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Padrões antropométricos e dermatoglíficos de 

indígenas Borarí da vila de Alter-Do-Chão en Santarém, PA

Modelos antropométrico y dermatoglífico de indígenas Borarí de Alter-do-Chao en Santarém, PA

Dermatoglyphic and Anthropometric Patterns of the Indigenous People Borari From Alter-do-Chão Village in Santarém-PA

 

*Licenciatura Plena em Educação Física (UEPA/PA)

** Especialização em Fisiologia do Exercício (FACULDADE DE ANICUNS/GO)

*** Acadêmico de Fisioterapia (UEPA/PA)

****Mestrado em Ciência da Motricidade Humana (UCB/RJ)

***** Docente do Curso de Educação Física (UEPA /PA)

******Professor Titular do Programa Stricto Sensu em

Ciência da Motricidade Humana (UCB/RJ)

(Brasil)

Jone Luiz Queiroz de Oliveira**** *****

Diego Sarmento de Sousa* ** ***

Luiz Carlos Rabelo Vieira* ** ***

Ronivaldo Lameira Dias****

Jordanno Sarmento de Sousa*

PhD. José Fernandes Filho******

jonelqoliveira@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Identificar os padrões antropométricos e dermatoglíficos nos índios da comunidade dos Boraris (Santarém-Pa). Metodologia: A amostra foi composta de 24 homens e 21 mulheres (n=45, 35.4±19.4 anos de idade). Para a coleta de dados, utilizou-se o protocolo da Dermatoglifia (CUMMINS; MIDLO, 1961). Os resultados foram processados através de recursos da estatística descritiva, mediante utilização dos programas Excel (Microsoft for Windows – 2007) e Bioestat® 5.0. Foi aplicado o teste t de Studant para as variações entre os gêneros. Resultados: Foi observado que para as medidas antropométricas, o sexo masculino apresentou média de massa corporal e estatura mais elevada que o feminino (masculino: 63.3±17.7 Kg e 1.55±0.14 m; feminino: 57.7±13.8 Kg e 1.48±0.06 m). Já os valores do Índice de Massa Corporal (IMC) indicam sobrepeso entre os Boraris, principalmente no gênero feminino (IMC=26.2±5.9 Kg/m²) do que no masculino (IMC=25.4±4.7 Kg/m²). Entretanto, somente a variável estatura apresentou diferença estatística (p=0.0092). Houve um padrão de comportamento na quantidade de linhas dos dedos em ambas as mãos, onde SQL1>SQL2, SQL2<SQL3, SQL3<SQL4, SQL4>SQL5 (p=0.4637). Os percentuais dos desenhos foram: L=67%, para ambos os gêneros, W= 25% (masculino) e 21% (feminino) e A=8% (masculino) e 12% (feminino) (p=0.4326). Os valores de SQTL e de D10 (105.1±42.2; p= 0.4982 e 11.4±3.5, p= 0.5371) caracterizam na amostra a predominância do desenvolvimento das qualidades físicas de velocidade e força explosiva, demonstrando baixos níveis de coordenação e resistência. As fórmulas digitais mais freqüentes foram ALW (22.2%), 10L (24.4%) e W>L (22.2%). Não foram observadas diferenças estatísticas entre os gêneros (p=0.6843). Conclusão e Recomendação: Nota-se que a amostra de indígenas Borari de Alter-do-Chão (Santarém-Pa) apresentou para as variáveis antropométricas índices de sobrepeso e baixa estatura. Para as variáveis dermatoglíficas, houve a predominância do desenho presilha e a predominância das qualidades físicas de velocidade e força explosiva. Recomenda-se, assim, a realização de estudos similares com outros grupos étnicos a fim de caracterizá-los enquanto seus traços genéticos, através do método dermatoglífico.

          Unitermos: Indígenas Borar. Dermatoglifia. Qualidades física.

 

Resumen

          Objetivo: Identificar los modelos antropométricos y dermatoglíficos en la comunidad de los indígenas Borarí (Santarém, PA). Metodología: La muestra estuvo conformada por 24 hombres y 21 mujeres (n = 45, 35,4 ± 19,4 años). Para la recopilación de datos, se utilizó el Protocolo de Dermatoglifia (CUMMINS; MIDLO, 1961). Los resultados fueron procesados a través del recurso de la estadística descriptiva, utilizando los programas Excel (Microsoft for Windows – 2007) e Bioestat® 5.0. Se utilizó la prueba t de Student para las variaciones entre los géneros. Resultados: Se observó que para las medidas antropométricas, el género masculino presentó un promedio de peso corporal y estatura mayor que el género femenino (masculino: 63.3±17.7 Kg y 1.55±0.14 m; femenino: 57.7±13.8 Kg y 1.48±0.06 m). Los valores de índice de masa corporal (IMC) indican sobrepeso entre Borarís, principalmente en el género femenino (IMC = 26,2 ± 5,9 kg/m2) más que en el género masculino (IMC = 25,4 ± 4.7 kg/m2). Sin embargo, sólo la variable estatura presentó diferencias estadísticas (p=0.0092). Hubo un patron de comportamiento en el número de líneas de dedos en ambas las manos, donde SQL1>SQL2, SQL2<SQL3, SQL3<SQL4, SQL4>SQL5 (p=0.4637). El porcentaje de los dibujos fueron: L=67%, para ambos géneros, W= 25% (masculino) y 21% (femenino) y A=8% (masculino) e 12% (femenino) (p=0.4326). Los valores de SQTL y D10 (105.1±42.2; p= 0.4982 e 11.4±3.5, p= 0.5371) caracterizan en la muestra el predominio del desarrollo de las cualidades físicas explosiva velocidad y fuerza, y demuestran los bajos niveles de coordinación y de resistencia. Las fórmulas digitales más frecuentes fueron ALW (22,2 %), 10 L (24,4 %) y W > l (22,2 %). No se encontraron diferencias estadísticas entre los géneros (p = 0.6843). Conclusión y recomendación: Se evidenció que en la muestra de los indígenas Borarí en Alter-do-Chão (Santarém-PA) presenta para las variables antropométricas índices de sobrepeso y baja estatura. Para las variables dermatoglíficas, hubo un predominio del lo dibujo en forma de bucle y el predominio de las cualidades físicas fuerza explosiva y velocidad. Se recomienda, por lo tanto, estudios similares con otros grupos étnicos a fin de caracterizarlas como sus rasgos genéticos, a través del método dermatoglífico.

          Palabras clave: Antropometría. Dermatoglifia. Indígenas Borarí.

 

Abstract

          Objective: Identify the anthropometric and dermatoglyphic Patterns of the indigenous people Boraris (Santarém-Brazil). Methodology: The sample was composed by 24 men and 21 women (n=45, 35.4±19.4 years old). For data collect, the Dermatogliphics protocol (CUMMINS; MIDLO, 1961) has been utilized. The results have been processed through descriptive statistic and the utilization of Excel (Microsoft for Windows – 2007) and Bioestat® 5.0 software. T Student test has been applied for the variation between genders. Results: It was observed that for the anthropometrical measurement, the masculine sex has shown height and body mass mean higher than feminine (masculine: 63.3±17.7 Kg and 1.55±0.14 m; feminine: 57.7±13.8 Kg and 1.48±0.06 m). But the Body Mass Index (BMI) has indicated overweigh among Boraris, mainly in the feminine gender (BMI=26.2±5.9 Kg/m²) than masculine (BMI=25.4±4.7 Kg/m²). However, only the variable height has shown statistic difference (p=0.0092). There was a pattern in the total ridge count of both hands, where RC1>RC2, RC2<RC3, RC3<RC4, RC4>RC5 (p=0.4637). The draws percentages were: L=67%, for both genders, W= 25% (masculine) and 21% (feminine) and A=8% (masculine) and 12% (feminine) (p=0.4326). The TRC and D10 values (105.1±42.2; p= 0.4982 and 11.4±3.5, p= 0.5371) characterize in sample the predominance of speed and explosive strength physical qualities development, showing low levels of coordination and endurance. The more frequent digital formulas have been ALW (22.2%), 10L (24.4%) and W>L (22.2%). Statistics differences between genders haven’t been observed (p=0.6843). Conclusion and Recommendation: It can be notice that the sample of indigenous Borari from Alter-do-Chão (Santarém-Brazil) has shown for the anthropometrical variables, overweigh and low height index. For the dermatoglyphic variables have been a predominance of loop draw and also predominance of physical qualities speed and explosive strength. It’s been recommended, this way, the realization of similar studies with another ethnics group for characterize them at genetic traces through the dermatoglyphic method.

          Keywords: Indigenous people Borarí. Dermatoglyphics. Physical qualities.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    O interesse em avaliar as características fenotípicas de sociedades indígenas distribuídas pelo território nacional não é recente. Na literatura científica são encontradas várias pesquisas sobre perfis dermatoglíficos em populações indígenas da América do Sul (JANZEN; SALZANO; PALATNIK, 1983; DESCAILLEAUX et al., 2001). No entanto, ainda são escassas aquelas que utilizam indígenas da região oeste do Pará enquanto público alvo. Sendo assim, o estudo trata em identificar os padrões antropométricos e dermatoglíficos nos índios da comunidade dos Boraris (Santarém-Pa), através do método da Dermatoglifia.

Comunidade Indígena Borari

    Conhecida poeticamente como a “Pérola do Tapajós”, a cidade de Santarém está situada no estado do Pará (microrregião do Médio Amazonas), na confluência de dois grandes e importantes rios: o Amazonas e o Tapajós. Apresenta-se distante 1.369 km da capital Belém, ocupando uma área de 24.154 km2 e é povoada por uma população de, aproximadamente, 300 mil habitantes (CARVALHO; SOUSA; QUEIROZ, 2006).

    A Vila de Alter-do-Chão, por outro lado, é um dos doze distritos dessa cidade, distante desta, por sua vez, cerca de 34 km, com acesso por via fluvial (pelo rio Tapajós - percurso de 3 horas) e via terrestre (pela PA 457, rodovia Everaldo Martins – viagem de aproximadamente 1 hora). Segundo o IBGE (2000), a Vila é povoada por 6.740 habitantes, sendo a maioria descendente dos índios Boraris, numa superfície de aproximadamente 80 ha. Como muitas outras localidades brasileiras, Alter-do-Chão foi fundada a partir de uma missão da Igreja Católica portuguesa, denominada Missão “Tapajós”, cujo objetivo principal era a catequização dos índios nativos. Esta Missão estabeleceu-se em 1661 sob o comando do Pe. João Felipe Bettendorf (SANTOS, 2006).

    Conforme Santos (2006), mesmo existindo divergências entre os historiadores locais sobre seus aspectos históricos, Alter-do-chão, para os atuais habitantes, tem suas origens e fundamentação marcadas pela nação do povo indígena Borari, o qual formava uma das seis tribos da Nação Tupaiucu. Embora sejam evidentes as modificações em termos de infraestrutura e miscigenação na Vila, os descendentes desses povos perpetuam a cultura dos seus ancestrais, manifestando-se pelas celebrações de rituais praticados pelos primeiros habitantes (SANTOS, 2006). Destaca-se, entre esses festejos o “Sairé”, uma das manifestações religiosas mais antigas praticadas na aldeia dos Boraris (AMARAL, 2006; CARVALHO; SOUSA; QUEIROZ, 2006; FERREIRA, 2005; SANTOS, 2006).

    Relevante frisar que, conforme avaliação antropológica e cultural, a Fundação Nacional de Amparo ao Índio (FUNAI) e o Ministério da Saúde (MS) reconheceram legalmente aproximadamente 350 famílias oficialmente indígena Borari na na vila.

A Dermatoglifia

    No ser humano, segundo Fernandes Filho (1997), as impressões digitais (IDs) se formam entre o 3o e o 6o mês de vida intra-uterina, permanecendo até a putrefação cadavérica. As IDs são marcas genéticas universais que possuem significativas características populacionais e étnicas (CASTANHEDE; DANTAS; FERNANDES FILHO, 2003), sendo utilizadas, desta forma, como diagnóstico na seleção de talentos no esporte. Para este fim, sua utilização é importante visto que impede o desperdício do potencial genético, o ônus no processo dessa seleção e facilita a melhor orientação à prática esportiva (FILIN; VOLKOV, 1998; MOSKATOVA, 1998). Nesse âmbito, a dermatoglifia seria o estudo das IDs, pois as considera como um marcador genético de amplo espectro para utilização em associação com as qualidades físicas básicas e a tipologia de fibras (ABRAMOVA; NIKITINA; CHAFRANOVA, 1995; BEIGUELMAN, 1995). Em outras palavras, esse método seria um instrumento de identificação da tipologia de fibra, muito embora a biópsia seja considerada o gold standart.

    Existem três grupos de desenhos ou dermatóglifos: arco (A), presilha (L) e, conjuntamente, o verticilo e S – desenho (W), conforme a figura 1.

Figura 01. Quatro principais desenhos dermatroglíficos e a localização dos respectivos deltas.

    As digitais podem ser analisadas de acordo pela frequência relativa de dermatoglífos, pelos tipos de fórmulas digitais (AL, ALW, 10L, L>W, W>L, 10W), pela quantidade de linhas de cada um dos dedos (QL), pela somatória da quantidade total de linhas (SQTL) e pelo índice de deltas (D10) (ABRAMOVA; NIKITINA; CHAFRANOVA, 1995). À presença de arcos (A) estão associadas às qualidades físicas de força pura com os baixos níveis de resistência e coordenação motora; à presença de presinhas (L) estão associadas à velocidade e a força explosiva com os baixos níveis de resistência; já à presença de verticilo (W) estão associadas à coordenação complexa e resistência aeróbica com baixos níveis de força pura (ABRAMOVA; NIKITINA; OZOLIN, 1996; MEDEIROS; ROCHA; FERNANDES FILHO, 2005; CUNHA JÚNIOR et al., 2006).

    No Brasil, vários estudos utilizando a Dermatoglifia são realizados com intuito de identificar modelos de atletas em diversas modalidades esportivas (NOGUEIRA et al., 2005; CUNHA JÚNIOR et al. 2006; FONSECA et al., 2008). No entanto, ainda são poucas as pesquisa que relacionam a Dermatoglifia com outras populações não atletas.

    Sendo assim, a pesquisa tem por objetivo identificar os padrões antropométricos e dermatoglíficos nos índios da comunidade dos Boraris (Santarém-Pa).

Metodologia

Tipo de estudo

    O estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva, com tipologia comparativa (ex-post facto). Segundo Thomas e Nelson (2002), nesse estudo o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis independentes, porque já ocorreram suas manifestações ou porque são intrinsecamente não manipuláveis, sendo frequentemente utilizado para comparação de características entre grupos.

Amostra

    A amostra foi composta de 45 indivíduos (24 homens e 21 mulheres), com média de idade de 35.4±19.4 anos, residentes na Vila de Alter-do-Chão (Santarém-Pa). Foram caracterizados como indígenas Boraris os indivíduos reconhecidos por: a) sua convivência em tribo e moradores da vila; b) análise genealógica, mediante aplicação de anamnese, que os enquadraram em indígenas e descendentes diretos dos povos originais.

Critérios de inclusão e exclusão

  • Critérios de inclusão: ser indígena Borari legalmente reconhecido pela FUNAI e pelo MS; ter pais e avós indígenas; morar na tribo Borarí ou na Vila de Alter-do-Chão; ter entre 18 e 70 anos de idade; assinar o termo de consentimento livre esclarecido (TCLE).

  • Critérios de exclusão: apresentar amputação de membro superior, mão ou dedo; apresentar impressões digitais de difícil identificação quanto às variáveis a serem analisadas na pesquisa.

Aspectos éticos

    Os sujeitos foram codificados para garantir o anonimato e assinaram o TCLE, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O TCLE foi obtido após os sujeitos da pesquisa estarem suficientemente esclarecido de todos os procedimentos que foram adotados durante o estudo.

    O termo foi elaborado em duas vias, ficando uma com o voluntário e outra arquivada, por um período de 05 anos. Foi também garantida à privacidade dos sujeitos em limitar qualquer tipo de exposição pessoal, bem como a liberdade de deixarem de participar do estudo a qualquer momento, sem que houvesse nenhuma forma de prejuízo ao seu atendimento ou represália.

Instrumento de coleta de dados

    Para analise das variáveis dermatoglíficas foi utilizada uma ficha de avaliação para a coleta de dados gerais e um coletor de impressão digital (PRINTMATIC CATNOPM-283PIP). Para tanto, foram seguidas as recomendações de Cummins e Midlo (1961).

    Para a mensuração das variáveis antropométricas (peso corporal, estatura, índice de massa corporal) foram seguidos os procedimentos definidos por Rocha (2000):

  • Para aferir o peso corporal, utilizou-se uma balança antropométrica da marca Filizola, com capacidade de 140 Kg, com precisão de 100 gramas;

  • Para as medidas de estatura utilizou-se a escala vertical anexa na balança Filizola, com precisão de 0,5 centímetros;

  • Calculou-se o índice de massa corporal através da fórmula peso/estatura2, também conhecida como índice de Quetelet (PITANGA, 2005).

Tratamento estatístico

    Os resultados foram processados através de recursos da estatística descritiva (frequências absoluta e relativa, mínimo, máximo, média e desvio-padrão), mediante utilização do programa Excel (Microsoft for Windows – 2007). Posteriormente, alguns dados foram transferidos para o aplicativo Bioestat® 5.0, de modo a estabelecer a diferença entre variáveis do estudo, através da aplicação do teste t de Studant. Foi adotado o valor de p<0.05 para a significância estatística.

Resultados

    A tabela 01 descreve os valores mínimo, máximo, média aritmética e desvio padrão das medidas antropométricas de acordo com o gênero. Segundo esses resultados, o sexo masculino apresentou médias de massa corporal e estatura mais elevada que o feminino (masculino: 63.3±17.7 Kg e 1.55±0.14 m; feminino: 57.7±13.8 Kg e 1.48±0.06 m) entretanto, somente a variável estatura apresentou diferença estatística (p=0.0092). Já os valores do Índice de Massa Corporal (IMC), indicam sobrepeso entre os Boraris, principalmente o gênero feminino que obteve valores mais elevados (IMC=26.2±5.9 Kg/m²) do que o masculino (IMC=25.4±4.7 Kg/m²), contudo, não foram percebidas diferenças estatísticas (p=0.6193).

    A tabela 02 mostra, respectivamente, os valores mínimo, máximo, média aritmética e desvio padrão da somatória da quantidade de linhas (SQL) de cada dedo dos gêneros. Nos homens, o primeiro dedo da mão direita e o quarto da esquerda foram os que apresentaram a maior média de SQL (MD=14.9±4.9 e ME=12.4±5.2). Já no feminino, foram o primeiro dedo de ambas as mãos (MD=15.4±4.0 e ME=13.6±4.0). Não foram percebidas diferenças estatísticas entre as SQL da MD e ME entre os gêneros (p=0.4637).

    A tabela 03 apresenta freqüência relativa dos tipos de desenhos de cada dedo nos dois gêneros. Percebe-se que o desenho L apresenta um maior percentual para ambos os gêneros (67%), enquanto W apresenta um valor considerado baixo (25% no masculino e 21% no femenino), porém não diferente significativamente entre os gêneros (p=0.4326).

    A tabela 04 apresenta os valores mínimo, máximo, média aritmética e desvio padrão do somatório da quantidade total de linhas (SQTL) e Índice Delta (D10) nos dois gêneros. Os resultados para SQTL e D10 (105.1±42.2 e 11.4±3.5, respectivamente) somados aos da tabela anterior mostram que nos Boraris predominam o desenvolvimento das qualidades físicas de velocidade e força explosiva, correlacionando-se com um nível baixo de coordenação e resistência, pois apresentaram valores abaixo a 134.2 de SQTL e 13.1 de D10 (ABRAMOVA; NIKITINA; OZOLIN, 1995). Não foram percebidas diferenças estatísticas entre os valores de SQTL e D10 entre os gêneros (p=0.4982 e p= 0.5371, respectivamente).

    A tabela 05 apresenta a frequência relativa das fórmulas digitais de acordo com os gêneros. As fórmulas que apresentaram maior frequência foram ALW (22.2%), 10L (24.4%) e W>L (22.2%). Isso nos permite deduzir, segundo Cunha Júnior e Fernandes Filho (2005), que a velocidade e a força explosiva continuam sendo as qualidades físicas com maior predisposição na amostra estudada. Não foram percebidas diferenças estatísticas entre as SQL da MD e ME entre os gêneros (p=0.6843).

Discussão

    Os resultados desta investigação apontam índices de sobrepeso e baixa estatura, principalmente no gênero feminino.

    Pesquisas realizadas com outras etnias indígenas no Brasil, tais como os Terenas no Mato Grosso do Sul (RIBAS; PHILIPPI, 2003) e os Baré em Terra Preta, Manaus (LIMA, 2004), também ressaltaram a frequente presença do excesso de peso entre os adultos.

    Gugelmin e Santos (2006) observaram uma alta correlação (r > 0,80), para ambos os sexos, dos valores de IMC e as medidas antropométricas de composição corporal em adultos Xavánte da aldeia São José, Terra Indígena Sangradouro-Volta Grande (Mato Grosso – Brasil). Esses resultados mostraram que altos valores de IMC sugeriram excesso de tecido adiposo entre os Xavánte. Resultados similares também foram observados por outros autores (DIAS LEITE JUNIOR et al., 2007; CAPELLI; KOIFMAN, 2001).

    Quanto às variáveis dos padrões dermatoglíficos, observou-se um padrão de comportamento na quantidade de linhas dos dedos em ambas as mãos, onde SQL1>SQL2, SQL2<SQL3, SQL3<SQL4, SQL4>SQL5. Esse comportamento de aumento e diminuição da quantidade de linhas também foi observado em outros estudos (ROQUETTI FERNANDES; FERNANDES FILHO, 2005).

    Nos Boraris predominaram as características para o desenvolvimento das qualidades físicas de velocidade e força explosiva e nível baixo de coordenação e resistência (SQTL=105.1±42.2 e D10=11.4±3.5). Esse fato indica que existe uma predominância do potencial desportivo genético anaeróbico. Para estes indivíduos, essa característica é de suma importância para as atividades desempenhadas no cotidiano (SANTOS, 2006).

    Observou-se neste estudo que o desenho presilha (L=67% para ambos os gêneros) apresentou maior frequência relativa. Estes resultados foram diferentes aos encontrados por Janzen, Salzano e Palatnik (1983) em estudos com os índios Erigbactsa (Mato Grosso, Brasil), no qual demonstraram que 53% dos homens e 51% das mulheres tinham predomínio de desenho verticilo enquanto o menos frequente foi à presilha. Já na população negra do Peru, Descailleaux et al. (2001) encontraram predomínio de presilha em 63.34% dos homens e 66.25% das mulheres, sendo menos observado o arco em ambos os sexos. Dessa forma, a dermatoglifia pode ser considerada também uma técnica utilizada em estudos de comparação entre raças e povos.

Conclusão e recomendação

    Com base nos resultados da pesquisa, nota-se que a amostra de indígenas Borari de Alter-do-Chão (Santarém-Pa) apresentou índices de sobrepeso e baixa estatura para as variáveis antropométricas. Quanto às variáveis dermatoglíficas, foi encontrada a predominância do desenho presilha, o qual está ligado às qualidades físicas de velocidade e força explosiva. Também foram demonstrados baixos níveis de coordenação e resistência na amostra em função dos resultados de SQTL e D10. O desenho mais observado nos gêneros foi a L, enquanto que W apresentou-se num valor mais baixo. As fórmulas digitais mais freqüentes foram ALW, 10L e W>L. Recomenda-se a realização de estudos similares com outros grupos étnicos a fim de caracterizá-los enquanto seus traços genéticos, através do método dermatoglífico.

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revista digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires, Junio de 2010  
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