBP, fruto de espasmos musculares com ou sem o agravo da compressão dos nervos espinhais ou ainda por anormalidades dos discos vertebrais, que podem ter a sua origem na disfunção dos músculos abdominais, eretores da coluna e posteriores da coxa1-6.

    Sabidamente a dor crônica da região lombar (LBP, abrev. do inglês low-back pain) tem sido uma das principais causas do absenteísmo-doença2,7-11. Estima-se que esta queixa seja a doença mais cara da vida adulta relacionada ao trabalho11. Inúmeras tentativas de manejo na posição de execução das atividades laborais do tipo tarefas de levantamento de carga (TLC) têm sido propostas a fim de minimizar tal problema11-16.


    A órtese para proteção dos músculos da região lombar, ou simplesmente cinto elástico lombar (CEL) tem sido alvo de pesquisas a fim de determinar o seu efeito sobre a região lombar durante ou após a TLC12-17. Embora os resultados sejam controversos, recentemente pesquisas tem apontado que possivelmente o CEL pode fornecer um efeito protetor sobre a região lombar e assim evitar ou minimizar o surgimento da dor aguda e posteriormente crônica. Em adição estudos que buscaram identificar as causas da fadiga muscular durante as atividades laborais tem demonstrado que existe uma clara associação epidemiologia entre as exigências ergonômicas e os transtornos músculo-esqueléticos17,18 e que fadiga dos músculos extensores da coluna pode representar um fator de risco na para o desenvolvimento da LBP6,19.

    Partindo dessa premissa é possível que o uso do cinto lombar durante a tarefa de levantamento de carga de mesma intensidade em dias diferentes possa reduzir a sobrecarga espinhal e alterando assim a atividade eletromigráfica (EMG) dos músculos eretores da coluna ou mesmo modificar a responda da mesma, quando comparada a tarefa de levantamento de carga com o cinto lombar e sem o mesmo. Deste modo o objetivo desta investigação foi verificar o efeito do CEL na atividade EMG dos músculos multifídeo (MU), iliocostal (IL) e longuíssimo do tórax (LT) bilateralmente, bem como avaliar a percepção de dor por meio da escala analógica visual (EVA)20 imediatamente após a TCL.

Materiais e métodos

Sujeito e procedimentos

    Para testar a hipótese neste ensaio, um único sujeito jovem (19 anos), 172 cm de altura, massa corporal de 65 kg, que não exercia nenhum tido de atividade laboral semelhante à testada nesta investigação e sem histórico de dores lombares nos últimos 3 meses, foi selecionado e submetido a seis ensaios (três com o CL [CC] e três sem o CL [SC]) de forma randomizada, com intervalos mínimo entre os mesmos de 7 e no máximo 10 dias. O critério usado para a determinação do intervalo mínimo e máximo entre as sessões foi o escore igual a zero determinado pela EVA20.

Eletromiografia

    Para o registro da atividade EMG foi utilizado um amplificador de oito canais e conversor analógico-digital – CAD 12/32 (EMG System do Brasil) com resolução de 12 bits, interfaciado com um computador e programa de aquisição de dados (AqDados 5.0), com freqüência de amostragem de 1000 Hz e a largura de faixa determinada com um passa banda de 20 a 500 Hz; eletrodos ativos diferenciais de superfície (EMG System do Brasil), com pré-amplificação total de 1000 vezes e eletrodos adesivos (Meditrace). A quantificação do sinal EMG foi feita pelo método da raiz quadrática média (“root mean square” – RMS)21 em janelas de 5s cada, iniciando-se o janelamente em 0,5s. Determinado os valores do RMS de cada janela, estes foram normalizados21 pelos valores do sinal obtidos da linha de base. Os eletrodos foram posicionados a 6 cm do espaço intervertebral de L2-L3 para os músculos iliocostal direito e esquerdo (IL-D e IL-E)19, a 3 cm do espaço intervertebral de L4-L5 para os músculos Multifidio (MU-D e MU-E)19 e sobre os músculos longuíssimo do tórax direito (LT-D) e esquerdo (LT-E) no nível da vértebra L1 e 3 cm lateralmente23. Para garantir a mesma colocação dos eletrodos em todos os ensaios, foram determinados os pontos motores dos músculos MU, IL e LT utilizando corrente de estimulação elétrica21. Após essa determinação, os eletrodos foram conectados à pele do sujeito por meio dos eletrodos adesivos de superfície, com uma distância de centro a centro de 2 cm, e fixados com esparadrapo transpore. A coleta da EMG foi realizada na posição fundamental, sem o uso do CEL durante um minuto de maneira ininterrupta antes e imediatamente após a TLC, sempre no período vespertino compreendido entre as 14 e 16 h, sendo que a TLC foi elaborada a fim de simular as atividades laborais, guardada as devidas proporções, e principalmente induzir a fadiga dos músculos investigados.

Tarefa de levantamento de carga

    Para esta investigação foi utilizado um cinto lombar elástico no tamanho PP (103 cm x 16-22 cm) de produção comercial da B&S Equipamentos de Segurança Ltda (SP–Br), com o corpo fabricado em tecido 100% algodão e o suporte elástico em 77% de poliéster e 23% de elastodieno, estruturado com duas barbatanas (14 cm x 1,5 cm e 16,5 x 1,5 cm, respectivamente) em nylon flexível em cada lateral e uma placa de borracha semi-rígida de EVA (12,5 cm x 9 cm) na parte traseira. Já para a TLC foi elaborada uma caixa em madeira (45 x 40 x 30 cm) de massa igual 50N com alças vazadas em ambos os lados para a preensão ativa na forma de gancho. A carga da TCL foi de 30% da massa corporal do sujeito (195N), sendo este trabalho classificado como moderado24. A caixa para o levantamento foi posicionada no solo imediatamente a frente do sujeito a uma distância de 60 cm a partir do encontro entre os planos sagital e frontal até a borda da caixa. O sujeito era orientado a executar o movimento de flexo-extensão da coluna, movendo-se exclusivamente no plano sagital. A fim de atingir os objetivos desta investigação o esquema de levantamento foi padronizado de forma que o sujeito realizasse o maior número de repetições até a exaustão voluntária em cada série. O ritmo de cada ciclo de movimento (excêntrico-concêntrico) foi aproximadamente de 3 segundo e controlado por comandos verbais. Foi estabelecido um intervalo de 1 minuto entre cada série onde o sujeito ficava na posição sentado. O final de cada série de levantamento foi determinado pela exaustão voluntária, incapacidade do sujeito em realizar a amplitude total sugerida ou ainda por vontade própria do sujeito em não continuar os levantamentos. Não foi permitido ao sujeito a flexão de cotovelo durante o TLC, devendo o mesmo mantê-lo em posição neutra.

Análise estatística

    Os resultados são apresentados em valores médios ± desvio padrão (X± DP) e adicionalmente o intervalo de confiança (IC) de ± 95% ou seja, ±1.96. A interação entre os TRATAMENTOS (pré e pós Fadiga), CONDIÇÕES (CC e SC) e os ENSAIOS (1º, 2º, 3 º) foi averiguada pelo teste ANOVA 3-Way para medidas repetidas. Os dados se mostraram normais e homogêneos. O índice de significância adotado para esta investigação foi de 5%.

Resultados

    Os valores X ± DP e ± IC da RMSnu para o músculo MUb nas diferentes condições estudadas são apresentados sumariamente na Tabela 01. O ANOVA 3-Way (2 tratamento, 2 condições e 3 ensaios) evidenciou haver interação (F[4, 130] = 4.5493, p = 0.00180) entre os tratamentos (pré-fadiga, pós-fadiga) vs condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]). Adicionalmente o ANOVA evidenciou interação (F[2, 65] = 4.5011, p = 0.01476) na condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]). Contudo não houve interação entre no ENSAIO (F[4, 130] = 0.22191, p = 0.92579).

Tabela 1. Valores X±DP e ± IC (1,96) do RMSnu verificados entre os TRATAMENTOS (pré e pós-fadiga), CONDIÇÕES (CC e SC) e ENSAIOS (1º, 2º e 3º) para o músculo multifídeo.

 

 

1º Ensaio

2º Ensaio

3º Ensaio

SC

CC

SC

CC

SC

CC

Pré-Fadiga

0,97

-0,86;+1,07

1,05

-0,97;+1,14

1,00

+1,11; -0,89

0.97

+1,09; -0,88

1,00

+1,10; - 0,90

0,97

+1,07; -0,87

Pós-Fadiga

1,03

-0,87;+1,19

1,03

-0,87;+1,19

1,08

+1,25; - 0,92

1,00

+1,16; -0,83

1,24

+1,40; -1,07

1,00

+1,17; -0,84

X±DP = média±desvio padrão. ± IC = intervalo de confiança. RMSnu = root mean square normalizado.

 

Figura 1. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do multifídeo durante a TLC e EVA (quadrado negro) nos três

 diferente ensaios (CC e SC).* Interação significante entre os tratamentos (pré-fadiga, pós-fadiga) vs condição (sem sinto [SC], com cinto [CC])

    Para o músculo ILb as análises estatísticas dos valores X ± DP e ± IC (TABELA 2) evidenciaram apenas interação significante (F[1,66] = 5.4829, p = 0,0223) entre os TRATAMENTOS (pré-fadiga, pós-fadiga), contudo não houve interação para TRATAMENTO vs CONDIÇAO vs ENSAIOS ([F = 2, 66] = 0,78460, p = 0,46051).

Tabela 2. Valores X±DP e ± IC (1,96) do RMSnu verificados entre os TRATAMENTOS (pré e pós-fadiga), CONDIÇÕES (CC e SC) e ENSAIOS (1º, 2º e 3º) para o músculo iliocosatal

1º Ensaio

2º Ensaio

3º Ensaio

SC

CC

SC

CC

SC

CC

Pré-Fadiga

X±DP

±IC

0,97±0,02

+1,09; -0,93

0,86±0,02

+0,90; -0,81

0,90±0.06

0,95; -0,86

0,92±0,05

+0,96; -0,87

0,93±0,16

+0,97; - 0,88

0,91±0,05

+0,96; -0,87

Pós-Fadiga

1,10±0,36

+1,33; -0,87

0,93±0,35

+1,14; -0,70

0,95±0,25

+1,11; - 0,79

1,03±0,33

+1,24; -0,82

0,93±0,06

+0,98; -0,90

1,10±0,44

+1,38; -0,82

X±DP = média±desvio padrão. ± IC = intervalo de confiança. RMSnu = root mean square normalizado

 

Figura 2. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do Iliocostal durante a TLC e EVA 

(quadrado negro) nos três diferente ensaios (CC e SC). * interação significante entre os TRATAMENTOS (pré-fadiga, pós-fadiga)

    Já para o músculo LTb a análise dos valores X ± DP (TABELA 3) evidenciaram interação significante (F[1,66] = 21.521, p = 0,00003) entre as condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]) e entre os ENSAIOS vs CONDIÇÃO (F[2,66] = 3.7635, p = 0,02833) e entre os TRATAMENTOS (F[1,66] = 6.62447, p = 0,01231). Entretanto não houve interação significante (F[2,66] = 1,1320, p = 0,32855) entre TRATAMENTOS vs CONDIÇÕES vs ENSAIOS.

    As figuras 1, 2 e 3 ilustram as respostas do RMSnu e suas interações nos três diferentes músculos investigados (e.g. MU, IL e LT, respectivamente).

Tabela 3. Valores X±DP e ± IC (1,96) do RMSnu verificados entre os TRATAMENTOS (pré e pós-fadiga), 

CONDIÇÕES (CC e SC) e ENSAIOS (1º, 2º e 3º) para o músculo longuíssimo do tórax

  

1º Ensaio

2º Ensaio

3º Ensaio

SC

CC

SC

CC

SC

CC

Pré-Fadiga

0,98±0,03

+0,99; -0,96

0,74±0.02

+0,76; -0,73

0,80±0.10

0,88; -0,74

0,79±0,13

+0,87; -0,70

0,87±0,11

+0.94; - 0,80

0,77±0,11

+0,82; - 0,69

Pós-Fadiga

1,04±0,29

+1,23; -0,86

0,76±0,28

+.94; -0,58

0,98±0,25

+1,13; - 0,82

0,88±0,13

+0,91; -0,75

0,90±024

+1,05; -0,74

0,86±0,11

+0,94; -0,79

X±DP = média±desvio padrão. ± IC = intervalo de confiança. RMSnu = root mean square normalizado

Figura 3. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do Longuíssimo do Tórax durante a TLC e EVA (quadrado negro) nos três diferente

 ensaios (CC e SC). * interação significante entre as condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]), entre os **ENSAIOS vs CONDIÇÃO e entre ***TRATAMENTOS

Discussão

    O principal achado desta investigação foi ter observado um decréscimo da EMG, aqui verificada pelo RMS do MU pós-fadiga na condição CC quando comparada a condição SC, sendo que o RMS do IL e LT apresentou um aumento na mesma condição. Este achado visualizado nas Figuras 1, 2 e 3 (MU, IL e LT, respectivamente) sugere que houve uma alteração no padrão de co-ativação dos IL e LT na situação com CC em relação a SC. Adicionalmente a dor percebida pós esforço exaustivo, aqui avaliada pelos escores determinados pela EVA, se mostraram menores na condição CC em relação a SC. Sabemos que após episódios de dor lombar e mesmo após da regressão da sintomatologia, a forte evidencias de que ocorra uma rápida atrofia muscular dos eretores da coluna5,6.

    Outro dado importante a ser considerado nesta investigação é que o RMS permaneceu inalterado, sob a ótica do método estatístico (p = 0.92579), sugerindo que o voluntário apresentava condições semelhantes nos diferentes ensaios (e.g. 1º...6º ensaio).

    Supostamente a cinta lombar aumenta a rigidez do tronco e assim, reduz a exigência de força muscular, aumentando desta forma à eficácia da pressão abdominal, o que resultaria em diminuição nas resultantes de força sobre as unidades musculares dorsais, além de restringir a mobilidade do tronco durante a tarefa de levantamento da carga24. Respaldados nas reflexões de Chaffin, Anderson, Martin24, é possível especularmos, ainda que de forma simplória, que a postura típica de levantamento de peso adotada nesta investigação (e.g. flexão-extensão da coluna sem flexão dos joelhos) para uma carga de 195N (19,5 kg) gera aproximadamente um pico de força de compressão em L5/S1 de aproximadamente 2600N (aprox. de 260 Kg). Ao assumirmos que a tensão gerada pelo aperto da cinta elástica é de aproximadamente 90N isto resultaria em uma tensão aproximada de 37N.m (N. por metro) em um momento de flexão passiva e admitindo-se que os tecidos moles abdominais saudáveis são perfeitamente capazes de suportar tais grandezas de força25, para esta investigação a redução nos momentos de flexão e nas forças estimadas seria entorno de aproximadamente 12%.

    Esta redução (e.g. de 12%) já justificaria o decréscimo significante do RMS do MU na condição CC. Em adição, tem sido reportado que a amplitude da EMG (e.g. RMS) pode refletir tanto a aumento do padrão de recrutamento das unidades motoras, verificado pelo aumento relativo (e.g. normalização) ou absoluto da RMS como identificar o início da fadiga eletromigráfica, percebido pelo decréscimo da RMS em função do tempo em uma função linear significativa19,26-29.

    Paradoxalmente, a possível instabilidade decorrente da fadiga muscular em virtude da tarefa exaustiva agregada a uma redução dos momentos de flexão sobre as estruturas músculo-articulares da coluna (precisamente entre S1/L5-L4, em virtude do uso do CEL), tenha gerado um padrão de co-ativação dos músculos acessórios desse momento de força (e.g. IL e LT) o que poderia resultar a longo e também em curto prazo em aumento da resistência, sem necessariamente evidenciar um aumento da força e da potência muscular, traduzindo esses ganhos em uma maior estabilidade e integridade dos músculos responsáveis pela manutenção da postura da coluna30,31, além da diminuição percebida da dor após o esforço exaustivo com já demonstrado em outras investigações2,31.

    Em um estudo de follow-up Holmström e Morris30 acompanharam 36 trabalhadores da construção civil (12 usando o CEL e 24 controles) durante 4 meses consecutivos e avaliaram a força e a endurance da região lombar ao final do 1 e 2 meses e após 2 meses do termino do estudos e verificaram que o grupo que fez uso do CEL aumentou em 12 e 29% a forca e a endurance muscular respectivamente contra 13% de endurance do grupo controle e que não houve decréscimo da força e da endurance dos músculos do tronco durante o período de follow-up.

    Mais recentemente, Favolle-Minon e Calmels31 evidenciaram que o uso do CEL por um curto período de tempo (21 dias) embora não tenha alterado significativamente a força isocinética e nem isométrica dos extensores do tronco, alterou significativamente (p < 0,033) a endurance muscular dos extensores do tronco para o grupo que usou o CEL. Adicionalmente os pesquisadores sugerem que a prescrição individualizada da órtese elástica lombar dependerá do potencial da força muscular de cada sujeito.

    Contrariamente aos achados que apontam os efeitos positivo do uso da órtese lombar30,31,33,34, Von Poppel35 concluiu após um ensaio clínico randomizado com grupo controle, suporte + instrução, somente instrução e somente ortese lombar, que embora houvesse uma tendência da sintomatologia da dor lombar em subgrupo que já apresentava a dor lombar antes do inicio do estudo, os dados não suportavam a hipótese dos benefícios do CEL nas tarefas ergonômicas. Este achado se junta outros de igual desfecho1,17,36.

Conclusão

    Os achados suportam a hipótese que o cinto elástico lombar possa reduzir a sobrecarga tensional sobre os músculos eretores da coluna e conferir um efeito protetor agudo, sobretudo sobre o músculo multifídeo. Adicionalmente, os dados indicam haver uma mudança no padrão de co-ativação dos músculos iliocostal e longuíssimo do tórax. Contudo há magnitude e os efeitos em longo prazo desta alteração no padrão de co-ativação muscular devem ser futuramente mais bem investigados por ensaios clínicos randomizados.

Referencias

  1. Marras WS, Jorgensen MJ, Davis KG. Effect of foot movement and an elastic lumbar back support on spinal loading during free-dynamic symmetric and asymmetric lifting exertions. Ergonomics 2000;43(5):653-68.

  2. Fernandez RCP, Carvalho FM, Assunção AA, Silvany Neto AM. Interação entre as demandas físicas e psicossociais na ocorrência de lombalgia. Rev Saúde Publica 2009; 43(2):236-34.

  3. Nicolaisen T, Jorgensen K. Trunk strength, back muscle endurance and low back trouble. Scand J Rehabil Med 1985;17:121-7.

  4. Hultman G, Nordin M, Saraste H, Ohlsen H. Body composition, endurance,strength, cross-sectional area, and density of mm erector spinae in men with and without low back pain. J Spinal Disord 1993;6: 114-23.

  5. Hides JA, Stokes MJ, Jull GA, Cooper DH. Evidence of multifidus wasting ipsilateral to symptoms in patients with acute/subacute low back pain. Spine 1994; 19:165-72.

  6. Hides JA, Richardson CA, Jull GA. Multifidus recovery is not automatic after resolution of acute, first episode low back pain. Spine 1996;21:2763-9.

  7. Bernard BP, editor. Musculoskeletal disorders and workplace factors: a critical review of epidemiologic evidence for work related musculoskeletal disorders of the neck, upper extremity, and low back. Cincinnati, Oh: National Institute for Occupational Safety and Health; 1997. (NIOSH publication, 97-141).

  8. National Research Council; Institute of Medicine. Musculoskeletal disorders and the workplace: low back and upper extremities. Panel on musculoskeletal disorders and the workplace. Washington, DC: National Academy; 2001.

  9. Ijzelenberg W, Molenaar D, Burdorf A. Different risk factors for musculoskeletal complaints and musculoskeletal sickness absence. Scand J Work Environ Health. 2004;30(1):56-63.

  10. DATAPREV, CAT, 2003. Estatísticas da previdência social. Disponível em: http://www.mpas.gov.br/12.asp.

  11. Kleinpaul JF, Mann L, Teixeira CS, Moro ARP. Dor Lombar e Exercício Físico. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 2008;13(127). http://www.efdeportes.com/efd127/dor-lombar-e-exercicio-fisico.htm

  12. Ammendolia C, Kerr MS, Bombardier C, Canadian. Task Force on Preventive Health Care: The use of back belts for prevention of occupational low back pain: systematic review and recommendations. CTFPHC Technical Rep no 02-1. London (ON): Canadian Task Force; 2002.

  13. Magnusson M, Pope MH, Hansson T. Does a back support have a positive biomechanical effect? Applied Ergonomics 1996;27(3):201-205.

  14. Minor SD. Use of back belt in Occupational Settings. Physical Ther 1996;76(4):403-8.

  15. Granata KP, Marras WS, Davis KG. Biomechanical assessment of lifting dynamics, mucle activity and spinal loads while using three different styles of lifting belt. Clin Biomech 1997;12(2):107-15.

  16. Miyamoto K, Iinuma N, Maeda M, Wada E, Shimizu K. Effects of abdominal belts on intra-abdominal pressure, intramuscular pressure in the erector spinae muscles and myelectrical activities of trunk muscles. Clin Biomech 1999;14(2):79-87.

  17. Jellema P, Bierma-Zeinstra SMA, Van Poppel MNM, Bernsen RND, Koes BW.Feasibility of lumbar supports for home care workers with low back pain. Occud Med 2002;52(6):317-23.

  18. Natarén JJ, Elío MN. Los trastornos musculoesqueléticos y la fatiga como indicadores de deficiencias ergonómicas y en la organización del trabajo. Salud de los trabajadores 2004;12(2):27-41.

  19. Barbosa FSS, Gonçalves M. Proposta Biomecânica para avaliação de Sobrecarga na Coluna Lombar: Efeito de Diferentes variáveis demográficas na Fadiga Muscular. Acta Ortop Bras 2007;15(3):132-37.

  20. Langley GB, Sheppeard H. The visual analogue scale: Its use in pain measurement. Rheumatol Int 1985;5:145-148

  21. Cram JR, Kasman GS, Holtz J. Introduction to surface electromyography. Gaithersburg, Maryland: Aspen Publishers, Inc.; 1998.

  22. Lehman GJ, McGill SM. The Importance of Normalization in the Interpretation of Surface Electromyography: A Proof of principle. J Manipulative Physiol Ther. 1999;22(7):444- 446.

  23. Roy SH, DeLuca C, Casavant D. Lumbar muscle fatigue and chronic low back pain. Spine 1989;14:992-1001.

  24. Smith P, Armstrong TJ, Lizza GD. Part III of a series:IE’s can play crucial role in enabling handicapped employees to work safely, productively. Indus Eng 1982:98-105.

  25. Chaffin DB, Anderson GB, Martin BJ. Biomecânica Ocupacional. 1ª ed. Ergo Editora. 2001.

  26. Silva SRD, Gonçalves M. Comparação de Protocolos para a Verificação da Fadiga Muscular pela Eletromiografia de Superfície. Motriz 2003;9(1)51-58.

  27. Barbosa FSS, Gonçalves M. Comparação entre protocolo de exaustaão e de 30 segundos Utilizados na Avaliação da Fadiga Eletromiográfica dos Músculos Eretores da Espinha. Rev Bras Fisiter 2005;9(1):77-83.

  28. Dal Pupo J, Detanico D, Reis DC. Correlação entre o valor RMS e a força muscular dos eretores da coluna durante o suporte isométrico de carga, Revista Digital. Buenos Aires, 2008;13(122). http://www.efdeportes.com/efd122/valor-rsm-e-a-forca-muscular-dos-eretores-da-coluna.htm

  29. Cardozo AC, Gonçalves M. Análise Espectral do Músculo Longuíssimo do Tórax Submetido a Exercício Fadigante. Fisiot Mov 2006;19(1):51-57.

  30. Holmström E, Moritz U. Effects of lumbar belts on trunk muscle strength and endurance: a follow-up study of construction workers. J Spinal Disor. 1992 Sep;5(3):260-6.

  31. Favolle-Minon I, Calmels P. Effect of wearing a lumbar orthosis on trunk muscles: study of the muscle strength after 21days of use on healthy subjects. Joint Bone Spine 2008;75(1):58-63.

  32. Caraviello EZ, Wasserstein S, Chamlian TR, Masiero D. Avaliação da dor e função de pacientes com lombalgia tratados com um programa de Escola de Coluna. Acta Fisicatr 2005;28(1):11-14.

  33. Calmels P, Queneau P, Hamonet C, Le Pen C, Maurel F, Lerouvrer C Thoumie P. Effectiveness of a Lumbar Belt in Subacute Low Back Pain: An Open, Multicentric, and Randomized Clinical Study. Spine 2009;34(3):215-220.

  34. Oleske D, Lavebder SA, Abderssib GBJ, Kwasby MM. Are Back Suppirts Plus Education More Effective Than Education Alone in Promoting Recovery From Low Back Pain?: Results Fron a Randomized Clinical Trial. Spine 2007;32(19):2050-57.

  35. Von Poppel M. Lumbar Supports and Education for the Prevention of Low Back Pain in Industry: A Randomized Controlled Trial. JAMA 1998;279(22):1789-1794.

  36. Smith EB, Rasmussen AA, Lechner DE, Gossman MR, Quintana JB, Grubbs BL. Effects of lumbosacral Support Belts and Abdominal Muscle Strength. Spine 1996;12(3):356-366.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, N° 146, Julio de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados