Avaliação da perfomance relacionada aos componentes equilíbrio, força e flexibilidade de meninas praticantes de ginástica rítmica Evaluación del rendimiento relacionado con los componentes equilibrio, fuerza y flexibilidad de niñas practicantes de gimnasia rítmica Perfomance evaluation of components related to balance, strength and flexibility of girls practitioners of rhythmic gymnastics |
|||
*Docentes do Departamento Acadêmico de Educação Física **Discentes do Curso de Bacharelado em Educação Física UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Brasil) |
Adriana Maria Wan Stadnik* Leandra Ulbricht* | Andrea Perin** Wagner Luis Ripka** |
|
|
Resumo Equilíbrio, força e flexibilidade estão entre as capacidades físicas essenciais para a prática da Ginástica Rítmica, modalidade ginástica, que requer alto nível de treinamento e disciplina. Assim, foi realizado este estudo com o objetivo de verificar o nível de flexibilidade, força e equilíbrio de ginastas de um Centro de Excelência Caixa no Paraná, após um ano de treinamento. Por meio de uma pesquisa descritiva longitudinal foram avaliadas 23 meninas, com média de idade de 8,9 anos, participantes deste Centro. O instrumento de pesquisa foi composto por dados gerais, avaliação antropométrica e testes específicos para avaliação da flexibilidade, força e equilíbrio pertencentes à bateria de testes de Vankov (1983). Entre os principais resultados, verificou-se que as ginastas obtiveram uma melhora nos valores médios referentes à avaliação do ano anterior. Com relação ao componente força, houve uma excelente melhora no teste de Salto Horizontal Livre (24%) e um aumento mais modesto no teste de Salto Vertical (4,17%). Com relação à flexibilidade, o valor da melhora foi de 4,98%. Por fim, a avaliação referente ao Equilíbrio Perna Direita e Equilíbrio Perna Esquerda atingiram aumentos médios de 13,9% e 20,27% respectivamente. Ao se comparar as turmas de ensino regulares (aulas duas vezes semanais de 60 minutos) com as de treinamento (aulas três vezes semanais de 120 minutos), apesar dos valores médios maiores, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas para todas as variáveis. Existiu uma exceção no “salto vertical”, a única variável que no grupo de treinamento apresentou valores médios menores que as demais (1,80 ± 0,08 para 1,88 ± 0,20). Buscando-se as razões para o encontro destes resultados observou-se que inúmeras podem ser as explicações e concluiu-se que pesquisas deste tipo auxiliam sobremaneira na tomada de decisões acerca dos rumos do Centro de Excelência investigado. Unitermos: Ginástica Rítmica. Flexibilidade. Equilíbrio. Força. Avaliação física.
Abstract Balance, strength and flexibility are among the essential physical abilities to the practice of Rhythmic Gymnastics, gymnastics sport that requires high level of training and discipline. Thus, the study was conducted with the objective of verifying the level of flexibility, strength and balance of gymnasts of a Center of Excellence Caixa in Paraná, after a year of training. Using a longitudinal descriptive study were evaluated 23 girls with mean age of 8.9 years, participants in this Center. The survey instrument was composed of general data, anthropometric measurements and specific tests to assess the flexibility, strength and balance belonging to the battery of Vankov (1983) tests. Among the main results, it was found that the gymnasts have obtained an improvement in the average values in comparison with the assessment year before. Related to component strength, there was a great improvement in test Free Standing Long Jump (24%) and a more modest increase in the Vertical Jump test (4.17%). With respect to flexibility, the value of the improvement was 4.98%. Finally, the valuation of the Balance Right Leg and Left Leg achieved average increases of 13.9% and 20.27% respectively. Comparing the mainstream classes (60 minutes classes two times a week) with training (120 minutes classes three times a week), despite the higher mean values, and it was not statistically significant differences for all variables. There was one exception in the "vertical jump, the only variable in the training group showed lower mean values than the others (1.80 ± 0.08 to 1.88 ± 0.20). Looking to the reasons for these results showed, it was concluded that are many possible explanation and that surveys of this kind greatly assist in making decisions concerning the direction of the Center of Excellence investigated. Keywords: Rhythmic Gymnastics. Flexibility. Balance. Strength. Physical evaluation.
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010 |
1 / 1
Introdução
A Ginástica Rítmica (GR) é uma modalidade ginástica em que são reveladas inúmeras possibilidades estéticas, por meio de exercícios complexos que compreendem a manipulação de aparelhos, unidos a uma performance coordenada por um ritmo musical (TIBEAU, 1988).
Manifestada a mãos livres ou com a utilização de aparelhos, que são as maças, a bola, a fita, a corda e o arco, a GR possibilita harmoniosas combinações, formas de trajetória e ritmo que suscita dificuldades e exigências técnicas ilimitáveis e requer muita prática e disciplina da ginasta (PORPINO, 2004).
Outra característica deste esporte é ser exclusivamente praticado por mulheres, em que corpo e movimento, assim como os aparelhos, estão envolvidos em uma sincronia perfeita, expressando características femininas de elevada plástica e beleza (FAVARO, 2007). Contudo, para que todos esses fatores ocorram, as capacidades físicas devem estar altamente aprimoradas. Flexibilidade, equilíbrio, força, coordenação e repetição de gestos técnicos são algumas especificidades motoras primordiais (VOLPI DA SILVA et al, 2008; LEBRE, 1993).
De acordo com Tubino (1979), a flexibilidade é uma qualidade que permite a amplitude de movimentos dos vários segmentos corporais em um sentido determinado. Além disso, desenvolve a mobilidade articular e a elasticidade muscular, que são necessárias para melhorar cada vez mais a amplitude das articulações. Bott (1986) comenta que ombros, quadris e coluna necessitam de suas articulações altamente flexíveis para a prática desta modalidade, exigindo um padrão de flexibilidade acima do normal nas atletas da GR.
O equilíbrio atua como uma notável habilidade psicomotora em diversos movimentos. Ele é essencial para que um indivíduo responda posturalmente às forças gravitacionais que agem em seu corpo ao se locomover e ao realizar movimentos mais complexos. Por isso, a GR acaba agregando ao equilíbrio um valor ainda maior, pois suas ginastas além de o utilizarem nas movimentações corporais se apropriam dele, também, para manipular os objetos característicos deste esporte (LINHARES, 2003).
Já a força que pode ser usada principalmente na contração e sustentação do abdômen para a execução de diversos movimentos e, também, para saltos realizados tanto na vertical como na horizontal difere-se quanto ao seu tipo, uma vez que o abdômen utiliza força de resistência e os membros inferiores necessitam da força de explosão e potência. Segundo Weineck (2005), a força nunca aparece, nos diversos esportes, sob uma forma pura, mas constantemente como uma combinação, como uma mistura de fatores físicos que condicionam a uma performance.
Para estimular a iniciação à prática de duas modalidades olímpicas de Ginástica, a Ginástica Rítmica (GR) e a Ginástica Artística (GA), foi criando em todo o Brasil o Projeto Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica. No estado do Paraná, o centro escolhido para a realização do estudo, foi fundado no mês de maio de 2008 (STADNIK, 2008a) e estando no início de suas atividades, torna-se relevante o acompanhamento do treinamento e seus resultados na performance das atletas.
Assim, com base no presente exposto, o objetivo deste estudo foi verificar as alterações na capacidade física, após um ano de atividade, com relação aos valores de flexibilidade, equilíbrio, força de membros inferiores e variações nas medidas antropométricas, de um Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica Rítmica no Paraná.
Metodologia
A pesquisa apresenta-se de caráter descritivo longitudinal, a qual segundo Moreira e Caleffe (2006), tem como princípio a solução de problemas e/ou o melhoramento de práticas por meio da observação objetiva e minuciosa, da descrição e análise, destacando dentre os seus objetivos, a observação das características de um grupo, estudadas sobre um período determinado de anos.
Foram avaliadas as alunas de um Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica no Paraná. Como critérios de inclusão para a participação no estudo, as alunas não deveriam possuir experiência anterior com GR, ter idade entre seis e nove anos, participarem das atividades do Centro de Excelência há menos de seis meses (data da primeira avaliação), realizarem as atividades no período vespertino (na primeira avaliação) e estarem devidamente autorizadas pelos pais ou responsáveis para participar do estudo (assinatura do Termo de Consentimento livre e esclarecido).
A primeira avaliação ocorreu em outubro de 2008, seis meses após o início das aulas no centro e a reavaliação deu-se em dezembro de 2009 em dois grupos, um com as praticantes da atividade em turmas regulares (13) e o outro com as praticantes das turmas de treinamento (10).
Assim, de um universo de 110 meninas, a amostra contou com 23 ginastas (20,9% do universo), e o período entre a coleta de dados da primeira e da segunda avaliação foi de um ano e dois meses.
As aulas regulares durante este ano foram ministradas com uma duração de 60 minutos e periodicidade de duas vezes por semana, nas segundas e quartas ou nas terças e quintas-feiras, sendo todas as avaliações realizadas uma hora antes do início das aulas. Quanto às aulas de treinamento, foram ministradas com uma duração de 120 minutos e periodicidade de três vezes por semana, nas segundas, quartas e sextas ou nas terças, quintas e sábados, mantendo o mesmo procedimento quanto à avaliação.
Primeiramente à execução dos testes, foi aplicado um formulário individual, composto por dados gerais como data de nascimento, tempo de treinamento ou prática anterior de GR e informações pessoais. Posteriormente, foi realizada a avaliação antropométrica e aplicados os testes específicos de flexibilidade, força e equilíbrio, selecionados da bateria de testes de Vankov (1983), que possui um total de 19 testes específicos para a GR para cada capacidade física.
As mensurações da massa corporais e da estatura foram medidas respectivamente, com o uso de uma balança digital portátil em quilogramas e com o uso do estadiômetro portátil com unidade de medida em centímetros.
O teste de flexibilidade aplicado foi o teste de banco de sentar e alcançar realizado com auxilio do Banco de Wells, onde a avaliada deveria sentar próximo ao banco encostando os pés na sua base frontal e estendendo as pernas. Com a ponta dos dedos de ambas as mãos a avaliada deveria empurrar o compartimento móvel do banco o máximo que conseguisse (PITANGA, 2005). Realizaram-se três medições, sendo adotado o melhor valor entre essas medições.
O teste de equilíbrio foi executado sobre o apoio de uma perna em meia ponta e outra perna elevada na posição “passè” (elevada à frente a 90° e flexionada, tocando o joelho da perna de apoio com a ponta do pé). Esse teste deveria ser executado 10 vezes, sendo que cinco vezes sobre o apoio da perna direita e cinco sobre o apoio da perna esquerda. Com a utilização de um cronômetro digital identificou-se o tempo das 10 execuções, o tempo da melhor execução da perna direita e da perna esquerda foi o valor utilizado (VANKOV, 1983).
Os testes que avaliaram os saltos consistiam em salto na vertical e salto horizontal livre. Antes de se realizar o salto vertical verificava-se a altura máxima, assim a criança deveria encostar o dedo médio na tinta guache e ficar com o braço estendido ao lado da parede forrada com jornal em uma postura ereta sem tirar os pés do chão, em seguida, ela deveria encostar o dedo no jornal, após isso, tirava-se a medida com uma trena do chão até marca feita pela criança. O teste do salto vertical possuía o mesmo procedimento, porém a criança deveria saltar com os pés juntos verticalmente e encostar o dedo na parede para se fazer a medida (VANKOV, 1983).
Já no teste do salto horizontal, havia uma marca no chão e a criança deveria ficar atrás dela, ao sinal do avaliador, a criança deveria saltar para frente permanecendo com os pés juntos e deixando os braços livres para pegar impulsão, media-se com uma trena do calcanhar da criança até a linha demarcatória (VANKOV, 1983).
Para o tratamento estatístico foi verificado o grau de normalidade por meio do teste Kolmogorov-Smirnov, o qual permitiu uma estatística paramétrica em todos os dados. Para comparação intragrupo, foi utilizado o teste t de Student para amostras dependentes e, para efeito de comparação entre o grupo de meninas que realizam o treinamento de ginástica com o grupo que participam apenas das aulas regulares foi realizado o teste t de Student para amostras independentes (MAROCO, 2007).
Resultados
A idade média das meninas que participam do projeto Centro de Excelência em Ginástica Rítmica no ano de 2009 foi de 8,9 ± 1,5 anos. A Tabela 1 apresenta os valores da média e do desvio padrão quando se compara as duas avaliações realizadas com as ginastas, sendo uma no período de dezembro de 2008 e a outra em dezembro de 2009, além dos resultados encontrados para análise das diferenças estatísticas, p<0,05, para as variáveis de massa, estatura, altura sentada, altura máxima e salto vertical.
Notou-se que ocorreu um aumento de 13,88%, 5,35%, 5,78% e 5,95% para os valores médios de massa, estatura, altura sentado e altura máxima respectivamente. Quando avaliadas as médias para os testes de força de membros inferiores, equilíbrio e flexibilidade observou-se que em todos os casos também foram encontrados valores médios melhores aos referentes à avaliação do ano anterior, sendo 4,17% para o teste de Salto Vertical e 24% para Salto Horizontal Livre. Com relação, ao valor da melhora para a flexibilidade (avaliada com o auxílio do banco de Wells), chegou-se ao valor de 4,98%. Por fim, a avaliação referente ao Equilíbrio Perna Direita e Equilíbrio Perna Esquerda atingiram melhoras de 13,9% e 20,27% respectivamente.
Tabela 1. Comparação do antes e depois das variáveis nas ginastas (2008/2009)
Variável (2008/2009) |
N |
Média (2008/2009) |
DP** (2008/2009) |
t |
p |
Massa |
23 |
26,88 / 30,61 |
6,42 / 7,58 |
-10,31 |
0,00* |
Estatura |
23 |
1,28 / 1,34 |
0,11 / 0,12 |
-15,41 |
0,00* |
Altura Sentado |
23 |
0,66 / 0,70 |
0,05 |
-10,49 |
0,00* |
Altura Máxima |
23 |
1,63 / 1,73 |
0,14 |
-8,50 |
0,01* |
Salto Vertical Salto Horizontal Livre |
23 23 |
1,77 / 1,85 0,92 / 1,15 |
0,18 / 0,16 0,33 / 0,19 |
-2,94 -4,26 |
0,00* 0,00* |
Banco de Wells |
23 |
31,43 / 32,99 |
4,02 / 5,88 |
-2,02 |
0,06 |
Equilíbrio Perna Direita |
23 |
3,67 / 4,18 |
2,33 / 2,50 |
-0,86 |
0,40 |
Equilíbrio Perna Esquerda |
23 |
3,31 / 3,98 |
1,97 / 2,27 |
-1,22 |
0,24 |
*p<0,05
** Desvio Padrão
Quando se compara o grupo de meninas que participam da equipe de treinamento (n=10) com as que realizam apenas as atividades regulares das aulas (n=13) não foram encontradas diferenças estatísticas significativas para todas as variáveis, com excessão do “salto vertical” e “equilíbrio com a perna direita”. (Tabela 2)
Tabela 2. Comparação entre o grupo de treinamento e o grupo de não treinamento
Variável |
Treinamento |
Não Treinamento |
t |
p |
Média DP |
Média DP |
|||
Idade Massa |
9,5 ± 0,90 31,48 ± 6,96 |
8,4 ± 1,7 29,93 ± 8,24 |
1,93 0,47 |
0,07 0,64 |
Estatura |
1,37 ± 0,09 |
1,32 ± 0,14 |
1,08 |
0,29 |
Altura Sentado |
0,71 ± 0,05 |
0,69 ± 0,06 |
0,79 |
0,44 |
Altura Máxima |
1,77 ± 0,07 |
1,69 ± 0,17 |
1,53 |
0,14 |
Salto Vertical Salto Horizontal Livre |
1,80 ± 0,08 1,27 ± 0,18 |
1,88 ± 0,20 1,05 ± 0,15 |
-1,09 3,13 |
0,29 0,00* |
Banco de Wells |
33,78 ± 2,75 |
32,38 ± 7,19 |
0,56 |
0,58 |
Equilíbrio Perna Direita |
6,02 ± 2,75 |
2,77 ± 0,94 |
3,99 |
0,00 * |
Equilíbrio Perna Esquerda |
4,94 ± 2,64 |
3,23 ± 1,69 |
1,90 |
0,07 |
*p<0,05
Com os dados contidos na tabela dois percebe-se primeiramente que a idade média para as meninas que estão inclusas nas turmas de treinamento é maior que as demais (9,5±0,90 contra 8,4±1,7), esses valores médios maiores do grupo de treinamento aparecem para todas as variáveis antropométricas: Massa, Estatura, Altura Sentado e Altura Máxima; seguindo para os testes de Salto Horizontal Livre, Banco de Wells e Equilíbrios, perna Direira e Esquerda, os quais também apresentaram melhores resultados; sendo a variável Salto Vertical a única que o grupo de treinamento apresentou valores médios menores que as demais (1,80±0,08 para 1,88±0,20).
Discussão
Questionando-se acerca das possíveis causas desses resultados encontrados, levando-se em conta que o grupo de treinamento recebeu durante um ano, o triplo do tempo semanal de exposição às aulas de Ginástica Rítmica, chegou-se a uma tentativa de compreensão da realidade encontrada, trazendo consigo uma série de constatações e, ao mesmo tempo, novos questionamentos, realizados especialmente por meio da observação constante das atividades realizadas no Centro de Excelência pesquisado.
Antes de mais, os objetivos do projeto Centro de Excelência, que, segundo Stadnik e Vieira (2009), são: oportunizar a prática da Ginástica Esportiva para um grande número de crianças; detectar jovens promessas na área; difundir ensinamentos que visam a criação de uma verdadeira “Escola de Ginástica Brasileira”, pautada na metodologia utilizada para o alcance dos bons resultados internacionais obtidos pela Ginástica Brasileira nos últimos anos; e iniciar a formação profissional técnica de estudantes da área da Educação Física, buscando talentos também na área de treinamento, ou seja, oportunizar a descoberta de novos técnicos.
Com base nesses objetivos, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) criou os Centros de Excelência de Ginástica espalhados pelo Brasil. Entretanto, a própria CBG (2009) admite que o projeto Centro de Excelência contempla objetivos sociais, para além da Formação Profissional e da Descoberta de Talentos, sendo permitida, por exemplo a permanência de crianças com dez anos ou mais de idade no projeto. Adicionalmente, Stadnik (2008b) refere que não há uma seleção inicial para as crianças que participam do projeto, apenas a idade (de cinco a nove anos) e, no caso específico da GR, o gênero (sexo feminino), são os limitadores para a entrada das crianças, mas como pode-se observar neste mesmo parágrafo, o critério da idade é utilizado apenas para a entrada e não para a permanência.
As aulas regulares do projeto seguem um Manual de Atividades que devem ser ministradas às crianças que estão em fase de iniciação, já as aulas das turmas de treinamento são mais livres, baseiam-se tanto nos manuais fornecidos pela CBG quanto na preparação de séries coreográficas a serem apresentadas individualmente pelas meninas ao final de cada semestre – talvez aqui uma das falhas, as meninas passam muito tempo treinando séries específicas ao invés de se dedicarem exclusivamente às aulas, que visam a prática regular e ascendente de exercícios. Outro aspecto observado pelos pesquisadores durante a aplicação dos testes é que muitas das crianças do grupo de aulas regulares sentiram-se aparentemente mais interessadas pela presença dos pesquisadores e pela feitura dos testes, já parte das alunas do treinamento, aparentemente, sentiu-se contrariada, posto que considerassem que “perdiam” um dia de treinamento das séries para apresentação. Acredita-se na possibilidade de os testes terem sido realizados com diferentes intensidades de motivação por parte das crianças. Procurando sanar esta problemática o grupo de pesquisadores decidiu preparar melhores datas para a execução das avaliações futuras.
Outro aspecto a ser elucidado é o aumento de massa entre as meninas do treinamento, que teve grande diferença entre os dados analisados (13,88%), especialmente se comparado à diferença de altura. Seria um aumento de massa muscular ou massa gorda? Constatou-se no Centro de Excelência a não existência de um controle nutricional, nem mesmo sobre as crianças do grupo de treinamento. Dessa forma, concluiu-se a necessidade de uma pesquisa mais aprofundada também neste aspecto.
Interessante comentar que a Coordenação local do Centro de Excelência pesquisado optou por reformular as aulas de iniciação e treinamento, criando para o novo ano letivo as aulas do grupo intermediário, oportunizando a participação de um grupo maior de crianças num nível um pouco mais elevado e deixando para o treinamento apenas aquelas meninas que realmente apresentem características muito específicas para a prática desportiva futura.
Finalmente, reflete-se que um ano talvez tenha sido muito pouco tempo para notar melhoria estatisticamente significativa, mas que a presença de uma curva ascendente pode já demonstrar uma adequação do que está sendo proposto como Centro de Excelência, ou seja, Centro de Qualidade. Percebe-se que as pesquisas efetivadas contribuíram significativamente para as futuras ações e tomadas de decisões relativas a este Centro.
Conclusão
Atualmente, frente aos novos desafios de saúde pública que enfrenta o Brasil, com a crescente epidemia de inatividade física e obesidade, faz-se mister oferecer às crianças, alternativas de cunho esportivo para estimular a prática da atividade física e, dentro deste contexto, são extremamente relevantes projetos como os do Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica, que são considerados de cunho social, voltados à valorização e democratização do esporte. Projeto aberto a todos e desta maneira, observa-se que muitas das participantes do projeto ao entrar, não possuem um acervo de capacidades e habilidades físicas coerentes com a modalidade.
É importante ressaltar que o projeto, além de ter o objetivo de detectar futuros talentos, se responsabiliza também pela formação e divulgação dos ensinamentos da GR, por isso torna-se fundamental manter a preocupação com relação á efetividade e níveis de qualidade do treinamento oferecido.
Assim, o objetivo deste estudo foi verificar as alterações na capacidade física, após um ano de atividade, com relação aos valores de flexibilidade, equilíbrio, força de membros inferiores e variação nas medidas antropométricas, de um Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica no Paraná, constante preocupação numa área tão específica quanto a GR pela forte exigência técnica e plástica.
Como foi demonstrado, apesar das dificuldades com relação ao perfil das participantes, verificou-se uma melhora efetiva nos parâmetros avaliados após o primeiro ano de treinamento, principalmente relacionada ao componente força aferido pelo teste de Salto Horizontal Livre (24%). O equilíbrio também apresentou melhora significativa com aumentos médios de 13,9% e 20,27%, para perna direita e esquerda, respectivamente. Melhora modesta foi encontrada com relação a flexibilidade (4,98%), demonstrando a importância da revisão dos parâmetros de treinamento com relação a este componente.
Ao se comparar as turmas de ensino regulares com as turmas de treinamento, obteve-durante a avaliação dos componentes valores médios maiores, contudo não estatisticamente relevantes para a maior parte das variáveis (com exceção do salto vertical, que apresentou valores médios menores).
Espera-se que com a revisão da metodologia utilizada, a partir dos resultados obtidos nas avaliações, que no decorrer do próximo ano esta curva ascendente continue melhorando e seja possível detectar alguma melhoria significativa para todos os componentes avaliados.
Referências
CBG, Confederação Brasileira de Ginástica. Circular dos Presidentes. CP no. 001\09 – Assunto: Centro de Excelência CAIXA. Curitiba, 2009.
BOTT, J. Ginástica rítmica desportiva. São Paulo: Manole, 1986, 112p.
FAVARO, S.O.V.B. Desempenho Técnico das Atletas de Ginástica Rítmica de Guarapuava PR em período pré-competitivo e pós-competitivo. - Um estudo Piloto. 23f. Monografia em Educação Física – Faculdade de educação Física. Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. Guarapuava, 2007.
LEBRE, E. Estudo comparativo das exigências técnicas e morfofuncionais em Ginástica Rítmica Desportiva, Dissertação apresentada às provas de Doutoramento no ramo de Ciências do Desporto, FCDEF UP: Porto, 1993.
LINHARES, M.O. Procedimento correto para o desenvolvimento psicomotor do equilíbrio na Ginástica Rítmica Desportiva. Dissertação (Pós-Graduação em Educação Física) – Universidade Candido Mendes: Rio de Janeiro, 2003.
MAROCO, J. Análise Estatística – Com utilização do SPSS. 3 ed. Lisboa: Silabo, 2007.
MOREIRA, H.; CALEFFE, L.G. Metodologia da pesquisa: para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
PITANGA, F.J.G. Testes, medidas e avaliação em educação física e esportes. 4ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.
PORPINO, K.O. Treinamento da Ginástica Rítmica: Reflexões Estéticas. Rev. Bras. Cienc. Esporte. Campinas, v.26, n.1, p. 121-133, 2004.
STADNIK, A M W. Implantação do Centro de Excelência Caixa Jovem Promessa de Ginástica Rítmica na UTFPR. Caderno de Resumos, Comunicação e Cronograma 4º. Seminário Internacional Educação Física, Lazer e Saúde. Curitiba, 2008a.
STADNIK, A. M. W. Centro de Excelência de Ginástica Rítmica: um espaço de formação e intervenção para professores e alunos universitários de educação física. Anais do VIII Congresso Nacional de Educação - EDUCERE. III Congresso Ibero-Americano sobre violência nas escolas - CIAVE Formação de Professores, p. 2450 – 2460, 2008b.
STADNIK, A. M. W.; VIEIRA, M. G. Vocational Training in Rhythmic Gymnastics: Center of Excellence Caixa Youth Pledge of Gymnastics. The FIEP Bulletin, v.79, p.168 - 171, 2009.
TIBEAU, C. Ensino da Ginástica Rítmica Desportiva pelo método global: Viabilidade e Eficácia. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, São Paulo.1988.
TUBINO, M.G. As Qualidades Físicas na Educação Física e Desportos. São Paulo: Ibrasa, 1979. 50-54; 71p.
VANKOV, Ilia. Sistema za control, otzenca i optimizatzia na fizichescata podgotovia u hudojestvenata gimnastica ot 6-19 godistina vazrast. Izd: BSFS, 1983
VOLPI DA SILVA, L.R.; LOPEZ, L.C.; COSTA, M.C.G.; GOMES, Z.C.M.; MATUSHIGUE, K.A. Avaliação da flexibilidade e análise postural em atletas de ginástica rítmica desportiva flexibilidade e postura na ginástica rítmica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v.7, n.1, 2008.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2005.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires,
Junio de 2010 |