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Estilo de vida de uma pessoa antes e após a ocorrência de

um Acidente Vascular Encefálico (AVE): um estudo de caso

Estilo de vida de una persona antes y después de la ocurrencia de un Accidente Cerebrovascular (ACV): un estudio de caso

 

Mestrando em Actividade Física Adaptada

FADEUP, Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto

Vinícius Denardin Cardoso

vinicardoso@yahoo.com.br

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a doença vascular que mais acomete o sistema nervoso central, sendo a segunda principal causa de morte, com grande impacto na saúde pública, sendo a principal causa de incapacidades físicas e cognitivas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. O objetivo deste estudo foi de analisar mudanças no estilo de vida de uma pessoa antes e após a ocorrência de um AVE. Para avaliar o estilo de vida do indivíduo foi utilizado o questionário Pentáculo do Bem-estar. (NAHAS, BARROS E FRANCALACCI, 2001). Pode-se observar que os componentes que mais sofreram alterações após a ocorrência do AVE foram a Nutrição e o Relacionamento Social. Recomenda-se que as atividades físicas/esportivas estejam sempre presentes no cotidiano de uma pessoa que sofreu AVE, já que proporcionam grandes melhorias, não só com a reabilitação ou manutenção de suas capacidades físicas, mas também em seus aspectos psicossociais, melhora da auto-estima, ganhos em sua autoconfiança e sua autonomia, além de proporcionar a integração e favorecer as relações sociais.

          Unitermos: Acidente Vascular Encefálico (AVE). Bem-Estar. Atividades físicas.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma interrupção súbita do fluxo cerebral vascular, seja pelo tipo isquêmico (obstrução das artérias) ou hemorrágico (extravasamento de sangue) e suas conse­qüências acarretam danos físicos como plegias ou paresias de um ou ambos os membros, alterações sensoriais, espasticidade; psicoafetivos (quadros depressivos, ansiedade e agressividade) e cogniti­vos (problemas de memória, atenção e concentra­ção, alteração da linguagem e funções executivas, dificuldades no planejamento de ações, déficit perceptual). (BOBATH, 2001; ROWLAND E MERRI, 2002; CALASANS E ALOUCHE 2004; NEVES E PIRES 2005)

    Segundo Lessa (1999), o AVE é a doença vascular que mais acomete o sistema nervoso central, apresentando-se como a segunda principal causa de morte, com importante impacto na saúde pública, sendo a principal causa de incapacidades físicas e cognitivas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Também se associa à deterioração das capacidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais do indivíduo. (MARTINS et al., 2003).

    Vários fatores (fatores de risco) podem contribuir para a ocorrência do AVE, como hipertensão (pressão arterial alta) descontrolada, fumo, diabetes mellitus, dietas, abuso de drogas, obesidade e abuso de álcool, entre outros (WINNICK, 2004).

    O AVE é uma das principais causas de mortalidade e morbidade no Brasil. Entre os países da América Latina, o Brasil é o que apresenta as maiores taxas de mortalidade decorrentes de AVE, totalizando 128,0 e 98,7 por 100.000 habitantes para homens e mulheres, respectivamente. (LOTUFO, 2005)

    Pesquisas em diversos países, inclusive no Brasil, têm mostrado que o estilo de vida, mais do nunca, passou a ser um dos mais importantes determinantes da saúde de indivíduos, grupos e comunidades, apresentado papel fundamental na prevenção e tratamento de diversas doenças crônico-degenerativas (NAHAS, 2003). Segundo o autor, o estilo de vida se define como um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas. O estilo de vida ativo passou a ser considerado fundamental na promoção da saúde e redução da mortalidade por todas as causas.

    Considerando que o AVE representa um grande problema de saúde pública e o estilo de vida é um componente fundamental para a saúde de pessoas com doenças crônico-degenerativas, este estudo teve como objetivo analisar mudanças no estilo de vida de uma pessoa antes e após a ocorrência de um Acidente Vascular Encefálico (AVE).

Metodologia

    O estudo de foi estruturado na abordagem estudo de caso, que segundo Gil (1999), é um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento detalhado do mesmo. Envolveu um indivíduo do gênero masculino, brasileiro, 74 anos de idade, branco, casado. Apresenta histórico de acidente vascular encefálico ocorrido em 02/05/2009, teve ambos os lados do corpo lesados, afetando a fala, deglutição, visão e a marcha. O indivíduo pesquisado já era portador da doença de Parkinson.

    Para avaliar o estilo de vida do indivíduo foi utilizado o questionário Pentáculo do Bem-estar. (NAHAS, BARROS E FRANCALACCI, 2001) Este questionário apresenta cinco dimensões com respectivos indicadores que avaliam componentes de nutrição (N), atividade física (AF), comportamento preventivo (CP), relacionamentos (R) e controle de stress (CS). Cada item contém três afirmações, numeradas de 1 a 3, nas quais o indivíduo manifestará sobre cada afirmação considerando a escala de 0 a 3 pontos, em que 0 significa “não fazer parte” do cotidiano, 1 significa “às vezes faz parte”, 2 significa “quase sempre” e 3 significa “sempre faz parte” do cotidiano do indivíduo.

    Os dados foram coletados em Março de 2010, anteriormente foi informado e esclarecido ao indivíduo e sua família os objetivos e procedimentos do estudo. Ao aceitar participar do estudo, o sujeito foi instruído a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Primeiramente foi aplicado o questionário visando analisar o estilo de vida anteriormente à ocorrência do AVE e logo após em relação com o estilo de vida atual. Para obtenção das informações referentes aos questionários foi necessária a ajuda da esposa.

Resultados

    Os resultados obtidos através da análise do Pentáculo do Bem-estar subdividido em 5 componentes (nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamento social e controle de stress) estão apresentados na Tabela 01.

    Pode-se observar que as componentes que mais sofreram alterações entre antes e após a ocorrência do AVE são a Nutrição e o Relacionamento Social.

    Em relação à soma total dos escores de cada componente do pentáculo pode-se observar que o indivíduo teve resultados altos, onde o período anterior a ocorrência do AVE a pontuação total foi 40 pontos e o período posterior ao AVE a pontuação total foi 39 pontos.

Figura 01. Perfil do Estilo de Vida Individual de acordo com os resultados

Discussão

    De acordo com os resultados obtidos no estudo, pode-se verificar altos níveis nas componentes que contribuem para o bem-estar do indivíduo pesquisado. As componentes Atividade Física, Comportamento Preventivo e Controle do Estresse permaneceram iguais antes e depois da ocorrência do AVE.

    A componente Nutrição foi uma das componentes que mais tiveram diferenças entre antes e depois da AVE, essas alterações foram positivas, já que o indivíduo não cuidava de sua alimentação adequadamente anteriormente ao ocorrido, após o AVE, começou a ter um cuidado maior, aumentando a alimentação de frutas e verduras e diminuindo as gorduras e frituras.

    Segundo Burkitt, (1973), o aumento de uma série de doenças tais como a obesidade, doença coronariana, diabetes, doenças vasculares, câncer entre outras precedidas de mudanças de padrão alimentar da civilização moderna ocidental, são decorrentes de mudanças que incluem o aumento do consumo de gordura, açúcar, carne e a queda da ingestão de fibras.

    Segundo Anjo (2004), uma alimentação saudável não está ligada somente ao tipo de alimento ingerido, mas também ao estilo de vida, hereditariedade e meio ambiente. Uma dieta adequada pode reduzir o risco de doenças vasculares.

    Outra componente que teve uma grande diferença foi o Relacionamento Social, que após a ocorrência do AVE observou-se uma redução dessa componente.

    A redução dessa componente pode ser explicada pela oportunidade da prática esportiva, compreendemos que são raros os programas e atividades que oferecem e dispõem vagas para pessoas com doenças crônicas ou seqüelas de AVE, portanto, a oportunidade desta pratica esportiva se torna uma alavanca para a socialização e a integração destes participantes.

    Weinberg e Gould (1999) consideram que a sociabilidade é um dos mais importantes fatores motivacionais para a prática de atividades físicas. Dessa forma a maior tendência para se manter praticando alguma atividade esportiva é o estabelecimento de metas pessoais e pode estar relacionada com a busca de estar integrados dentro de um determinado grupo. Pessoas com doenças crônicas ou seqüelas de AVE geralmente estão afastadas do convívio com a sociedade, tem um reduzido números de amigos e interações sociais.

    Através das atividades físicas/esportivas é possível perceber grandes melhorias, não só com a reabilitação ou manutenção de suas capacidades físicas, mas também em seus aspectos psicossociais, melhora da auto-estima, os ganhos em sua autoconfiança e sua autonomia são visíveis, além de proporcionar a integração.

    Bös apud Costa e Duarte (2002), descreve que a atividade física e/ou esportiva regular é mais do que simplesmente um meio para se movimentar, mas ela representa, também, a oportunidade de fazer e sedimentar relações de amizade.

    Em relação a componente Atividade Física, segundo o pesquisado, a prática de atividades físicas sempre estiveram presentes em seu cotidiano, antes e depois do AVE.

    Destaca-se que a participação em atividades físicas pode ser um complemento para tornar a vida mais ativa e movimentar-se de forma mais lúdica e agradável.

    A participação em atividades físicas quando possível pode diminuir os sintomas secundários, como depressão e estimula a recuperação e manutenção da atividade física e podem trazer um novo alento, em termos de possibilidades de movimento e outra motivação para a prática de exercícios necessária para o indivíduo. (GORGATTI E COSTA 2005).

    Outro aspecto importante da prática da atividade física após o AVE é a melhora da qualidade de vida desses pacientes. Há estudos dos benefícios de um programa de exercícios físicos para pessoas que tiveram Acidente Vascular Encefálico com tempo superior a seis meses mostrou que, além dos significantes benefícios nas limitações funcionais como resistência, equilíbrio e mobilidade, sendo observada também uma melhora na qualidade de vida nos meses iniciais da reabilitação (DUNCAN e COL., 2003).

    Costa e Duarte (2002), afirmam que a atividade física regular pode não só trazer benefícios fisiológicos no sentido de prevenir uma nova recidiva de acidente vascular encefálico, como também influenciar de forma benéfica no seu aspecto emocional, proporcionando-lhes maior autoconfiança, autonomia e independência.

Considerações finais

    O AVE é um distúrbio com alta morbimortalidade, tendo conseqüências psicossociais e econômicas substanciais. O desfecho e o tratamento da doença estão intimamente associados com o conhecimento da população acerca da patologia e de seus fatores de risco. (FALAVIGNA et al, 2009)

    A reabilitação é um meio inicial para atingir a recuperação funcional após um AVE. A eficiência da reabilitação é reconhecida na redução do período de hospitalização e melhora da autonomia funcional. Recuperar a habilidade de locomover-se parece ser um das maiores preocupações de sujeitos que sofreram AVE, uma vez que a locomoção permite independência para as atividades do cotidiano.

    Recomenda-se que as atividades físicas/esportivas estejam sempre presentes no cotidiano de uma pessoa que sofreu AVE, já que em todas as ciências da saúde existem estudos científicos que comprovam a eficácia da Educação Física como uma componente fundamental para a qualidade de vida de pessoas com ou sem doenças crônico-degenerativas, dessa forma é de fundamental importância à atuação do profissional de Educação Física junto a pessoas que sofreram AVE.

    Atividades na água, caminhadas, musculação, jogos, dança e outras têm por objetivo melhorar o condicionamento físico geral, a adesão a um novo estilo de vida, minimizando a ansiedade e depressão, proporcionar vivência e experiência em atividades em grupos, favorecer a reinserção social e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida geral evitando desta maneira a reincidência de um novo AVE.

Bibliografia

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  • WINNICK, J. P. Educação Física e Esportes Adaptados. 3ª ed. São Paulo: Editora Manole: 2004.

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