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Educação Física escolar no desenvolvimento da resiliência

Educación Física escolar en el desarrollo de la resiliencia

 

*Graduadas em Educacão Física pela

Faculdade Adventista de Hortolândia

**Doutora em Educacão Física pela Unicamp

Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

(Brasil)

Gislaine Aparecida Moreira Rocha*

Natália Verônica Silva de Oliveira*

Helena Brandão Viana**

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho se propõe a discutir o tema “Educação Física escolar e o desenvolvimento da resiliência” e têm por objetivo refletir sobre a ação da Educação Física no desenvolvimento da resiliência e a ação desta para com o desenvolvimento da auto-estima, autocontrole, superação, utilizando-se recursos didáticos para a intervenção no comportamento escolar dos alunos, observando as reações ou respostas dos mesmos frente às diferentes dificuldades de cada um. Para isso apresenta-se idéias de vários autores pertinentes ao tema e protocolos para avaliação da resiliência que tem sido utilizados nas pesquisas.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Atividade física. Resiliência.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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“A verdadeira educação visa o ser todo, e todo o período de existência possível ao homem.
É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais”.

Ellen G. White (educadora cristã norte-americana)

 

Introdução

    Resiliência e um conceito complexo e amplo, enfocado em vários contextos e abordagens. Barbosa (2006), professor doutor em psicologia clínica, comenta que “a resiliência define seu conceito como capacidade do individuo lidar com problemas, ou seja, superar obstáculos ou resistir á pressão de situações adversas, como por exemplo: choque ou estresse, entre outros”. De acordo com Job (2003) apud Barbosa (2006) “A resiliência se trata de uma tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer”.

    Assim entendido pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano, condições para enfrentar problemas e adversidades, sendo assim acreditamos que a educação física escolar pode ajudar no desenvolvimento desses aspectos.

    Diante de situações que alguns professores enfrentam em suas aulas, percebemos que, em casos de alguns alunos que apresentavam problemas de disciplina, estes também enfrentavam problemas de ordem familiar, ou seja, as famílias desestruturadas afetavam de forma direta a aprendizagem desses alunos, como também outros diversos fatores como, por exemplo: pobreza, preconceitos, crianças que sofrem agressões físicas e verbais, alunos órfãos, até mesmo de “pais vivos”, ou falta de auto-estima. A partir disto começamos a questionar: Quem poderá intervir?

    Todos os educadores podem vir a intervir e o professor de educação física, poderá ter uma grande contribuição no progresso do aluno.

    Em seu livro Educação de corpo inteiro, João Batista Freire fala sobre a importância da Educação Física escolar no 1º grau, hoje fundamental um. Freire destaca que:

    [...] o movimento corporal pode e deve ser considerado um recurso pedagógico valioso no 1º grau, particularmente das quatro primeiras séries. Nessa fase, a ação física e mental estão de tal forma associadas, que examinar um desses aspectos os isoladamente causarão graves prejuízos, não só para a aprendizagem escolar, mas para todo desenvolvimento da Criança. (FREIRE, 1997, p.78)

    Neste processo, se os problemas de ordem emocional não forem solucionados, de nada valerá toda técnica se o mesmo não mergulhar nas reais necessidades que o aluno apresenta, as quais afetam diretamente seu aprendizado e crescimento como pessoa e cidadão.

    Baseado nas leituras de Alarcão (2001, p.11) “Formar é organizar contextos de aprendizagem, exigentes e estimulantes, isto é ambientes formativos que favoreçam o cultivo de atitudes saudáveis”. O autor afirma que assim, o aluno encontrará motivação para ir à escola, sabendo que nela, ele existe como pessoa única com necessidades distintas e principalmente que essas serão respeitadas.

    E como a Educação Física pode ajudar no encaminhamento dessas adversidades de tais alunos? No decorrer do trabalho pretenderemos mostrar que é possível tornar o aluno mais resiliente, apesar de todas as dificuldades que o professor encontra em aula, através da Educação Física escolar. Enfatizaremos o desenvolvimento da resiliência no cotidiano do aluno, fazendo mudança de atitude na nossa prática pedagógica vendo nosso aluno como alguém especial o qual muito necessita de um olhar também especial.

    Resiliência é uma palavra que vem do latim. O termo Resilio significa: voltar atrás, voltar como um salto, dar rebote. Esta palavra começou a ser usada na Física e Engenharia em 1807, pelo cientista inglês Thomas Young, que estudando estresses trazidos pelo impacto e elaborando um método para o cálculo dessas forças, a denominou como resiliência, que tem como definição de acordo com Munist (1998) apud Catusso 2007), como a capacidade de alguns materiais recuperarem sua forma original depois de ser submetido a uma pressão deformadora. Silva Jr. (1972 apud Noronha et al. 2009) define que, resiliência refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação plástica ou permanente.

    Como foco do desenvolvimento humano, a resiliência vem sendo estudada desde a década de 1970, pois surgiu uma emergência desse conceito nessa área, pois nos países da Europa esse termo é usado com freqüência não só por profissionais das ciências sociais e humanas, mas também em referência a mídia, lugares, ações e coisas em geral (YUNES, 2003).

    No Brasil resiliência ainda é uma palavra pouco conhecida, até mesmo no mundo acadêmico, por ser um conceito novo e pouco estudado na língua Portuguesa.

    A resiliência caracteriza-se pela capacidade do ser humano responder as demandas da vida cotidiana de forma positiva, apesar das adversidades que enfrenta ao longo de seu ciclo vital de desenvolvimento, resultando na combinação entre os atributos do indivíduo e de seu ambiente familiar, social e cultural (NORONHA et al., 2009).

Características de pessoas resilientes

    Falar das características de pessoas resiliente não é tão simples assim, pois até hoje não se tem um consenso a respeito do termo e uma medida exata, por isso será relatado o que alguns autores dizem a respeito do que vem a ser resiliência no campo das ciências humanas. Primeiro serão esclarecidas as diferenças entre vulnerabilidade e resiliência, uma vez que muitos pensam se tratar da mesma coisa. Vulnerabilidade focaliza os danos, as perdas, os riscos, os problemas e as dificuldades; já resiliência busca promover o indivíduo, para que ele tenha mais determinação e caminhe em direção à saúde (TROMBETA, 2000 apud SANCHES, 2007).

    A respeito de resiliência a autora Melillo comenta que:

    O que conduz o conceito de resiliência é então, uma maior compreensão e conhecimento empírico dos fatores que protegem o sujeito dos efeitos das más condições do ambiente humano e social que rodeiam, permitindo assim a criação de métodos práticos de promoção, tais fatores para assegurar um desenvolvimento favorável, que previna o aparecimento de doenças físicas ou mentais (MELILLO, 2005 apud CATUSSO, 2007, p.36).

    Resiliência pode ser descrita também como uma capacidade universal que permite que uma pessoa, grupo ou comunidade previna, minimize ou supere os efeitos nocivos das adversidades (GROTBERG, 1995 apud YUNES, 2003).

    Cabe destacar que não se nasce resiliente, nem se adquire a resiliência naturalmente no desenvolvimento: depende de certas qualidades do processo interativo do sujeito com outros seres humanos, responsáveis pela construção do sistema psíquico humano segundo Melillo e colaboradores 2005 (apud CATUSSO, 2007).

    A resiliência é uma característica de personalidade que pode aparecer diante de algum problema ou até antes dele acontecer, pois são considerados como pilares da resiliência os atributos que aparecem com freqüência, nas crianças e adolescentes considerados resiliente, já que, o indivíduo irá desenvolver ou não essa característica de acordo com a qualidade das suas primeiras experiências com a sua mãe, pai ou com outras pessoas que assumirem essas funções. Se essas experiências forem positivas, irão contribuir para a formação de uma personalidade saudável e resiliente (BOWLBY, 1984/1990 apud SANCHES, 2007).

    Há atributos que aparecem com freqüência, nas crianças e adolescentes considerados resilientes. Entre eles cabe destacar: a) a introspecção; b) a inteligência; c) a capacidade de se relacionar; d) a iniciativa; e) o humor; f) a criatividade; g) a capacidade de criar ordem, beleza e finalidade a partir do caos e da desordem; h) a morabilidade, capacidade de se comprometer com valores; i) a auto-estima consistente; e j) o cuidado afetivo desempenhado por parte de um adulto significativo para a criança ou para o adolescente. (CATUSSO, 2007).

    Os principais traços vistos como características fixas da resiliência, que formam um consenso na opinião de diversos autores são: sociabilidade, criatividade na resolução de problemas e um senso de autonomia e de proposta ( MARTINEU,1999 apud YUNES, 2001)

    Cyrulnik, 1998 (apud Laranjeira 2007), relata que “o indivíduo resiliente seria um sujeito com um coeficiente de inteligência elevado capaz de ser autônomo e eficaz nas relações com o meio em que se localiza, tendo boas capacidades de adaptação relacional e empatia, capaz de prever e planificar e finalmente ter sentido de humor”. Pode-se dizer então que os relacionamentos da infância e das etapas posteriores terão efeitos de outra espécie, podendo resultar em personalidades de menor resiliência.

    É importante citar que qualquer indivíduo está sujeito a ser resiliente. Garmezy, 1991 (apud SANCHES 2007) relata que, a resiliência pode ser observada quando há união familiar, qualidade no relacionamento de pais e filhos, em práticas educativas, envolvendo afetos, reciprocidade e equilíbrio de poder. Refere-se ainda à exclusão social e à pobreza como adversidades crônicas que podem comprometer o potencial dos sujeitos. Chiesa (2005) concorda ao dizer sobre a instrumentalização da família em relação ao ser resiliente. Reconhecer essa relação como importante no cotidiano de seus integrantes valoriza o patrimônio - conjunto de recursos materiais e relacionais de potencias disponíveis – de que dispõem, resgata seus direitos sociais, compreende as diferentes fases do ciclo de vida e valoriza o diálogo como ferramenta para exercitar a tolerância e respeitar as diferenças existentes entre seus integrantes.

    Já Barbosa (2006) entende que a interferência de uma pessoa ser mais ou menos resiliente se encontra em sete fatores: Administração das emoções; controle dos impulsos; empatia; otimismo; análise do ambiente, auto - eficácia e alcance de pessoas.

  • Administração das emoções: refere-se à habilidade de se manter sereno diante de uma situação de estresse. Pessoas resilientes quanto a esse fator são capazes de utilizar o que vêem em outras pessoas para poder orientar tal situação. Segundo esse autor,quando essa habilidade e rudimentar as pessoas encontram dificuldades em cultivar vínculos, e com freqüência se desgastam no âmbito emocional junto a aqueles que convivem em família ou no trabalho.

  • Controle de impulsos: refere-se à capacidade de regular a intensidade de seus impulsos compreendendo a aprendizagem de não se deixar levar impulsivamente por uma emoção, controle de impulso garante a auto-regulamentação das emoções, ou possibilidades de dar as devidas forças a vivencia de certas emoções.

  • Otimismo: refere-se à crença que o individuo tem de que as coisas podem mudar para a melhor, mesmo quando o poder de decisão estiver fora das suas mãos.

  • Analise do ambiente: menciona que se trata da capacidade de identificar precisamente as causas dos problemas e das adversidades presentes no meio ambiente. Essa hipótese permite a pessoa se colocar em um lugar mais seguro, do que posicionar em situação de risco.

  • A empatia: é um dos fatores que constitui uma pessoa resiliente ajudando-a compreender os seus estados psicológicos como também dos outros.

  • Auto-eficácia: e a convicção de ser eficaz nas tarefas a serem cumpridas, e a crença que a pessoa tem de pensar que pode resolver seus próprios problemas.

  • Alcance de pessoas: e o fator que aborda a capacidade que a pessoa tem de se familiarizar com outras pessoas sem ter medo ou receio de fracassos. O autor reforça que e a capacidade de se conectar a outras pessoas com a finalidade de formação de fortes redes de apoio, e defende que tais fatores quando agrupados propiciam a superação da adversidade relacionada ao sentido da vida, no próprio resiliente e no próximo e essa aglutinação que possibilita o produto da maturidade emocional.

Atividade física como promotora de resiliência

    O esporte já se revelou a máquina mais poderosa para atrair crianças e jovens a partir dele é possível trabalhar todas as áreas da educação complementar e da própria educação formal de acordo com Herculano (2003 apud SANCHES, 2007) Pensando assim vamos discutir neste capítulo como a atividade física pode ajudar na promoção de resiliência.

    Para Martinek e Hellison 1997 (apud SANCHES, 2007) uma das maneiras mais adequadas e efetivas de aumentar a resiliência de jovens carentes é por meio do desenvolvimento de programas de atividade física, pois muitas características ligadas a resiliência podem ser desenvolvidas e aperfeiçoada através da pratica da mesma.

    A atividade física proporciona uma atmosfera favorável para esse desenvolvimento devido às responsabilidades, convívio social, controle emocional, superação que é necessário apreender para que seja praticada.

    De acordo com Brito e Koller 1997 (apud SANCHES, 2007), para uma criança ser considerada resiliente, três fatores precisam interagir dinamicamente: a coesão familiar, as características pessoais e uma rede de apoio social e afetivo eficaz, sistemas externos de apoio disponíveis. As mesmas autoras comentam ainda que esses termos ligados ao conjunto de sistemas e de pessoas significativas que compõe os elos de relacionamento que a criança recebe e percebe, ou seja, pessoas com as quais ela mantém relações de reciprocidade, afeto, estabilidade e equilíbrio de poder, poderão ser encontradas através da atividade física, onde um colega ou um professor passará a ser essa pessoa. Ao praticar esporte a criança não só se mantém saudável fisicamente, mais também psicologicamente, fazendo que tenha uma melhor qualidade de vida e seja mais resiliente a resiliência busca promover o indivíduo, para que ele tenha mais determinação e caminhe em direção à saúde. (TROMBETA, 2000 apud SANCHES, 2007).

    É importante destacarmos aqui que não somente as crianças e adolescentes pobres que estão em situação de risco, pois mesmo nas classes mais alta da sociedade pode-se perceber pessoas que passam por adversidades.

    Pode-se notar que para ter uma iniciativa e preciso promover a resiliência em um desenvolvimento de atividades educativas fundamentadas para jovens escolares de todas as classes sociais. Favorecer estratégias de ação para uma educação alternativa de suporte de educação, para crianças, jovens e adultos que são freqüentadores de atividades físicas (SANCHES, 2007).

    Existem modalidades que se constituem como atividades, o esporte é um ótimo exemplo disso, pois pode ser visto como uma possibilidade de ascensão social, como uma forma de conquistar um futuro mais promissor, uma mente mais aberta e receptiva a novas idéias e experiências.

    Garmezy 1991 (apud TROMBETA 2000) defende que para um individuo ser considerado resiliente, três fatores precisam interagir dinamicamente, a coesão familiar, as características pessoais e uma rede de apoio social, afetivo e eficaz.

    De acordo com esse autor a respeito da resiliência percebe-se que é possível estabelecer uma relação entre esse conceito e a atividade física, e levantar á hipótese que a atividade física também pode contribuir para que um indivíduo se torne mais resiliente.

    Herculano 2003 (apud SANCHES 2007), afirma que e a partir da atividade física que é possível trabalhar todas as áreas da educação complementar e da própria educação formal. A resiliência está ligada à atividade física, a qual está relacionada a diversas fases dos indivíduos.

Medidas de avaliação de resiliência

    Apresenta-se aqui algumas pesquisas que utilizaram diferentes medidas para avaliar a resiliência, lembrando que não se tem uma medida exata para medir a resiliência de uma pessoa, mas sim medidas dos fatores que ajudam o indivíduo a se tornar resiliente.

Sanches (2007)

    Sanches (2007) realizou uma pesquisa com 11 adolescentes, sendo 6 homens e 5 mulheres, todos pertencentes a equipe de treinamento da organização Funilense de Atletismo da cidade de Campinas-SP. Em sua pesquisa a autora utilizou dois instrumentos para ver qual a influência da pratica esportiva como uma atividade potencialmente promotora de resiliência.

    Um dos instrumentos foi o “Mapa dos cinco campos” (figura 1), que é um instrumento desenvolvido por Samuelsson e col. (1996) e adaptado para uso no Brasil, em crianças pobres, por Hoppe (apud POLETTO & KOLLER, 2002). O mapa consiste em um diagrama com cinco círculos concêntricos, divididos em cinco partes iguais (como fatias de bolo). Cada parte do círculo representa um campo correspondente ao sistema de relações do indíviduo, sendo eles: a família, os parentes, a escola, os vizinhos/amigos e os contatos formais. O círculo central corresponde à criança e cada círculo adjacente mede a qualidade do vínculo, portanto as figuras posicionadas pela criança mais próxima do círculo central serão as que possuem melhor relação de apoio social e afetivo com o participante. O primeiro e o segundo círculo correspondem às relações mais próximas (que possuem maior vínculo com a criança ) e o terceiro e quarto círculo correspondem às relações mais distantes ( menor vínculo). Na periferia do mapa encontra-se o último círculo, que corresponde aos contatos negativos.

    Em cada campo a criança deverá situar pessoas que considera muito importante e representá-las com figuras. Em seguida a criança deverá escolher uma figura circular para representar a si mesma e posicionar no centro do círculo.

    O outro instrumento usado foi uma entrevista elaborada por Sanches (2007), a qual continha perguntas sobre dados sócio-econômicos dos participantes, à sua entrada e experiência no projeto de atletismo, perguntas sobre a rotina dos adolescentes e sobre outros contextos de sua vida (escola, família, amigos, etc ).

    No Mapa dos cinco campos as mães foram citadas por 100% da amostra como sendo a pessoa mais próxima, que pode ser considerado como um fator de proteção, pois, a relação dos pais influencia no desenvolvimento. Os resultados apontaram também que os participantes fazem amizades muito fortes com os outros atletas, que se intensificam ao longo do tempo. A pesquisa mostra também que esses atletas criam vinculo fortes com seus técnicos, os quais se tornam exemplos positivos a serem seguidos, ou seja, mais uma característica de pessoas resilientes de acordo com Trombeta 2000(apud SANCHES, 2007).

    Na entrevista os adolescentes apontaram que a prática esportiva os ajudam a gostar mais do seu corpo, tendo assim mais auto-estima, autoconfiança, além disso descobrem que podem fazer algo bem feito, sendo outro fator de proteção. Outro ponto positivo foi que o esporte com regularidade pode tornar os participantes mais responsáveis, sendo mais uma característica de pessoas resilientes segundo Trombeta 2000 (apud SANCHES 2007).

    Sendo assim Sanches (2007) constatou que a prática de atividade física (o projeto de atletismo em questão) contribuiu para o desenvolvimento da resiliência nos jovens avaliados, pois diminui fatores de risco e promove a saúde psicológica dos mesmos.

Figura 1. Mapa dos cinco campos

Fonte: Samuelsson, 1996 apud Siqueira; Betts; Dell’Aglio, 2006

Pesce et al (2004)

    Pesce et al. (2004), realizou uma pesquisa com 997 adolescentes escolares entre 12 e 19 anos da rede pública de ensino de São Gonçalo/RJ, matriculados na 7°/8° série do ensino fundamental e 1°/2° série do ensino médio, para analisar a relação de resiliência com eventos de vida desfavoráveis e fatores de proteção.

    Em sua pesquisa ele utilizou a escala desenvolvida por Wagnild e Young (1993), adaptada para o português por Pesce, Asis, Malaquias e Oliveira (figura 2), a qual é uma escala de resiliência, sendo um dos poucos instrumentos usados para medir níveis de adaptação psicossocial positiva frente a eventos de vida importantes. Este instrumento possui 25 itens descritos de forma positiva com respostas tipo Likert variando de um (discordo totalmente) a sete (concordo totalmente). Os escores da escala oscilam de 25 a 175 pontos com valores altos indicando elevada resiliência.

Figura 2. Itens da escala de resiliência

Borges et al (2006)

    Borges et al (2006) realizou um trabalho em Viçosa-MG com 5 meninas pobres que praticam o futebol para investigar a possível existência do comportamento resiliente nas mesmas. Para está investigação foi desenvolvido um itinerário metodológico pelo o qual os dados foram coletados na observação participante e através da aplicação de entrevistas.

    A entrevista usada consistiu em alguns itens, que foram: Influência da família na prática de futebol, preconceito sofrido pela escolha da modalidade, perspectiva profissional e pessoal, relação social com o sexo oposto, fontes e meio de acesso ás informações, seleção das atividades de lazer, postura de liderança dentro do grupo, conversas durante as aulas. Esses itens foram escolhidos por possuírem contribuições fundamentais para análise devido a sua relação com características existentes em pessoas resilientes, que foram evidenciadas na revisão de literatura de acordo com Borges, et al (2006).

    Por enfrentar barreiras diárias como: Tarefas domésticas restritas à figura feminina, falta de apoio da sociedade para praticarem o esporte, preconceito por praticar um esporte considerado apenas para homens, estigmatização feminina, seria o suficiente para o abandono do esporte praticado, mas todos esses obstáculos enfrentados por elas mostram um comportamento resiliente, e não só esses, como outros traços de resiliência foram observado como: melhor desenvolvimento intelectual, maior nível de auto-estima; maior grau de autocontrole; desejo de ter uma família menos numerosa; história de vida sofrida; a busca pelo gênero oposto; melhor preparação para o mundo do trabalho, preocupação com a evolução tática sem a perca da feminilidade, segundo Borges et al (2006).

    Os autores ainda comentam que, o comportamento resiliente parece se manifestar no grupo de meninas, isto é, todos têm características de resiliência, mesmo sendo inconsciente. Eles acreditam que o convívio com meninas resilientes possa fazer com que surja resiliência no grupo, ajudando as meninas se manter no futebol, superando as dificuldades para a pratíca do mesmo (BORGES, et al, 2006, p.128).

Considerações finais

    O objetivo geral desse trabalho foi construir uma ponte da Educação Física Escolar com a resiliência, a qual promove um forte alicerce para o sucesso do aluno em todos os aspectos e fica evidente que uma boa parte do desenvolvimento da resiliência ocorre nessa área de atuação.

    Dessa forma a Educação Física auxilia o processo do desenvolvimento da resiliência, que se interessa em transformar o indivíduo em alguém resiliente, propondo soluções que busquem a transformação necessária na vida do indivíduo. Nesse trabalho demonstrou-se a importância da prática da atividade física na vida do ser humano, a qual está ligada com o físico, emocional, mental e até mesmo o espiritual, onde um completa o outro.

    A atividade física pode contribuir para bons resultados de alunos que enfrentam adversidades, proporcionando atividades motivadoras com criatividade, propostas pelo educador incluindo os fatores de proteção citados neste trabalho. Formamos assim um forte ponto para a superação de fatores de riscos que seriam as adversidades que os alunos enfrentam.

    A educação física pode auxiliar muito em seu ambiente escolar, trabalhando a questão do respeito e consideração ao aluno, sua origem cultural, sua classe social, suas ansiedades e dificuldades. Este é o papel do professor e da escola, pois a tarefa de todo educador, enquanto sujeitos ativos na escola é, contribuir na transformação da sociedade e auxiliar nossos alunos na concretização de seus sonhos.

    Portanto, como futuros professores, acreditamos que, a educação física em sua prática é capaz de criar oportunidades, que estimulem seus alunos a superar as adversidades, pois esta abre caminhos para uma vida ativa. Nós como profissionais da área podemos direcionar nosso aluno a buscar solução para os problemas que enfrentam em seu cotidiano escolar, na sociedade, na família entre outros.

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