Análise quanto à organização do trabalho pedagógico das abordagens da Educação Física Crítico-Superadora e Promoção da Saúde Análisis en relación a la organización de la tarea pedagógica de los abordajes de la Educación Física Crítico-Superadora y Promoción de la Salud |
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Graduado em Educação Física Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Técnico Nível Superior, Secretaria Nacional de Esporte Educacional- SEED/ME |
Wagner Barbosa Matias (Brasil) |
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Resumo Toda a ação dos seres humanos requer planejamento, seja para realizar a mais simples atividade ou até aquela mais complexa, portanto neste artigo iremos tratar acerca dos elementos que atinge diretamente o professor de Educação Física que está na escola, ou seja, abordaremos os elementos que constituem o plano de aula do docente a partir das propostas teórico-metodologicas da Educação Física: Crítico-Superadora e promoção da saúde. Unitermos: Educação Física. Promoção da saúde. Crítico-Superadora.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010 |
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Proposta Crítico-Superadora
Como a abordagem não consegue a amarrar uma seqüência de objetivos, de conteúdos, de procedimentos metodológicos e de instrumentos de avaliação para a EF, vamos aqui expor apenas como eles pensam sobre esses elementos. Não temos duvida, que essa seja uma das lacunas da obra, pois está foi construída justamente para alicerçar a prática pedagógica do professor, no entanto, fica nos apontamentos superficiais.
Os autores expõem que o professor de EF trabalhando na perspectiva da Cultura Corporal deveria promover uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo exteriorizado pela expressão corporal: jogos, dança, capoeira etc. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 38).
Resende e Soares comentam que a EF na abordagem Crítico-Superadora possui como objetivo geral:
Possibilitar aos alunos a vivência sistematizada de conhecimentos / habilidades da cultura corporal, balizada por uma postura critica, no sentido da aquisição da autonomia necessária a uma prática intencional e permanente que considere o lúdico e os processos sócio – comunicativos, na perspectiva do lazer, da formação cultural e da qualidade coletiva de vida (1996, p. 4).
Vemos que a proposta do Coletivo de Autores estabelece para a EF a obrigação desta contribuir para que os estudantes apropriem das diversas manifestações em suas várias dimensões de forma crítica, percebendo as contradições sociais que existem na sociedade. Contudo, esse objetivo é extremamente difícil de ser concretizado no atual modelo social, uma vez que, a escola constitui num aparelho ideológico do Estado, logo é ele que dita como a educação institucionalizada deve ser desenvolvida.
Em relação ao conhecimento a ser tratado na escola, vemos que a EF ao longo dos anos priorizou como conhecimento às manifestações esportivas e a ginástica com ênfase nos aspectos motores. Na abordagem Crítico-Superadora outras manifestações são incorporadas (jogo, capoeira, dança, mímica, música etc.), sendo elas nessa perspectiva tratadas em todos os seus aspectos, apesar de percebermos certo preconceito da proposta com a dimensão biológica/motora do homem.
O Coletivo de Autores não estabelece um programa fechado para EF, não definem uma seqüência de conteúdos e nem quais devem ser, apenas citam alguns com suas possíveis formas de distribuição nos ciclos de escolarização. “Os conteúdos da cultura corporal a serem apreendidos na escola devem emergir da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno”. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 87). Como? Existe aqui duas possibilidades de interpretação. A primeira esta intimamente ligada às idéias de Paulo Freire, ou seja, os conhecimentos a serem trabalhados pelos professores na escola com a EF teriam que emergir da micro-realidade dos estudantes, é isso que o coletivo propõe? Isso não é Marxismo? Uma outra possibilidade é com muito esforço compreender “mundo do aluno” numa visão do todo social. Mais uma vez o livro muito pouco explica, e ainda mais confunde.
O professor para trabalhar os conhecimentos da cultura corporal com os estudantes não precisaria de um espaço definido. Os autores apenas defendem que a aula seja um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a apreensão do estudante do conhecimento especifico da EF. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 87). Qual a novidade? Olha mais uma vez o engodo da proposta. Além disso, vemos também nessa passagem do livro mais uma contradição dos autores, uma vez que, nela defendem que os professores trabalhem apenas os “conhecimentos específicos” da EF, perdendo a totalidade da dialética, que dizem acreditar, ao fragmentar o conhecimento “especifico” e o que chamamos de conhecimentos “gerais”.
Resende e Soares comentam que nessa abordagem as aulas são desenvolvidas através do dialogo entre os professores e os discentes, centrando num processo de co–decisão, em que o docente decide e sistematiza a proposta a ser trabalhada, a partir da mediação entre as experiências e expectativas concretas dos estudantes (1996).
Os professores trabalhando com a Crítico-Superadora iniciam as suas aulas com a problematizarão, apresentação, justificativa dos objetivos a serem atingidos e levantamento (discussão e prática) das experiências, expectativas e dificuldades dos estudantes, depois a vivência das atividades planejadas e por fim a avaliação coletiva (professor e alunos), apontando possibilidades para as próximas aulas (RESENDE e SOARES, 1996). Não temos dúvida que está seja uma forma extremamente positiva para o professor trabalhar, mas não podemos ser ingênuos e nem esquecermos que existem turmas diferentes, com características próprias. Tomemos como exemplo o professor de EF que ministra aulas para crianças de 1ª a 4ª ele dificilmente conseguirá realizar o que coloca Resende e Soares.
Por fim temos a avaliação que constitui num processo ou uma ferramenta indispensável na educação. “Se traçarmos determinados objetivos tem que saber se eles foram alcançados ou não, se ocorreu erro, onde ele aconteceu, [...], sem a avaliação corre – se o risco de repetição burra de aulas mecanizadas”. (RIBEIRO, 1996, p. 6). Assunção e Xavier Neto acreditam que ela implica em conhecer a realidade, traçar planos de ação e ampliar referências reflexivas críticas sobre a formação humana (2003, p. 37).
O Coletivo de Autores dedicou um capitulo exclusivamente sobre avaliação. Segundo eles, ela “é muito mais que simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos” (1992, p. 98). Resende e Soares corroboram com a posição dos autores da abordagem Crítico-Superadora e expõem que a avaliação na perspectiva da cultura corporal não deve ter o caráter somativo, ou seja, conferir notas e conceitos que impliquem na aprovação ou reprovação dos alunos. No entanto, essa concepção não dispensa o professor da necessidade de submeter os alunos a diferenças técnicas e instrumentos de medida/avaliação, no sentido de constatar e fornecer informações sobre o grau de assimilação dos conhecimentos/habilidades que foram socializados. (1997, p. 6).
No entanto, eles não conseguiram construir uma proposta avaliação diferente, apenas lançou alguns apontamentos de como esta poderia ser desenvolvida pelos professores algo extremamente superficial.
Proposta da Promoção da Saúde
Agora vamos analisar as posições de Guedes e Guedes também em relação aos objetivos, conteúdos, procedimentos metodológicos e avaliação. Em anexo encontra-se a sugestão dos autores de objetivos e conteúdos de 1ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Os autores acreditam que a proposição de objetivos para a EF na escola deve está relacionada com a especificidade desta disciplina, pois, vêem que objetivos alicerçadas em elevadas pretensões, supostamente direcionados a formação de cidadãos dotados de extraordinária pseudo competência social, cultural e política, fazem com que a disciplina torne-se – se vulnerável em termos de consistência acadêmica. (GUEDES e GUEDES, 1994, p. 6).
Guedes e Guedes (1994 apud FERREIRA, 1997, p. 212) propõem a educação física o objetivo de proporcionar “[...] informações precisas e seguras quanto às respostas e adaptações fisiológicas do organismo ao esforço físico, os efeitos e o significado para a saúde, dos diferentes programas de atividades motoras”. A abordagem da promoção da saúde direciona para a EF a preocupação com o aspecto biológico do ser humano, fato que levanta o questionamento sobre a relação da EF e a proposta das escolas de formação do cidadão. Sabe-se que é cada vez maior a preocupação com a qualidade de vida, mesmo que seja para alguns setores possuírem mais lucros. Mas, para além das contribuições dos professores de EF no combate do sedentarismo de grupos populacionais, o que eles poderiam esta fazendo para a formação dos cidadãos que outras disciplinas não poderiam sozinhas?
Essa é uma questão extremamente relevante que os professores necessitam refletir. Guedes e Guedes, por exemplo, não ver a importância da EF tratar dos grandes problemas sociais e não valoriza as manifestações culturais (capoeira, dança, esporte) como conhecimento construído historicamente pelos homens em suas relações. Para eles o essencial é a formação de hábitos de vida saudáveis, mesmo quando muitas das crianças vão para a escola simplesmente por causa da alimentação escolar. Resende e Gonçalves (1996) comentam que no Rio de Janeiro tem sido comum as escolas ficarem vazias nos dias que não possuem a merenda escolar, pois a maioria das escolas públicas são compostas de estudantes das camadas populares, aqueles que mais sofrem as desigualdades sociais.
Em síntese temos que os autores restringem o papel da EF em passar informações, sobre a atividade física, aptidão física e saúde da mesma forma que os veículos de comunicação já o fazem. Estes aspectos devem estar no programa curricular da EF, no entanto, diferentemente dos meios de comunicação à escola possuir como principio e objetivo a promoção da reflexão critica dos alunos acerca dos conhecimentos apresentados. Se as aulas de EF reduzir a prática de atividades físicas ou a “conscientização” da sua importância através do ensino dos conteúdos retirados da dessa temática, os professores perderão a percepção do todo social que os estudantes estão inseridos, por isso da mesma forma que os “conhecimentos específicos”, como referem os autores, devem ser desenvolvidos pelos professores os “conhecimentos gerais” também devem.
Os autores colocam que os conteúdos nessa perspectiva de EF escolar são dispostos em diferentes unidades do currículo escolar, buscando apresentar uma disposição seqüencial e ordenada apropriada para o nível de desenvolvimento dos educandos, de tal forma que, o que é ensinado no presente numa determinada serie anterior e aquilo a ser aprendido no futuro em series subseqüentes tenham relação. (GUEDES e GUEDES, 1994,p.8).
Na proposta apresentada os conteúdos mantém um forte vinculo com as ciências naturais faltando o necessário dialogo com as ciências sociais e humana, pois, o movimento humano é desenvolvido a partir dos aspectos orgânicos fisiológicos, mas nele também estão impregnados os signos históricos – sociais, expressando relações de hegemonia político econômica em uma dada sociedade e este também constitui num conhecimento necessário de ser socializado. (FERREIRA, 1997, p. 214).
Os autores trabalham na perspectiva da seriação e dentro desta abordagem conseguiram estabelecer objetivos e conteúdos para cada série, fato que nunca havia existido na EF. Sem dúvida, é uma forma que propõe uma homogeneização da EF em todas as escolas do país e dentro daquilo que eles acreditam contribuiu bastante para o campo da EF. “Artigos como o de Guedes e Guedes tem a contribuir para que seja suprida uma lacuna na teoria da educação física e que diz respeito a sua sistematização curricular com base numa teoria do currículo”. (FERREIRA, p. 215).
Uma das maiores dificuldades dos professores é fazer o conhecimento que pretendem desenvolver nas aulas ser apreendido por todos os estudantes. Com turmas de 30 a 50 discentes as dificuldades são ainda maiores, já que são todos diferentes com uma história de vida própria.
Guedes e Guedes como não percebem a historicidade dos discentes, observam os como organismos em movimento que devem apreender o conhecimento da atividade física, aptidão física, saúde em aulas teóricas – práticas. As diversas manifestações culturais construídas ao longo dos anos são utilizadas como elementos metodológicos, pouco importando a história de construção do esporte, da dança, da capoeira e as nuances sociais que as envolvem.
Silva (2005, p. 14) coloca que o professor na perspectiva da abordagem de Guedes e Guedes deveria desenvolver nas suas aulas “práticas”, para atingir seus objetivos, atividades físico-desportivas que proporcionassem o desenvolvimento das capacidades motoras dos alunos, além da aptidão física para o bem estar e a saúde. As atividades necessitavam ter um caráter motivacional para que os discentes pudessem interessar em praticá-las em outros ambientes. Um dos mecanismos de motivação para os estudantes estarem participando das aulas segundo os autores são os testes motores que na proposta são também meios para a verificação dos conhecimentos técnicos, do desempenho dos alunos nas atividades físicas, observando assim o desenvolvimento dos estudantes.
Silva (2005) ver que os seguidores da abordagem da atividade física e saúde utilizadores da avaliação tradicional são os defensores do paradigma tradicional/ esportivista/biologicista na EF. Para ele os autores que utilizam esse modelo de avaliação não vêem seu modelo de avaliação como punitivo ou sem relevância para os alunos, professores e escola, muito menos como forma de cumprimento das exigências burocráticas (p. 30). Ele comenta que a utilização dos testes pode ser incorporada na proposta da EF como instrumento metodológico ou como conhecimento a ser desenvolvido. Ele considera que eles são parte imprescindível em qualquer trabalho que se utilize conteúdos como atividade física, saúde e exercícios físicos. (2005, p. 34).
A avaliação escolar é extremamente necessária na ação pedagógica do professor, uma vez que é através dela que ele poderá continuar o que planejou ou reelaborar sua proposta. No entanto, na perspectiva apresentada à utilização de testes como instrumentos avaliativos vem apenas beneficiar os mais condicionados, reafirmando as diferenças existentes dentro da escola.
Esperamos ter provocado algumas reflexões, não era objetivo encerrar o debate, acerca das propostas sistematizadas da EF, mas apenas tentar acalorá-lo, pois temos a certeza da necessidade da re-elaboração ou construção de outras possibilidades.
Referências bibliográficas
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
FERREIRA, Marcelo Guina. Teoria da Educação Física: bases epistemológicas e propostas pedagógicas. In: FERREIRA NETO, Amarílio; GOELLNER Silvana Vilodre; GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Sugestões de conteúdo programático para programas de educação física escolar direcionados à promoção da saúde. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina. v. 16, n. 9, p. 3-14, 1994.
RESENDE, Helder Guerra. SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. Conhecimento e Especificidade da Educação Física escolar, na perspectiva da cultura corporal. Ver. Paul. EF. São Paulo. Supl. 2, p. 49 – 59, 1996.
RIBEIRO, Tomaz L. Pontos sobre Educação Física escolar. Disponível em http://www.uff.br/gef/tomaz_esp.htm, acesso em 18/03/2004
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