A aquisição de alimentos por portadores de Diabete Mellitus La compra de alimentos por parte de portadores de Diabetes Mellitus The acquisition of food by patients with Diabetes Mellitus |
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*Acadêmica bolsista PROBIC do Curso de Nutrição **Professora Orientadora, Nutricionista, Mestre ***Professora Voluntária, Nutricionista, Mestre Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano, UNIFRA, Santa Maria, RS (Brasil) |
Aline Braido Pereira* Karen Mello de Mattos** Adriane Cervi Blümke*** Juliana Silveira Colomé*** |
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Resumo O Diabete Mellitus, hoje se eleva vertiginosamente, nos custos de atendimento à saúde em diabetes, uma vez que, as mudanças no estilo de vida através da educação nutricional continuada dos diabéticos resultam em redução de peso, melhor controle glicêmico, da pressão arterial e lipídeos, e conseqüentemente, reduzem os riscos cardiovasculares. O objetivo deste trabalho foi avaliar o perfil socioeconômico; analisar os grupos alimentares mais consumidos por portadores de Diabete Mellitus; bem como averiguar o local de maior frequência para aquisição destes alimentos. A população alvo foi composta por portadores de Diabete Mellitus de uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família da Região Oeste da cidade de Santa Maria/RS. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas individuais. A grande variação da prevalência do diabetes em diferentes nações tem sido atribuída a uma combinação de diferenças genéticas e fatores ambientais e principalmente a alimentação inadequada. Unitermos: Diabete Mellitus. Consumo alimentar. Nutrição. Macronutrientes
Abstract The Diabetes Mellitus now rises sharply, the cost of health care in diabetes, since changes in lifestyle through nutrition education continued in diabetics results in weight loss, glycemic control, blood pressure and lipids and consequently, reduces cardiovascular risks. The objective of this study was acess the socioeconomic profile; analyse the food groups consumed by most people with Diabetes Mellitus and examine the site more frequently to purchase these foods. The target population consisted of patients with Diabetes Mellitus a Strategy of Family Health in the western city of Santa Maria/RS. The data was collected through individual interviews. The large variation in the prevalence of diabetes in different nations has been attributed to a combination of genetic differences and environmental factors and especially inadequate diet. Keywords: Diabetes Mellitus. Food consumption. Nutrition. Macronutrients.
Trabalho de Projeto de Pesquisa PROBIC: (In) segurança alimentar em portadores de Diabete Mellitus. Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, Santa Maria, RS, Brasil
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010 |
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Introdução
A Diabete Mellitus ocasiona diversos fatores negativos para seus portadores como problemas fisiológicos, psicológicos e também financeiros. Em virtude das diversas modificações que a patologia ocasiona na rotina alimentar de seus portadores, a (in) segurança alimentar pode ser um agravante advindo de uma restrição alimentar errônea e/ou modificação da qualidade dos alimentos consumidos; o que prejudica diretamente na alimentação e estado nutricional de seus portadores. Como forma de modificar este quadro, além do acompanhamento da equipe de saúde, consumo adequado de fármacos e prática de atividade física, a realização do acompanhamento nutricional é de suma importância, pois, permite verificar os hábitos alimentares destes indivíduos (BRASIL, 2006).
Um estudo multicêntrico de base populacional, conduzido em 1988 em nove capitais de estados brasileiros, demonstrou que a prevalência do diabetes e a tolerância à glicose diminuída em população urbana, entre 30 e 69 anos de idade, são de 7,6 e 7,8%, respectivamente. Os casos de diabetes previamente diagnosticados corresponderam a 54% dos casos identificados, ou seja, 46% dos casos existentes desconheciam o diagnóstico, que provavelmente seria feito por ocasião de manifestação de alguma complicação crônica do diabetes (MALERBI et al, 1992).
No Brasil, as cidades das regiões Sul e Sudeste, consideradas de maior desenvolvimento econômico do país, apresentam maiores prevalências de diabetes mellitus e de tolerância à glicose diminuída. Os principais fatores associados à maior prevalência do diabetes no Brasil foram a obesidade, o envelhecimento populacional e história familiar de diabetes (MALERBI et al, 1992).
O apoio educacional tem um grande impacto sobre o comportamento das pessoas com Diabete Melltius, sua evolução de saúde, assim como, nos custos de atendimento à saúde em diabetes, uma vez que, as mudanças no estilo de vida através da educação nutricional continuada dos diabéticos resultam em redução de peso, melhor controle glicêmico, da pressão arterial e lipídeos, e conseqüentemente, reduzem os riscos cardiovasculares. (TEIXEIRA; ZANETTI, 2006).
Tendo em vista a importância da avaliação do consumo alimentar em portadores de Diabete Mellitus na qualidade da alimentação e principalmente para qualidade de vida e saúde nutricional desta população a presente pesquisa teve por objetivo avaliar o perfil socioeconômico; analisar os grupos alimentares mais consumidos por portadores de Diabete Mellitus; bem como averiguar o local de maior frequência para aquisição destes alimentos.
Metodologia
A presente pesquisa possuiu delineamento de cunho transversal com coleta de dados primários que consistem naqueles especificadamente para o propósito do estudo (PEREIRA, 2002), sendo esta uma pesquisa de um projeto de pesquisa –PROBIC- intitulado: “(In) segurança alimentar em portadores de Diabete Mellitus” vinculado ao Projeto de Extensão: “Abordagem Interdisciplinar do Usuário Portador de Diabete Mellitus”, sendo este projeto aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, sob-registro número 042.2008.2.
A população alvo foi composta por portadores de diabetes cadastrados ao programa HiperDia e participantes das ações desenvolvidas pelo Projeto de Extensão: “Abordagem Interdisciplinar do Usuário Portador de Diabete Mellitus desenvolvido em uma Unidade de Estratégia Saúde da Família na Região Oeste de Santa Maria/RS”.
O critério de exclusão da presente pesquisa foi não ser diabético e não aceitar assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas individuais para aplicação dos instrumentos de pesquisa no período de março de 2009 e janeiro de 2010.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) da ANEP (2008) que por meio de somatório de pontos, classifica a população em classes econômicas, sendo este questionário validado onde foi agregada uma questão sobre a escolaridade. O segundo questionário foi elaborado pelas próprias pesquisadoras com perguntas que eram de múltipla escolha em relação aos grupos alimentares. Cada participante deveria marcar somente o alimento mais adquirido por ele e seu grupo familiar.
Para seu desenvolvimento, a pesquisa foi previamente aceita pela Unidade de Saúde Doutor Roberto Binato e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias de igual valor.
Os dados coletados foram armazenados em bancos de dados no Programa Microsoft Excel versão 2007, recebendo tratamento estatístico descritivo simples. A apresentação dos mesmos efetuou-se por meio de tabelas e gráficos.
Resultados e discussões
Participaram da pesquisa 32 portadores de Diabete Mellitus (DM), sendo 81,25% (n=26) do gênero feminino e 18,75% (n=6) do gênero masculino com faixa etária entre 60 e 74 anos de idade. A classificação socioeconômica destes indivíduos afeta diretamente a aquisição de alimentos e o comprometimento da qualidade nutricional da dieta alimentar em virtude do custo para aquisição de determinados grupos alimentares mais onerosos para classes socioeconomicamente mais desfavoráveis. De acordo com a classificação socioeconômica por meio do Critério de Classificação Econômica Brasil (2008), 50% (n=16) dos participantes pertencem à classe D; seguido em 18,8% (n=6) a classe C1 conforme mostra a figura 1.
Figura 1. Classificação socioeconômica dos portadores de Diabete Mellitus. Santa Maria/RS, 2009
Ao verificarmos os locais para aquisição dos alimentos, de acordo com a tabela 1, verificamos que 93% dos participantes adquirem em supermercados.
Tabela 1. Locais para aquisição de alimentos por portadores de Diabete Mellitus. Santa Maria/RS, 2009
Locais para aquisição dos alimentos |
% |
n |
Supermercado |
93% |
30 |
Mercearia |
7% |
02 |
Total |
100% |
32 |
A aquisição dos gêneros alimentícios em 93% (n=30) em supermercados pode ser justificada, em virtude de ser ter uma ampla opção de escolha entre os gêneros que serão adquiridos e ainda pela ampla disseminação de supermercados nos bairros da periferia. Com a introdução de novos hábitos de consumo, fez com que a estrutura da oferta de alimentos, principalmente dos hortifrutigranjeiros, se alterasse rapidamente. Em passado recente, a feira livre e os pequenos comércios (mercearias, mercadinhos e quitandas) eram os principais equipamentos utilizada para a distribuição deste tipo de alimento, dada a sua abrangência geográfica e a possibilidade de levar a cada consumidor uma enorme diversidade de produtos. Nos dias atuais, no entanto, metades das compras de gêneros alimentícios, incluindo os hortifrutigranjeiros, são realizadas no supermercado (BELICK, 2000).
Ao analisarmos os macronutrientes consumidos em seus respectivos grupos na tabela 2, verificamos que em relação aos carboidratos, os alimentos mais adquiridos foram o açúcar refinado em 76%; seguido de massa em 68%. Somente 32% têm por hábito comprar outros alimentos integrais. Entre o grupo dos lipídios, os alimentos mais adquiridos foram o óleo de soja em 100% e a margarina em 44%. Já entre o grupo das proteínas, o alimento mais adquirido foi a carne bovina em 92%.
Tabela 2. Alimentos mais adquiridos e seus respectivos grupos
alimentares por portadores de Diabete Mellitus. Santa Maria/RS, 2009
Alimentos e seus grupos alimentares |
% |
Carboidratos |
|
Açúcar refinado |
76 |
Pão Francês |
48 |
Massa |
68 |
Farinha de trigo refinada |
64 |
Pão integral |
44 |
Alimentos Integrais |
32 |
Lipídios |
|
Manteiga |
24 |
Margarina |
44 |
Banha de Porco |
20 |
Óleo de Soja |
100 |
Proteína |
|
Carne Bovina |
80 |
Carne de Frango |
92 |
Peixe |
32 |
Podemos observar que os resultados apresentaram como hábito de compra, deste grupo de portadores de Diabete Mellitus, inadequação que é caracterizado principalmente pelo alto consumo de carboidratos simples ou refinado e um baixo índice de compra de alimentos integrais. Conforme Monteiro et al (2000), no período entre 1988 e 1996, observou-se um aumento do consumo de ácidos graxos saturados, açúcares e refrigerantes, em detrimento da redução do consumo de carboidratos complexos, frutas, verduras e legumes, nas regiões metropolitanas do Brasil.
O uso de carboidratos refinado reduziria a quantidade de nutrientes e aumentaria a quantidade de calorias de uma dieta, podendo então Diabete Mellitus estar relacionado tanto com na obesidade ou com a ausência de nutrientes presentes em alimentos que são fontes de fibras, o que aumentaria a suscetibilidade da Diabete Mellitus (GROSS et al, 2004). Segundo Weickert e colaboradores (2006), o consumo de uma dieta com elevado teor em fibras tem demonstrado diminuir o risco de desenvolver o Diabete Mellitus tipo 2, isto porque as fibras reduziriam a resistência insulínica, melhorando a sensibilidade da insulina, podendo ser usada assim tanto para prevenção como para o tratamento do Diabete Mellitus tipo 2, por este ainda produzir insulina.
As mudanças observadas no consumo alimentar no Brasil, com especial destaque para o aumento da densidade energética, maior consumo de carnes, leite e derivados ricos em gorduras e redução do consumo de cereais (MONTEIRO et al, 1995), frutas, verduras e legumes (MONTEIRO et al, 2000), constituem um importante fator de risco para o desenvolvimento do diabetes, independentemente do índice de massa corporal (GITTELSOHN et al, 1998).
Ao analisarmos os resultados encontrados no presente trabalho, podemos observar uma elevada aquisição de óleo de soja, fato este positivo, tendo em vista a cultura alimentar da população avaliada que possuía o hábito de consumir gordura saturada como a banha por exemplo. Entretanto, a aquisição de manteiga e banha de porco, mostra a necessidade da realização de um trabalho de educação e acompanhamento nutricional contínuos para estes indivíduos, para esclarecer também quanto ao uso adequado e saudável do uso do óleo de soja.
A qualidade dos lipídeos possui um papel importante no risco de desenvolvimento do diabetes. Estudos prospectivos demonstram correlação positiva entre consumo de gorduras saturadas e os níveis de glicemia (FESKENS; KROMHOUT, 1990), maior risco de progressão de tolerância à glicose diminuída para o diabetes e uma correlação negativa com o consumo de ácidos graxos w-3.
Dados sobre o consumo de ácidos graxos "trans", encontrados principalmente nas margarinas, alimentos tipo fast-foods e outros produtos industrializados, ainda são escassos. Entretanto, conforme Monteiro, et al (1995), entre 1962 e 1988 o consumo de margarina no Brasil subiu de 0,4 para 2,5% do total de calorias. Observou-se também, um incremento da densidade energética, favorecido pelo maior consumo de carnes, leite e derivados ricos em gorduras. Há evidências bem fundamentadas da relação entre a qualidade da alimentação e os riscos de desenvolver o diabetes mellitus. Tem sido demonstrada uma correlação positiva entre a prevalência do diabetes e o alto consumo de gorduras saturadas e ao baixo teor de fibras da dieta (FESKENS; KROMHOUT, 1990).
Conclusão
O número crescente de indivíduos acometidos por esta patologia tem sido associado às rápidas transformações demográficas e socioeconômicas observadas em vários países em desenvolvimento. A grande variação da prevalência do Diabetes em diferentes nações tem sido atribuída a uma combinação de diferenças genéticas e fatores ambientais, como dieta, obesidade, sedentarismo e desenvolvimento intra-uterino.
A forte influência da alimentação inadequada no desenvolvimento e agravo da Diabete Mellitus mostra a importância da realização de pesquisas que abordem esta temática a fim de que ações voltadas para a educação em saúde, principalmente a educação alimentar e nutricional sejam desenvolvidas.
O desenvolvimento de ações efetuadas que visem orientar a aquisição de gêneros alimentícios adequados principalmente para os portadores de Diabete Mellitus, além de favorecer a qualidade de vida e um adequado aporte nutricional, poderá também contribuir para um melhor manejo do orçamento deste indivíduo e/ou seu núcleo familiar em relação aos custos com a alimentação.
Referências bibliográficas
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MONTEIRO, Carlos Augusto; et al. The nutrition transition in Brazil. European Journal of Clinical Nutrition, 49:105-113, 1995.
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PEREIRA, Maurício Gomes. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 2002, 596p.
TEIXEIRA, Carla Regina de Souza; ZANETTI, Maria Lúcia. O trabalho multiprofissional com grupo de diabéticos. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 59, n. 6, 2006.
WEICKERT, Martin. O.; et al. Cereal fiber improves whole-body insulin sensitivity in overweight and obese women. Diabetes Care, n.29, p.775-780, 2006.
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