Desenvolvimento de um programa de atividade física para alunos com deficiência mental na melhora das habilidades motoras Desarrollo de un programa de actividad física para alumnos con deficiencia mental para la mejora de las habilidades motoras |
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*Alunos do curso de Educação Física, Universidade de Franca UNIFRAN ** Docente do curso de Educação Física, Universidade de Franca UNIFRAN ***Docente do Mestrado em Promoção de Saúde Universidade de Franca Docente do curso de Educação Física Universidade de Franca UNIFRAN (Brasil) |
Profa. Luciana Braulino Ferracini* Prof. Gustavo Henrique Gonçalves* Ms. Rodrigo Romero Faria Santos** Ms. Luciana Moreira Motta** Dra. Maria Georgina Marques Tonello*** |
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Resumo A locomoção é um aspecto fundamental no aprendizado do movimentar-se, efetiva e eficientemente, pelo ambiente. Atividades como caminhar e correr são consideradas padrões fundamentais de movimento ou habilidades motoras básicas. Este estudo teve como objetivo avaliar a melhora nas habilidades motoras básicas: andar e correr, em alunos com deficiência mental, após a aplicação de um programa de atividade física orientado. Participaram deste estudo quatro alunos com deficiência mental (P1), (P2), (P3), (P4), idade de 16 a 23 anos. Os materiais utilizados foram cones, bambolês, bolas, cordas, banco sueco. Uma filmadora digital e fitas de vídeo. O delineamento experimental escolhido para este estudo foi o de pré-teste e pós-teste. Os participantes foram inicialmente filmados realizando 3 tentativas de cada habilidade, andar e correr, por um percurso de 20 m cada tentativa. Após um programa de atividades motoras orientadas, envolvendo as habilidades motoras testadas, com duração de 15 semanas, os participantes foram novamente avaliados. As habilidades foram classificadas dentro de seus respectivos estágios de desenvolvimento: inicial, elementar e maduro segundo Gallahue e Ozmun (2005). Os resultados do pré-teste mostraram que o (P1) encontra-se no estágio inicial de desenvolvimento para as habilidades testadas. Vale ressaltar que o participante apresenta uma deficiência física, paresia espastica, associada à deficiência mental, o que dificulta a realização de habilidades de locomoção. Os participantes (P2) e (P3) apresentaram o estágio elementar de desenvolvimento das habilidades testadas. Apenas o (P4) apresentou o estágio maduro de desenvolvimento das habilidades andar e correr. Os resultados iniciais demonstraram que apesar da idade cronológica, três participantes ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento das habilidades testadas. Unitermos: Habilidades motoras. Andar. Correr. Deficiência mental. Aprendizagem motora.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010 |
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1. Introdução
Particularmente com relação à deficiência mental, o conceito atual, segundo Luckasson et al. (2002, p. 8), é:
Deficiência mental é caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, como expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de idade.
A deficiência mental é considerada condição deficitária que envolve habilidades intelectuais; comportamento adaptativo conceitual, prático e social; participação comunitária; interações e papéis sociais; condições etiológicas e de saúde; aspectos contextuais, ambientais, culturais e as oportunidades de vida do sujeito (CARVALHO; MACIEL, 2003).
O aspecto motor relacionado à população com deficiência mental é preocupação de alguns autores, como no estudo de Gorla, Rodrigues e Araújo (2003), que teve como objetivo analisar o progresso de alunos com deficiência mental relativo aos aspectos da coordenação motora global. Nesse estudo foi realizado um teste de coordenação corporal KTK (Körperkoordination Test für Kinder), que identificou as principais dificuldades motoras dos participantes. A partir das dificuldades encontradas, foi elaborado um programa de atividades motoras orientadas visando melhorá-las. Observou-se que todos os sujeitos tiveram progresso na coordenação corporal total; porém algumas características individuais, como: déficit de atenção, ansiedade, distração e timidez, contribuíram para um desempenho não satisfatório em algumas tarefas. Segundo os autores, os dados podem indicar um referencial: o Programa de Educação Física Orientado exerceu nos sujeitos do estudo uma melhora ou progresso na coordenação corporal, sugerindo, entretanto, a necessidade de aprofundamento de estudos em cada uma das variáveis.
As crianças com deficiência mental apresentam um nível de habilidades motoras fundamentais atrasado para sua idade cronológica: quanto mais elevado é o grau de deficiência, maior é o atraso no desenvolvimento das habilidades motoras (LOPES; SANTOS, 2002). Estudos revelam que pessoas com deficiência mental apresentam níveis de condicionamento físico inferiores aos de pessoas sem deficiência (NUNES; GODOY; BARROS, 2003). Esses baixos níveis podem dificultar a realização de suas tarefas da vida diária, o que leva também a uma redução da sua capacidade produtiva muito cedo. Os autores acreditam que esse nível de condicionamento físico inferior pode ser devido ao estilo de vida e à falta de estímulos a essa população.
A locomoção é um aspecto fundamental no aprendizado do movimentar-se, efetiva e eficientemente, pelo ambiente. Envolve a projeção do coro no espaço externo, alterando sua localização relativamente a pontos fixos da superfície. Atividades como caminhar e correr são consideradas padrões fundamentais de movimento ou habilidades motoras básicas. O desempenho desses movimentos deve ser suficientemente flexível, de modo que possam ser alterados à medida que as necessidades do ambiente o exijam, sem prejuízo do objetivo do ato. O padrão locomotor da caminhada pode ser usado sozinho ou em conjunto com movimentos manipulados ou estabilizadores. O padrão da caminhada pode ser elaborado pela inclusão do manuseio de objetos, como fazer pular uma bola e caminhar sobre uma trave de equilíbrio (GALLAHUE e OZMUN, 2005).
A caminhada tem sido muitas vezes definida como o processo de perder e de recuperar o equilíbrio continuamente, enquanto nos movimentos para frente, em posição ereta. O padrão de caminhada tem sido extensamente estudado em bebês, crianças e adultos, no entanto se faz necessário estudos envolvendo populações especiais, uma vez que eles apresentam muitas vezes dificuldades no âmbito motor.
A corrida é uma forma exagerada de caminhada. Difere desta porque existe uma breve fase aérea em cada passada, na qual o corpo fica sem contato com a superfície de apoio. A fase aérea é primeiramente observada por volta do segundo ano de vida. Antes disso, a corrida parece uma caminhada rápida com um pé sempre em contato com a superfície de apoio. O estágio inicial do padrão de corrida não depende da caminhada madura. Muitas crianças pequenas começam a correr antes de dominar o padrão maduro de caminhada. O padrão maduro de corrida é fundamental para participação bem-sucedida em muitas atividades relacionadas aos esportes.
Através de um programa de atividade física o aluno com deficiência mental pode melhorar os seus padrões de movimento: andar e correr, adquirindo um novo estágio de desenvolvimento, ampliando o seu repertório motor e conseqüentemente possibilitar uma melhor qualidade de vida.
2. Objetivo
2.1. Objetivo geral
Este estudo teve como objetivo avaliar a melhora nas habilidades motoras básicas, em alunos com deficiência mental após a aplicação de um programa de atividade física orientado.
2.2. Objetivo específico
Melhoria da condição motora;
Domínio do corpo para o desempenho das atividades diárias do indivíduo e inclusão em atividades recreativas e esportivas.
3. Método
3.1. Participantes
Participaram deste estudo quatro alunos com deficiência mental, de uma escola de ensino especializada para essa população de uma cidade do interior de São Paulo. Idade de 16 a 23 anos, sendo dois participantes do sexo feminino e dois participantes do sexo masculino.
3.2. Ambiente, materiais e equipamentos
O experimento foi realizado em uma Universidade situada próximo da escola dos participantes. Os testes e os treinos foram realizados na pista de atletismo e quadra esportiva. Os materiais utilizados foram cones, bambolês, bolas, cordas, carretéis, gols adaptados, banco sueco. Uma filmadora digital e fitas de vídeo.
3.3. Procedimentos gerais
Este estudo foi submetido ao Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (SISNEP). Foi elaborado e distribuído aos pais um termo de consentimento esclarecido para informar os objetivos do estudo e obter a autorização para a participação do aluno neste estudo.
3.4. Delineamento experimental
O delineamento experimental escolhido para este estudo foi o de pré-teste e pós-teste, tipo A-B Tawney e Gast (1984), após o desenvolvimento de um programa de atividade física orientada envolvendo as habilidades motoras básicas: andar e correr.
3.5. Procedimentos
3.5.1. Fase pré-teste
Os participantes foram filmados realizando 3 tentativas de cada habilidade: andar e correr, por um percurso de 20 m cada tentativa. O tempo foi registrado e as habilidades foram classificadas dentro de seus respectivos estágios de desenvolvimento: inicial, elementar e maduro, assim como os possíveis erros de execução. As avaliações foram feitas através de protocolos específicos para as habilidades motoras segundo Gallahue e Ozmun (2005).
3.5.2. Fase de treino
Os treinos foram realizados em duas aulas semanais, cada aula com duração de 50 minutos aproximadamente, por 10 semanas consecutivas.
Para a segurança dos participantes, em todas as atividades realizadas o pesquisador esteve presente, fornecendo ajuda verbal e física, caso necessário.
Os participantes receberam também feedback de informação e motivacional, informando os aspectos que necessitam melhorar no comportamento motor.
Os participantes receberam reforço social positivo a cada exercício realizado: “muito bem”! “Parabéns”!
Os treinos foram constituídos de atividades envolvendo as habilidades de andar e correr.
3.5.3. Fase pós-teste
Após um programa de atividades motoras orientadas, de duração de 10 semanas, os participantes foram filmados realizando 3 tentativas de cada habilidade: andar e correr, por um percurso de 20 m cada tentativa. O tempo foi registrado e as habilidades foram classificadas dentro de seus respectivos estágios de desenvolvimento: inicial, elementar e maduro. As avaliações foram feitas através de protocolos específicos para as habilidades motoras segundo Gallahue e Ozmun (2005).
4. Resultados e discussão
Os resultados do pré-teste mostraram que o (P1) encontra-se no estágio inicial de desenvolvimento para a habilidade andar. Vale ressaltar que o participante apresenta uma deficiência física, paresia espastica, associada à deficiência mental, o que dificulta a realização de habilidades de locomoção. Os participantes (P2) e (P3) apresentaram o estágio elementar de desenvolvimento do andar. Apenas o (P4) apresentou o estágio maduro de desenvolvimento da habilidade andar. Os resultados iniciais demonstraram que apesar da idade cronológica, três participantes ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento das habilidades testadas (Tabela 1).
No pós-teste (P1) encontrou-se no estágio inicial para a habilidade andar e suas principais dificuldades encontradas foi em manter a postura ereta, com perda de equilíbrio imprevisível, pernas rígidas e passos curtos. No entanto vale ressaltar que a deficiência física associada à deficiência mental foi um aspecto que dificultou o desenvolvimento do participante. O participante (P2) abandonou o projeto, dessa forma não foi realizado o pós-teste com o mesmo. O participante (P3) no pós-teste apresentou o estágio maduro para habilidade do andar O participante (P4) no pós-teste apresentou o estágio maduro para a habilidade testada (Tabela 1).
Tabela 1. Classificação segundo da habilidade andar para os participantes (P1), (P2), (P3) e (P4)
Participantes |
Pré-teste |
Pós-teste |
P1 |
Inicial |
Inicial |
P2 |
Elementar |
Não realizou |
P3 |
Elementar |
Maduro |
P4 |
Maduro |
Maduro |
Os resultados do pré-teste mostraram que o (P1) encontra-se também no estágio inicial de desenvolvimento para a habilidade correr. Esse resultado era esperado uma vez que a habilidade correr envolve componentes mais complexos que a habilidade de andar. Os participantes (P2) e (P3) apresentaram o estágio elementar de desenvolvimento de a habilidade correr. Apenas o (P4) apresentou o estágio maduro de desenvolvimento da habilidade correr (Tabela 2.).
No pós-teste (P1) encontrou-se no estágio inicial para habilidade correr, encontrando suas principais dificuldades em manter a postura ereta, com perda de equilíbrio imprevisível, pernas rígidas e passos curtos. No entanto vale ressaltar que a deficiência física associada à deficiência mental foi um aspecto que dificultou o desenvolvimento do participante. O participante (P2) abandonou o projeto, dessa forma não foi realizado o pós-teste com o mesmo. O participante (P3) no pós-teste apresentou o estágio elementar para habilidade do correr, apresentando dificuldades em componentes como: fase aérea limitada, oscilação do braço inibida, entre outros. O participante (P4) no pós-teste apresentou o estágio maduro para as habilidades testadas, com melhoras em componentes como equilíbrio e postura (Tabela 2.).
Tabela 2. Classificação segundo da habilidade correr para os participantes (P1), (P2), (P3) e (P4)
Participantes |
Pré-teste |
Pós-teste |
P1 |
Inicial |
Inicial |
P2 |
Elementar |
Não realizou |
P3 |
Elementar |
Elementar |
P4 |
Maduro |
Maduro |
5. Conclusão
O estudo demonstrou que após um programa de treinamento de 15 semanas, com aulas semanais (2x), podemos concluir que os participantes tiveram uma melhora na habilidade andar atingindo uma mudança de estágio de desenvolvimento. Já a habilidade correr permaneceu no mesmo estágio de desenvolvimento.
O treinamento envolveu uma variação de estímulos, percepções, realizados em diferentes superfícies, onde os participantes puderam passar por diferentes experiências de andar e correr. O trabalho foi diversificado de acordo com as necessidades apresentadas pelos alunos, por apresentarem necessidades educacionais especiais.
Concluímos que o desenvolvimento de atividades motoras podem contribuir para uma mudança de desenvolvimento motor do aluno com deficiência mental. Destacamos que a atividade física é importante também para o desenvolvimento de outras áreas como cognitiva, afetiva e social desses alunos. O estímulo é o principal aspecto a ser destacado neste estudo, já que essa população é muitas vezes negligenciada nos programas escolares de educação física.
Referências
CARVALHO, E. N. S.; MACIEL, D. M. M. A. Nova concepção de deficiência mental segundo a American Association on Mental Retardation - AAMR: sistema 2002. Temas em Psicologia da SBP, v. 11, n.2, p. 147 – 156, 2003.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.
GORLA, J. I.; RODRIGUES, J. L.; ARAUJO, P. F. Motor coordination of individual with intellectual disability: evaluation and intervention. Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, n. 63, 2003. http://www.efdeportes.com/efd63/motor.htm
LOPES, V. P.; SANTOS, M. Z. B. Desenvolvimento das habilidades motoras básicas em crianças portadoras de deficiência intelectual. Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 8, n. 50, 2002. http://www.efdeportes.com/efd50/crianc.htm
LUCKASSON, R.; BORTHWICK-DUFFY, S.; BUNTINX, W. H. H.; COULTER, D. L.; CRAIG, E. M.; REEVE, A.; SNELL, M. E. Mental Retardation – definition, classification, and systems of support. Washington, DC: American Association on Mental Retardation, 2002.
NUNES, R. L.; GODOY, J. R. P.; BARROS, J. F. Efeitos de um programa de exercícios resistidos em indivíduos adultos portadores de deficiência mental. Lecturas: Educacion Fisica y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 9, n 64. p 1-25, 2003. http://www.efdeportes.com/efd64/defic.htm
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