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Crescimento físico de escolares do Quilombo do Curiaú, AP

Crecimiento físico de escolares de Quilombo de Curiaú, AP

 

*Mestrado em Ciência da Motricidade Humana. UCB, RJ

**Escola de Educação Física e Desporto, UFRJ

LABIMH, RJ. CNPq, PQ

(Brasil)

Paulo José dos Santos de Morais*

paulojose@ceap.br

José Alex Cantuária Queiroz*

ac-queiroz@bol.com.br

Jorge Luís Martins da Costa*

jlfitness@uol.com.br

José Fernandes Filho**

jff@cobrase.org.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi verificar como se caracteriza o crescimento físico de escolares negras com idade cronológica de 07 a 13 anos, da comunidade do Quilombo do Curiaú, localizado no Estado do Amapá, extremo Norte do Brasil, utilizando a menarca como parâmetro discricionário. A amostra composta de 60 participantes foi selecionada de maneira não probabilística intencional por voluntariado. Para estabelecimento da maturação foi utilizado o Questionário de Maturação Sexual. Foi realizada coleta de dados antropométricos de Estatura e Massa Corporal, e obtido a relação entre elas, o Índice de Massa Corporal (IMC). Os resultados demonstraram que a média de crescimento anual do grupo corresponde a 5,63 cm, sendo expressivo entre 10 e 11 anos (12,72 cm). A Massa Corporal (MC) teve incremento progressivo médio de 6,29 kg, mais expressivo entre 10 e 11 anos (10,86 kg). A Idade Média da Menarca (IMM) do grupo situou-se em 11,44 anos com nenhuma menina apresentando menarca antes dos 11 anos. Os valores de IMC encontrados situam-se em padrões saudáveis. Os escores manifestaram-se de forma ascendente, sendo os mais expressivos obtidos na faixa de 11-12 anos, com evidente descenso logo após. Os escores são superiores nas meninas Menarqueadas, indicando que a maturação impactou nos resultados.

          Unitermos: Crescimento. Quilombolas. Educação Física Escolar.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    A colonização das antigas Terras do Cabo Norte no atual Estado do Amapá, que tem como capital a cidade de Macapá, foi assegurada pelos portugueses com o domínio sobre as terras situadas entre os rios Amazonas e Oiapoque. A ação das forças portuguesas não se limitava somente a combater a presença de seus inimigos ou em destruir povoados e construções por eles erigidos, mas também, se consumava em ações que visavam o povoamento distribuindo terras e postando nos vilarejos que aí surgiam, destacamentos militares.

    Os motivos que faziam da região importante para Portugal eram, dentre outros: a garantia de poder da Coroa; a proteção das riquezas extrativistas das minas de ouro da região, a agregação da população dispersa; a dinamização econômica da região (GOMES et al, 1999).

    Como sustentáculo dessas atividades, se utilizou de mão-de-obra escrava, primeiramente do indígena, e depois do negro africano. Na edificação da mais imponente Fortaleza de São José, mega construção, que demorou 18 anos para ficar pronta, insatisfeitos com o tratamento adotado pelos portugueses, os cativos passaram a fugir e a se refugiarem no mato constituindo suas moradias chamadas de Quilombo do Curiaú, sendo a origem do termo controversa: os idosos dizem que o nome original é “Criaú” que significa “localidade boa pra se criar gado” (FOSTER, 2004), reconhecido como Patrimônio Cultural do Amapá e considerada Área de Proteção Ambiental (GARCIA & PASQUIS, 2000).

    Não há registros precisos do número de moradias, de habitantes, como de quase tudo o mais que lhe diz respeito, havendo certa resistência de sua população em compartilhar informações, ocasionada talvez pelo fato de que seus habitantes tiveram historicamente sua cultura julgada como “menor”, reduzida, ignorada, e considerada como não-cultura (FOSTER, 2004).

    Importante ressaltar que em várias áreas do conhecimento, tomando como exemplo a da Saúde (MAIO & MONTEIRO, 2005) as informações sobre a população negra nas áreas urbanas e nas áreas rurais, como as de quilombos, são resultados de trabalhos recentes, e demonstram números preocupantes (OLIVEIRA, 2003). Não se pode mais negar que a lógica excludente e racista, historicamente disfarçada, não se limitou apenas em propiciar invisibilidade do conhecimento sobre o negro, em excluí-lo das ações políticas afastando-o do acesso e do convívio, mas também, em negar sua importância para si e para a sociedade.

    Sobre a importância de se obter resultados que subsidiem mudanças na expectativa de vida bem como em sua qualidade, em especial relativas às populações negras citamos Oliveira (2003):

    “(...) afrodescendentes residem nas áreas mais inóspitas das regiões urbanas em espaços rurais também carentes de políticas públicas essenciais para o exercício da cidadania, tais como saneamento básico, escolas e instituições de saúde, que quando existem são de baixa qualidade. Assim como estão alocados nos trabalhos que exigem pouca qualificação profissional, cuja renda mensal é irrisória, logo insuficiente para cobrir necessidades vitais como, por exemplo, alimentação adequada. Agregam-se às precárias condições materiais de vida práticas racistas, firmemente arraigadas na sociedade brasileira, que contribuem decisivamente para a manutenção e até piora da baixa estima e risco de adoecimento físico e mental”.

    Ao propiciar uma definição fundamental do estado saudável da criança, a comparação de suas variáveis com critérios referenciais é um instrumento fundamental para avaliação do seu crescimento, sendo inaceitável uma boa assistência sem o seu efetivo controle. Principalmente por se considerar que as variáveis ambientais como, por exemplo, a nutrição e a limitação de atividade física, influenciam sobremaneira seu desenvolvimento, potencializando sua influência de origem genética (DINIZ, LOPES & BORGATTO, 2008; MACHADO & BARBANTI, 2007; SILVA, SILVA JÚNIOR & OLIVEIRA, 2005) sendo o peso corporal considerado como mais sensível a essas influências do que a altura (MACHADO & KREBS, 2001).

    É nessa perspectiva que surge a proposta de compreender como se caracteriza o crescimento físico das escolares negras da comunidade tradicional do Quilombo do Curiaú, pois o acompanhamento das variáveis de crescimento, Estatura, Massa Corporal, e da relação entre elas, o Índice de Massa Corporal, é um procedimento importante para o controle de seu crescimento físico.

Material e métodos

    A presente pesquisa atendeu as normas para a realização de pesquisa em seres humanos, Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (BRASIL, 1996) tendo sido submetido ao Comitê de Ética da Faculdade SEAMA e aprovado pelo protocolo no 099/09, caracterizou-se como descritiva, do tipo estudo de caso (THOMAS, NELSON & SILVERMAN, 2007). As 60 participantes foram selecionadas de maneira não probabilística intencional por voluntariado, com idade média de 9,28 anos. Foi realizada a coleta de dados antropométricos de Estatura utilizando estadiômetro confeccionado com fita métrica, escala de precisão de 0,1 cm, nivelado com fio de prumo, e juntamente com esquadro metálico que serviu como cursor; e Massa Corporal (MC), utilizando balança analógica com precisão de 100g obedecendo aos protocolos descritos segundo Fernandes Filho (2003) e Norton & Olds (2005). O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido a partir do cálculo da razão entre o peso da criança (kg) e sua estatura elevada ao quadrado (m2), ou seja: IMC = Peso Corporal/ (estatura)2

    Para estabelecimento da maturação foi considerada a idade de aparecimento das características sexuais secundárias, especialmente a primeira menstruação, ou Menarca, utilizando-se o Questionário de Maturação Sexual (MENARCA) proposto por Oliveira Júnior (1996), sendo estabelecidas as meninas Maturadas e Não Maturadas a partir da apresentação ou não da menstruação.

    O tratamento estatístico utilizou média, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo, percentis, com o objetivo de caracterizar o universo amostral, sob os seus aspectos de distribuição de freqüência. Para a descrição dos dados coletados foram utilizadas medidas de localização, e de dispersão (THOMAS, NELSON & SILVERMAN, 2007).

    Para analisar os escores obtidos nas variáveis Estatura e Massa Corporal, foram utilizados os documentos apresentados em estudos realizados por Guedes & Guedes, 1999, e os de Silva et al.(2005), por utilizarem faixas etárias similares ao estudo aqui proposto, e/ou por utilizarem valores descritivos baseados em referenciais recentes para a população brasileira como a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PSNS), o que os torna adequados para efeito de comparação, outrossim, ressalva-se que as condições genéticas, ambientais, e culturais impactam nos resultados.

    Para a interpretação do IMC, foi utilizada a previsão de padrões saudáveis preconizada pela AAHPERD (1988) citada em Fernandes Filho (2003) (Tabela 1), bem como os percentis (P50), encontrados a partir da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, realizada em 1989 (SILVA, SILVA JÚNIOR & OLIVEIRA, 2005)

Tabela 1. Padrões de aptidão saudáveis para Índice de Massa Corporal (IMC)

em meninas entre as idades de 5 e 13 anos (AAHPERD, 1988)

Fonte: Adaptado de Fernandes Filho (2003)

Resultados e discussão

    Em relação à ontogênese as TABELAS 2 a 8 apresentam estatísticas descritivas das variáveis de crescimento para cada idade estudada, e as FIGURAS 1 a 3 as respectivas curvas de distância.

    Nas tabelas 2 e 3 pode-se observar quanto à Estatura que o valor da média fica pouco abaixo da encontrada em meninas da região Sul, Paraná/PR, que para 7 anos =121,7±5,02 cm; 8 anos = 126,42±6,20 cm (GUEDES & GUEDES, 1993); e abaixo da mediana (P50) encontradas em meninas do Nordeste, Pernambuco/PE; 7 anos = 119,84cm, 8 anos = 125,02cm, e Sergipe/SE; 7 anos = 120,17cm, 8 anos = 126,08cm (SILVA, SILVA JÚNIOR & OLIVEIRA, 2005), mas dentro da faixa preconizada pelo Programa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN, 1989) que refere para o percentil P50 de 7 anos = 117,4cm, e acima do percentil P50 de 8 anos = 122,3cm.

Tabela 2. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

Tabela 3. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

Tabela 4. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

    Na idade de 9 anos, Tabela 4, registram-se algumas modificações no comportamento das variáveis. O valor médio da altura ultrapassa o das meninas do PR (131,88±5,12 cm), o mesmo ocorrendo em relação ao valor do percentil P50 de PE (127,43cm), e praticamente iguala-se ao percentil P50 das meninas de SE (9 anos=132,8cm). Quanto aos escores do percentil P50 preconizados pelo PNSN (9 anos=127,9cm), os encontrados no presente estudo situam-se acima desses valores.

    Na Variável Massa Corporal, nas três idades, o comportamento é praticamente linear, com escores de média ascendentes e pouco abaixo das meninas do PR em 7, 8, 9 anos (23,96±4,58 kg; 25,87±5,59 kg; e 28,20±4,98 kg respectivamente), mas com valores percentílicos (P50) que gradativamente superam os escores encontrados em PE, e igualam-se aos obtidos em SE.

    Em relação ao Índice de Massa Corporal (IMC) os valores encontrados situam-se na previsão de padrões saudáveis de aptidão para meninas segundo a AAHPERD (1998), citado em Fernandes Filho (2003) que preconiza para 5-9 anos, os valores do IMC de 14-20 kg/m2. Aproximam-se também aos valores percentílicos (P50) encontrados nas meninas do Nordeste, para 7, 8 e 9 anos para PE: 15,63 kg/m2, 14,92 kg/m2, 15,2 kg/m2, respectivamente; e para SE: 15,22 kg/m2, 15,24 kg/m2, 15,2 kg/m2; e do PNSN: 15,3 kg/m2, 15,6 kg/m2, e 15,8 kg/m2, respectivamente.

Tabela 5. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

    Na Tabela 5, observa-se que a média de crescimento das crianças do presente estudo estabilizou em aproximadamente 2 cm, diminuindo a ascensão que se demonstrou no período de 7 para 8 anos, aproximadamente 6 cm. Comportamento similar à curva de crescimento das crianças de PE, aproximadamente 4 cm de 7 para 8 anos, 2 cm de 8 para 9, e voltando a ascender de forma considerável no período de 9 para 10 anos, com incremento de aproximadamente 8 cm.

    Nas meninas do PR, que apresentaram crescimento de aproximadamente 5 cm por ano na faixa de 7-9 anos, e apresentaram aproximadamente 3 cm dos 9 para 10 anos, o comportamento assimilou-se ao das meninas de SE, 6 cm por ano dos 7 aos 9 de idade, diminuindo para aproximadamente 4 cm dos 9 para 10.

    Embora as meninas do PR tenham sempre mantido uma estatura mais elevada em comparação às do presente estudo e às do Nordeste, o incremento na sua média de crescimento foi menor, aproximadamente 14 cm, contra 16 cm das outras populações comparadas, no período de 7-10 anos.

    A Massa Corporal manteve um crescimento linear de aproximadamente 3 kg, relativamente maior do que o ocorrido nas meninas do PR, com crescimento de apenas 1 kg, aproximadamente. Com relação aos escores das meninas de PE, o incremento provocou um resultado mais favorável para este estudo no percentil P50, com valor superior ao de 26,6Kg encontrado naquele. Com relação às Sergipanas, o percentil P50=29,2Kg demonstra-se mais favorável. O IMC manteve-se dentro dos padrões desejáveis, embora demonstrando o menor valor em relação ao percentil P50 do PNSN para a idade de 10anos=16,3Kg.

Tabela 6. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

    Na Tabela 6, pode ser observado que no período de 10-11 anos de idade, ocorre o momento de maior intensidade no crescimento físico, com um acréscimo de aproximadamente 15 cm na curva da Estatura, caracterizando o pico de velocidade de crescimento; e incremento de aproximadamente 10 kg na Massa Corporal, conseqüentemente, provocando aumento significativo no valor da razão entre elas, o IMC, relação que encontra paralelo na literatura (VITALLE, 2003), comportamentos que podem ser explicados pelo período pré-Menarca. O IMC se mantém dentro dos padrões saudáveis que são de 15-21 kg/m2 para as idades de 10-11 anos, igualando-se ao valor do percentil P50 do PNSN.

    A Idade Média da Menarca (IMM), obtida através do método retrospectivo, do grupo situou-se em 11,44 anos - idade mínima de 10,50 anos e máxima de 12,33 anos – com nenhuma menina apresentando menarca antes dos 11 anos. Considerando a IMM os resultados do grupo vão ao encontro de estudos que relataram mudanças intensas no período de pré-menarca no crescimento em Estatura e MC (DUARTE, 1993) e em MC (BIASSIO, MATSUDO & MATSUDO, 2004). Neste estudo, essas mudanças, através dos dados obtidos, se demonstraram factuais.

    Embora a freqüência de ocorrência mais elevada da menarca esteja de acordo com o encontrado em comunidade rural (BORGES & SCHWARZTBACH, 2003; TAVARES et al., 2000) a IMM do grupo revelou-se inferior aos relatados em estudos realizados em outras regiões do país (Média=13,20 anos), seja na zona rural ou na urbana; e no exterior relatados em Duarte (1993), embora a autora ressalte a dificuldade de comparação desses valores devido a uma série de fatores sócio-ambientais, de metodologia empregada, ou época da realização do estudo.

    Em relação aos escores encontrados nas meninas de mesma idade do PR (11 anos=142,94±6,86 cm), a média de Estatura foi, pela primeira vez, maior nas meninas do presente estudo, o mesmo comportamento refletindo-se, como esperado, na Massa Corporal (PR: 35,40±8,09 kg). Com respeito à comparação com os valores percentílicos (P50) das meninas do Nordeste, as de PE: 11 anos=136,33cm, apresentaram o menor incremento com menos de 1 cm na Estatura, e SE: 11 anos=141,03 cm, ambos revelando escores menores aos do grupo de meninas do Curiaú. Em relação ao valor preconizado pelo PSNS: 11 anos=139 cm, os da amostra do presente estudo, para a mesma faixa etária, são pela primeira vez, mais favoráveis.

    Na Massa Corporal, o comportamento ocorreu de maneira similar, com os escores obtidos neste estudo sendo mais favoráveis, excetuando o percentil P50 das meninas de SE para 11 anos=16,89Kg, no qual os valores se apresentam de modo nivelado.

Tabela 7. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

    Na Tabela 7, os escores demonstram que os valores médios obtidos na idade de 12 anos, embora ascendentes, tiveram incremento menos intenso, de aproximadamente 4 cm na Estatura. Quanto a Massa Corporal, um incremento de aproximadamente 9 kg, e entre sua razão e a Estatura, o IMC, este estudo vai ao encontro da hipótese confirmada em outros estudos de aumento significativo nas duas variáveis que se sucedem ao advento da Menarca, ou pós-Menarca, muito embora ocorram com maior ênfase no período pré-Menarca.

    Comparando com os dados obtidos nas meninas do PR, média para 12 anos=149,44±6,37cm, as meninas deste estudo continuam com escores mais favoráveis, embora o valor de crescimento tenha sido superior naquelas. Com respeito às meninas do Nordeste, as naturais de PE apresentaram P50 para 12 anos=143,15 cm, as de SE, 12 anos=148,66 cm, tendo um crescimento relativo maior que as deste estudo, aproximadamente 7 cm de 11 para 12 anos, entretanto, em valores absolutos continuaram com os escores inferiores.

    Na Massa Corporal, as variáveis apresentam também variações favoráveis deste estudo em comparação aos apresentados no PR, e nos estados do Nordeste, embora com aumento relativamente superior ao apresentado na Estatura. O escore do IMC continua na faixa favorável à aptidão para a Saúde (AAHPERD, 1988, apud FERNANDES FILHO, 2003) e superando o percentil P50 do PNSN.

Tabela 8. Valores descritivos e de dispersão dos escores das variáveis: Estatura, Massa Corporal (MC), Índice de Massa Corporal (IMC) de meninas quilombolas.

Fonte: Própria Pesquisa

    A Tabela 8 demonstra um incremento ainda menor nas variáveis, indicando a possibilidade de já se aproximam de um platô, que no estudo com as meninas do PR, ocorreu próximo aos 14 anos. O fato interessante é que o aumento da Massa Corporal, continuou em um ritmo ascendente, que embora menor, denota a necessidade de proceder uma avaliação que permita estratificar melhor a relação dos seus componentes, pois aumento na adiposidade no período pós-Menarca tende a ser significativo (BIASSIO, MATSUDO & MATSUDO, 2004) mas requer cuidados para que não extrapolem o recomendado, muito embora o IMC ainda se apresente dentro de padrões desejáveis.

Figura 1. Curvas de Estatura de Escolares Quilombolas do Sexo Feminino da Comunidade 

Tradicional do Curiaú/AP, idade cronológica de 7 a 13 anos, nos valores de percentil.

    A Figura 1 apresenta o gráfico das curvas de Percentil P25 e P75 relativos aos escores de crescimento em Estatura obtidos neste estudo. Analisando as curvas, observa-se o crescimento linear no período de 7-9 anos de idade, com uma estabilização do percentil P75 no período 9-10 anos, para um percentil P25 ainda com incremento no mesmo período.

    A partir da idade de 10 anos, ambas as curvas iniciaram um acentuado curso de deslocamento para os valores mais elevados de crescimento, com o percentil P75 prosseguindo seu desenvolvimento acentuado até 12 anos, e estabilizando no período de 12-13 anos, o que aconteceu mais precocemente com percentil P25 que começa a estabilizar no período 11-12, encontrando um platô já no período de 12-13 anos.

    Isso indica um arrefecimento no acréscimo de Estatura, antecedendo o momento de pico de velocidade do crescimento, que por sua vez precede o advento da Menarca, diminuindo no período sucessório, o que encontra paralelo na literatura.

Figura 2. Curvas de Massa Corporal de Escolares Quilombolas do Sexo Feminino da Comunidade 

Tradicional do Curiaú/AP, idade cronológica de 7 a 13 anos, nos valores de percentil

    A Figura 2 apresenta o gráfico das curvas de Percentil P25 e P75 relativos aos escores de crescimento em Massa Corporal obtidos neste estudo. Analisando as curvas, observa-se o crescimento ascendente contínuo, não linear, no período de 7-10 anos de idade. A partir da idade de 10 anos, ambas as curvas, a semelhança do encontrado nas de Estatura, iniciaram um acentuado curso de deslocamento para os valores mais elevados de incremento da Massa Corporal.

    O percentil P75, similar ao mesmo valor percentílico obtido na Estatura, prosseguiu com incremento intenso até12 anos, onde encontra um platô, e assim se mantém até os 13 anos. O percentil P25 manteve seu crescimento até os 13 anos, embora relativamente cada vez menor a partir dos 11 anos, o que sugere a aproximação, também, de uma espécie de platô, que para a Massa Corporal é desejável.

    Um aporte volumoso principalmente sob a forma de gorduras, torna-se indesejável nesse período de desenvolvimento, pois aumentam a probabilidade de ocorrência, com o passar do tempo, de doenças crônicas degenerativas não transmissíveis na idade adulta, ou seja, um comportamento preventivo torna-se efetivamente eficaz na redução da mortalidade e morbidade na vida adulta (GUEDES & GUEDES, 2003; McARDLE, KATCH & KATCH, 1998).

Figura 3. Curvas do Índice de Massa Corporal de Escolares Quilombolas do Sexo Feminino da 

Comunidade Tradicional do Curiaú/AP, idade cronológica de 7 a 13 anos, nos valores de percentil.

    A análise da Figura 3 demonstra que o comportamento progressivo do IMC somente a partir dos 9 anos, com o percentil P75, em acordo com o comportamento da Estatura, teve modesto incremento no período pré-Menarca, 10-11 anos, com acentuada deflexão em direção a valores elevados no período de 11-12 anos, com descenso posterior, sempre dentro dos padrões saudáveis para a aptidão da Saúde. O percentil P25 apresentou descenso modesto dos 7-9 anos, ficando abaixo dos valores preconizados como desejáveis para a idade de 9 anos. Em seguida apresentou crescimento constante até os 13 anos, com maior incremento no período 10-11 anos, e menor no período 11-12 anos.

Conclusão

    O valor da média da Estatura no período de 7-9 anos ficou pouco abaixo da encontrada em meninas da região Sul e do Nordeste, mas dentro da faixa preconizada pelo PNSN. Nos outros períodos seu incremento deu-se de forma linear alcançando um pico de velocidade de crescimento que estabeleceu uma média superior ao dos outros estudos.

    A Massa Corporal exibiu comportamento similar à Estatura, embora tenha continuado a apresentar incremento positivo enquanto àquela encontrou uma espécie de platô. O IMC, por ser a razão entre Estatura e Massa Corporal, apresentou crescimento linear, mantendo-se nos padrões desejáveis para a aptidão da saúde.

    Este estudo, embora seja transversal, indica um impacto da maturação no crescimento físico, com decréscimo concomitante ao acréscimo na idade pode ser explicado por implicações advindas das modificações estruturais ocorridas com o surgimento da puberdade nas meninas, podendo estar associado a fatores sócio-culturais (GUEDES & GUEDES, 1993; KREBS & MACEDO, 2005).

    Propõe-se a adoção pelas escolas de procedimentos semelhantes aos adotados neste estudo como forma acompanhar de modo longitudinal os indicadores de crescimento físico que podem influir nos níveis de aptidão física relacionada à saúde, bem como de aspectos relativos ao desempenho esportivo. Sugere-se também ampliar em futuros estudos as faixas etárias, incluindo indicadores ambientais, que poderão aumentar a compreensão nos aspectos relacionados ao crescimento de crianças de etnia negra que habitam comunidades tradicionais.

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