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Grau de satisfação de adolescentes escolares da cidade 

do Recife, Pernambuco, a respeito das condições 

organizacionais para a prática do desporto

Grado de satisfacción de adolescentes de la ciudad de Recife, Pernambuco, 

en relación a las condiciones organizacionales para la práctica del deporte

 

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Universidade do Porto, Porto

(Portugal)

Ana Luíza Barbosa Vieira

António Roberto Rocha Santos

analuizavieira@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem por objetivo apresentar o grau de satisfação dos adolescentes, alunos do ensino médio público a respeito dos “Fatores Organizacionais” nas atividades desportivas escolares, compreendidos aqui como fatores relacionados ao Ambiente Físico e Social, às Atividades Técnico-Pedagógicas e Eventos e às Estruturas de Apoio. A amostra foi composta por 322 sujeitos, de ambos os sexos, com idades que variaram de 13 a 22 anos, atletas e não atletas de sete escolas, localizadas na região norte central da cidade do Recife, Pernambuco, Brasil. Os dados foram coletados através de um questionário, no qual havia questões que exigiam respostas dicotômicas, questões de múltipla escolha e questões na escala tipo Likert. Após análise dos dados, verificou-se que os principais resultados indicaram que: a) O número de modalidades desportivas praticadas nas escolas é reduzido e não atende as expectativas dos alunos; b) Não havia treino para modalidade da sua preferência e/ou não havia treino desportivo na sua escola. A investigação revelou uma realidade preocupante, onde o baixo grau de satisfação dos escolares quanto às condições organizacionais, provocam uma reduzida participação no desporto escolar. Face a esse panorama, os respectivos órgãos gestores devem investigar o desenvolvimento do desporto nas escolas, analisando seus progressos e fracassos, sistematicamente, para que tomadas de ação ocorram em busca da otimização da prática desportiva escolar.

          Unitermos: Escola. Desporto. Gestão. Satisfação.

 

Abstract

          The objective of this investigation was to verify how the Organizational Factors Facilitate or the Hinders in the student’s participation in the School Sports. The sample was composed by 322 students of both sexes with ages that varied from 13 to 22 years, athletes and no athletes, studying at the medium teaching, of seven schools in the net of public teaching, located in the central north area of the city of Recife, Pernambuco, Brazil. The data were collected through a questionnaire, in which there were subjects that demanded yes or no answers, subject of multiple choice and subjects in the Likert scale type, that varied of 1, it hinders a lot, at 5, it facilitates a lot, regarding 30 Organizational Factors, contained in the following way: Physical atmosphere, Social atmosphere, technician-pedagogic Activities and Structure of Support. After statistical treatment and analysis of the data, it was verified that the main results did the following indications: A) The number of sports modalities practiced at the schools is reduced and it doesn’t assist the students expectations; B) There was not training for modality of student’s preference and/or there was not sport training in their School; C) all the thirty factors present to the subjects had relative averages to the satisfaction degree that varied from 1,60 to 3,87. The investigation revealed a preoccupying reality, which should deserve larger attention of the competent authorities of the Investigated area.

          Keywords: School. Sport. Administration. Satisfaction.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010

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Introdução

    É importante reconhecer que o desporto é um dos maiores fenômenos sociais desse início de século XXI. O intenso e ampliado espaço conquistado pela mídia de todo mundo e os milhões de pessoas envolvidas no desporto, em seus vários modelos, com funções e finalidades diferentes, confirmam este fato. Contudo, apesar da sua importância, o desporto muitas vezes recebe um tratamento aquém do que deveria, do que merece.

    De acordo com Bento (1):

    “O desporto foi sempre entendido como um bem pedagógico disponível para o maior número possível de pessoas. Pelos ideais em que se inspiram as personalidades históricas que o dinamizaram, pelos ensaios que o conceptualizaram, pela acção de muitos professores, treinadores e dirigentes, o desporto foi sempre visto como campo de vivência e socialização num legado de referências humanistas. Porém, quando se olha em redor, parece alastrar a ausência de sensibilidade e fidelidade aos valores tradicionais e que estes chegaram ao fim.” (p. 124)

    Ainda segundo Bento (1) é irrefutável a necessidade de tornar mais atraente as formas de realizar a educação e para tal é indispensável que a escola se aproxime da vida e da cultura das crianças e jovens. Os interesses e inclinações dos alunos devem ser indiscutivelmente levados em conta. A escola precisa acontecer em um ambiente de alegria, de entusiasmo, de dinamismo; a escola precisa que se queira bem a ela e o desporto é um excelente meio para obter-se a renovação da educação. Assim:

    “Trata-se de aproximar a escola da vida, de integrar mais uma na outra e de consumar o desiderato de desportivizar a escola e escolarizar o desporto”. (p. 135)

    Sendo a escola uma organização que contém inúmeras tarefas e responsabilidades, sobretudo sociais, que devem ser cumpridas, é indispensável que haja um órgão gestor para fazer com que as atividades escolares funcionem adequadamente atendo a todas as necessidades da instituição. E no desporto também não é diferente, para tanto existe a Gestão do Desporto na Escola.

    Pires e Sarmento (8) afirmam que os problemas a serem solucionados pela gestão do desporto no cotidiano das organizações estabelecem relações com as questões políticas, estratégicas e pedagógicas que norteiam a operacionalização da prática desportiva.

    Porém, a Gestão do Desporto na Escola no Estado de Pernambuco, especificamente na escola pública, continua a ignorar as inúmeras e rápidas transformações que o mundo moderno vem sofrendo.

    Como exemplo tem-se o comprometimento provocado pelas inadequações das instalações e materiais desportivos no contexto escolar, o que por vezes, reprime a prática desportiva, independentemente dos conteúdos e/ou metodologias adotadas pelo professor.

    Dessa forma é pouco provável obter grandes progressos em qualidade e/ou quantidade na participação de jovens alunos nas atividades desportivas escolares, se questões imprescindíveis, como a adequação das instalações desportivas nas escolas e os critérios utilizados para definição dessas atividades não estão em conformidade à identidade e interesses deste alunado.

    Este fato é ratificado quando se consulta o Censo Escolar, através dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (5), os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (2) e Relatórios do Governo do Estado de Pernambuco (7). Nestes documentos, verifica-se que menos de cinco por cento ao ano da população escolar pública e privada participou das atividades desportivas promovidas pelos projetos e programas do Governo Estadual e Federal, nos anos de 2001 e 2002, em todo o Estado de Pernambuco. Como destaca Fonseca (3) em relação à realidade portuguesa:

    “Programas Desportivos que não integrem de forma clara os ingredientes necessários para que os jovens sintam prazer em participar neles são programas potencialmente destinados ao insucesso.” (p. 158).

    Estas informações sobre a reduzida participação dos alunos nas atividades desportivas escolares puderam ser verificadas por esta pesquisadora durante os últimos anos, como Professora de Educação Física e Técnica Desportiva de escolas da rede pública do Estado de Pernambuco.

    Acredita-se que partindo da análise da situação real em que acontece o Desporto na Escola Pernambucana seja possível estimular reflexões nos órgãos governamentais gerando formas adequadas de organizações a serem utilizadas em um futuro próximo.

    Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar à luz da Ciência “Como os Fatores Organizacionais Interferem na Participação de Alunos de Ambos os Sexos, do Ensino Médio Público da Cidade do Recife – Pernambuco, Brasil, nas Atividades Desportivas Escolares”.

    No presente Estudo compreender-se-á como “Fatores Organizacionais do Desporto na Escola” aqueles relacionados com o Ambiente Físico e Social, com as Atividades Técnico-Pedagógicas e Eventos realizados no contexto escolar e com as Estruturas de Apoio aos estabelecimentos de ensino

Material e método

    A investigação teve como princípio orientador o método hipotético-dedutivo, caracterizando-se pela sua natureza predominantemente descritiva.

    Foram verificadas as condições organizacionais que o Desporto na Escola Pernambucana apresentou nos anos de 2001 e 2002, considerando não só a formação e atuação de órgãos gestores e respectivos apoios técnicos, como também a interpretação da disponibilidade qualitativa e quantitativa, acusada através dos serviços prestados e/ou recebidos e dos quadros de distribuição de escolas, professores e alunos.

Amostra (população do estudo)

    A amostra foi composta por 322 sujeitos, de ambos os sexos, com idades que variaram de 13 a 22 anos, separados em dois grupos etários, 13 a 16 e 17 a 22 anos de idade, atletas e não atletas, alunos do ensino médio.

    A população foi constituída por alunos de sete escolas do Núcleo I da rede pública estadual sob a jurisdição da, na época, Diretoria, atualmente Gerência, Executiva de Ensino – Recife Norte, que participaram das aulas de Educação Física e/ou praticaram Atividades Esportes na escola durante os anos de 2001 e 2002.

    As escolas situam-se em uma região próxima ao centro comercial da cidade e dispunham de variadas características estruturais, não havendo um padrão estabelecido. Os alunos eram originários de diversos bairros da cidade, centrais e suburbanos.

Instrumento de recolha de dados

    O instrumento foi elaborado com o propósito de identificar, através dos próprios alunos, o grau de satisfação em relação a 30 Fatores Organizacionais que facilitam ou dificultam a participação dos mesmos no Desporto Escolar. Na identificação do aluno, foram solicitados dados relativos à escola, série, turma e turno que estuda, sendo necessário identificar há quanto tempo estuda naquela unidade escolar.

    O aluno indicou sua idade, sexo, se participava apenas das aulas de Educação Física, se participava dos Treinos Desportivos ou se participava de ambas as atividades, informando quais as modalidades e há quanto tempo as praticava.

    Foram incluídas questões para os alunos apresentarem: suas razões para não participarem do Desporto Escolar; suas preferências quanto às modalidades que gostariam de participar; o local utilizado para as práticas desportivas e a carga horária utilizada nas sessões desportivas. Havia questões direcionadas especificamente aos fatores organizacionais cujas respostas eram para indicar a existência ou não desses fatores e também questões relativas ao grau de satisfação dos sujeitos em relação à qualidade dos fatores, cujas respostas deveriam ser dadas em uma escala tipo Likert, com cinco níveis.

    A escala apresentava as seguintes alternativas:

  1. Dificulta muito;

  2. Dificulta um pouco;

  3. Nem facilita, nem dificulta;

  4. Facilita um pouco;

  5. Facilita muito.

    Havendo ainda, espaço reservado às observações e informações complementares, que os sujeitos julgassem necessárias.

Protocolo ético

    O questionário utilizado nessa Investigação foi submetido à análise e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, de acordo com a Resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

    Por fim, através de consultas realizadas nas escolas que compuseram a amostra desta Investigação e nos órgãos públicos que gerenciaram o desporto escolar no Estado de Pernambuco nos anos de 2001 e 2002, foram colhidos dados, objetivando a caracterização das escolas a respeito das suas instalações físicas, do corpo discente e docente, assim como a participação dos alunos em atividades desportivas escolares, de caráter interno e externo.

Tratamento dos dados

    Os dados foram implantados em sistema de computador e analisados através de estatísticas descritivas, para o qual foi utilizado o Programa SPSS – PC 11.0.

Resultados

    Após análise dos dados e tratamento estatístico foi possível identificar: os motivos que os sujeitos revelaram para a sua não participação no Desporto no contexto escolar. O Quadro 01 indica os dados relativos aos motivos que levaram os alunos a não se envolverem com o desporto.

Quadro 01. Motivos que levaram os sujeitos a não participarem dos treinos desportivos na escola (9)

Motivos

N

%

Não havia treinamento desportivo na sua escola.

Não tinha vontade de participar do desporto escolar.

Tinha vontade de participar, mas, não sabia como.

Abandonou os treinos por não gostar das instalações inadequadas.

Abandonou os treinos por não gostar do Professor.

Já participou dos treinos e abandonou-os, foi “cortado”.

Já tentou, mas, nunca conseguiu participar.

Não há treinamento da modalidade desportiva de sua preferência.

Não participa dos treinos porque mora longe.

Não participa dos treinos por conta do horário ser inconveniente.

Não participa dos treinos por causa do professor.

Não participa dos treinos por não dispor de tempo.

60

39

38

07

10

08

19

135

03

01

01

04

18,6

12,1

11,8

2,2

3,1

2,5

5,9

41,9

0,9

0,3

0,3

1,2

    Os resultados do Quadro 1 revelam que os principais motivos que levaram os sujeitos a não participarem dos treinos desportivos na escola foram: “a escola não oferecia treino para a modalidade desportiva de sua preferência” (41,9%), “não havia treino desportivo na sua escola” (18,6%), “não tinha vontade de participar” (12,1%) e “tinha vontade de participar, mas, não sabia como” (11,8%).

    Embora seja competência da direção da escola, de acordo com a Instrução Normativa, que orienta a dinâmica e funcionamento da Educação Física e Esporte Escolar nas escolas da rede pública estadual de ensino (6), possibilitar e incentivar a prática do desporto na escola, considerando a opinião do aluno e conseqüentemente sua predileção, dando condições aos mesmos de exercerem o direito de participação em atividades desportivas internas e com outras escolas, não é o que se verifica in loco.

    A Figura 01 apresenta o resultado da pesquisa que explicita a relação entre as modalidades esportivas PRATICADAS pelos alunos com as modalidades esportivas ALMEJADAS.

Figura 01. Relação entre Modalidades Praticadas X Modalidades Almejadas (9)

    Em relação à opção dos sujeitos para prática desportiva no contexto escolar, se destaca a procura pela natação (51,6%). Embora as escolas estejam localizadas em uma região litorânea e o clima tropical favoreça imensamente a procura pelos desportos náuticos, além de todos atrativos naturais do meio aquático, nenhuma das escolas que constituíram a amostra oferece a prática desta modalidade. Os alunos também demonstraram inclinação pelo judô (18,3%), surfe e ginástica olímpica (14,3%), contudo não disponham dessas atividades em suas escolas.

    O que se verifica nas escolas da Rede Pública Estadual de Pernambuco que compõem essa amostra é que não há nenhum registro sobre levantamentos realizados quanto às preferências dos alunos em relação às modalidades desportivas que gostariam de praticar. Tal iniciativa parte dos próprios professores que associam suas especialidades às possibilidades físicas da escola. O reduzido leque de alternativas quanto às modalidades desportivas provoca a exclusão de inúmeros alunos-atletas, em potencial.

    Quanto aos Fatores que Facilitam ou Dificultam a Prática Desportiva na Escola, os sujeitos indicaram quanto à sua existência ou não, bem como o grau de satisfação em relação à esses, como fatores intervenientes na prática desportiva na escola, apresentados no Quadro 02.

    Estes fatores foram divididos em quatro blocos, por temas, são eles: ambiente físico das instalações desportivas e materiais desportivos, ambiente social, atividades técnico-pedagógicas e eventos e estrutura de apoio.

Quadro 02. Identificação da existência e grau de satisfação atribuídos pelos sujeitos aos fatores relacionados à prática desportiva escolar (9)

Fatores

Existe

Não Existe

Grau de Satisfação

Ambiente físico das instalações desportivas e materiais desportivos

N

%

N

%

Média

Dp

1. Qualidade do piso.

101

31,4

217

67,4

2,24

1,32

2. Cobertura (teto) do ambiente físico.

81

25,2

241

74,8

2,10

1,50

3. Iluminação necessária (Quer natural ou artificial).

256

79,5

58

18,0

3,09

1,49

4. Limpeza.

113

35,1

208

64,6

2,28

1,42

5. Sanitário.

203

63,0

119

37,0

2,08

1,36

6. Vestiário.

147

45,7

173

53,7

1,97

1,36

7. Bebedouro.

205

63,7

114

35,4

2,30

1,51

8. Conservação e qualidade das instalações físicas.

113

35,1

205

63,7

2,14

1,37

9. Quantidade satisfatória do material desportivo.

59

18,3

261

81,1

1,77

1,22

10. Conservação e qualidade do material desportivo.

81

25,2

237

73,6

1,97

1,29

11. Segurança das instalações físicas.

126

39,1

193

59,9

2,51

1,58

12. Local apropriado para guardar o material desportivo

177

55,0

143

44,4

2,88

1,56

13. Variações climáticas nas atividades desportivas

235

73,0

85

26,4

1,97

1,43

14. Local arborizado para as atividades desportivas.

153

47,5

166

51,6

2,94

1,56

Ambiente social

 

15. Bom relacionamento entre os alunos.

265

82,3

56

17,4

3,87

1,44

16. Bom relacionamento entre professor (a) e alunos (as)

257

79,8

64

19,9

3,81

1,43

17. Bom relacionamento entre alunos (as) e a direção

206

64,0

115

35,7

3,29

1,63

18. Bom relacionamento entre professor (a) e a direção

266

82,6

52

16,1

3,67

1,41

Atividade técnico-pedagógica/ eventos

 

19. Volume adequado das atividades desportivas.

125

36,8

196

60,9

2,62

1,42

20. Horário apropriado para as atividades desportivas.

142

44,1

173

53,7

2,66

1,57

21. Realização dos Jogos Internos na sua escola.

219

68,0

102

31,7

3,14

1,58

22. Participação em Jogos Amistosos com outras escolas.

172

53,4

147

45,7

2,98

1,56

23. Participação nos Jogos Escolares de Pernambuco

88

27,3

231

71,7

2,52

1,56

Estrutura de apoio

 

24. Apoio da família do aluno para atividades desportivas

234

72,7

85

26,4

3,70

1,48

25. Posto médico próximo para atendimentos emergenciais

107

33,2

213

66,1

1,92

1,40

26. Assistência médica do Governo Estadual

223

69,3

97

30,1

1,73

1,18

27. Realização de exame médico periódico para os alunos

19

5,9

301

93,5

1,60

1,03

28. Apoio da direção da escola para práticas desportivas

61

18,9

259

80,4

1,76

1,21

29. Condições financeiras do aluno para o desporto escolar

115

35,7

206

64,0

2,12

1,42

30. Necessidades dos alunos trabalharem

226

70,2

94

29,2

2,45

1,50

    O 1º bloco de fatores apresenta quatorze itens relativos ao Ambiente físico das instalações desportivas e materiais desportivos, os resultados quanto ao grau de satisfação atribuídos pelos sujeitos a esses fatores estão apresentados na Figura 02.

    No conjunto de fatores relativos ao Ambiente Físico das instalações desportivas e materiais desportivos (Ver Quadro 2 e Figura 2), as melhores médias, no grau de satisfação, superaram apenas a metade do valor máximo; iluminação (3,09), local arborizado (2,94) e local para guardar material desportivo (2,88). Os fatores que tiveram as médias mais baixas foram: “conservação e qualidade dos materiais e aparelhos desportivos” (1,77); “quantidade satisfatória dos materiais e aparelhos desportivos” (1,97); “variações climáticas no local utilizado para as práticas desportivas” (1,97); e vestiários (1,97).

    Há confirmação da existência de diversos fatores nos espaços desportivos das suas escolas como “iluminação” (79,5%); “sanitário” (63%); “bebedouro” (63,7%); “local para guardar o material desportivo” (55%); “variações climáticas (73%), contudo, as baixas médias relativas ao grau de satisfação dos sujeitos, revelam que, de acordo com os sujeitos, todos os ítens necessitam de conservação. Esses resultados mostraram a realidade da estrutura física escolar, a qual necessita de cuidados, reforços e adequações.

    A não realização de manutenção apropriada deixa as instalações desportivas deterioradas e sem qualidade para utilização, impedindo que as mesmas sejam utilizadas em função da baixa qualidade oferecida.

    Os diretores das escolas da amostra reconheceram que há problemas de conservação nos espaços destinados a prática desportiva, contudo relataram inúmeras dificuldades para realizar os necessários consertos, uma vez que estes dependem de transferências de verbas e decisões de órgãos governamentais em instâncias superiores.

    Em entrevista à revista do Conselho Federal de Educação Física, o então Secretário Nacional de Esportes, senhor Lars Grael (4) expôs a situação em que se encontravam as escolas brasileiras, no que diz respeito ao material desportivo e infra-estrutura:

    “A realidade nos mostra que é preciso dotar recursos para construção de quadras e instalações esportivas e fornecer material de baixo custo e boa qualidade.” (p. 23).

    O fatores relativos as variações climáticas estão presentes em todas as escolas, com a exceção de uma das escolas, que utiliza uma quadra coberta.

    É bastante prejudicial ao andamento das atividades desportivas escolares, quando estas encontram-se à mercê das variações climáticas, uma vez que há necessidade de interromper as atividades desportivas, algumas vezes por extensos períodos, ou realizá-las em locais improvisados, que disponham de cobertura, ou até suspendê-las.

    Nos dias de sol, o piso de cimento da quadra sem cobertura torna-se impraticável, pois em determinados horários, o calor é intenso, além do que impossibilita a realização de atividades que requeiram sentar ou deitar no chão e, até caminhar. Nos dias de chuva, as quadras ficam molhadas e escorregadias, não apenas durante a chuva, mas também depois da mesma cessar, em razão das deficiências de escoamento da água, buracos, inclinações, deixando-as sem condições para a prática desportiva.

    Entre as sete escolas que constituem a amostra, duas não dispõem de nenhum espaço específico para práticas desportivas. As aulas de Educação Física acontecem em espaços adaptados, gerando desestímulos ao corpo discente das referidas escolas em relação às atividades desportivas.

    O 2º bloco de fatores é constituído por quatro itens relativos AO AMBIENTE SOCIAL, a Figura 03 apresenta os resultados quanto ao grau de satisfação atribuídos pelos sujeitos a esses fatores.

    Os valores conferidos pelos sujeitos a esses fatores de acordo com a Figura 3 foram os mais altos, com médias que variaram de 3,29 a 3,87. Embora o contexto escolar seja o espaço de uma intensa diversidade de comportamentos, atitudes, hábitos, costumes e valores.

    Dos quatro grupos estabelecidos, verifica-se no relativo às relações sociais os índices mais elevados, com percentuais que variaram de 64 a 82,6% (Ver Quadro 2), confirmando a existência de bons relacionamentos entre os atores escolares (alunos, professores e direção da escola), creditando esses dados como facilitadores para a prática desportiva escolar.

    O 3º bloco de fatores apresentado é formado por itens relativos às ATIVIDADES TÉCNICO-PEDAGÓGICAS E EVENTOS. A Figura 04 mostra os resultados quanto ao grau de satisfação dos sujeitos referentes a este bloco de fatores, de acordo com a compreensão dos mesmos.

    É possível verificar no Quadro 2 e na Figura 4 o reduzido grau de satisfação dos sujeitos em relação ao volume (quantidade de horas/sessões) das aulas, treinamentos, e/ou competições, média 2,62. A reduzida e não sistemática oferta de aulas, treinos e competições prejudicam a qualidade do aprendizado, bem como o estilo de vida ativa dos alunos.

    De acordo com o Quadro 2 apenas 27,3% dos sujeitos tiveram a oportunidade de participar ao menos em uma ocasião no período compreendido entre Fevereiro de 2001 e Dezembro de 2002 dos Jogos Escolares de Pernambuco, enquanto 71,7% registraram não haver participado desta atividade. A média do grau de satisfação foi de 2,52, indicando que o fator dificulta a prática desportiva na escola.

    O 4º e último bloco de fatores é formado por elementos relativos à ESTRUTURA DE APOIO, os resultados quanto ao grau de satisfação atribuídos pelos sujeitos a esses fatores são apresentados na Figura 05.

    O apoio da família foi um fator apontado pela grande maioria da amostra, como existente (Ver Quadro 2) e consequentemente o grau de satisfação considerou que essa relação positiva de ajuda facilita a prática desportiva representado pela média geral de 3,7 (Figura 5). As respostas dos sujeitos revelam que há o incentivo pela família à prática desportiva. Este é um dado positivo, demonstrando um bom potencial para a pratica desportiva, desde que sejam dadas as condições adequadas.

    Os demais fatores tiveram médias mais baixas, compreendidas entre 1,60 a 2,45; dentre estes, destaca-se a ausência da: “realização de exames médicos periódico para os alunos” e “apoio da direção da escola”. Os alunos das escolas públicas do Estado de Pernambuco são na sua maioria crianças e jovens pertencentes a famílias de nível sócio-econômico baixo, e que não dispõem de plano saúde privado, tendo que recorrer ao frágil sistema público hospitalar. As deficiências com alimentação e corriqueira utilização de “medicina caseira”, com reduzidos cuidados e/ou orientações médicas mantêm os alunos desinformados sobre suas reais condições de saúde, possibilitando casos de risco de vida.

Conclusões

    Foi possível, em síntese, através desta investigação, observar que: a) As médias apresentadas pelos sujeitos em relação aos trinta fatores organizacionais revelaram um baixo nível de satisfação em relação à Gestão do Desporto no contexto escolar; b) As escolas não têm local e materiais adequados à prática desportiva. Os locais são improvisados, e a quantidade e qualidade dos materiais desportivos não atendem às necessidades dos alunos; c) Em nenhuma das escolas pesquisadas funciona o chamado Desporto Educacional (Programa do Governo Brasileiro para a prática do Desporto de jovens escolares). O percentual de sujeitos participantes do Desporto Escolar é baixo. Desta forma podemos questionar o que faz o elevado percentual de alunos que fica fora da prática do desporto?; d) O número de modalidades desportivas praticadas nas escolas é reduzido e não atende as expectativas dos alunos. Estes sequer têm conhecimento do conjunto de modalidades desportivas disputadas através dos Jogos Escolares Estaduais. Apesar das expectativas manifestadas pelos alunos, a oferta de modalidades desportivas para a prática do Desporto Escolar é restrita.

    Entre os principais motivos apontados pelos sujeitos para não participarem do Desporto na Escola, estão: “não havia treino para modalidade da sua preferência” e “não havia treino desportivo na sua escola”. Estes motivos, apontados pelos alunos para não haver a prática do Desporto Escolar, confirmam a deficiência do sistema organizacional na oferta de modalidades desportivas, de forma a atender as expectativas dos alunos.

    Além do que, verifica-se não haver registro sobre levantamentos realizados quanto as preferências dos alunos em relação às modalidades desportivas que gostariam de praticar. Revelando a pouca importância que o sistema de gestão atribui às necessidades dos alunos e/ou praticantes do Desporto Escolar.

    Os sujeitos manifestaram seu grau de satisfação em relação a prática do Desporto Escolar, através de médias que variaram de 1,60 a 3,87, em uma escala que variava de 1 – Dificulta Muito à 5 – Facilita Muito. Estes valores revelaram que as médias não chegaram a atingir na escala o valor 4 – Facilta um Pouco. Os dados revelam um baixo nível de satisfação em relação aos fatores organizacionais e, consequentemente, à Gestão do Desporto no contexto da escola.

    A realidade apontada pelos inquiridos demostra que “Os Fatores Organizacionais relacionados ao Ambiente Físico, Atividades Técnico – Pedagógicas/Eventos e Estruturas de Apoio” da Escola da Rede Pública Pernambucana, interferem de forma negativa, provocando uma reduzida participação de alunos de ambos os sexos, no Desporto Escolar, com excepção dos fatores relacionados ao “Ambiente Social”.

    Diante do exposto neste artigo percebemos a necessidade de revisão das políticas públicas e reorganização da Gestão do Desporto Escolar em Pernambuco, particularmente no contexto das escolas públicas da zona norte central da cidade do Recife. Assim, acredita-se que podem ser organizadas ações em dois âmbitos: na Investigação e no Planejamento das Instalações Desportivas, de forma a atender com qualidade a Gestão do Desporto Escolar no Estado de Pernambuco.

Referências

  1. Bento, J. (1998). Desporto e Humanismo. O Campo do Possível. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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  3. Fonseca, A. (2000). A Motivação dos Jovens para o Desporto e os seus Treinadores. Horizontes e Órbitas no Treino dos Jogos Desportivos: Porto. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto: 155 – 174.

  4. Grael, L. (2001). Entrevista sobre os Projetos de Esporte no Brasil. Revista do Conselho Federal de Educação Física 01: 22-26.

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  6. Pernambuco, Instrução Normativa (1996). Instrução Normativa nº. 01/96 Secretaria de Educação e Esportes. Diário Oficial da União, Recife, 13 de Julho de 1996.

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  8. Pires, G.; Sarmento, P. (2001). Conceito de Gestão do Desporto. Novos desafios, diferentes soluções. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. 1: 88-103.

  9. Vieira, A. (2003) A Influência dos Fatores Organizacionais na Prática do Desporto em Escolas Públicas da Cidade do Recife – Pernambuco – Brasil. Tese de Mestrado. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto.

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