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A família e suas contribuições para 

prática de exercício físico na terceira idade

La familia y sus aportes a la práctica del ejercicio físico en la tercera edad

 

*Graduanda do curso de Licenciatura em Educação Física, Jequié, BA

Bolsista de monitoria do NIEFAM e NEAFIS da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus Jequié, BA

**Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo

Pesquisadora do NIEFAM e NEAFIS do

Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Campus Jequié - BA

Lúcia Midori Damaceno Tonosaki*

Docente Ms. Camila Fabiana Rossi Squarcini**

squarcini@zipmail.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A atividade física, em especial o exercício físico, promove diversos benefícios psico-fisiológicos para os idosos, entretanto o nível de inatividade física nessa faixa etária é elevado e sua adesão é baixa. Nesse sentido, como a família pode contribuir para que o idoso tenha adesão a um programa de atividade física? O objetivo desse estudo foi analisar em base de dados da web of science os artigos científicos que versam sobre o papel da família no que se refere à prática de atividade física voltada para a saúde do idoso. Como resultado pôde-se observar apenas um artigo que, indiretamente, observou a importância da família para que o idoso tenha adesão a um programa de atividade física, mas demonstrou separadamente a importância da prática da atividade física, bem como da importância da família no tratamento de algumas doenças acometidas pelos idosos. Com isso, conclui-se que a família desempenha papel ímpar para garantir a qualidade de vida, dignidade e saúde do idoso, mas estudos direcionados à participação da família na adesão a programa de atividade física dos idosos devem ser desenvolvidos.

          Unitermos: Idoso. Família. Atividade física.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    Atualmente há um aumento exponencial no número de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos que, segundo Carvalho e Garcia (2003) está mais relacionado com a diminuição da fecundidade no país do que propriamente dito com a diminuição da taxa de mortalidade. Entretanto, tem sido observada na literatura mudança no estilo de vida dos idosos uma vez que se tem priorizado, além da longevidade, também a qualidade de vida e o bem-estar pessoal (JOIA, RUIZ e DONALISIO, 2006).

    Esses são refletidos em números apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004) no qual de 1980 para 2009 o número de recém nascidos passaria de 3.514.622 para 3.000.227 e o número de pessoas consideradas idosas mudaria de 532.986 para 1.304.509.

    Assim, atualmente 8,9% da população são constituídos por idosos (BENEDITTI et al., 2007), mas será que todos os seus direitos garantidos pela Constituição Brasileira (1988) são realmente garantidos? Em 2003 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Estatuto do Idoso no qual em seu artigo 2o afirma:

    O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL, 2003, p.1)

    E, no que se refere à saúde, esta entendida como sendo direito assegurado pelo idoso, é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2006) como sendo o completo estado de bem-estar físico, mental e social e, não simplesmente a ausência de doença. Nesse sentido, dentre as diversas formas de promoção da saúde, a OMS elenca a atividade física (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003). Segundo Caspersen, Powell e Christenson (1985) a atividade física é qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, portanto é um movimento voluntário, mas não é qualquer movimento, e sim aquele que resulta em um gasto energético acima dos níveis de repouso. Isso evidencia a distinção de exercício físico que, segundo os autores em questão, entendem este como sendo uma forma de atividade física que é planejada, estruturada, repetitiva, que tem por objetivo o desenvolvimento da aptidão física (esta entendida como sendo a capacidade de realizar atividades físicas), de habilidades motoras ou da reabilitação orgânica-funcional.

    Diante disso, quem deve garantir ao idoso o acesso à saúde? Segundo o Estatuto do Idoso (2003), em seu artigo 3o:

    É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (Brazil, 2003 – grifo nosso)

    Longe de entender que a família é a única a zelar pelos direitos do idoso, no presente manuscrito será apresentado apenas as questões norteadoras da família por entender seu papel como um sistema aberto e, por entender que o homem é um ser extremamente social (necessita estar inserido em um núcleo social) se destacando, dessa forma, o papel da família. Esta que pode ser compreendida como sendo“[...] um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes” (ANDOULF, apud CERVENY, 2002, p.17). Além disso, a família é constituída por subsistemas como, por exemplo o de pais e filhos que, por sua vez sofre influência de fatores físico e psicológico (DUARTE, 2000).

    Nesse sentido, a família teria um papel primordial na garantia da saúde dos idosos, particularmente no que se refere à prática de atividade física e, sob essa reflexão emerge o objetivo do estudo que é analisar em base de dados da web of science os artigos científicos que versam sobre o papel da família no que se refere à prática de atividade física voltada para a saúde do idoso.

    Assim, a seguir serão apresentados os resultados encontrados consubstanciados em livros e tese. No primeiro momento serão apresentados dados científicos que justificam a necessidade de um estilo de vida ativo do idoso. Após essa explanação serão apresentadas informações básicas sobre a família que é compreendida no presente artigo como sendo o pilar de sustentação do idoso. E, por fim, serão apresentados os dados encontrados na web of science que justifica a presença da família na adesão de um estilo de vida ativo dos idosos.

Atividade física e saúde. Implicações e benefícios

    Antes de apresentar quais são os benefícios promovidos pela atividade física vale pontuar as implicações decorrentes da inatividade física, ou seja, o sedentarismo que acomete uma grande parcela da sociedade moderna, independente do gênero, da idade ou da classe social. Conforme apontado pela Organização Mundial da Saúde dados revelam uma incidência de mortes no mundo decorrentes da inatividade física de 1,9 milhões de pessoas anualmente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003). Além disso, tal organização constata ainda que a prevalência de adultos inativos é, em média, de 17% e,a prevalência de pessoas que realizam atividade física insuficiente é, em média, de 41%, ou seja, em ambos os casos a maior parcela da população mundial ou está na condição de sedentária ou insuficientemente ativa.

    No Brasil o quadro é semelhante, sendo observado aumento da inatividade física. Um dos primeiros estudos epidemiológicos sobre a atividade física conduzido no Brasil constatou que 69,3% da população paulistana eram consideradas sedentárias (REGO et al., 1990). Ainda em São Paulo, 10 anos depois, outro estudo epidemiológico observou que apenas 31,3% da população participavam de programas de atividade física sendo que a incidência de queixas com problemas de sono eram mais freqüentes nas pessoas inativas (MELLO, FERNADEZ e TUFIK, 2000). No Estado da Bahia o quadro de inatividade física é ainda mais grave. No estudo de Pitanga e Lessa (2005) foi observado que 72,5% dos entrevistados apresentam um estilo de vida sedentário no momento de lazer.

    Com tamanho índice de inatividade física alguns estudos científicos, segundo Booth e colaboradores (2002), têm demonstrado que a inatividade física contribui diretamente com o aumento na incidência de doenças crônico-degenerativas não transmissíveis (a exemplo da hipertensão arterial, diabetes mellitus, dentre outras). Esse dado foi demonstrado por Susser e Susser (1996) que afirmaram ser por volta de 1945 o início da era das doenças crônico-degenerativas, no qual uma rede multicausal passa a ser a responsável pelas doenças, de maneira que o ambiente, a vida social e o estilo de vida são os agentes causadores das doenças (SUSSER e SUSSER, 1996). Começam então a serem apontados fatores como sendo de riscos para desencadear tais doenças, sendo alguns deles enumerado pela Organização Mundial de Saúde, tais como: pressão arterial elevada, alto colesterol, obesidade, inatividade física e insuficiente consumo de frutas e vegetais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

    No caso dos idosos, além de não raro os casos de estilo de vida inativo, existe ainda a perda gradativa de suas funções, no qual são decorrentes do envelhecimento e, portanto, são esperadas. Por exemplo, ao observar o sistema cardiovascular com o passar da idade, o miocárdio perde sua eficiência contrátil e se torna mais frágil, dificultando assim o bombeamento do sangue para todo o corpo (SPIRDUSO, 2005).

    Apesar de o envelhecimento ocorrer, tem sido observado que o exercício físico pode promover o retardo de algumas mudanças. No caso do sistema cardiovascular, exemplo citado anteriormente, é possível observar, com a prática de exercício físico, a manutenção e/ou melhora da capacidade de trabalho, sendo então observado melhora na contração do miocárdio, diminuição da resistência periférica vascular, dentre outras alterações (McArdle, Katch e Katch, 1998 e SPIRDUSO, 2005).

    Ainda, como benefícios do exercício físico se pode elencar a diminuição da taxa de glicose na corrente sanguínea e uma facilidade de a glicose ser absorvida pelas células (McARDLE, Katch e Katch, 1998; PAULI et al., 2009).

    Assim, pode-se observar que o exercício físico traz melhoria para a saúde do idoso, mas seria qualquer tipo de exercício físico a ser desenvolvido com o grupo social em questão? Neste caso tem sido indicado o desenvolvimento de alguns exercícios físicos específicos para os idosos a fim de melhorar e/ou manter aptidões físicas direcionadas para a saúde, dentre eles: aeróbio, resistido (de força), de flexibilidade, de equilíbrio, além de exercícios de propriocepção, coordenação motora e de ritmo, sendo também destacada a importância de se manter um enfoque recreativo (American college of sports medicine, 2000; Rauchbach, 2001; Nelson et al., 2007).

    Enfim o exercício físico promove mudanças psico-fisiológicas a fim de melhorar ou manter a aptidão física e promover ao idoso um estilo de vida saudável, mas para tanto é necessário estar atento ao protocolo de treinamento ou de aula utilizado e, por isso, deve sempre ser supervisionado pelo professor/profissional de Educação Física e demais profissionais da área da saúde para se garantir a integralidade do idoso. Vale destacar ainda que limitações ocorrem e que estas devem ser respeitadas por decorrer de mudanças fisiológicas impostas pelo envelhecimento (ALVES et al., 2004). Assim, a frase “exercício físico é saúde” pode não ser totalmente verifica se não respeitada à individualidade do idoso, já que estamos falando de um estressor fisiológico – o exercício físico.

    Para encerrar este tópico e antes de adentrar ao tópico seguinte no qual será abordada a importância da família na vida do idoso, vale citar Géis (2003) no qual afirma:

    A atividade física é um fato representativo de nossa época, a qual atinge todas as esferas sociais; para o idoso, é um 'meio' de relacionamento e de identificação com pessoas com as mesmas características, assim como para o estabelecimento de um grupo de amigos. (GEIS, 2003, p.31)

A família na vida do idoso

    Muitos são os conceitos e definições sobre a família sendo que alguns de seus conceitos apresentam semelhanças e todos, de certa forma, tentam explicar essa “instituição” que perpassa gerações.

    Segundo Bertalanffy (1968) citado por Silva (2007), que desenvolveu a teoria dos modelos de sistemas aberto e fechado, a família é considerada como sendo um sistema aberto por esse sistema manter uma interação dinâmica com o ambiente. Contrariamente, o modelo de sistema fechado se caracteriza pela não a interação com o meio. Nesse sentido, Cerveny (2002) ao citar Andolf (1984) expõe que:

    A família é um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes. Esse processo dual de continuidade e crescimento permite o desenvolvimento da família como unidade e, ao mesmo tempo, assegura a diferenciação dos seus membros. A necessidade de diferenciação entendida como a auto-expressão de cada indivíduo funde-se com a necessidade de coesão e manutenção da unidade no grupo com o passar do tempo. (ANDOLF, 1984 apud CERVENY, 2002, p.17)

    Mas o sistema além de ser aberto, ainda apresenta-se composto por subsistemas que também interagem entre si, dando a família uma característica complexa e de singularidade, ou seja, as “partes” ao se juntarem irão compor o “todo”, sendo este denominado de núcleo familiar. Antigamente tal núcleo era composto pelos subsistemas do pai, da mãe e dos filhos. Entretanto, atualmente essa estrutura passa, muitas vezes, por mudanças podendo a família ser formada por pai, mãe e filhos ou só mãe e filhos, pai e filhos, dentre outros.

    Nesse sentido, para Alarcão (2006), citado por Silva (2007), existem cinco tipos diferentes de formação familiar. A família reconstruída, que é formada por elementos que se casaram novamente tendo ou não a presença de filhos; a família monoparental em que só existe um elemento - viúva (o) ou divorciada (o) - que não se casou novamente e que tenha filhos; a família adotiva no qual um de seus membros é adotado; a família homossexual que é composta por elementos do mesmo gênero podendo, ainda ter ou não filhos; a família comunitária que é formada por pessoas que não têm laços sanguíneos, mas que é motivada pelo princípio da fraternidade.

    Mas independente da constituição do núcleo familiar, da sua singularidade, a família hoje tem sido compreendida a partir da existência do laço afetivo, da empatia, da relação de respeito entre si, independente da presença ou ausência de consanguinidade.

    Assim, pensar no idoso atualmente, antes de qualquer coisa deve perpassar pelos laços familiares, pela compreensão daquela família envolvida. No caso de idosos, em especial os enfermos, a terapia familiar é importante para a afirmação de sua identidade, para a compreensão da enfermidade e seu tratamento (como, por exemplo, na garantia do cumprimento dos horários dos medicamentos). “É a ação da família mediante a sua percepção de que contribuirá com o tratamento do adulto ou do idoso hospitalizado, quando lhe é concebida a oportunidade de despertar reações emocionais positivas no doente” (SILVA, BOCCHI e BOUSSO, 2008, p.301).

    Enfim, a família é um sistema que está em constante dinâmica e tem uma participação importante na vida do idoso, na garantia de saúde e na conservação da sua identidade perante si e a sociedade. Mas como se dá a valorização da atividade física para o idoso no que se refere à família? Em outras palavras, a família contribui para que o idoso pratique exercício físico?

O idoso, a atividade física e a família

    Para responder as perguntas anteriores e obter os dados a seguir, o estudo, de natureza qualitativa, adotou a técnica de revisão da literatura nas bases de dados do BIREME, LILACS e SCIELO, no qual foram utilizadas as seguintes palavras-chave como eixo norteador: atividade física, exercício físico, idoso, família, cuidador e saúde. As palavras foram utilizadas no esquema de cruzamento com entrada de três por vez, sendo que os trabalhos que emergiram passavam por uma leitura dinâmica a partir do resumo (ou abstract). Após esta primeira leitura, os artigos foram arquivados para posterior releitura. Com a releitura buscou identificar em cada estudo, separadamente, os objetivos, a metodologia, os resultados e a conclusão alcançados. Nesse sentido, foram encontrados 17 estudos científicos sendo 15 artigos publicados na língua portuguesa, um na língua inglesa e um na língua espanhola. A pesquisa foi realizada com artigos publicados de 2000 a 2009.

    Assim, as seguintes fontes científicas emergiram: Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Revista Brasileira de Enfermagem, Arquivo Brasileiro de Cardiologia, Revista de Saúde Pública, Revista da Associação Médica Brasileira e Revista Clínica de Medicina de Família. Foram utilizadas também como pilar para esse estudo as seguintes bibliografias: Spirduso (2005), Duarte (2000), Farinatti e colaboradores (2002) e Silva (2007).

    Uma primeira constatação dos dados encontrados é a inexistência de um estudo que aborde como tema principal as três palavras chave: idoso, atividade física (ou exercício físico) e família. Assim, dos 17 artigos selecionados, apenas aquele que foi publicado na Revista Brasileira de Enfermagem em 2008 abordou, mas de maneira indireta, a questão do idoso, da família e da atividade física uma vez que o objetivo do manuscrito foi “compreender as repercussões na família do atendimento oferecido à pessoa diabética” (Zanetti et al., 2008, p. 188). Para participar desse estudo foram selecionados seis familiares de idosos, no qual responderam a uma entrevista semi-estruturada após participarem de um programa de educação sobre o diabetes mellitus. As perguntas norteadoras estavam centradas na opinião dos familiares a respeito do programa de educação e sua repercussão no tratamento da doença em questão. Dentre os diversos resultados encontrados, vale pontuar que os pesquisadores encontraram o reconhecimento por parte do membro familiar sobre a importância de o idoso participar da atividade física. Ainda foi possível concluir que um programa educativo multiprofissional teve repercussão positiva na família, em especial no que se refere ao entendimento da doença, fortalecendo, dessa forma o seu papel enquanto cuidadora do idoso.

    Além deste artigo, outros 16 artigos foram selecionados, entretanto, abordaram apenas duas das entradas estipuladas como, por exemplo: idoso e atividade física (12 artigos encontrados); e idoso e família (4 artigos encontrados), sendo que tais artigos analisados são em sua maioria publicados entre 2000 e 2009.

    Os artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem, de uma maneira geral, trataram da contribuição da família no tratamento de alguma doença crônico-degenerativa não transmissível do idoso, em especial a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Entretanto, como apontado anteriormente, não foi observado nenhuma analogia desses artigos sobre o exercício físico (ou a atividade física) como fator de prevenção ou tratamento para as doenças crônico-degenerativas. Mas foi possível observar nesses estudos que a família contribui diretamente para o tratamento mais eficaz do diabetes mellitus em idosos, seja por manter o cumprimento rigoroso dos horários dos medicamentos ou por seguir a dieta rigorosamente. Apontam ainda que a participação da família é capaz de garantir a sensação de uma “passagem” menos dolorosa e talvez até mesmo mais prazerosa do idoso pelo tratamento, que deve ao fato da família estar unida facilitando o desenvolvimento e a manutenção no tratamento do membro enfermo (ZANETTI et al, 2007).

    No que se refere ao artigo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Alves e colaboradores (2004) destaca a hidroginástica como sendo capaz de proporcionar benefícios como o retardo do processo gradual do envelhecimento e a manutenção e recuperação de funções modificadas pela ação do tempo que eram relatados por exercício físico de força, flexibilidade, equilíbrio, cardiorrespiratório, dentre outros. Concluiu-se então que a prática da hidroginástica duas vezes por semana durante três meses contribui para a melhoria da saúde e aptidão física de idosos. Entretanto, apesar dos dados relevantes apontados pelo estudo no que se refere à prática de hidroginástica por idosos, vale pontuar que os autores destacam uma perda amostral de 18,9%. Tal resultado nos faz questionar a perda amostral seria menor caso um membro da família estivesse participando junto com o idoso neste programa de treinamento. Mas, nesse momento, tal indagação permanece aberta.

    No Arquivo Brasileiro de Cardiologia, foi publicado um artigo de Farinatti e colaboradores (2005) no qual o objetivo foi avaliar um programa doméstico e não-supervisionado de exercício físico aeróbio e de flexibilidade em pessoas com hipertensão (podendo ou não ser idosos) no que se refere à pressão arterial, índices fisiológicos e variáveis antropométricas. Assim, concluiu-se que o programa domiciliar não supervisionado contribui positivamente no controle da pressão arterial em pessoas hipertensas e fatores antropométricos, mas os autores apontam para a questão da adesão a um programa de atividade física não supervisionada. E, chamando a atenção para a adesão, os autores se baseiam na literatura para afirmar que a não adesão pode ter se dado pelo acesso à prática ser dificultada (por exemplo, achar um espaço para fazer o exercício físico), a percepção da importância do programa (pode ser que não ficou claro a importância da prática de exercício físico para a saúde) e os aspectos ligados a família (modo de vida da família). Nesse ponto, pode-se observar o papel da família, destacado pelos pesquisadores, como um fator negativo para a adesão ao programa de exercício físico. Mais uma vez, faz-se necessário nosso questionamento: se a família também fosse participante do estudo, junto com as pessoas com hipertensão (em especial os idosos), a adesão não seria maior? Fica mais uma vez aberto o questionamento.

    Na Revista de Saúde Pública o artigo publicado por Benedetti e colaboradores em 2008 investigou a associação entre o nível de atividade física de idosos e o seu estado de saúde mental. O estudo populacional conduzido em Florianópolis em 2002 contou com a participação de 875 idosos que responderam aos questionários para determinação do nível de atividade física (Questionário Internacional de Atividade Física -IPAQ) e Brazil Old Age Schedule. Como resultado, os pesquisadores observaram uma associação inversa da atividade física com a demência e depressão Concluíram que, apesar de o estudo não poder provar que a demência é evitada pela atividade física, esta tende a reduzi-la e/ou atrasá-la prevenindo, assim, problemas de saúde mental em idosos Benedetti et al., 2008).

    Na Revista Texto & Contexto Enfermagem foi encontrado um artigo no qual se refere a família e o idoso. Nesse estudo o objetivo foi compreender o papel da solidariedade desempenhado por familiares de adultos e idosos internados, durante o acompanhamento ou a visita. Participaram do estudo nove famílias com membros hospitalizados no qual participaram de uma entrevista não estruturada. Foi possível concluir a importância da solidariedade da família para com o idoso e, por conseguintes a solidariedade do profissional em enfermagem no tratamento do adulto e do idoso enfermo a fim de obter a saúde do grupo familiar. Isto porque os autores destacam que ao ser internado, a pessoa perde o vínculo com o ambiente familiar, por isso, a visitas dos familiares em hospitais tornam-se a internação menos difícil e dolorosa (SILVA, Bocchi e BOUSSO, 2008). Apesar desse estudo comprovar a importância da família para melhorar a qualidade de vida do idoso, o enfoque não esteve na atividade física.

    Já na Revista da Associação Médica Brasileira foi publicado um artigo no qual teve como objetivo avaliar um programa de treinamento para idosos com hipertensão arterial que fazia parte de um tratamento não-farmacológico (consta desse tratamento: orientação alimentar, evitar ingestão de álcool e fumo, reduzir o peso e recomendação de caminhada por 30 minutos todos os dias da semana). Os idosos eram submetidos a esse programa denominado não-farmacológico e a um programa de exercício físico supervisionado 3 vezes na semana com base em exercícios aeróbio, resistido e de flexibilidade. Ao comparar o grupo que era submetido ao tratamento não-farmacológico com o grupo que se submeteu ao tratamento não-farmacológico e mais o programa de exercício físico, foi observado melhora significativa nos valores de consumo máximo de oxigênio (componente cardiorrespiratório) e parâmetros do miocárdio. Assim, os pesquisadores concluíram que o tratamento não farmacológico aliado ao exercício físico supervisionado foi mais eficaz no controle da pressão arterial de idosos (BARROSO et al., 2008). Apesar disso, o papel da família não foi pontuado no estudo.

    Já a respeito do artigo produzido em espanhol, por Sánchez e colaboradores (2008), o objetivo foi determinar o grau de deterioração subjetiva na qualidade de vida de idosos frágeis e quais são as variáveis associadas a essa deterioração. Para tanto, foi considerado idoso frágil aquele que reunir pelo menos um dos seguintes critérios: apresentar idade superior a 80 anos, viver sozinho, ter perdido recentemente o parceiro (a menos de um ano), apresentar doença crônica que causa invalidez, consumir quatro ou mais fármacos, ter caído recentemente ou frequentemente, ter sido internado no hospital a menos de um ano e apresentar uma “deficiência” econômica ou social. Após seleção dos idosos considerados frágeis, cada um respondeu a um questionário de qualidade de vida (Nottinghan Health Profile) de capacidade funcional e as atividades básicas (Barthel). Dentre os resultados encontrados, chama a atenção o fato de idosos frágeis que não convivem com seus familiares ou cônjuge apresentarem maior deterioração subjetiva da qualidade de vida. Além disso, com os demais resultados encontrados no estudo, os pesquisadores concluíram que a deterioração subjetiva da qualidade de vida por idosos frágeis está relacionada com a saúde e com os aspectos sócio-demográficos.

    Já o artigo publicado em inglês na revista Medicine & Science in Sports & Exercise por Nelson e colaboradores (2007) não referiu sobre a família, mas sim sobre o exercício físico para idosos. Nesse sentido, são apresentadas as recomendações para prescrição de exercício físico do Colégio Americano de Medicina do Esporte e da Associação Americana do Coração no qual preconiza:

  • exercício físico aeróbio: mínimo de cinco vezes por semana com intensidade moderada e duração mínima de 30 minutos ou três vezes por semana com intensidade vigorosa pelo menos 20 minutos por dia. O artigo destaca que a intensidade do esforço para os idosos é dada a partir de uma escala subjetiva de esforço físico que varia de 0 a 10 pontos sendo os valores 5 e 6 de intensidade moderada e 7 e 8 de intensidade vigorosa. Para garantir a recuperação física dos idosos é recomendado repouso de pelo menos 24 horas;

  • exercício físico de força muscular: mínimo de duas vezes por semana, de 8 a 10 exercícios envolvendo os grandes grupamentos musculares sendo realizadas de 8 a 12 repetições cada exercício. Para garantir a recuperação física dos idosos é recomendado repouso de pelo menos 48 horas;

  • exercício físico de flexibilidade: sugere-se mínimo de duas vezes por semana. Ainda sugere-se exercício de flexibilidade estático e dinâmico (exercícios de balanço) para prevenir quedas.

    Além de esses exercícios físicos que tem o objetivo de prevenção e manutenção, o artigo apresenta ainda recomendações para os casos de exercício físicos ministrados para idosos acometidos de algumas doenças como, por exemplo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, osteoartrite e colesterol (Nelson et al., 2007).

    Enfim, ao verificar todos os artigos apresentados anteriormente, fica evidente que o exercício físico envolve mudança de hábito pessoal, alteração no cotidiano, motivação, força de vontade, valores, crenças e auto-estima, não sendo, portanto, de fácil adesão. E é nesse ponto que se pode esperar um papel mais efetivo da família a fim de garantir a adesão do idoso nesses programas. Também, foi possível identificar nesse estudo que a família quando envolvida na vida do idoso efetivamente influencia de maneira positiva o tratamento do diabetes mellitus (ZANETTI, et al., 2008). Mas, apesar desse estudo, ainda existe uma lacuna no conhecimento no que se refere a participação da família a um programa de atividade física por entender que o enfoque do estudo não foi à atividade física propriamente dita e sim um programa educacional multiprofissional não envolvendo portanto efetivamente as três palavras chave (idoso, família e atividade física/exercício físico).

Conclusão

    Sabe-se que o número de idosos vem aumentando vertiginosamente. Para tanto, adotar um estilo de vida ativo é fundamental para que o idoso tenha não apenas longevidade, mas também qualidade de vida, pois a atividade física, em especial o exercício físico, promove melhoras psico-fisiológicas a fim de retardar o envelhecimento. Mas o exercício físico envolve, muitas vezes, mudança de hábito, alteração no cotidiano, exige motivação, força de vontade, mudança de valores, crenças e da auto-estima, não sendo, portanto, de fácil adesão. E é nesse ponto, a adesão, que se pode esperar um papel mais efetivo do membro familiar a fim de garantir a permanência do idoso nesses programas físicos. Entretanto, a efetiva participação da família nessa prática de exercícios físicos, ainda permanece desconhecida uma vez que não foi constatado nas bases de dados BIREME, LILACS e SCIELO estudos que comprovam a importância da família na adesão a um programa de exercício físico para idosos. Assim conclui-se que a família desempenha papel ímpar para garantir a qualidade de vida, dignidade e saúde do idoso, mas estudos direcionados à participação da família na adesão a programa de atividade física dos idosos devem ser incentivados.

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revista digital · Año 15 · N° 145 | Buenos Aires, Junio de 2010  
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