Perfil das aulas de voleibol dos graduandos do curso de Educaç ão Física de uma universidade pública de Minas GeraisPerfil de las clases de voleibol de los estudiantes de pregrado del curso de Educación Física de una universidad pública de Minas Gerais |
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* Graduanda em Educação Físicapela Universidade Federal de Viçosa **Graduada pela Universidade Federal de Viçosa (Brasil) |
Tábata Aline Januário* Juscélia Cristina Pereira* Suellen Andrade Pissarra** |
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Re sumoO voleibol como conteúdo nas aulas de Educação Física, é um conteúdo rico de possibilidades de trabalho, pois se projeta numa dimensão complexa de sentido e significado. Em se tratando do voleibol como conteúdo, ainda há uma visão dicotômica, pois se tratando de um esporte, entende-se apenas pelo viés da competição, do treinamento e do alto nível, o abominado como conteúdo de importante relevância histórico-cultural. Portanto, o objetivo deste estudo é verificar a construção do plano de aula, ministrado dentro da disciplina Prática Pedagógica do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa. O estudo é de caráter exploratório, do tipo descritivo, utilizando uma metodologia transversal. Foram avaliados 8 planos de aulas os seguintes aspectos: tema, faixa etária, objetivo, metodologia, abordagem pedagógica, avaliação, materiais utilizados, referencial bibliográfico. Observou-se coerência na maioria dos itens dos planos de aula. Porém, podem-se citar como falhas os seguintes aspectos de uma maneira geral: menção a abordagem pedagógica utilizada, avaliação da aula, uso de temas mais complexos demonstrando maior domínio do conteúdo e referencial bibliográfico utilizado. Estas podem ser justificadas pela falta de preparação adequada dos graduandos ao voleibol como conteúdo escolar e as suas respectivas correntes pedagógicas. Unitermos: Plano de aula. Escola. Formação acadêmica. Voleibol.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010 |
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Introdução
A escola juntamente com a família são os alicerces para a educação do ser humano. A instituição escolar não intervém apenas no saber cientifico, mas em todos os aspectos de socialização e individualização da criança, como: o desenvolvimento das relações afetivas, a habilidade de participar em situações sociais, a aquisição de destrezas físicas, o desenvolvimento da identidade sexual e o conhecimento sobre si próprio (PALACIOS, 1999).
O movimento humano é uma forma de expressão cultural envolvendo elementos históricos, técnicos, políticos e étnicos que devem ser estudados e vivenciados na escola (SILVEIRA e PINTO, 2001). Para Castellani Filho (1998), é necessário dar um tratamento pedagógico aos temas que envolvam a cultura corporal, pois são repletos de significado e sentido, sendo construídos culturalmente.
Segundo a LDB/96 a Educação Física é um componente curricular da educação básica tendo com função educar para compreender e transformar a sociedade, a partir do conhecimento da cultura do movimento humano. É baseada nos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos com o objetivo de desenvolver uma reflexão pedagógica sobre a cultura corporal, contribuindo para o desenvolvimento dos princípios como: cooperação, solidariedade, respeito e emancipação (liberdade de expressão) (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Através da Educação Física, os indivíduos são levados a um “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, para que possam descobrir que são seres concretos capazes de agir e criticar o meio em que vive, que é marcado por classes sociais que possuem interesses totalmente divergentes (GHIRALDELLI, 1990). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a Educação Física sugerem como valores importantes dentro do processo educacional, atitudes relacionadas à inclusão, autonomia, cooperação e respeito.
A promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais é um dos componentes curriculares envolvidos na educação básica (LDB/96). Segundo Coletivo de Autores (1992) os principais conteúdos abordados nas aulas de Educação Física no ambiente escolar são: jogos, esportes, capoeira, ginástica e dança.
O esporte é um dos conteúdos da Educação Física mais discutida entre os profissionais da área. Para Parlebás (1987) o esporte dá oportunidade de formar alunos “patifes” ou cidadãos conscientes e ativos na sociedade. O esporte na escola quando é tratado como profissional tem o objetivo de formar atletas, com uma performance obrigatória em busca de resultados, além de transformar os alunos em homens fortes, competitivos, ágeis e aptos para servir a sociedade, reproduzindo ainda mais as desigualdades sociais (GALATTI e PAES, 2006). Além desta teoria tecnicista, Go tani (1991), defende a teoria desenvolvimentista, tendo o movimento humano e a cultura relacionando dialeticamente, reduzindo o homem apenas ao biológico, descaracterizando toda a sua história.
Para Garganta (1995) os esportes coletivos como, por exemplo, handebol, basquete, futebol e voleibol proporcionam ações que devem ser solucionadas em grupo, visando assim à solidariedade e o respeito pelo outro. Segundo Kunz (1989) o conteúdo esporte nas aulas de Educação Física escolar deve ser no sentido dos alunos poderem compreender este fenômeno sócio-cultural, questionar suas regras e suas condições de adaptação à realidade social.
O esporte, devido ao seu aspecto dinâmico, pelas regras, funções táticas e técnicas envolvidas, quando associado a uma pedagogia que privilegie a imprevisibilidade e as diversas situações-problemas parecem contribuir para um desenvolvimento das inteligências múltiplas proporcionadas pelos gestos motores (GALATTI e PAES, 2006).
O voleibol, um dos conteúdos da Educação Física escolar é praticado através do saque, passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa com o objetivo de marcar o ponto e vencer o jogo. É um esporte que requer constante raciocínio, antecipação e tomadas de decisão por parte dos praticantes, além de oferecer múltiplas possibilidades de desenvolvimento motor (BOJIKIAN, 2003).
Portanto, o objetivo deste estudo é analisar planos de aula cujo conteúdo é voleibol, durante a disciplina Pratica Pedagógica do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa. Além disso, observar a coerência entre as atividades e a abordagem pedagógica utilizada e discutir como seria uma melhor forma de abordagem do esporte, no caso o voleibol na (ou da) escola, discutindo também as vantagens e desvantagens da disciplina para a nossa formação acadêmica.
Metodologia
1. Tipo de estudo
Este estudo teve caráter exploratório do tipo descritivo, utilizando metodologia transversal.
2. Amostra
Foram analisadas neste estudo oito (8) aulas do conteúdo Voleibol, aplicadas por alunos do curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV), como requisito para aprovação na disciplina EFI 334 _ Prática Pedagógica III.
A seleção das aulas foi realizada de forma intencional não probabilística, com o intuito de realizar a pesquisa em um conjunto homogêneo em relação período, público alvo, espaço utilizado e conteúdo.
3. Critérios de inclusão
Para seleção da amostra respeitaram-se os seguintes critérios de inclusão: a) as aulas deviam fazer parte da disciplina EFI 334 _ Prática Pedagógica III; b) a data das aulas devia respeitar o período de agosto a dezembro de 2008; c) as aulas devem ter sido executadas no ginásio da UFV; d) o público para quem as aulas foram estruturadas deveria ter idade escolar; e) o público para quem as aulas foram ministradas devia ser estudantes de Educação Física da UFV; f) o conteúdo de todas as aulas devia ser a disciplina voleibol.
4. Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada através da análise das atividades e dos subitens dos planos de aula. Para coleta das variáveis de estudo, foram adotados os seguintes procedimentos:
4.1. Tema
Foi observado se havia nos planos de aula repetição de temas ou se cada grupo ficou responsável por um diferente, o que indicaria se o mesmo foi escolhido pelos alunos ou distribuído pelo professor da disciplina.
4.2. Público alvo
As atividades elaboradas nos planos de aula foram analisadas para verificar se havia coerência com a faixa etária a qual se propuseram a atender. Além disso, foi observado o nível de escolaridade do público alvo, com a intenção de verificar os que mais se repetem e o porquê deste fato.
4.3. Materiais utilizados
Foi observado se constava nos planos de aula restrição de materiais ou se a quantidade e variações destes estavam fora da realidade das escolas públicas.
4.4. Objetivo
As atividades elaboradas nos planos de aula foram analisadas para verificar se havia coerência com o objetivo proposto para a mesma aula.
4.5. Metodologia
Foi observado se a metodologia empregada em cada aula foi descrita nos planos de aula.
4.6. Abordagem Pedagógica
Foi pesquisada a presença ou não de abordagens pedagógicas nos planos de aula e em casos positivos verificaram-se quais foram às abordagens mais utilizadas e se elas estão de acordo com as diretrizes propostas na literatura.
4.7. Avaliação
Foi observado se havia nos planos de aula uma avaliação final do conteúdo dado em aula, objetivando fixar o que foi transmitido e saber o que foi assimilado.
4.8. Referências bibliográficas
Foi observado se havia nos planos de aula referências bibliográficas e nos casos positivos, se há coerência entre as abordagens pedagógicas utilizadas e as referências utilizadas.
5. Instrumentos utilizados
Para análise das aulas observadas foram utilizados os planos de aula das mesmas, formulados por alunos do curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV), como requisito para aprovação na disciplina EFI 334 - Prática Pedagógica III.
6. Análise dos dados
Foi realizada a estatística descritiva dos dados através da análise de porcentagens.
Resultados
1. Caracterização da amostra
Todos os planos de aula analisados contêm capa, cabeçalho com nome da instituição e integrantes do grupo, todos foram elaborados para uma aula de 40 minutos. A maior parte dos planos foi formulada por um grupo de três (3) alunos, tendo ainda plano criado por dois (2) e apenas um (1) aluno, conforme pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1. Divisão dos grupos
Quantidade de pessoas/grupo |
Percentagem da amostra |
1 pessoa |
12,5 % |
2 pessoas/grupo |
12,5 % |
3 pessoas/grupo |
75 % |
2. Verificação dos temas nos planos de aula
É possível observar que dentre os oito temas abordados em grande parte houve repetição, conforme evidencia a Tabela 2, o que indica que os mesmos foram escolhidos pelos alunos ou foram mal distribuídos pelo professor da disciplina.
Tabela 2. Distribuição dos temas
Temas |
Percentagem da amostra |
Jogos pré-desportivos |
25 % |
Levantamento |
12,5 % |
Fundamentos de defesa e toques de recurso |
12,5 % |
Sistema tático defensivo |
12,5 % |
Bloqueio e Cortada |
37,5 % |
3. Verificação da adequação das atividades ao público alvo
Através da análise das atividades propostas e observação das aulas dadas é possível dizer que houve coerência entre o conteúdo e o público alvo ao qual foi destinado. Observando o nível de escolaridade para o qual as aulas foram elaboradas é possível verificar uma série escolar que se destacou mais, correlacionando-a com faixa etária correspondente. Esta análise está disponível na Tabela 3.
Tabela 3. Público alvo
Série escolar |
Faixa etária correspondente |
Percentagem da amostra |
6ª série |
12 anos |
62,5 % |
7ª série |
13 anos |
12,5 % |
8ª série |
14 anos |
25 % |
4. Verificação dos materiais utilizados
Através da análise das atividades e materiais utilizados pode-se dizer que houve criatividade e originalidade na elaboração dos planos de aula. Foram utilizados materiais alternativos como: bambolês, lençóis, som, corda substituindo a rede, bexigas substituindo as bolas de vôlei e cones substituindo os adversários. Entretanto, 75 % citaram rede como material necessário para a aula e 100% citaram a bola, sendo que 62,5 % desses especificaram que deveria ser “bola de voleibol”. Apenas um plano de aula não exigiu rede e nem bola específica de voleibol, evidenciando que não houve na disciplina EFI 334 _ Prática Pedagógica III, simulação de restrição de materiais, estando os planos, portanto, fora da realidade das escolas públicas.
5. Verificação da adequação das atividades aos objetivos
Analisando os planos pode-se dizer que 87,5 % da amostra continham os objetivos da aula descritos, o que corresponde a sete (7), dos oito (8) planos analisados. Através da análise das atividades propostas nesses sete (7) planos e observação das aulas dadas é possível dizer que houve coerência entre o conteúdo e os objetivos estipulados no plano.
6. Verificação da descrição da metodologia nos planos de aula
Foi possível observar que apenas 50 % dos grupos descreveram a metodologia no plano de aula, sendo que, pela observação das aulas dadas, é possível inferir que todos os que o fizeram, detalharam como a aula transcorreria, o que contribuiu para sua melhor orientação no momento de ministrara aula.
7. Averiguação da presença de abordagens pedagógicas nos planos de aula
Foi possível verificar que 62,5% dos planos de aula não tinham estrutura de nenhuma linha de pensamento e 37,5 % relata ter seguido uma corrente pedagógica, sendo que 25% optaram pela abordagem da cultura corporal e 12,5% pela corrente desenvolvimentista, o que pode ser averiguado no Gráfico 1.
Gráfico 1. Abordagens pedagógicas
8. Verificação da descrição da avaliação nos planos de aula
Foi observado que 87,5% dos planos de aula não continham uma avaliação da aprendizagem do conteúdo no final, ou seja, apenas 12,5% dos grupos se preocuparam em fixar o que foi transmitido e saber o que foi assimilado.
9. Verificação da coerência entre as abordagens pedagógicas e as referências utilizadas
Foi observado que apenas 37,5% dos planos descreveram as referências bibliográficas utilizadas para formular as aulas, sendo que as referências encontradas foram livros de iniciação ao voleibol (12,5%), um site de aulas prontas (12,5%) e as anteriores juntas (12,5%), o que pode ser melhor visualizado no Gráfico 2.
Analisando os planos é possível dizer que a aula com abordagem desenvolvimentista teve como referência bibliográfica um site de aulas prontas e quanto às aulas com abordagem da cultura corporal, metade não descreveu a referência utilizada e a outra metade teve como referência bibliográfica um livro de iniciação ao voleibol e o site de aulas prontas.
Gráfico 2. Referências bibliográficas
Discussão
Observando os três parâmetros básicos que devem estar presentes em um plano de aula que visa desenvolver a cultura corporal, verificou-se que nos planos que se propuseram a desenvolver essa abordagem estava presente a “problematização” no início, não fizeram “divisão das atividades por gênero” no desenvolvimento do trabalho, entretanto não descreveram como seria a “avaliação do conteúdo” no final da aula. Dessa forma, pode-se dizer que a corrente pedagógica, da forma que foi abordada, está parcialmente de acordo com as diretrizes propostas na literatura.
Quanto à abordagem desenvolvimentista, Go Tani (1999) admite como objetivo fundamental para a educação física nessa faixa etária o ensino das habilidades motoras básicas e vê o movimento como meio e fim da educação física, ou seja, uma aula de educação física deve privilegiar o movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens. O único plano de aula que abordou a corrente desenvolvimentista utilizou movimentos naturais como correr, saltar e dançar em seu plano de aula, caracterizando o “movimento” preconizado na literatura, entretanto em seu objetivo não foram citados os principais objetivos da corrente desenvolvimentista, que são adaptação e aprendizagem motora. A metodologia dessa abordagem é a aprendizagem sobre e através do movimento, contudo esta aula foi uma das que não descreveram a metodologia no plano. Além disso, deveria constar na avaliação final da aula uma observação sistematizada da habilidade dos alunos, porém esse plano também não descreveu como seria feita a avaliação final dos alunos. Dessa forma, pode-se dizer que a corrente pedagógica, do modo como foi abordada, está parcialmente de acordo com as diretrizes propostas na literatura.
Se tratando de um esporte, como um conteúdo pedagógico pertencente ao currículo escolar, Coletivo de autores (1992), refere o esporte como uma prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Devendo ser analisado em seus variados aspectos, como é abordado pedagogicamente no sentido do esporte “da” escola e não como esporte “na” escola.
Quanto à estrutura dos planos de aula, alguns não continham o objetivo da aula, e outros não descreviam como seria esta metodologia, já partindo para a descrição das atividades. Pode-se notar também uma ausência de avaliação final da aula, consolidando os objetivos propostos para a mesma. A maioria não possuía um referencial bibliográfico que serviu de estrutura para a elaboração da aula.
Quanto ao público, pode-se observar que os planos de aulas direcionaram majoritariamente sua faixa etária níveis iniciais do ensino fundamental, abordando temas que se voltasse basicamente para a iniciação a prática esportiva desta modalidade e/ou ao conhecimento de fundamentos específicos do voleibol. Todos os planos de aula respeitaram o ciclo de escolarização proposto pelo Coletivo de autores (1992), na qual o terceiro ciclo que corresponde a sétima e oitava série é o ciclo de ampliação e sistematização do conhecimento, o que pode ser observado no plano de aula que trabalhou o sistema tático defensivo. Os demais planos de aula concentraram sua faixa etária no segundo ciclo, que compreende da quarta até a sexta série, sendo o ciclo de iniciação a sistematização do conhecimento.
Quanto aos materiais utilizados, deve-se atentar para a realidade escolar, o professor deve ter criatividade e saber planejar a aula de maneira rica de forma que interfira no mínimo possível na transmissão do conhecimento.
A livre escolha da faixa etária juntamente com o tema das aulas pode ser justificada pela falta de domínio dos professores em trabalhar temas com uma maior complexidade referente a esta modalidade. Os temas variam em: jogos pré-desportivos, iniciação aos fundamentos básicos como toque de levantamento, bloqueio, cortada, cobertura de ataque e toque de recursos. Em nossa amostra nenhum plano de aula abordou o fundamento do saque, do levantamento e da manchete.
Apenas um plano de aula trabalhou tática, abordando o sistema tático defensivo, e nenhum dos planos de aula consultado trabalhou aprimoramento técnico e tático com intuito de melhorar o gesto como proposto para o Ensino médio. O que pode ser justificado por ser um tema mais complexo, que compreende o quarto ciclo de escolarização, proposto pelo Coletivo de Autores (1992), como o ciclo de aprofundamento da sistematização do conhecimento, na qual está inserido o Ensino Médio.
A partir desta análise das temáticas abordadas nos planos de aula, questionamos a preparação destes futuros professores em ministrar o conteúdo do voleibol em sua prática escolar, visto que para muitos é um esporte de pouca vivência e experiência por parte dos futuros educadores, além também do tempo de aula para ministrar as aulas terem sido insuficiente, pois tinham planos de aula que continham até três professores ministrando uma aula de quarenta minutos. Contudo, todos esses fatores podem ser uma limitação para ser trabalhados na escola com temas que sobrepujam a superficialidade e características da iniciação e que adentrem para temas que demandam um conhecimento mais amplo da modalidade, contribuindo para formação e ampliando o conhecimento do aluno acerca deste esporte.
Segundo o Conteúdo Básico Comum (2005), trabalhar o aprimoramento técnico e tático como um conteúdo do Ensino médio, por exemplo, significa trabalhar as técnicas com consciência, conhecer mais profundamente o sentido de cada técnica, entendê-las do ponto de vista biomecânico e fisiológico. Pode significar também o trabalho de refinamento da execução dessas técnicas, especialmente contextualizando a aprendizagem em situações semelhantes às situações de jogo. Significa também compreender as técnicas esportivas como uma construção histórica inacabada, criadas e desenvolvidas tendo em vista as regras, o significado central e as características da modalidade e dos praticantes. Ao aprofundar seu conhecimento, o aluno torna-se capaz de analisar diferentes soluções encontradas pelos praticantes para executar determinadas técnicas esportivas, em diferentes momentos históricos e também contextualizar e diferenciar a aprendizagem das técnicas no esporte educacional, no esporte de participação e no esporte de alto rendimento.
Sua proposta como conteúdo básico comum para ensino da educação física, o Conteúdo Básico Comum (2005), propõe que se trabalhem temas com histórico, regras, tática, riscos e benefícios para a prática esportiva, diferença entre o esporte educacional, de rendimento e de participação, hidratação e vestuário nas práticas esportivas, inclusão no esporte, importância do esporte no desenvolvimento de atitudes e valores éticos e democráticos para os alunos correspondentes à educação básica. E para o ensino médio é proposto o aprimoramento técnico tático das modalidades esportivas, regras, relação entre esporte, saúde, doping e qualidade de vida, esporte, lazer e sociedade e esporte, consumo e mídia. Entretanto, pode-se afirmar que o ensino do voleibol em uma prática escolar não deve se limitar apenas ao ensino de conteúdos básicos, e sim se deve interpenetrar em um sentido muito mais amplo contextualizado na realidade dos alunos.
Considerações finais
Concluindo, apesar de ser certa negligência negar alguns possíveis benefícios implícitos na prática da disciplina, como melhoria do comando de voz, da postura de professor, da criatividade para elaboração e adaptação das atividades e materiais, do conhecimento sobre a disciplina e sobre abordagens pedagógicas, entre outros, deve-se admitir que a disciplina apresente diversas falhas e incoerências entre a prática e os objetivos, entre os quais pode-se citar:
Impossibilidade de conhecimento das reais dificuldades da faixa etária para a qual os planos de aula se destinam, uma vez que o nível de maturação dos alunos da disciplina não permite tal simulação.
Muito pouco tempo de atuação como professor, de modo que a maior parte do tempo da disciplina os discentes estavam atuando como alunos.
Falta de conhecimento ou orientação por parte dos alunos acerca das correntes pedagógicas e o que cada uma propõe, uma vez que a maior parte dos planos analisados não apresentava explicitamente orientação de alguma corrente pedagógica.
Assim sendo, faz-se necessário repensar a proposta teórica e a aplicação prática da disciplina, levando em conta os objetivos iniciais e a possibilidade de realmente oferecer significativos benefícios na formação do profissional de educação física, intervindo em seu crescimento pessoal e profissional.
Referências bibliográficas
BOJIKIAN, J. C. A disciplina voleibol nos cursos de licenciatura em Educação Física: uma proposta de conteúdo e avaliação. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, Ano 2, Nº 2, p.116-177, 2003.
CASTELLANI FILHO, L. Política Educacional e Educação Física. 1ª ed. Campinas: Autores Associados, 1998. V. 01. 93 p.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
GALATTI, L. F.; PAES, R. R. Fundamentos da pedagogia do esporte no cenário escolar. Movimento e percepção. Espírito Santo do Pinhal, SP, v.6, n.9, 2006.
GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. (Eds). O ensino dos jogos desportivos coletivos. 2ª ed. Lisboa: Universidade do Porto, p. 11-25, 1995.
GHIRALDELLI JÚNIOR, P. Educação física e pedagogia: a questão dos conteúdos. Revista Brasileira das Ciências do Esporte, p. 133-136, 1990.
KUNZ, E. O esporte enquanto fator determinante na educação física. Contexto & Educação, v. 15, n. jul/set, p. 63-73, 1989.
MINAS GERAIS. Proposta Curricular – Conteúdo Básico Comum- CBC. Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br. Acesso em: 20 nov. 2009.
PALACIOS, J.; COLL, C.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
PARLEBÁS, P. Perspectivas para uma educação física moderna. S.L.P. Unisport, Andalucia, 1987.
SILVEIRA, G. C. F.; PINTO, J. F. Educação Física na perspectiva da cultura corporal: uma proposta pedagógica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, n.22, v.3, p.137-150, 2001.
TANI, G. Perspectiva para a Educação Fisica escolar. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.5, n(1/2), p. 61-69, 1991.
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