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Educação Física escolar como prevenção e tratamento

para o sobrepeso e obesidade infantil: uma revisão

Educación Física escolar como prevención y tratamiento para el sobrepeso y la obesidad infantil: una revisión

 

Mestre em Educação

Universidade Católica de Brasília

(Brasil)

Marcelo Guido

José Fernando Moraes

guidomss@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade é uma doença de etiologia complexa e multifatorial que envolve a interação de fatores fisiológicos, comportamentais e sociais (SABIA et al., 2004). Esta patologia vem se tornando um problema de saúde pública, pois se trata de uma doença com crescente prevalência. Pessoas com sobrepeso e obesidade quando comparados aos indivíduos com peso normal, possuem maior risco de desenvolver diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial, condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Já na infância, a obesidade, está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade. E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precocemente. Esta situação fisiológica está associada ao estilo de vida que cada pessoa se insere. Comportamentos, como hábitos alimentares desregulados, com ingestão de alimentos com autos teores de gordura, índices excessivos de proteína e carboidratos, e a ausência de práticas de exercícios físicos regulares que sejam capazes de superar o controle calórico, são responsáveis pelo surgimento da obesidade, independente da idade. Em crianças o mundo atual tem oferecido uma série de opções que facilitariam esse resultado: alimentos industrializados, “fast-foods”, televisões, videogames, computadores, entre outros, podem constituir um ambiente bastante favorável ao aumento da prevalência da obesidade. Entretanto, programas educacionais para ampliar o conhecimento da criança sobre nutrição e saúde, bem como para influenciar de modo positivo a dieta, a atividade física estão sendo criados e parecem ter um maior efeito para reduzir problemas de saúde relacionados à obesidade. As iniciativas de prevenção do sobrepeso e obesidade devem ser iniciadas antes da idade escolar e mantidas durante a infância e a adolescência, para que se tornem mais eficazes. Nesse sentido, o conteúdo das aulas educação física escolar não devem estar voltados, exclusivamente, para o aprendizado de práticas esportivas e recreativas, mas, fundamentalmente, alcançarem metas voltadas à educação para a saúde, mediante seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos não apenas situações que os tornem crianças e jovens ativos fisicamente, mas, sobretudo, que os conduzam a optarem por um estilo de vida saudável ao longo de toda a vida.

          Unitermos: Obesidade. Estilo de vida. Educação física escolar.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    A obesidade é uma condição crônica que aumenta a morbidade muitas doenças e a mortalidade por todas as causas. É caracterizada pelo excesso de tecido adiposo que ocorre pelo balanço energético positivo de forma crônica, neste caso a ingestão calórica ultrapassa o gasto calórico. É uma doença de etiologia complexa e multifatorial que envolve a interação de fatores fisiológicos, comportamentais e sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta patologia está em crescente prevalência, o que a faz ser encarada como um problema de saúde pública, (ROMERO; ZANESCO, 2006). Contudo, é uma doença que deve ser combatida, não somente pelos seus altos índices de incidência, mas principalmente pelas suas conseqüências à saúde.

    Pessoas com sobrepeso e obesidade quando comparados aos indivíduos com peso normal, possuem maior risco de desenvolver diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial, condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (COLDITZ et al.,1995; VAN GAAL et al., 1999; KAPLAN, 1998; GARRISON et al., 1996 ). A obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade. E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precocemente (SERDULA et al., 1993).

    Em relação à obesidade, um estilo de vida não saudável parece ser um dos principais fatores para a causa e suas conseqüências relacionadas. A ausência de atividade física e a dieta inadequada estão fortemente associadas à obesidade (SICHIERI, 1998). No caso das crianças, o mundo atual tem oferecido uma série de opções que facilitariam esse resultado: alimentos industrializados, “fast-foods”, televisões, videogames, computadores, entre outros, podem constituir um ambiente bastante favorável ao aumento da prevalência da obesidade (ROBINSON, 1999).

    As iniciativas de prevenção do sobrepeso e obesidade devem ser iniciadas antes da idade escolar e mantidas durante a infância e a adolescência, para que se tornem mais eficazes. Portanto a função proposta aos professores de educação física é a de incorporarem nova postura frente à estrutura educacional, procurando adotar em suas aulas, não mais uma visão de exclusividade à prática de atividades esportivas e recreativas, mas, fundamentalmente, alcançarem metas voltadas à educação para a saúde, mediante seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos não apenas situações que os tornem crianças e jovens ativos fisicamente, mas, sobretudo, que os conduzam a optarem por um estilo de vida saudável ao longo de toda a vida.

    Entretanto há na literatura conclusões adversas sobre o real papel da educação física na formação da educação para a saúde, assim como, divergências sobre o conteúdo adequado para este fim, qual seria a melhor estratégia fora e dentro de sala para se alcançar um estilo de vida saudável que perdure por toda a vida do indivíduo. Nesse sentido o estudo teve por objetivo verificar o papel da educação física na prevenção e tratamento do sobrepeso e obesidade causados por um estilo de vida não saudável.

Obesidade: conceito, prevalência e conseqüências

    A obesidade é definida como acúmulo excessivo de gordura em regiões específicas ou no corpo como um todo. É uma doença de etiologia complexa e multifatorial que envolve a interação de fatores fisiológicos, comportamentais e sociais (SABIA et al., 2004). Esta patologia vem se tornando um problema de saúde pública, pois se trata de uma doença com crescente prevalência. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de obesos entre os anos de 1995 e 2000 passou de 200 milhões para 300 milhões, perfazendo cerca de 5% da população mundial (ROMERO e ZANESCO, 2006).

    Nos Estados Unidos à obesidade atinge cerca de 28% das mulheres e 24% dos homens. Na Inglaterra esses valores são respectivamente, 21% e 17%, enquanto, na Alemanha, 19% e 18%. Comparando-se os dados de quatro estudos realizados entre os anos de 1963 a 1980, envolvendo crianças e adolescentes dos EUA, na faixa de 6 a 17 anos, chegou-se à conclusão de que a obesidade cresceu aproximadamente 18 a 30% nos meninos entre 6 e 11 anos; de 17 a 25% nas meninas da mesma faixa; de 15 a 18% nos meninos de 12 a 17 anos; e 16 a 25% nas meninas da mesma faixa etária (DIETZ, 1986). No Japão, a obesidade, em crianças de 10 anos, cresceu de 3-3,5%, em 1968, para 8-9%, em 1992 (KANDA et al., 1997).

    No Brasil, assim como na maioria dos países em desenvolvimento, a prevalência de sobrepeso e obesidade na população em geral e em crianças em particular, ainda é maior na população economicamente mais favorecida, ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, onde a maioria das crianças com sobrepeso ou obesas pertencem às famílias de classe econômica mais baixa (RONQUE et al., 2005).

    No Nordeste brasileiro, mesmo com sua tendência secular de desnutrição, nota-se aumento do sobrepeso e obesidade. Numa análise considerando estratos sociais no Nordeste e Sudeste do Brasil, observou-se aumento uniforme da obesidade em adultos nas duas regiões até 1989. Em 1997 a freqüência da obesidade foi maior nas classes média e alta na região Nordeste, enquanto no Sudeste a elevação no número de obesos foi maior nas classes menos favorecidas e menor nas classes média e alta, mostrando a influência do nível sócio-econômico na expansão da obesidade (LEÃO et al., 2003).

    Há cerca de 10 anos, acontece uma transição da condição de maior desnutrição para maior sobrepeso e obesidade em crianças, principalmente nas regiões de melhor desenvolvimento sócio-econômico. Dados de Post et al. (1996) mostraram que em Pelotas, no Rio Grande do Sul, a prevalência de déficit peso/idade caiu de 5,4% para 3,8% entre os anos de 1982 e 1993, contrastando com a prevalência de obesidade (determinada pela relação peso/estatura acima de 2 desvios padrão), que passou de 4% para 6,7% no mesmo período.

    Monteiro et al. (2004) mostraram que, na comparação dos anos de 1974/75 e 1995/96 na cidade de São Paulo, houve queda na prevalência de déficit de peso/estatura de 5,5% para 0,6%, ao passo que a obesidade teve aumento em sua prevalência de 3,2% para 3,8%. Na cidade de Ribeirão Preto, em 1996, num bairro de classe média baixa havia prevalência de déficit de peso/idade de 4,2%, do déficit peso/estatura de 1,8% e do déficit estatura/idade de 5,9%. No Brasil, no mesmo ano, a prevalência de déficit peso/idade era de 5,7%, de déficit peso/estatura era de 2,3%, de déficit estatura/idade era de 10,5% e de obesidade era de 4,1% (ALMEIDA et al., 2004).

    Mais recentemente, as observações das conseqüências da obesidade infantil estão deixando claro que os problemas causados à saúde podem surgir tão precocemente quanto o acúmulo excessivo de peso, podendo também influenciar na longevidade do adulto. A resistência à insulina, freqüente na obesidade, resulta em diminuição na captação de glicose e, conseqüentemente, na diminuição dos estoques de glicose no músculo esquelético. Isto provoca bloqueio da termogênese facultativa como resposta à alimentação.

    Pessoas com sobrepeso e obesidade quando comparados aos indivíduos com peso normal, possuem maior risco de desenvolver diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão arterial, condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (COLDITZ et al.,1995; VAN GAAL et al., 1999; KAPLAN, 1998; GARRISON et al., 1996 ). Hubert et al. (1983), mostraram no estudo de Framingham que a obesidade é um fator de risco independente dos demais fatores para a ocorrência de doença isquêmica coronariana e morte súbita, especialmente em homens abaixo de 50 anos. A maior prevalência de hipertensão na obesidade tem sido atribuída à hiperinsulinemia decorrente d a resistência à insulina presente em indivíduos obesos, principalmente naqueles que apresentam excesso de gordura na região do tronco (SELBY et al., 1989)

    Dados mostram que complicações com a obesidade se manifestam também na infância. Wright et al. (2001) apresentaram um estudo que visou verificar se a obesidade na infância aumentava o risco de obesidade na vida adulta e os fatores de risco associados. Concluíram que esse risco existe, mas que a magreza na infância não é um fator protetor para a ocorrência de obesidade na vida adulta. Assim, afirmam que o índice de massa corporal (IMC) na infância correlaciona-se positivamente com o IMC do adulto, e que crianças obesas têm maior risco de óbito quando adultos.

    A obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade. E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precocemente (SERDULA et al., 1993).

Estilo de vida e obesidade: sedentarismo e hábitos alimentares

    Estilo de vida é a forma na qual um grupo convive em sociedade e o papel de cada indivíduo dentro desse grupo. Pessoas possuem necessidades básicas como comer, dormir, moradia e etc., no entanto, a maneira com que se realiza estas necessidades é indicadora de valores que constituem estratégias de distinção no meio social.

    Através desta manifestação social criam-se determinados hábitos e valores que ditam regras e condutas com reflexo direto na forma de viver de cada um. Esse estilo de vida tem íntima ligação com a percepção de o que é saúde e o que fazer para alcançá-la.

    Nesse sentido Sutherland e Fultan (1992) conceituam saúde como o produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habitação e saneamento, boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda a vida; ambiente físico limpo; apoio social para famílias e indivíduos; estilo de vida responsável; e um espectro adequado de cuidados de saúde.

    No entanto para a promoção da saúde deve-se abranger um conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar a melhoria das condições de bem-estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de estratégias que permitam à população maior controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a níveis individual e coletivo.

    Em relação à obesidade, um estilo de vida não saudável parece ser um dos principais fatores para a causa e suas conseqüências relacionadas. A ausência de atividade física e a dieta inadequada estão fortemente associadas à obesidade, já que energia ingerida e não gasta, normalmente implica acúmulo de energia, sob a forma de gordura, traduzindo a obesidade (SICHIERI, 1998). No caso das crianças, o mundo atual tem oferecido uma série de opções que facilitariam esse resultado: alimentos industrializados, “fast-foods”, televisões, videogames, computadores, entre outros, podem constituir um ambiente bastante favorável ao aumento da prevalência da obesidade (ROBINSON, 1999).

    Amaral e Palma (2001) observaram uma associação entre o tempo dedicado à televisão (TV) com a prevalência de obesidade em crianças com idade entre 10 a 11,9 anos. Tanto meninos quanto meninas relataram dedicar mais de duas horas por dia, a esse passatempo, somando uma carga semanal superior à dedicada a prática de atividades físicas. E ainda quando se assiste à TV há a vontade comer e os alimentos escolhidos costumam ser de alto teor calórico e gordurosos.

    O hábito da prática de atividade física é influenciado na criança pelos pais, e quando desenvolvidos nesta fase, tendem a se manter do mesmo modo até a fase adulta (STRAUSS, 1999). Além disso, uma redução natural no gasto energético é observada com a modernização, ocasionando estilo de vida mais sedentário com transporte motorizado, equipamentos mecanizados que diminuem o esforço físico de homens e mulheres tanto no trabalho como em casa. De fato, poucas atividades hoje em dia são classificadas como muito ativas, enquanto há algumas décadas atrás, várias atividades tinham esta característica (OMS, 1998).

    É fundamental que crianças submetidas a uma orientação dietética sejam capazes após esta intervenção mantenham estes hábitos alimentares corretos e modifiquem os inadequados. Uma boa orientação nutricional deve preconizar uma perda de peso controlada ou a manutenção do mesmo, ingestão de nutrientes em quantidades adequadas para a idade e sexo e manutenção da massa muscular, para que não comprometa o crescimento e desenvolvimento destas (EDMUNDS, 2001).

    Com respeito à atividade física, muitos estudos têm utilizado prescrições de exercícios convencionalmente programados, embora aumentar a atividade como estilo de vida ou reduzir comportamentos sedentários possam ser mais efetivos para o controle do peso a longo prazo (EDMUNDS, 2001).

    Programas educacionais para ampliar o conhecimento da criança sobre nutrição e saúde, bem como para influenciar de modo positivo a dieta, a atividade física e a redução da inatividade, estão sendo criados e parecem ter um maior efeito para reduzir problemas de saúde pública crônica relacionados com estilo de vida sedentário e padrão alimentar errôneo.

Educação Física: estratégias de prevenção e tratamento

    As iniciativas de prevenção do sobrepeso e obesidade devem ser iniciadas antes da idade escolar e mantidas durante a infância e a adolescência, para que se tornem mais eficazes. Deve haver um esforço significativo no sentido de direcioná-las à prevenção já na primeira década de vida, pois neste momento é que pode começar o interesse, o entendimento e mesmo a mudança dos hábitos dos adultos, por intermédio das crianças e adolescentes (SAHOTA, et al., 2001) .

    A política da escola pode promover ou desencorajar dietas saudáveis e atividades físicas, pois se situa no centro das preocupações com a educação para saúde. A escola é um local importante onde esse trabalho de prevenção pose ser realizado já que as crianças fazem pelo menos uma refeição possibilitando assim um trabalho de educação nutricional, além de nela participarem das aulas de educação física sendo que se constitui na única oportunidade de acesso às práticas de atividades físicas, principalmente para as crianças de classes sociais mais baixas.

    A educação física sendo uma disciplina do componente curricular no sistema educacional brasileiro tem sido justificada com base na abrangência e pseudo-efetividade da prática esportiva no desenvolvimento biopsicossocial e cultural do jovem. Com esta justificativa, não restam dúvidas que a maior ênfase nas aulas de educação física venha a ser os esportes competitivos, iniciando logo na 5ª série, senão mais precocemente, e permanecendo durante todo o período de escolarização. Contudo verifica-se que este enfoque não consegue atender, em toda sua plenitude, as expectativas dos programas de ensino voltados a uma formação educacional mais efetiva de nossos jovens.

    Sobretudo na tentativa de modificar esta situação, o professor de educação física é posicionado como um simples coadjuvante do processo educacional, responsável simplesmente por entreter as crianças e os jovens mediante as chamadas atividades recreativas e orientar exercícios físicos, onde poderiam desenvolver conjunto de conteúdos que possam verdadeiramente contribuir, em contexto educacional mais amplo, na formação dos educandos.

    Nesse sentido, a função proposta aos professores de educação física é a de incorporarem nova postura frente à estrutura educacional, procurando adotar em suas aulas, não mais uma visão de exclusividade à prática de atividades esportivas e recreativas, mas, fundamentalmente, alcançarem metas voltadas à educação para a saúde, mediante seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos não apenas situações que os tornem crianças e jovens ativos fisicamente, mas, sobretudo, que os conduzam a optarem por um estilo de vida saudável ao longo de toda a vida.

    A principal meta dos programas de educação para a saúde através da educação física escolar é proporcionar fundamentação teórica e prática que possa levar os educandos a incorporarem conhecimentos, de tal forma que os credencie a praticar atividade física relacionada à saúde não apenas durante a infância e a adolescência, mas também, futuramente na idade adulta. Neste sentido, as aulas de Educação Física podem ter um papel que vai além das pistas, quadras, piscinas ou ginásios, sendo o de conscientizar o aluno sobre a importância da prática regular de atividades físicas que não apenas previnam a obesidade, como também lhe proporcionem prazer e bem-estar, motivação e autoconfiança.

    No entanto não há necessidade que o professor exponha toda a teoria sobre essa relação, mas sim que ensine a prática de atividades que possam beneficiar os alunos em sua atual fase da vida e também nas fases futuras da adolescência e da vida adulta. Não haveria muita dificuldade para um professor de Educação Física, com um mínimo de conhecimento e competência, ensinar durante as práticas de corridas, exercícios localizados e outros, o “por que fazer”, o “como fazer”, o “quando fazer”, o “onde fazer” e o “com que freqüência fazer”.

    Nahas e Corbin (1992) afirma que para a educação física escolar cabe a responsabilidade de prestar serviços relacionados com a atividade física e desenvolvimento humano. Com uma variedade de objetivos a curto e longo prazo, a educação física deve estabelecer prioridades para cada faixa etária ou série. O autor propõe um currículo vertical ou desenvolvimentista, onde o primeiro e segundo graus devem ser vistos como uma cadeia de experiências seqüenciais e progressivas. Nos primeiros anos escolares dá-se prioridade ao desenvolvimento motor, sendo os objetivos da aptidão física considerados secundários. Posteriormente, torna-se necessário priorizar a educação para a aptidão física e saúde através de um bloco sólido de instrução teórico-prática, onde a primeira série do segundo grau parece ser o período apropriado para iniciar esta ação.

    Em relação à natureza das tarefas nos programas de educação física, Carlos Neto (1994) defende a generalização de programas recreativos e desportivos na promoção de estilos de vida ativos. Guedes & Guedes (1993), sugerem práticas relacionadas às atividades rítmicas, aos jogos motores e sensoriais, práticas relacionadas à saúde e à iniciação desportivas. Horta & Barata (1995) propõem às crianças atividades de caráter lúdico, tais como marcha, corrida, ginástica, andar de bicicleta, jogos tradicionais, que contrariem os jogos e atividades com a tendência para o sedentarismo, como jogos de computador e de vídeo.

    Já para os adolescentes, Horta e Barata (1995) sugerem a utilização de atividades com caráter competitivo, com incidências sobre o aumento da freqüência, intensidade e duração para garantir maiores repercussões cardiovasculares. Horta e Barata (1995), Santos (1998), Gaya et al (1997), por outro lado, sublinham que o aumento da adesão da população aos programas de exercícios, independente da maior ou menor conscientização sobre seus efeitos positivos, passa pela efetiva capacidade de proficiência nas atividades físicas e desportivas preferidas.

    Assim, Santos (1998) sugere que as atividades das aulas de educação física, necessariamente, não devem explicitar objetivos referentes à promoção da saúde, mas sim objetivos no âmbito do adequado desenvolvimento da cultura esportiva. Segundo o autor uma adequada formação desportiva pressupõe m estilo de vida ativo que, por conseqüência, acarretaria em níveis de aptidão física referenciada à saúde. Nessa linha Sobral (1988) coloca que uma educação desportiva corretamente orientada pode estabelecer hábitos positivos de vida para todo o sempre. Para isso, a escola tem de transmitir aos jovens as competências básicas, garantir a cada educando m repertório de atividades que lhes permita gerir a sua aptidão física e seu bem-estar geral.

Considerações finais

    Assim como já ocorreu com outras doenças, as pessoas passam a considerar a obesidade como problema apenas quando já desenvolvida, procurando então terapias de efeito rápido. Não há uma visão perspectiva de cuidados e prevenção. Trata-se, sem dúvida, de uma questão educacional, de responsabilidade da família e da escola. Sendo já um consenso que as formas mais eficientes de prevenção e tratamento são dieta e atividade física, cabe principalmente aos pais e educadores físicos oferecerem as informações e incentivar o consumo de dietas saudáveis e a prática regular de atividades físicas.

    A principal meta dos programas de educação para a saúde através da educação física escolar é proporcionar fundamentação teórica e prática que possa levar os educandos a incorporarem conhecimentos, de tal forma que os credencie a praticar atividade física relacionada à saúde não apenas durante a infância e a adolescência, mas também, futuramente na idade adulta. Informações sobre a relação da atividade física com as doenças crônico-degenerativas e incentivos mais ostensivos sobre a prática regular de atividades físicas deveriam estar entre as prioridades nas aulas de Educação Física escolar, ao lado da construção do conhecimento e desenvolvimento psicomotor.

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