Hábitos posturais de escolares de 10 a 16 anos de idade Hábitos posturales de escolares de 10 a 16 años de edad |
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*Esp. Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde CEFD/UFSM **Prof. Adj. CEFD/UFSM (Brasil) |
Eliane Celina Guadagnin* | Vanderson Luis Moro* Leandro dos Santos* | Silvana Corrêa Matheus** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi investigar os hábitos posturais adotados por escolares de 10 a 16 anos de idade. Participaram do estudo 201 estudantes, com idades de 10 a 16 anos. Para investigar os hábitos posturais dos sujeitos, utilizou-se um questionário semi-estruturado de Mangueira (2004), constituído de questões relacionadas a dores nas costas e posturas adotadas nas atividades diárias. Através dos resultados encontrados, e em concordância com a literatura, foi possível perceber que grande parcela dos sujeitos investigados possui hábitos posturais incorretos e que a prevalência de dores nas costas, já nessa faixa etária (10 a 16 anos), foi bastante significativa (40,8%). Unitermos: Hábitos posturais. Crianças.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010 |
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Introdução
Os problemas posturais ocorrem com muita freqüência na população em geral, se apresentando também, já em crianças e adolescentes. Eles podem ser resultado de fatores hereditários, das condições nas quais o sujeito vive, do nível sócio-econômico, dos fatores emocionais e das alterações fisiológicas resultantes do crescimento e do desenvolvimento humano (PENHA et al., 2005). Os maus hábitos posturais adotados durante as atividades diárias podem ser os maiores responsáveis pelas agressões à coluna, como as dores nas costas e os desvios posturais (KNOPLICH, 1982; VERDERI, 2002). Segundo Verderi (2002), a principal forma de se evitar os desequilíbrios posturais é adotando bons hábitos posturais durante as atividades diárias. Por isso, os sujeitos que adotam posturas mais corretas têm bem menos chances de apresentarem esses tipos de problemas.
Para Kisner e Colby (1998), a adoção de bons hábitos posturais pelas crianças é importante para evitar sobrecargas em ossos em crescimento e alterações adaptativas em músculos e tecidos moles. Conforme Verderi (2001), os problemas posturais manifestam-se na infância e na adolescência, a partir dos 10 anos de idade, assim, crianças sem orientação podem adquirir vícios de postura, principalmente no transporte dos materiais escolares, nas atividades diárias e nas aulas de Educação Física.
Dessa forma, é necessário investigar quais são os hábitos posturais de crianças e adolescentes, para que os mesmos possam ser alertados sobre as conseqüências que os hábitos incorretos podem trazer para a saúde da coluna vertebral.
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar os hábitos posturais adotados por escolares de 10 a 16 anos de idade.
Material e métodos
Participaram do estudo 201 escolares, com idades de 10 e 16 anos, sendo 94 do sexo masculino (46,77%) e 107 do sexo feminino (53,23%).
Para investigar os hábitos posturais dos sujeitos, utilizou-se um questionário semi-estruturado de Mangueira (2004), constituído de questões fechadas, relacionadas a dores nas costas e posturas adotadas nas atividades diárias. Tal questionário era respondido em sala previamente reservada, na escola em que os sujeitos freqüentavam.
Cada avaliado respondeu individualmente ao questionário, após breve explicação dada pelos pesquisadores, que ficavam a disposição em caso de surgimento de eventuais dúvidas durante o preenchimento do mesmo.
Antes de responder ao questionário, os responsáveis legais pelos avaliados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido contendo informações relativas ao estudo, e autorizando para a participação no estudo.
A análise estatística utilizada foi a descritiva, apresentando os dados em forma de média, desvio padrão e percentuais.
Resultados e discussões
Os resultados encontrados em relação à presença de dores nas costas e a região onde a dor está localizada são apresentados nas Figuras 1 e 2.
Figura 1. Dores na coluna vertebral
Figura 2. Localização da dor
A prevalência de sujeitos que apresentavam dores nas costas foi alta no presente estudo (40,80%), porém, foi semelhante ao resultado encontrado por Widhe (2001), onde 38% dos adolescentes investigados relataram sentir dores nas costas. Já Siambanes et al. (2004) constataram que 64% dos estudantes participantes da sua pesquisa apresentaram dores nas costas.
Quanto ao tempo da presença das dores nos estudantes investigados no presente estudo, a maior parte dos sujeitos (43,90%) afirmou sentir essa dor por um período maior que seis semanas, sendo que importante parcela dos mesmos a sentia há apenas uma semana (25,61%). Outros 17,07% detectaram a presença da dor de 10 a 21 dias atrás e 13,41% há cerca de seis semanas em relação à data de aplicação do questionário. Quanto à freqüência da dor, a maioria (84,15%) a sentia somente às vezes, porém 15,85% dos sujeitos a sentiam diariamente. Quando questionados sobre o momento em que a dor aparecia, 58,54% dos estudantes afirmaram que quando faziam algum esforço físico, 23,17% quando ficavam sentados, 6,1% até mesmo em repouso, 3,66% quando ficavam em pé e 2,44% ao permanecerem na posição deitada.
Quanto a isso, Siambanes et al. (2004) verificaram que, dos sujeitos que relataram dores nas costas, 41,3% sentiam a mesma quando transportavam a mochila escolar e quase todos relataram sentir alívio ao tirar a mochila das costas. Ainda nesse estudo, 59% notaram dor recorrente (23% mensalmente, 17% semanalmente, 19% diariamente).
Sobre as atividades de vida diária realizadas, os estudantes responderam questões relacionadas às atividades de dormir, realização de tarefas escolares, transporte de material escolar, local onde assistiam à televisão, trabalho e carteira escolar.
Para dormir, no presente estudo, 40,3% dos sujeitos afirmaram adotar posições variadas, 33,83% de lado, 22,89% de bruços e, ainda, 2,99% dormiam de costas, sendo que a maior parte deles (52,24%) utilizava colchão macio, seguido de colchão firme (42,79%) e colchão muito duro (3,98%).
No estudo de Bankoff et al. (1997), verificou-se que, em duas das escolas participantes do estudo a posição fetal (lateral, com os joelhos flexionados) foi a mais utilizada para dormir. Já na outra escola, o predomínio foi da posição de decúbito ventral. A posição menos adotada, em todas as escolas, foi a de decúbito dorsal, ocorrendo o mesmo no presente estudo.
Dentre os autores consultados para este estudo, Mercúrio (1997) e Knoplich (1982) afirmam que a posição adequada para dormir é a de decúbito dorsal, a qual, segundo este, serve para relaxar, mas é difícil de ser mantida em virtude do ronco e de um engasgamento produzido pelas secreções nasais e da faringe. Para Verderi (2001), a posição em decúbito lateral é a mais aconselhada para dormir, a qual também é considerada por Knoplich (1982) como a mais adequada para quem já possui dores cervicais e lombares. As posições que, conforme os autores, são prejudiciais, são em decúbito ventral e em posição fetal (MERCÚRIO, 1997; KNOPLICH, 1982).
Quanto à superfície utilizada para dormir, ressalta-se que esta deve ser razoavelmente firme, para que a coluna esteja bem apoiada, mantendo as curvaturas normais da mesma, com todas as partes do corpo aproximadamente no mesmo plano horizontal (KENDALL et al., 1995; MERCÚRIO, 1997; MOFFAT & VICKERY, 2002; VERDERI, 2001).
Para a realização das tarefas escolares, o local que a maior parte dos estudantes costumava utilizar era a mesa (69,15%), seguido da cama (19,40%) e do sofá (7,46%).
Em relação a isso, Kendall et al. (1995) alertam que quando as crianças realizam as tarefas na cama ou no chão, deitando em decúbito lateral, as destras deitam sobre o lado esquerdo para que a mão direita fique livre para escrever ou virar as páginas de um livro, o que faz com que a coluna se curve para a esquerda (e vice-versa com as sinistras), ao manter esse hábito, provavelmente essa curva se instalará na coluna. Verderi (2001) afirma que as tarefas não devem ser efetuadas no chão ou em mesas muito baixas.
Os dados relacionados ao transporte do material escolar realizado pelos estudantes são apresentados nas Figuras 3, 4 e 5.
Figura 3. Onde é carregado o material escolar
Figura 4. Forma de transporte do material escolar
Figura 5. Quantidade de material transportado
Outros autores investigaram também a forma de transporte do material escolar, entre eles Bankoff et al. (1997), os quais constataram a preferência dos alunos pelo uso da mochila nas costas, assim como no estudo de Aparicio et al. (2005), onde as mochilas mais utilizadas pelos estudantes investigados foram as tradicionais, de duas alças, sendo que praticamente todos a transportavam também pelas duas alças. Essa forma de transporte também foi a preferida entre 85% dos participantes do estudo de Siambanes et al. (2004). Nesse estudo também ocorreu uma prevalência de 13,6% para o uso da mochila apenas em um dos ombros.
Moffat e Vickery (2002) sugerem o uso da mochila presa nos dois ombros, sem sobrecarregá-la de peso. Kendall et al. (1995) afirmam, também, que se a mochila é carregada por um ombro só, fazendo com que o sujeito mantenha o ombro levantado para que a alça não escorregue, há uma tendência para que a coluna se curve para o mesmo lado. Para Verderi (2001) a mochila deve ser transportada na altura do dorso, com as alças bem ajustadas, sem folgas, pois alças com folgas podem sobrecarregar a região dorsal, resultar em hipercifose torácica e para compensar essa curvatura, hiperlordose lombar e cervical, com a cabeça sendo projetada à frente. As bolsas de mão não devem ser carregadas sempre pelo mesmo braço, o que pode provocar escoliose. A autora destaca ainda, que as mochilas não devem estar muito pesadas, transportando apenas o necessário.
Segundo Barbosa et al. (2006) a carga transportada pelos estudantes na mochila escolar tem sido considerada a grande causadora das alterações posturais ocorridas na infância, porém os autores destacam que o longo tempo que as crianças permanecem na postura sentada, tanto em sala de aula, quanto em atividades como assistir à televisão, jogar vídeo-game, entre outras, pode ser também bastante prejudicial para a postura corporal, visto que a posição sentada gera muitos danos para a saúde da coluna vertebral.
Quanto ao local em que os mesmos preferiam assistir à televisão, a grande maioria (71,64%) afirmou assistir no sofá, 18,91% na cama e 3,98% no chão. Durante a realização dessa atividade, Knoplich (1982) alerta que é preciso evitar utilizar a cama, pois as pernas ficam estiradas e, pouco a pouco, o indivíduo escorrega e acaba sentando sobre o sacro, submetendo a coluna lombar a uma tração mecânica contrária à sua curvatura normal, o que pode resultar em dores. Detsch et al. (2007) encontraram relação entre alterações posturais e o número de horas que as meninas estudadas assistiam à TV durante a semana. As que assistiam mais de 10h semanais apresentaram maior prevalência em relação às que assistiam menos de 10h ou não assistiam, o que pode ter ocorrido talvez não em virtude do tempo despendido, e sim, da postura e do local adotados.
No presente estudo, o percentual bastante grande (88,56%) foi de sujeitos destros, se comparados aos sinistros (11,44%). Quanto ao mobiliário escolar, 99% dos estudantes utilizavam cadeira e mesa de apoio, sendo que 54,23% dos mesmos consideravam essa mobília adequada e 45,77% não. Os estudantes foram questionados ainda se trabalhavam, e 9,95% deles afirmaram que sim.
Conclusão
Através dos resultados encontrados no presente estudo e em concordância com a literatura, foi possível perceber que grande parcela dos sujeitos investigados possui hábitos posturais incorretos e que a prevalência de dores nas costas, já nessa faixa etária (10 a 16 anos), foi bastante significativa (40,8%). Quanto à atividade de dormir, a posição mais indicada por autores especializados é a de decúbito dorsal, a qual era utilizada por apenas 2,99% dos sujeitos desse estudo. Quanto ao tipo de colchão utilizado 42,79% dos estudantes utilizavam colchões firmes (os mais indicados), porém 52,24% utilizavam colchões macios. As tarefas escolares eram realizadas na mesa pela grande maioria (69,15%) e 71,64% dos indivíduos assistiam à televisão no sofá. Sobre o transporte do material escolar, 73% utilizavam a mochila e 66% a transportavam nas costas (presa nos dois ombros).
Referências bibliográficas
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BARBOSA, L. G., VIDAL, M. C. R., TAMBELLINI, A. T. A postura sentada e a motricidade humana no contexto da criança escolar: a mochila não é a única responsável pelos problemas posturais. Fisioterapia Brasil, v.7, n.4, 2006.
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MERCÚRIO, R. Dor nas costas nunca mais. São Paulo, Manole: 1997.
MOFFAT, M., VICKERY, S. Manual de manutenção e reeducação postural. Porto Alegre, Artmed: 2002.
PENHA, P. J., JOÃO, S. M. A., CASAROTTO, R. A. et al. Postural assessment of girls between 7 and 10 years of age. Clinics, v.60, n.1, p.9-16, 2005.
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VERDERI, É. Educação postural e qualidade de vida. EFDeportes.com, Revista Digital, año 8, n.51, 2002. http://www.efdeportes.com/efd51/postura.htm
WIDHE, T. Spine: posture, mobility and pain. A longitudinal study from childhood to adolescence. European Spine Journal, v.10, p.118-123, 2001.
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digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires,
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