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Jogos tradicionais e desenvolvimento 

motor no contexto da Educação Física escolar

Juegos tradicionales y desarrollo motor en el contexto de la Educación Física escolar

 

*Licenciada em Educação Física pela

Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC). Ubá, MG

** Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Professora da Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC). Ubá, MG

(Brasil)

Karina Corrêa Grossi de Almeida*

kaketty@hotmail.com

Leililene Antunes Soares**

leililene@fagoc.br

 

 

 

 

Resumo

          Os jogos tradicionais estão perdendo espaço em nossa sociedade, apesar da sua grande importância para a infância, por desenvolver a personalidade, a realidade, o simbolismo, a motivação, a criação de novas idéias, contato com a cultura e socialização, além do desenvolvimento integral do individuo. O objetivo deste estudo é identificar como o professor de Educação Física utiliza os jogos tradicionais em suas aulas na pré-escola, visando o desenvolvimento motor da criança. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa com aplicação de questionários para seis professores de Educação Física das séries iniciais, sendo quatro do município de Ubá/MG e dois do município de Senador Firmino/MG. Os resultados mostraram que os jogos tradicionais são utilizados pelos professores de Educação Física, que tendo consciência da importância dos mesmos, os utilizam com o intuito de contribuir no desenvolvimento motor da criança.

          Unitermos: Jogos tradicionais. Professor. Educação Física.

 

Abstract

          The traditional games are losing ground in our society, despite its great importance to children, to develop the personality, reality, symbolism, motivation, creation of new ideas, contact with the culture and socialization, in addition to the full development the individual. In this study identified how the teacher of Physical Education uses the traditional games in their classes in elementary school, to the motor development of children. Thus, a qualitative research with application of questionnaires to six teachers of Physical Education in the initial series, being four the municipality of Ubá/MG, and two of the Senador Firmino/MG. The results show that traditional games are used by teachers of Physical Education, and that the importance of them, uses them in order to help the motor development of children.

          Keywords: Traditional games. Teachers. Physical Education.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    A origem do jogo é indefinida, mas sua importância na vida de uma criança é indiscutível, pois através dele se desenvolve a personalidade, trabalha a realidade, o simbolismo, a motivação e a criação de novas idéias, além do desenvolvimento integral do individuo.

    Dentre os tipos de jogos, destacam-se os tradicionais, que por sua vez, favorecem o contato com a cultura que é transmitida por meio da oralidade e passada de geração a geração.

    As brincadeiras antigas são fundamentais na infância, pois estas são ligadas aos costumes populares que ajudam a promover a socialização, o desenvolvimento da coordenação motora, o equilíbrio, do respeito às regras e o cognitivo das crianças (REGINA, 2008).

    Complementando as informações supracitadas Calegari e Prodócimo (2006) mencionam que a criança em contato com o lúdico desenvolve o social, a moral, o cognitivo, o afetivo e o motor, além de sentir prazer ao praticar tais atividades.

    Assim, a partir do resgate dos jogos tradicionais a criança mantém contato com a cultura e aprende um saber popular, favorecendo ainda na relação com os pais, amigos e professores (SANTOS, 1997). Seu conteúdo simples e prazeroso é um grande aliado para os profissionais da área, pois a criança vai aprender brincando, sem utilizar muito esforço para encontrar respostas, superar dificuldades de aprendizagem e se interagir com o próximo.

    Dentro deste contexto, alguns autores como Reis e Trindade (2001), Fadeli et al. (2003) e Santos (2007), apontam que os brinquedos e brincadeiras tradicionais estabelecem contato privilegiado com a cultura da comunidade, além de melhor o desenvolvimento motor e a criatividade dos participantes, pois não tem regras fixas e o local depende da ocasião, fazendo com que a criança atue de forma reflexiva em relação a algum problema que possa ocorrer durante a brincadeira. Nesta perspectiva Fonseca (2001), acrescenta que é na idade pré-escolar, que os exercícios corporais e as atividades motoras visam assegurar o desenvolvimento harmonioso dos componentes corporais, afetivos, intelectuais da personalidade da criança objetivando a conquista de uma relativa autonomia e da apreensão refletida do mundo que a cerca.

    Pelo exposto, tem-se por objetivo identificar como o professor de Educação Física utiliza os jogos tradicionais em suas aulas nas séries iniciais visando o desenvolvimento motor de crianças com faixa etária entre 4 e 6 anos.

Metodologia

    Neste estudo, optou-se pela abordagem qualitativa. Para Thomas et al. (2007), a pesquisa qualitativa, é uma abordagem bastante subjetiva, natural, flexível. Seus principais objetivos são a descrição, a compreensão e o significado, buscando desenvolver hipóteses a partir de observações.

    A amostra foi composta por 6 professores de Educação Física que ministram aulas para pré-escolas públicas e privadas, sendo 4 do município de Ubá/MG e 2 do município de Senador Firmino/MG.

    Com intuito de identificar como os jogos tradicionais são utilizados durante as aulas a fim de favorecer o desenvolvimento motor das crianças de 4 a 6 anos foi elaborado e utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário semi-estruturado

    A análise dos dados foi de forma descritiva e apresentados em gráficos, para uma melhor compreensão das informações.

Resultados e discussão

    No que tange a importância dos jogos tradicionais para o favorecimento do desenvolvimento motor das crianças de 4 a 6 anos, do universo de professores entrevistado, 83% afirmaram utilizar este tipo de jogo freqüentemente nas aulas de Educação Física e os outros 17% mencionaram utilizar estes jogos esporadicamente. (Figura 1).

Figura 1. Utilização dos jogos tradicionais nas aulas de Educação Física

    Ao questionar sobre a freqüência com que estes jogos são utilizados constatou-se que 50% responderam que mais de uma vez por semana, 33 % uma vez por semana e 17% uma vez por mês. (Figura 2).

Figura 2. Freqüência da utilização dos jogos tradicionais

    Ao serem indagados se os jogos tradicionais podem ser considerados grandes aliados durante as aulas de Educação Física, 83% responderam que sim, e acrescentaram que são de fácil acesso e custo, além de trabalhar o desenvolvimento motor e a cultura da criança de forma lúdica, já 17% acreditam que nem sempre os jogos são aliados de suas aulas, pois os jogos tradicionais não são novidades e as crianças ficam desmotivadas. (Figura 3).

Figura 3. Jogos tradicionais como aliados nas aulas de Educação Física

    Pontes e Magalhães (2002 citado por CALEGARI e PRODÓCIMO, 2006) ressaltam que pouco se sabe a respeito da origem dos jogos, entretanto sua transmissão entre as crianças é de forma oral. Sendo assim, os professores foram questionados se em algum momento de suas aulas de jogos tradicionais os alunos participam diretamente das atividades, propondo-as e coordenando-as. Verificou-se que 33% disseram que sim e 67% às vezes. (Figura 4).

Figura 4. Participação dos alunos diretamente nas aulas de jogos tradicionais

    Pontes e Magalhães (2003) evidenciam que a cultura da brincadeira é um fenômeno de grupo, transmitida de geração em geração e mantida pela tradição. Os professores ao serem questionados se as crianças ensinam umas às outras, o que aprendem com pais e familiares a respeito dos jogos tradicionais e de que forma isso acontece, 66% afirmaram que as crianças repassam espontaneamente, 17% comentaram que às vezes as crianças participam durante as atividades propondo novidades aprendidas com familiares e 17% dizem que não observaram o repasse de conhecimentos sobre os jogos tradicionais. (Figura 5).

Figura 5. Crianças repassam ensinamentos aprendidos sobre os jogos tradicionais

    Molinari e Sens (2003) salientam que o trabalho motor com crianças deve ser por meio de jogos e atividades lúdicas, para que estas tenham oportunidades para se conscientizar sobre seu corpo. Os professores foram indagados a respeito das suas aulas e sobre os jogos tradicionais e se são preparadas visando o desenvolvimento motor da criança. Algumas das respostas obtidas foram: “Preparo minha aula de acordo com o interesse da turma”. “De acordo com o planejamento anual”. Todos os professores entrevistados (100%) consideram os jogos tradicionais importante para o desenvolvimento motor, acrescentando que os jogos proporcionam possibilidades de experimentar, criar e transformar o mundo, vivenciar situações diferentes, desafiadores que trabalham e desenvolvem todas as partes do corpo de forma lúdica. (Figura 6).

Figura 6. Importância dos jogos tradicionais no desenvolvimento motor

    Os resultados apresentados concordam com as considerações de Claparide (1956 citado por JORGE et al., 2008) afirmando que o jogo infantil desempenha papel importante no desenvolvimento motor, sendo um método natural de educação.

    Os professores foram questionados sobre quais jogos são utilizados em suas aulas de Educação Física e de qual forma esses jogos auxiliam o desenvolvimento motor. Os resultados estão apresentados nas Figuras 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16.

    Constatou-se que 83% dos professores utilizam amarelinha em suas aulas e consideram que seu uso favorece o desenvolvimento do equilíbrio, do salto e da coordenação, enquanto 17% não utilizam. (Figura 7).

Figura 7. Professores que utilizam amarelinha

    No que diz respeito a barra manteiga, 50% não propõem esse jogo e suas aulas e 50% propõem. Destes, todos afirmaram que o mesmo ajuda na agilidade, atenção e percepção corporal. (Figura 8).

Figura 8. Professores que utilizam barra-manteiga

    Quanto à cabra-cega, para 83% dos entrevistados que a utiliza em suas aulas, ela estimula a noção espacial, auditiva e o tato, os outros 17% não fazem uso deste jogo. (Figura 9).

Figura 9. Professores que utilizam cabra-cega

    O pula-cela é desconhecido pelos professores (83%), apenas 17% conhecem e trabalham com este jogo por considerarem auxiliar no desenvolvimento da coordenação motora. (Figura 10).

Figura 10. Professores que utilizam pula-cela

    Os jogos de perseguição são utilizados por 83% dos professores por acreditarem favorecer o deslocamento e a agilidade, os que não trabalham (17%) não justificaram o motivo. (Figura 11).

Figura 11. Professores que utilizam jogos de perseguição

    Em relação às bolinhas de gude, 33% dos professores não as utilizam “porque são perigosas para as crianças”, “pode causar acidentes”. Já 67% utilizam e as consideram propicias para estimular coordenação motora fina e percepção. (Figura 12).

Figura 12. Professores que utilizam bolinha de gude

    Pular corda auxilia no desenvolvimento do equilíbrio, atenção, saltos e saltitos e noção temporal, esta é a concepção de 100% dos professores. (Figura 13).

Figura 13. Professores que utilizam pular corda

    Os professores em sua maioria (83%) afirmaram que a queimada proporciona trabalhar força, agilidade, direção, deslocamento e atenção das crianças, enquanto 17% não usam este jogo em sua aula. (Figura 14).

Figura 14. Professores que utilizam queimada

    As brincadeiras cantadas favorecem o desenvolvimento da audição, ritmo e percepção na opinião de 67% dos entrevistados. Os demais (33%) não justificaram porque não utilizam tais brincadeiras. (Figura 15).

Figura 15. Professores que utilizam brincadeiras cantadas

    Outros jogos como “jogo da velha”, maestro, peteca, “mané posso ir?” e labirinto foram citados por 50% professores como jogados pelas crianças durante as aulas. Já 50% só utilizam os jogos citados anteriormente. (Figura 16).

Figura 16. Professores que utilizam outros jogos

    Contatou-se que todos os professores participantes da pesquisa, julgam importante a utilização dos jogos tradicionais como ferramenta pedagógica no favorecimento do desenvolvimento da criança, visto que através destes podem trabalhar os conteúdos de forma lúdica, prazerosa, resgatando a herança cultural de cada criança e fazendo com essa herança se propicie entre outras crianças e até mesmo entre os professores.

Conclusão

    Após a realização deste estudo verificou-se que os jogos tradicionais, amarelinha, barra-manteiga, cabra cega, corre-cutia, pula-cega, jogos de perseguição, bolinha de gude, pular corda, queimada e brincadeiras cantadas, são utilizados pelos professores de Educação Física com o intuito de favorecer o desenvolvimento motor da criança, e tais professores tem a consciência que estes jogos são importantes. Além disso, percebe-se que as crianças continuam transmitindo estes jogos entre elas, pois têm a oportunidade de mostrar aos seus amigos o que conhecem e aprenderam com seus familiares.

    Portanto, o uso dos jogos tradicionais como ferramenta auxiliar deve ser apresentado e difundido entre os professores de Educação Física visando transformar suas aulas em ambiente propício para o crescimento e desenvolvimento não apenas motor, mas social, moral, afetivo e cognitivo.

Referências bibliográficas

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  • REIS, K. R.; TRINDADE, M. L. A inferência de brinquedos e jogos na construção do conhecimento em crianças de 2 a 4 anos da educação infantil. Belém, PA: UNAMA, 2001. Monografia (Graduação em Pedagogia) – Universidade da Amazônia, Belém, PA, 2001.

  • SANTOS, R. P. Psicomotricidade. São Paulo: Ieditora, 2007. 61p.

  • SANTOS, S. M. P. dos. (org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 11. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

  • THOMAS, J.; NELSON, J.; SILVERMAN, S. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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