A motivação de pessoas com deficiência para a prática do esporte adaptado La motivación en las personas con necesidades especiales para la práctica del deporte adaptado |
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*Mestrando em Atividade Física Adaptada Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal **Professora Doutora do Centro de Educação Física e Desportos Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil ***Mestranda em Educação. Universidade Federal de Santa Maria, RS |
Vinícius Denardin Cardoso* Luciana Erina Palma** Ângela Kemel Zanella*** (Brasil) |
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Resumo Este estudo objetivou identificar a motivação para a prática do esporte adaptado por pessoas com deficiência do sexo masculino, participaram do estudo oito (8) praticantes de Handebol em cadeira de rodas da cidade de Santa Maria – RS. Para a avaliação da Motivação foi utilizado o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física - IMPRAF - 54 (Balbinotti e Barbosa, 2006). Este instrumento visa conhecer as motivações que levam a pessoa a realizar (ou se manter realizando) atividades físicas. O IMPRAF-54 avalia seis dimensões da motivação para a prática de atividades físicas, que são: Controle do Stress, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer. Após a aplicação e análise dos questionários, os resultados encontrados evidenciaram as principais dimensões da Motivação de cada participante e ainda mostraram as dimensões: Sociabilidade. Prazer e Saúde como as principais razões para a prática esportiva de praticantes em Handebol em cadeira de rodas. Unitermos: Motivação. Esporte adaptado. Pessoas com deficiência.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 146 - Julio de 2010 |
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Introdução
Cada vez mais observa-se a prática de atividades esportivas por pessoas com deficiência, a busca da melhoria da qualidade de vida nos últimos anos fez com que uma grande quantidade de pessoas com deficiência buscassem esta prática, visando estimular suas potencialidades e possibilidades, em prol de seu bem-estar físico e psicológico.
A oportunidade da prática esportiva para pessoas com deficiência é de extrema eficácia para a promoção da qualidade de vida das mesmas, segundo Melo e López (2002), é a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias a sua deficiência e promover a integração social do indivíduo.
De acordo com Duarte e Werner (1995) o esporte adaptado consiste em adaptações e modificações em regras, materiais, locais para as atividades possibilitando a participação das pessoas portadoras de deficiências nas diversas modalidades esportivas, nesse contexto conforme Gorgatti e Gorgatti (2005), o esporte adaptado pode ser definido como esporte modificado ou especialmente criado para ir ao encontro das necessidades únicas de indivíduos com algum tipo de deficiência.
Desta forma, através do esporte adaptado estamos proporcionando condições para que essa população também se reconheça como ser humano e busque seu desenvolvimento de forma lúdica e prazerosa. Inumeros benefícios são evidenciados com a prática esportiva, entre estes podem ser destacados, além da melhora geral da aptidão física, grandes ganhos de independência e autoconfiança para a realização das atividades diárias, além de uma melhora do auto-conceito e da auto-estima dos praticantes.
O fator mais relevante para começar e manter-se engajados no Esporte Adaptado é a motivação de cada indivíduo. Becker (1998) nos relata sobre a individualidade de cada participante, pois cada um tem a percepção do ambiente que o rodeia. Essa percepção varia de acordo com a personalidade de cada um, podendo haver, portanto, reações diferentes a situações semelhantes.
Rodrigues apud Moraes (2006), afirma que: "Um dos principais fatores que interferem no comportamento de uma pessoa é, sem dúvida a motivação que influi com muita propriedade em todos os tipos de comportamento".
Essa motivação deve partir da própria pessoa com deficiência, muitas vezes taxadas erroneamente como “incapazes“, com corpos fora dos padrões da normalidade, e dessa forma excluídos socialmente.
O estudo da motivação assume-se como um dos aspectos importantes para a compreensão das diferenças individuais na prática desportiva. Steinberg e Maurer (1999)
Nas atividades esportivas cada pessoa possui duas tendências motivacionais: a tendência de procurar sucesso e a tendência de evitar fracasso (WEINBERG E GOULD 1999). Dessa forma um programa de atividades esportivas deve proporcionar essa transformação, objetivar essa motivação de cada ser humano, a ponto de colaborar e proporcionar estas atividades prazerosas e integrativas para seus praticantes.
Samulski (2002) defende que a motivação para a prática esportiva tem vários fatores: pessoais, situacionais, tendências resultantes, reações emocionais e comportamento de performance. Também são trabalhadas medidas terapêuticas com pessoas que praticam esportes para ajudar a superar problemas psíquicos e conflitos sociais.
No âmbito da atividade física e do esporte, a motivação é produto de um conjunto de variáveis sociais, ambientais e individuais que determina a eleição de uma modalidade física ou esportiva e a intensidade da prática dessa modalidade, que determinará o rendimento (ESCARTI & CERVELLÓ, 1994).
Considerando o exposto e a importância das atividades esportivas para pessoas com deficiência, este estudo tem com principal objetivo identificar a motivação para a prática do esporte adaptado por pessoas com deficiência praticantes do Handebol em cadeira de rodas, já que, a partir do conhecimento dos motivos para a prática da atividade esportiva, será possível qualificar e aprimorar as atividades desenvolvidas para esta população.
Procedimentos metodológicos
Participaram do estudo oito (8) indivíduos com deficiências físicas do genêro masculino participantes do projeto de extensão “Handebol Adaptado: Construindo a Prática”, desenvolvido pelo NAEEFA – Núcleo de Apoio e Estudos da Educação Física Adaptada na Universidade Federal de Santa Maria – RS. As caracteristicas dos participantes do estudo estão descrita na tabela 01.
Tabela 01. Número de participantes, idades e diagnóstico
Participante |
Dade |
Diagnóstico |
P1 |
22 anos |
Ataxia Cerebelar de Friedrich |
P2 |
22 anos |
Amputação Bilateral |
P3 |
29 anos |
Paralisia Cerebral |
P4 |
23 anos |
Mielomeningocele |
P5 |
21 anos |
Má formação congênita |
P6 |
62 anos |
Polineurite |
P7 |
32 anos |
Amputação Bilateral |
P8 |
27 anos |
Lesão Medular C6-C7 |
Para a avaliação da Motivação dos participantes do estudo, foi utilizado o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física -IMPRAF - 54 (BALBINOTTI & BARBOSA, 2006). Este instrumento visa conhecer as motivações que levam a pessoa a realizar atividades físicas. O IMPRAF-54 avalia seis dimensões da motivação para a prática de atividades físicas que são: Controle do Stress, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer.
Para a análise e interpretação dos resultados (escores brutos) foi utilizada a folha de análise e interpretação das respostas IMPRAF-54 Esta análise deixou em destaque as três dimensões que mais motivam os respondentes para a prática regular de atividades físicas. E para análise e interpretação dos resultados (escores percentílicos), foi utilizado as Tabelas Normativas IMPRAF-54, que permitiram transformar o escore bruto em percentil e contextualizar os resultados de acordo com o sexo e o grupo de idade correspondente, permitindo verificar em uma escala de 0% a 100%, o quanto este indivíduo está motivado para determinada dimensão. A avaliação e análise de dados deste Inventário aconteceram de acordo com as instruções contidas no Manual Técnico de Aplicação de Balbinotti e Barbosa (2006). Todos os participantes após serem informados sobre os propósitos do estudo e os procedimentos aos quais seriam submetidos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Apresentação dos resultados
Os oito (8) participantes do estudo foram denominados P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8. Os dados analisados serão apresentados separadamente.
Resultados P1
No Inventário de Motivação à Pratica Regular de Atividade Física, três dimensões de motivação foram destacadas pela pontuação: o principal motivo foi a Sociabilidade com um escore bruto de 32 pontos, essa pontuação quando lançada nas tabelas normativas e transformada em percentil, evidenciaram que o P1 encontra-se entre os 40% mais motivados pela sua faixa etária.
Em seguida a Saúde se evidenciou com um escore bruto de 31 pontos, lançando essa pontuação nas tabelas normativas é possível afirmar que P1 está entre os 40% menos motivados por esta dimensão de acordo com sua faixa etária.
Em terceiro lugar o Prazer, com um escore bruto de 29 pontos, que lançado nas tabelas normativas, demonstra que o P1 está entre os 30% menos motivados por esta dimensão na sua faixa etária.
Resultados P2
Através da análise do IMPRAF-54, P2 obteve as três principais dimensões de sua motivação, que são: a Sociabilidade, com escore bruto de 40 pontos, essa pontuação lançada nas tabelas normativas e transformada em percentil, nos mostra que o P2 está entre os 5% mais motivados por esta dimensão referente à sua idade.
A segunda dimensão mais pontuada foi o Prazer, com escore bruto de 37 pontos, transformado em percentil, nos demonstra que o P2 está entre os 15% mais motivados pelo Prazer de sua faixa etária.
E a Saúde é a terceira dimensão obtida, com escore bruto de 33 pontos, nos demonstra, após a transformação em percentil, que o P2 está entre os 40% mais motivados pela Saúde em relação a sua faixa etária.
Resultados P3
Após a aplicação e interpretação dos resultados do IMPRAF-54, obtivemos as três principais dimensões da motivação do P3. A primeira foi a Saúde, com 40 pontos em seu escore bruto que transformado em percentil pelas tabelas normativas, nos mostram que o P3 está entre os 1% mais motivados pela Saúde de sua faixa etária.
Em segundo tivemos três dimensões com o mesmo escore bruto 35, são elas: Controle do Estresse, Sociabilidade e Prazer. Após transformar o escore bruto em percentil, obtivemos os seguintes resultados para essas dimensões:
Na Sociabilidade, o P3 está entre os 15% mais motivados;
No Controle do Estresse, o P3 está entre os 10% mais motivados;
No Prazer, o P3 está entre os 20% mais motivados.
E em terceiro a Competitividade com 32 pontos em seu escore bruto, que nos demonstra em percentil, que o P3 está entre os 10% mais motivados pela Competitividade em relação a sua faixa etária.
Resultados P4
Após a análise do IMPRAF-54 obtivemos as três principais dimensões da motivação do P4. Em primeiro, com um escore bruto de 40 pontos, tivemos as seguintes dimensões com a mesma pontuação: Controle do Estresse, Saúde, Sociabilidade e Prazer. Após transformar o escore bruto em percentil, obtivemos os seguintes resultados:
No Controle do Estresse, o P4 está entre os 1% mais motivados;
Na Saúde, o P4 está entre os 1% mais motivados;
Na Sociabilidade, o P4 está entre os 5% mais motivados;
No Prazer, o P4 está entre os 5% mais motivados.
Em seguida com o escore bruto de 37 pontos está a Competitividade, esse escore transformado em percentil, através das tabelas normativas, nos demonstram que o P4 está entre os 5% mais motivados pela Competitividade.
E em terceira a Estética com 28 pontos em seu escore bruto, que transformado em percentil nos aponta que o P4 está entre os 35% menos motivados pela Estética em relação a sua faixa etária.
Resultados P5
Após a aplicação e interpretação dos resultados do IMPRAF-54, obtivemos as três principais dimensões da motivação do P5. A primeira foi a Sociabilidade, com 39 pontos em seu escore bruto que transformado em percentil pelas tabelas normativas, nos mostram que o P5 está entre os 5% mais motivados pela Sociabilidade de sua faixa etária.
Em segundo tivemos duas dimensões com o mesmo escore bruto 37, são elas: Competitividade e Prazer. Após transformar o escore bruto em percentil, obtivemos os seguintes resultados para essas dimensões:
Na Competitividade, o P5 está entre os 5% mais motivados;
No Prazer, o P5 está entre os 15% mais motivados.
E em terceiro a Saúde com 36 pontos em seu escore bruto, que nos demonstra em percentil, que o P5 está entre os 25% mais motivados pela Competitividade em relação a sua faixa etária.
Resultados P6
Após a análise do IMPRAF-54 obtivemos as três principais dimensões da motivação do P6. Em primeiro, evidenciou-se a Saúde, com um escore bruto de 40 pontos, que transformado em percentil nas tabelas normativas, nos demonstra que o P6 está entre os 1% mais motivados por esta dimensão.
Prazer aparece como a segunda dimensão mais significativa para o P6, com um escore bruto de 35, este participante encontra-se entre os 20% mais motivados por esta dimensão de acordo com sua faixa etária.
Controle do Estresse e Sociabilidade aparecem como a terceira dimensão evidenciada, com escore bruto de 33, que transformado em percentil nos demonstram que:
No Controle do Estresse, o P6 está entre os 1% mais motivados;
Na Sociabilidade, o P6 está entre os 15% mais motivados;
Resultados P7
Através da análise do IMPRAF-54, P7 obteve as três principais dimensões de sua motivação. Em primeiro, com um escore bruto de 40 pontos, tivemos as seguintes dimensões com a mesma pontuação: Saúde, Sociabilidade e Prazer. Após transformar o escore bruto em percentil, obtivemos os seguintes resultados:
Na Saúde, o P7 está entre os 1% mais motivados;
Na Sociabilidade, o P7 está entre os 5% mais motivados;
No Prazer, o P7 está entre os 5% mais motivados.
A segunda dimensão mais pontuada foi o Controle do Estresse, com escore bruto de 38 pontos, transformado em percentil, nos demonstra que o P7 está entre os 5% mais motivados na sua faixa etária.
E a Estética é a terceira dimensão obtida, com escore bruto de 25 pontos, nos demonstra, após a transformação em percentil, que o P2 está entre os 30% menos motivados pela Estética em relação a sua faixa etária.
Resultados P8
Através da análise do IMPRAF-54, P8 obteve as três principais dimensões de sua motivação, que são: a Saúde, com escore bruto de 38 pontos, essa pontuação lançada nas tabelas normativas e transformada em percentil, nos mostra que o P8 está entre os 10% mais motivados por esta dimensão referente à sua idade.
A segunda dimensão mais pontuada foi a Sociabilidade com escore bruto de 36 pontos, transformado em percentil, nos demonstra que o P8 está entre os 15% mais motivado pela Sociabilidade na sua faixa etária.
E o Prazer é a terceira dimensão obtida, com escore bruto de 32 pontos, nos demonstra, após a transformação em percentil, que o P8 está entre os 45% mais motivados pelo Prazer em relação a sua faixa etária.
Tabela 02. Principais dimensões da motivação evidenciadas por cada participante
Participantes |
1ª Dimensão Evidenciada |
2ª Dimensão Evidenciada |
3ª Dimensão Evidenciada |
P1 |
Sociabilidade |
Saúde |
Prazer |
P2 |
Sociabilidade |
Prazer |
Saúde |
P3 |
Saúde |
Sociabilidade, Prazer e Controle do Estresse |
Competitividade |
P4 |
Sociabilidade, Saúde, Prazer e Controle do Estresse |
Competitividade |
Estética |
P5 |
Sociabilidade |
Prazer e Competitividade |
Saúde |
P6 |
Saúde |
Prazer |
Sociabilidade e Controle do Estresse |
P7 |
Sociabilidade, Saúde e Prazer |
Controle do Estresse |
Estética |
P8 |
Saúde |
Sociabilidade |
Prazer |
Discussão dos resultados
A partir dos dados coletados é possível verificar que os motivos que levam estes participantes a praticar atividades físicas regulares são semelhantes, porém, com ordens de preferência diferentes. Cada ser humano tem suas aspirações e estabelece suas metas no decorrer de sua vida, isto varia de acordo com a personalidade de cada pessoa e a individualidade é um aspecto fundamental para motivar-se por determinadas ações.
Becker (2000) nos relata que cada um tem a percepção do ambiente que o rodeia. Essa percepção varia de acordo com a personalidade de cada um, podendo haver, portanto, reações diferentes a situações semelhantes.
Para Cratty (1984, pág 92), “os motivos e as razões são extremamente variáveis e difíceis de serem determinados, pois cada indivíduo tem valores, histórias de vida e necessidades diferentes”.
A Sociabilidade como uma das principais dimensões citadas, pode ser explicada pela oportunidade da prática esportiva, compreendemos que são raros os programas e atividades que oferecem e dispõem vagas para pessoas com deficiência, portanto, a oportunidade desta pratica esportiva se torna uma alavanca para a socialização e a integração destes participantes.
Weinberg e Gould (1999) consideram que a sociabilidade é um dos mais importantes fatores motivacionais para a prática de atividades físicas. Dessa forma a maior tendência para se manter praticando alguma atividade esportiva é o estabelecimento de metas pessoais e pode estar relacionada com a busca de estar integrados dentro de um determinado grupo. Pessoas com deficiência geralmente estão afastadas do convívio com a sociedade, tem um reduzido números de amigos e interações sociais, isso tudo em função da falta de entendimento e compreensão sobre suas possibilidades e de oportunidades.
Através das atividades esportivas é possível perceber grandes melhorias, não só com a reabilitação ou manutenção de suas capacidades físicas, mas também em seus aspectos psicossociais, melhora da auto-estima, os ganhos em sua autoconfiança e sua autonomia são visíveis, além de proporcionar a integração dessas pessoas com a sociedade.
Segundo Nahas (2006, pág.139), ”As atividades físicas regulares podem reduzir os sintomas de ansiedade e depressão, promover a socialização e aumentar os níveis e bem-estar geral das pessoas com deficiência”.
Ao compreendermos a dimensão do Prazer como uma das principais dimensões relacionadas à motivação dos sujeitos é possível inferir que estes praticam atividade física visando a satisfação própria e seu bem estar como forma de auto-realização. Buscando atingir seus objetivos e ideais através de experiências que lhes promovem melhorias em seus aspectos físicos, psíquicos e sociais.
A partir destes pressupostos subentende-se que tal dimensão está intimamente inferida à qualidade de vida. Spirduso (1995) afirma: “Qualidade de vida nessa perspectiva é, em outras palavras, um estado de “bem-estar completo”. Contudo, bem-estar, satisfação, felicidade e prazer não dependem das suas definições, mas, exclusivamente, de como cada indivíduo define para si essa qualidade de vida ou esse bem-estar, buscando alcançar esse objetivo”.
A atividade física vem ao encontro com esse bem-estar, uma vez que aproxima os anseios e desejos de auto-realização dos indivíduos a uma melhora significativa em seus aspectos fisiológicos que proporcionarão sensações de prazer durante e após a sua prática e, conseqüentemente, no seu dia-a-dia.
Também foi evidenciado como uma das principais dimensões da motivação a Saúde, essa preocupação com a saúde pode estar associada a utilização da prática esportiva para uma melhor qualidade de vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim uma situação de perfeito bem-estar físico, mental e social.
Muitos autores consideram esta definição como ultrapassada, irreal e antiga (SEGRE & FERRAZ, 1997). De fato são inúmeros desencontros sobre este assunto, Weineck (2003), relata que não existe nenhuma definição geral para o termo saúde. Para Hackfort apud Rodrigues (2006), “existe uma grande dificuldade em se estabelecer um verdadeiro conceito de saúde, uma vez que o homem é um ser biopsicosocial e as várias tentativas em se estabelecer um conceito conclusivo sobre saúde, tem fragmentado a vida humana, não considerando o homem como um ser indivisível“.
Sabe-se ao certo que a preocupação com a saúde e a qualidade de vida esta muito evidenciada pela sociedade, através dos profissionais que atuam na área e também pela mídia. Alguns estudos demonstram que a qualidade de vida associada com a dimensão saúde é a principal busca quando se pratica uma atividade física.(CHIMELO PAIM & PEREIRA, 2004; CAPOZZOLI, 2006).
Gonçalves e Vilarta (2004) definem Qualidade de vida relacionada a Saúde como: “as características valorizadas pelo doente, que incluem a sensação de bem-estar ou conforto, a aptidão em manter suas funções físicas, emocionais e intelectuais, além da manutenção da capacidade de participar em atividades importantes com a família, no local de trabalho e na comunidade”.
Para as pessoas com deficiência não seria diferente esse conceito, mas deve ser considerado o tipo de lesão e as funções remanescentes, Dias da Silva e De Marchi apud Rodrigues (2006, pág.122) afirmam que: “a qualidade de vida de um indivíduo doente ou mesmo deficiente está diretamente relacionada com o grau de limitação que essa doença ou deficiência traz para o cotidiano de vida da pessoa”.
Saúde e Qualidade de vida podem ser englobadas nos domínios físico, emocional, social, profissional, intelectual e espiritual. A integração desses domínios é fundamental para a qualidade de vida e a saúde de uma pessoa, esses fatores se relacionam e influenciam este objetivo. Essas relações podem ser vistas também como: a relação do indivíduo com as condições do ambiente, ou seja, como este se comporta com as determinadas ações de seu cotidiano.
Dessa forma a evidência da Saúde com uma das principais dimensões deste estudo justifica-se pelo esporte adaptado ser uma ferramenta para a pessoa com deficiência atingir e manter seu bem-estar fisiológico, psicossocial e afetivo.
Quanto a dimensão Competitividade, também citada e com ordem de preferência diferente, o fato dos participantes não terem chegado a um nível competitivo, pode ter influenciado nos resultados obtidos neste estudo. Segundo Gomes (2002). “As competições criam uma adaptação fisiológica e emocional especializada”. As competições se tornam uma das formas mais importantes para a preparação de um programa esportivo.
De acordo com Weinberg e Gould (1999), “Trata-se do prazer de competir e o desejo de lutar por sucesso em competições. A competitividade das pessoas pode ser orientada à vitória ou, orientada ao objetivo. Pessoas com orientação dirigida à vitória possuem foco na comparação interpessoal e na vitória da competição. Pessoas com orientação ao objetivo possuem foco nos padrões de desempenho pessoal”.
Acredita-se que a falta de competições e exibições, faz com que a vontade de vencer adversários de forma competitiva, seja amenizada, ocasionando a mudança de foco dos participantes, onde a superação de limites e de suas possibilidades se evidenciam e se voltam para os beneficíos em prol da qualidade de vida.
Em um período em que as competições se tornarem uma meta para os participantes, a dimensão Competitividade poderia ser evidenciada pelos participantes como destaque e a ordem de motivação poderia ser alterada.
Um aspecto de destaque é a dimensão Estética, que foi evidenciada como uma das três principais dimensões por dois participantes, demonstra que, mesmo buscando uma atividade saudável e que ofereça a sociabilidade, este participante demonstra que um corpo deficiente também pode almejar um corpo esteticamente belo.
Nesse aspecto, Angelini (1973), enfatiza que “vários indivíduos podem realizar a mesma atividade por motivos diferentes”.
Ao concluirmos a análise dos dados tornou-se possível entender que o esporte adaptado é um agente facilitador para o processo de qualidade de vida do ser humano, nela subentendidos todos os aspectos motivacionais para a realização de práticas esportivas, proporcionando inúmeros benefícios nas capacidades biofisiológicas e psicossociais da pessoa com deficiência.
Partindo deste princípio, entende-se também que os principais agentes motivacionais apontados na pesquisa (Sociabilidade, Prazer e Saúde) são decorrentes não apenas dos conceitos individuais dos sujeitos, mas também dos objetivos das atividades nas quais estes estão inseridos.
Conclusão
Após a análise dos resultados dos participantes é possível concluir que: as principais dimensões da motivação para a prática de atividades físicas foram a Sociabilidade, Prazer e Saúde, estas podem ser consideradas como importantes para a qualidade de vida destes participantes.
Através do conhecimento dos principais motivos que levam cada participante a realizar e permanecer nas práticas de atividades esportivas, é possível ampliar e qualificar o desenvolvimento das atividades, tornando-as desafiadoras e atrativas, em prol da qualidade de vida para pessoas com deficiência.
E ainda destaca-se a importância e a oportunidade das atividades esportivas e a atuação do Profissional de Educação Física no cotidiano de pessoas com deficiência, propiciando e desenvolvendo atividades bem estruturadas e elaboradas, visando o potencial dessas pessoas, explorando suas possibilidades, proporcionando a integração e a valorização das mesmas.
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