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Dança, um instrumento de pluralidade

 

*Discente da graduação em Educação Física

da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ)

**Co-orientador. Pós graduado em Elaboração e Gestão

de Projetos Sócio-Esportivos pela UCB/RJ

Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ

Diretor técnico do Instituto Muda Mundo

Pesquisador do LAPEM, da UCB/RJ; e do CUCA da UCB /RJ

***Co-orientador. Mestrando em Educação pelo programa de pós-graduação

em Educação (Proped) da Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Licenciado em Educação Física pela UCB/ RJ. Monitor da UCB/RJ

Agência de Fomento: FAPERJ

****Orientador. Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB/RJ

Licenciado em Educação Física pela UCB/RJ. Docente da UCB/RJ

Adeilson Silva* | Breno Ribeiro*

Leonardo Barbosa* | Matheus Martins*

Rodolpho Paulo* | Ramon Carvalho*

Raphael Augusto* | Tácio Medeiros*

Mauricio Fidelis**

mauriciofidelis@hotmail.com

Rafael Valladão***

rafael-valladao@hotmail.com

Sergio Tavares****

sergiof.tavares@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A pluralidade cultural é a união de manifestações e fenômenos culturais diferentes numa sociedade. Essa mistura de costumes, crenças, valores, tradições, músicas, danças, comportamentos, educação e outras coisas criadas pelo homem, é o que nos torna único e diferente dos outros. A dança entra nesse contexto como um fenômeno cultural repleto de marcas e sinais que mostram toda cultura na qual esta dança está inserida, pode contar a história do seu povo, os seus rituais e ajudar assim o indivíduo de hoje a se relacionar de forma positiva com a diversidade cultural em que vive. Nossa pesquisa verificou os níveis de pluralidade e o comportamento de jovens praticantes de dança, e interveio de maneira positiva em relação ao conhecimento de novas culturas.

          Unitermos: Dança. Pluralidade cultural. Diversidade.

 

Abstract

          The cultural plurality is the union of different cultural events and phenomena in society. This mixture of customs, beliefs, values, traditions, music, dance, behavior, education and other things created by man, is what makes us unique and different from others. The dance comes in this context as a cultural phenomenon full of marks and signs that show the whole culture in which this dance is inserted, you can tell the story of its people, its rituals and thus help the individual of today to relate positively with cultural diversity in which they live. Our research found levels of plurality and the behavior of young practitioners of dance, and spoke positively about the acknowledge of new cultures.

          Keywords: Dance. Diversity. Cultural plurality.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    Vivemos hoje a necessidade de ampliar nossos horizontes. Ampliar nosso conhecimento para novas culturas. Estamos de frente com uma realidade de manipulação e alienação em que indivíduos não enxergam a diversidade cultural em que se encontram e agem contra o que a história construiu. Nos confrontamos todos os dias com a exclusão social, fenômeno condizente com a falta de conhecimento e valorização da nossa cultura e da cultura de outros povos. Este estudo busca entender como a pluralidade cultural acontece e de que forma a dança pode interferir nessa pluralidade, e promover um comportamento receptivo a diferenças culturais tão evidentes.

Diversidade brasileira

    Todos os povos desenvolveram modos específicos de viver coletivamente, seja do ponto de vista político, econômico, social, religioso. Esses povos criaram suas linguagens, manifestaram a arte de forma única, assim como o folclore, mitologias, roupas, costumes, comportamento e traçaram rumos distintos, maneiras diferentes de interagir com o mundo. Essa diversidade de povos e códigos (informações referentes a cultura em questão) caracterizam o nosso mundo moderno. Damos o nome de Pluralidade cultural para essa diversidade de manifestações culturais, suas interações e misturas, que se apresentam num determinado ambiente.

    O homem é o sujeito da educação, sujeito de sua práxis, sendo um ser concreto, situado no tempo e no espaço, inserido num contexto histórico (sócio-econômico-cultural-político); sujeito de reflexão e ação sobre o mundo com o fim de modificá-lo. Sociedade-cultura A cultura é “todo o resultado da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, de seu trabalho por transformar e estabelecer relações dialogais com outros homens”. (FREIRE, 1974, p.41).

    A origem cultural da nossa sociedade começa antes mesmo da chegada de europeus no nosso continente. Em um país que de acordo com historiadores, tinha sua população estimada em cinco milhões de índios nativos, a cultura já tinha suas raízes bem firmes. As tribos indígenas já apresentavam seus modos de vida bem distintos, cheios de particularidades, e tinham suas relações baseadas em regras sociais, religiosas e políticas. Nessas tribos, não havia classes sociais, todos exerciam seus papéis, na medida em que todos realizavam trabalhos, respeitando critérios de acordo com o sexo e a idade.“Para os índios, a vida era uma tranqüila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas (...)” (RIBEIRO, 1995, p.47).

    Com a chegada dos portugueses ao Brasil, passa-se por um período de exploração de uma terra e de seu povo nativo, que sofreu grandes mudanças culturais. Pouco tempo depois os europeus começam a povoar a região que antes era habitada somente por nativos. Estes novos habitantes trouxeram seus modos de vida, seus costumes, regras sociais, sua religião e todas as suas peculiaridades. Posteriormente, trouxeram com eles, uma população de africanos que tinham sua mão de obra necessária, já que a mão de obra indígena se mostrou após algum tempo ineficiente em relação a força de trabalho desses escravos africanos, que passou a ser a base da economia do país. “Este grupo de africanos escravos traziam culturas variadas, com hábitos e costumes diferentes dos Europeus e indígenas. Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.” (RIBEIRO, 1995, p.19)

    A partir dessa grande diversidade, desse multiculturalismo, a identidade cultural brasileira foi sendo formada, recebendo também a presença de imigrantes de outras partes do mundo, destacando o país como um raro mosaico étnico, se comparado com a grande maioria das nações, cujo conjunto apresenta composições não tão diversificadas, colocando o Brasil na condição de um dos mais diversos, culturalmente falando, apresentando cenário nacional constituído por uma diversidade étnica e religiosa que evidencia de maneira clara, a formação do povo brasileiro.

    A partir dessa mestiçagem cultural, o Brasil foi ganhando a imagem de país plural, com uma sociedade diversificada, com diferentes aspectos sociais, culturais e religiosos. Quando falamos de pluralidade cultural, devemos reconhecer, valorizar e respeitar as diferentes influências sócio-culturais que cada grupo responsável pela formação da nossa sociedade transmite aos seus membros, de acordo com seus respectivos códigos. Porém, nem todos se comportam de forma coerente com a realidade diversa da cultura brasileira. É difícil entender que no Brasil, um país tão plural, existam pessoas que possuem uma forte resistência a valorizar tal riqueza.

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais abordam o tema ressaltando que,

    É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do País consigo mesmo, é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais quanto em relação a grupos étnicos, sociais e culturais. (PCNs, BRASIL, 1997, pág. 20 )

    Conhecer esta herança é uma forma de assumir as múltiplas influências da tradição, razões de existência e resistência, que nos fortalecem enquanto identidade e ajudam a compreender melhor a cultura brasileira como um todo, valorizando as nossas diversidades. (SANTOS, 2009, pág. 33)

Pluralidade cultural, cidadania e a dança

    Ainda segundo o PCN (BRASIL, 1997), de Pluralidade cultural, é responsabilidade do professor trabalhar este tema nas escolas. Através da exposição e do vivenciamento de culturas diferentes, supriremos uma demanda social que se faz necessária a tempos, e possibilitará a formação de jovens com comportamento democrático e mais importante: responsabilidade social.

    Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade como um todo. A escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo. (PCN, 1997, pág.21)

    Assim sendo, entendemos a dança como um instrumento cultural, carregada de uma linguagem universal: afinal, a dança é o mais antigo dos códigos de comunicação do homem, precedendo até mesmo a linguagem oral e escrita, e todos os povos do planeta criaram alguma espécie de dança para expressar, idolatrar, festejar, se comunicar. Isso faz com que a dança não seja apenas um conjunto de movimentos corporais regidos por um determinado ritmo, mas também traz informação e cultura, e é capaz de nos situar no mundo, seja no ponto de vista social e histórico.

    Existem indícios de que o homem dança desde os tempos mais remotos. Todos os povos, em todas as épocas e lugares dançaram. Dançaram para expressar revolta ou amor, reverenciar ou afastar deuses, mostrar força ou arrependimento, rezar, conquistar, distrair,enfim, viver! (TAVARES, 2005, p.93).

    A dança envolve variados movimentos corporais, usa o corpo como instrumento cultural, uma vez que o corpo é o elemento principal que compõe o universo da dança. Ela desenvolve o processo criativo e o mais importante: ilustra o universo cultural pelo qual ela foi produzida. Segundo Martins (2002, p.89), O corpo é um portal que inscreve e interpreta, significa e é significado, é veículo da memória.

    Segundo Howard Gardner (1943), a dança contém seqüências de movimentos corporais com um sentido definido, intencionalmente rítmicas, e culturalmente influenciadas, escolhidas de forma muito semelhante à escolha de seqüências de linguagem verbal, visual ou musical. Dessa forma, compreendemos que a dança possui um vocabulário (passos e gestos), uma gramática (regras para justificar por que um movimento pode se seguir a outro), e significados múltiplos, por ser uma forma de arte. As pessoas "lêem" e "escrevem" a dança a partir da perspectiva de suas culturas e experiências pessoais, por isso acreditamos que a arte é tão importante: quanto mais a conhecemos, mais temos matéria-prima para fazer e criticar arte.

A dança promovendo pluralidade

    A dança vem sendo utilizada como instrumento pedagógico a algum tempo. Considerada uma ótima ferramenta de ensino, ela propicia a habilidade de expressar e representar. Contudo, muitos significados foram se perdendo com o tempo, e a dança hoje, na sua grande parte, não passa de movimentos organizados numa coreografia que une a beleza ao ritmo. Deixar a dança restrita a belos passos é negar que ela é veículo de cultura, é importantíssima para o desenvolvimento da criatividade, e cidadania. Segundo Barreto (1998), "... a dança pode despertar o desejo de experenciar algo que o conduza para além das suas vivências e sensações cotidianas" A dança é instrumento direto de conhecimento e transformação.

    Sabe-se atualmente, que existem diversos grupos de danças, de variados estilos. Muitos deles, não sabem a origem e importância de cada movimento representado em suas coreografias. Em toda dança está inserido valores culturais que são produzidos durante a história, que se ignorados fazem da dança apenas uma mera repetição de gestos. É preciso trabalhar com a dança no intuito de informar e mostrar as marcas culturais presentes, e desenvolvendo a consciência e o senso critico do indivíduo. Assim, este indivíduo estará se posicionando historicamente e compreenderá que pode intervir no caminho da sociedade.

    Para que a dança sirva como um instrumento que promova um comportamento de aceitação de novas culturas, ou seja, um comportamento plural, ela deve ser entendida como veículo de informação. Deve ser mostrada com sua importância real, com seus significados sócio-culturais, religiosos, que muitas vezes passam desapercebidos pelos olhos de quem assiste e de quem vive esta dança.

    Quando passarmos a conhecer e entender a dança, como movimento corporal universal, assim como a cultura que a cerca, assumiremos as diversas influências que construíram nossa identidade. Passaremos a aceitar com mais facilidade o desconhecido, o qual tememos tanto, mostrando assim um comportamento verdadeiramente plural.

Metodologia

    Elaboramos essa pesquisa baseada em um modelo descritiva ex-post-facto. Temos como elemento principal dos estudos de pluralidade cultural; a dança, enquanto uma intervenção pedagógica uma tecnologia educacional que busca reverter o quadro de ausência dessa pluralidade, apresentando, discutindo e relacionando diferentes formas de dança (arte) , sejam elas populares ou eruditas.

    O instrumento utilizado foram dois questionários abertos, o primeiro (pré-teste) com cinco perguntas com as seguintes pontuações: as duas primeiras perguntas valendo cinco pontos, as duas seguintes valendo três pontos e a última valendo um ponto, o outro (pós-teste) com três perguntas; a primeira valendo cinco pontos, a seguinte valendo três pontos e a última valendo um ponto. Nosso instrumento foi validado por três mestres da área de cultura.

    O nosso público alvo foi o grupo de dança do C.A.P. (Colégio de Aplicação Paulo Gissoni) com um Nº de 12 alunos do ensino médio com idades entre 12 e 17 anos de ambos os sexos.

Resultado e discussão

    No primeiro gráfico, vemos um numero grande de entrevistados com um considerável conhecimento cultural que evidencia sua postura plural. Por serem dançarinos, o grupo manifestou um esperado interesse pelo movimento, porém esperávamos que absorvessem também o conhecimento e a cultura por trás desses movimentos. Durante a prática da oficina de dança, muita da origem e do significado do jongo, frevo e hip-hop foi passada, através de mini-palestras inseridas durante os intervalos da cada dança. Ao final do evento, observou-se o claro ganho de conhecimento cultural dos entrevistados, como visto no segundo gráfico.

Pré-teste

Pós-teste

    É notória a melhora no quadro de pluralidade, que foi percebida através da absorção do conhecimento da riqueza cultural desses estilos. O interesse deles pela variedade dos estilos também aponta uma mudança, de um modo geral, no comportamento plural do público.

Conclusão

    Foi percebida a melhora no quadro de pluralidade como resultado principalmente da escolha dos estilos de dança que foram apresentados para eles no dia da intervenção. Criamos uma oficina de dança trazendo o jongo, o frevo e o hip-hop. Não só os movimentos motores, mas sim toda a história, toda a cultura acumulada e historicamente transmitida, posto que toda a dança é/foi diretamente influenciada pela cultura, base da estratégia junto ao nosso público alvo, usando a dança para ser transmissora de princípios plurais,considerando uma menor resistência por parte do público alvo já que eles são admiradores e praticantes da dança por variados motivos.

    Chegamos à conclusão que a dança é um bom instrumento de pluralidade, desde que a serviço da transmissão de culturas variadas, pois pode ser absorvida com clareza e facilidade, oferecendo naturalmente um sólido exercício de tolerância junto aos mais resistentes as diversidades culturais.

Referências

  • BARRETO, Débora. Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola. Conexões, Campinas: UNICAMP, 1998.

  • BRASIL. PCN, pluralidade cultural. 1997.

  • FREIRE, Paulo. Abordagem sócio-cultural, 1974.

  • LANGENDOCK, Rosana; RENGEL, Lenira. Pequena viagem pelo mundo da dança, 2006.

  • MARTINS, Leda. Performance do tempo espiralar, 2002.

  • PINTO, Aline da Silva. Dançando na escola: uma vivência plural. 2009.

  • RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro, 1995.

  • SANTOS, Anaycira Falcão, Livro corpo e ancestralidade. 2006.

  • TAVARES, Isis Moura. Educação, corpo e arte. Curitiba: IESDE, 2005.

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