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Perfil de queixas álgicas e atuação 

fisioterapêutica em corridas de aventura

Perfil de las quejas por dolores e intervención fisioterapéutica en carreras de aventura

 

*Aluno especial do Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Humano

**Acadêmica de Fisioterapia da Universidade Estado de Santa Catarina

***Aluna regular do Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Humano

Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC

(Brasil)

Guilherme Silva Nunes*

Alexânia de Rê*

Bruna Borges Wageck**

Manuela Karloh***

gui_nunes_@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As provas de endurance são competições que exigem muito esforço físico do atleta. O aparecimento de lesões desportivas é comum nesse tipo de prova. Diante desse contexto, o objetivo do presente estudo foi descrever o perfil de queixas álgicas mais incidentes nos atletas atendidos pela equipe de Fisioterapia após uma prova de endurance. Os dados foram coletados durante o atendimento fisioterapêutico dos atletas em um desafio de corrida de aventura, onde os atletas percorreram 84 km de corrida em um percurso que inclui trilhas na mata, costões e praias. Foram atendidos 56 atletas, 44 do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Através de um questionário foram coletados os dados para análise sobre tópicos como: dor muscular, articular e câimbra; localização da queixa álgica e uma análise subjetiva para a variação da dor, antes e depois do atendimento. Os principais resultados revelaram predominância de dores musculares nas pernas; em 83,9% dos atletas a dor diminui após a intervenção fisioterapêutica. Assim, concluiu-se que o atendimento fisioterapêutico favorece a recuperação do atleta no pós prova, melhorando seu quadro álgico e prevenindo outras lesões.

          Unitermos: Fisioterapia. Traumatismos em atletas. Esforço físico. Corrida.

 

Abstract

          The endurance competitions require much physical effort of the athlete and sports injuries are common in this type of competition. Given this context, the objective of this study was to describe the profile of pain complaints more incidents in athletes treated by the team of Physiotherapy after a trial of endurance. Data were collected during the physiotherapy service in a 82 km run in trails, mountains, forests, fields, coasts and beaches. The sample was composed by 56 athletes, 44 males and 12 females. A questionnaire was uded to asses pain complaints regarding to type (muscle pain, joint and cramps), site of pain and a subjective analysis of the change in pain, before and after treatment. The main results showed a predominance of muscular pains in the legs and in 83.9% of athletes showed a reduce of the pain after physical therapy intervention. Thus, we concluded that the physical therapy can help the recovery of the athlete after the competition, improving symptoms and preventing further injuries.

          Keywords: Physical therapy. Athletic injuries. Physical exertion. Running.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    O desafio de corrida de aventura foi uma competição de resistência, que aconteceu em dois dias, percorrendo 42 quilômetros em cada dia. O percurso atravessou praias, trilhas e estradas. Nesse tipo de competição, que envolvem longas distâncias, ocorre o aparecimento de lesões desportivas, como doenças causadas pelo calor, fadiga, esforço e overtrainnig. As mais recorrentes são câimbras, exaustão térmica, desidratação, contraturas e intermação1.


    As câimbras que aparecem depois de exercício prolongado, são conhecidas como câimbras de calor. É uma contração muscular involuntária e dolorosa, devido ao desequilíbrio de sódio e potássio quando o nível de fluidos corporais diminui2.

    A exaustão térmica ocorre por causa da sudorese excessiva em um ambiente quente, que provoca a contração (depleção) do volume e redução do débito cardíaco, que é caracterizada por cefaléia, tontura, náuseas, taquipnéia, pele fria, úmida e pálida, hipotensão, taquicardia, calafrios e arrepios3.

    Contratura é uma dor localizada em um músculo longo, sem sinais de ruptura, que ocorre quando um pequeno grupo de fibras se contrai de forma não controlada (espasmo). Surgem devido a grandes esforços, mas não o suficiente para romper as fibras. Ao tocar a região, é possível identificar certo endurecimento muscular bem delimitado4.

    A intermação, colapso associado ao exercício, é quando a temperatura corporal ultrapassa os 40ºC e pode rapidamente causar um dano irreversível do sistema nervoso central. A gravidade da intermação está associada ao grau que elevou a temperatura e a duração do período, chegando até a causar lesões celulares disseminadas e falência de órgãos de múltiplos sistemas. A evidência da disfunção do sistema nervoso central diferencia a intermação da exaustão5,6.

    O atendimento no fim das provas de longa duração tem o intuito de realizar uma abordagem precoce numa lesão, melhorar os fatores psicológicos, diminuir o tempo de recuperação, reverter o quadro de câimbras e evitar a exaustão térmica7. Na maioria das vezes, durante o atendimento fisioterapêutico, é realizado alongamento, massoterapia, crioterapia e mobilização passiva.

    A massoterapia pós-evento pode reduzir a tensão muscular, estimular o relaxamento e diminuir o tempo de recuperação. Promove a eliminação de resíduos metabólicos musculares adquiridos pela forte carga da atividade física. Também auxilia na redução de dor e nódulos de tensão (contraturas), havendo a suspeita de lesão tecidual, pode-se aplicar a massagem com gelo. E também tem efeito psicológico agregado8.

    O alongamento muscular visa à prevenção de contraturas, reduz as tensões musculares e induz o corpo ao relaxamento4. Geralmente é usado o alongamento passivo, realizado de forma forma lenta e progressiva.

    O uso da crioterapia resulta na diminuição dos sinais da resposta inflamatória, analgesia, redução de edema e do espasmo muscular9. A aplicação é feita através de sacos de gelo, diretamente na pele, com duração de 15 a 20 minutos.

    Na mobilização articular temos a diminuição da dor por estimular os receptores articulares; diminuição das forças compressivas na articulação; controle dos impulsos dolorosos, quando o movimento do tecido periarticular manipulado estimula as fibras nervosas proprioceptivas de condução rápida e diâmetro largo, que bloqueiam a transmissão desses impulsos para o cérebro; e diminuição dos espasmos musculares8.

    Durante eventos esportivos desse porte, torna-se essencial o papel do fisioterapeuta esportivo, que irá atuar tanto na reabilitação do atleta quanto na prevenção de lesões. No que diz respeito à reabilitação, a fisioterapia esportiva caracteriza-se pela necessidade de recuperar a integridade de todas as funções do atleta em um tempo mais rápido que o convencional, assegurando-lhe o máximo de eficiência e conseqüentemente o maior rendimento esportivo.

    Assim, este estudo tem como objetivo descrever as principais queixas álgicas relatadas pelos atletas atendidos pela equipe de fisioterapia após uma corrida de aventura.

Materiais e métodos

    O presente estudo trata-se de um estudo descritivo e caracteriza-se por uma abordagem quantitativa10. Participaram deste estudo 56 atletas, sendo 44 (78,6%) do sexo masculino e 12 (21,4%) do sexo feminino, atendidos pelo serviço fisioterapêutico na chegada da corrida de aventura em questão. Utilizou-se como instrumento um questionário, contendo dados de identificação, locais das queixas álgicas e uma avaliação subjetiva da dor antes e depois do atendimento, com uma nota de 0 (zero) a 10 (dez), sendo que 0 é sem dor alguma e 10 a pior dor. Antes e após a intervenção fisioterapêutica os atletas eram questionados sobre as principais queixas álgicas e os escores de dor. Os resultados foram armazenados em planilha eletrônica do programa Microsoft Excel e analisados através de estatística descritiva.

Resultados

    Para fins didáticos dividiu-se as queixa álgicas em três categorias: dor muscular, dor articular e câimbra. Dos 56 atletas atendidos, 43 (67,2%) relataram dor muscular em uma ou mais partes do corpo, 15 (23,4%) queixaram-se de dor articular e 6 (9,4%) relataram a ocorrência de câimbras (Figura 1).

Figura 1. Queixas álgicas

    Com relação à dor muscular, 43 atletas apontaram 106 ocorrências da mesma. Os sítios de dores musculares mais freqüentes foram os grupos musculares da perna (34,9%), da coxa (33%) e dos pés (18,9%) (Figura 2).

Figura 2. Dores musculares

    Os membros inferiores também foram os seguimentos corporais mais acometidos no que se refere à dor articular. O joelho foi a articulação com maior incidência de queixas álgicas (64,7%) seguido pelo tornozelo (23,5%), quadril e ombro (5,9% cada) (Figura 3).

Figura 3. Dores articulares

    As câimbras acometeram em primeiro lugar a perna, com 6 (54,5%) casos, seguida pela coxa, com 3 (27,3%) casos. Enquanto que o pé e a região torácica receberam 1 (9,1%) relato cada (Figura 4).

Figura 4. Câimbras

    E no que diz respeito a comparação da dor antes e após o atendimento fisioterapêutico, dos 56 atletas atendidos, 47 (83,9%) relataram diminuição da dor e 9 (16,1%) relataram que a dor não mudou. Porém 5 destes atletas procuraram a fisioterapia sem dor. Se considerarmos somente os atletas com queixas, os índices ficam com 92,2% de melhora na dor e 7,8% dos atletas permaneceram com a mesma dor, sem melhora ou piora em seus quadros álgicos.

Discussão

    Esta corrida de aventura é uma prova de corrida de longa duração, junto à natureza, com uma longa distância, onde completar a prova é o grande desafio. Como é uma competição, vencer é um desafio ainda maior, fazendo com que os atletas ultrapassem os limites de seus corpos. Assim, as lesões são comuns, por diversos fatores, sejam por traumas diretos ou por excesso de esforço.

    A incidência de dor muscular foi extremamente superior às outras queixas avaliadas, com 67,2% dos atletas apresentando tal queixa. Nesta parcela de atletas, tivemos 106 ocorrências, sendo a perna, que compreende os músculos gastrocnêmio e sóleo, a mais acometida com 34,9% das ocorrências, seguida pela coxa (33%), com queixas na parte posterior, anterior ou ambas. Esses dados corroboram com os resultados apresentados por Pastre et al.11, onde apresentou prevalência das lesões musculares nos praticantes de atletismo da elite brasileira nas provas de resistência.

    A segunda maior queixa, foram as dores articulares, com 23,4% dos atletas apresentando-as. Como em outros esportes12, a articulação do joelho foi a mais lesionada, 64,7% das queixas articulares. A articulação do tornozelo também apresentou significativo número de lesões (23,5%). Essas articulações são comumente atingidas por serem as principais partes de absorção do impacto provocado pela atividade e no dia a dia.

    As câimbras também surgem, no decorrer da prova e após, devido à perda de eletrólitos no suor, sem a adequada reposição. No desafio, não ocorreram tantas câimbras, comparadas com o número de atletas atendidos. Mas, as câimbras na perna, predominaram sobre as outras partes, com 54,5%. Um fato que não é corriqueiro neste tipo de prova é o aparecimento de câimbra na região torácica. Neste desafio, um atleta apresentou tal evento. Ele mostrava contrações involuntárias nos espaços intercostais. Essas câimbras podem ser devido a alterações do padrão respiratório normal e adequado para provas de longa duração.

    Já na recuperação dos atletas com o serviço de fisioterapia, os números foram bastante significativos. De todos os atletas que foram atendidos, 83,9% deles, relataram melhora no quadro álgico, dando notas para a dor mais baixas após a intervenção e 16,1% deram a mesma nota antes e após o atendimento. Mas 8,9% dos atletas procuram o atendimento sem dor, com nota 0 (zero) nos dois momentos. Então, analisando os atletas com dores, 92,2% melhoraram após o atendimento. Estes números mostram que a fisioterapia ajuda muito na recuperação desses atletas, mas vale salientar que não é o único método necessário. Ela é de grande valia, aliado ao repouso e reposição de nutrientes adequados.

Conclusão

    Com base nos dados apresentados infere-se que a incidência elevada de queixas álgicas e lesões durante provas de resistência pode estar associada às sobrecargas cíclicas impostas ao sistema musculoesquelético dos atletas. Dessa forma, destaca-se a importância da presença da Fisioterapia durante competições desse porte, contribuindo para uma melhor recuperação do atleta, bem como para a manutenção de sua integridade física

Referências

  1. Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos Esportes: Diagnóstico, Prevenção e Tratamento. Rio de Janeiro: Revinter; 2003.

  2. Hillman SK. Avaliação, Prevenção e Tratamento Imediato das Lesões Esportivas. Barueri: Editora Manole, 2002.

  3. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do Exercício e do Esporte. 2ª ed. Barueri: Editora Manole, 2001.

  4. Peterson L, Renströn P. Lesões do Esporte: prevenção e tratamento. 3ª ed. Barueri: Editora Manole, 2002.

  5. Lillegard WA, Butcher JD, Rucker KS. Manual de Medicina Desportiva. 2ªed. Barueri: Editora Manole, 2002.

  6. Sandoval AE. Medicina do Esporte: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed Editora, 2005.

  7. Silveira MA, Haupenthal A, Mannrich G, Torres SF. Atuação Fisioterapêutica no Ironmam Brasil. Fisioterapia em Movimento 2006; 19(1): 35-40.

  8. Prentice W. Modalidades Terapêuticas em Medicina Esportiva. 4. ed. São Paulo: Manole, 2002.

  9. Knight KL. Crioterapia no Tratamento das Lesões Esportivas. Barueri: Editora Manole, 2000.

  10. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  11. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Júnior JN, Padovani CR. Lesões Desportivas na Elite do Atletismo Brasileiro: estudo a partir de morbidade referida. Rev Bras de Medicina do Esporte 2005, 11(1).

  12. Torres SF. Perfil Epidemiológico de Lesões no Esporte. Dissertação: Florianópolis, 2004.

  13. Simões NVM. Lesões Desportivas em Praticantes de Atividade Física: Uma Revisão Bibliográfica. Rev Bras de Fisioterapia 2005, 9(2).

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