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Caracterização das circunstâncias e setores de finalização do jogo de futsal: um estudo da fase final da copa do mundo de futsal-FIFA 2008

Caracterización de las circunstancias y sectores de finalización de las jugadas en 

el futbol sala: un estudio de la fase final de la copa del mundo de futsal FIFA 2008

 

*Graduandos em Educação Física pela Escola de Educação Física,

Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UFMG)

Membros do Centro de Estudos de Cognição e Ação (CECA)

** Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências do Esporte da UFMG

Membro do CECA

*** Professora da UEMG. Mestre em Ciências do Esporte (UFMG). Membro do CECA

**** Professor do Centro Universitário de Belo Horizonte

Mestre em Ciências do Esporte (UFMG). Membro do CECA

***** Professor Adjunto da Escola de Educação Física, Fisioterapia

e Terapia Ocupacional da UFMG. Doutor em Psicologia Educacional (Unicamp, 1995)

Coordenador do CECA

(Brasil)

Guilherme Nozomu de Freitas Irokawa*

Marcelo Rochael de Melo Lima*

Vinícius de Oliveira Viana Soares**

Layla Maria Campos Aburachid***

Pablo Ramon Coelho de Souza****

Pablo Juan Greco*****

laylabur@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Para estudar a importância dos parâmetros técnicos e táticos específicos a uma modalidade esportiva, os treinadores recorrem na atualidade à área de observação ou análise de jogo. Poucos estudos em análise de jogo foram realizados para a modalidade futsal, no que tange os aspectos técnico-táticos ofensivos. Assim, o objetivo do presente estudo foi caracterizar o perfil das situações e os setores de finalização no futsal. Foram analisados os 4 jogos finais da categoria adulta da Copa do Mundo de Futsal-FIFA 2008 através dos parâmetros técnico-táticos relacionados com a ação. As variáveis observadas foram Setor de finalização e Situação da finalização, coletadas a partir de uma planilha de scout adaptada de estudos precedentes. Os resultados encontrados sugerem que na fase final da competição foram anotados 15 gols, o que representa uma eficácia de 5,54% nas finalizações contra a meta adversária. As circunstâncias em que mais ocorreram finalizações foram: no Jogo Organizado (38%), Bola Parada (36,9%) e o Contra-Ataque (22,9%). Ao analisar os setores da quadra em que ocorreram as finalizações destaca-se uma distribuição equilibrada nos 5 setores da meia quadra ofensiva. Os resultados apresentam implicações práticas no processo de ensino-aprendizagem-treinamento do futsal.

          Unitermos: Futsal. Análise de jogo. Finalização

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    O resultado final de um jogador ou equipe nos jogos esportivos apresenta um caráter multifatorial. Portanto, o rendimento esportivo pode ser atribuído a um elevado grau de desenvolvimento e especialização dos parâmetros físicos, técnicos, táticos e psicológicos (GARGANTA, 1997).

    Para estudar a importância dos parâmetros técnicos e táticos específicos a uma modalidade os treinadores recorrem à observação ou análise de jogo.

    A observação de jogo é um processo de percepção seletiva e planejada, que pode se dar antes, durante ou depois da realização das partidas, e que resulta em registros das condutas dos participantes frente às situações de jogo (CARLING; et al., 2005; GRECO; et al. 2000).

    Diferentes fases constituem o processo de análise de jogo, entre elas a observação dos acontecimentos, a coleta e a interpretação de dados (GARGANTA, 2001). A interpretação dos dados permite avaliar a organização das equipes e das ações na competição; planificar e organizar o treino e as estratégias de trabalho; estabelecer planos táticos-técnicos adequados a determinado adversário; e regular o processo de ensino-aprendizagem-treinamento (GARGANTA, 1997; GARGANTA, 1998).

    Poucos estudos em análise de jogo foram realizados para a modalidade futsal. Entretanto, predominam as análises das variáveis ofensivas do jogo (AMARAL; GARGANTA, 2005; MARQUES JÚNIOR, 2009). Portanto a finalização, enquanto ação ofensiva que oportuniza as equipes concluírem com êxito o objetivo principal do jogo, o gol, o local de finalização, e as situações nas quais as equipes podem finalizar as jogadas, tornam-se importantes variáveis de estudo.

    O objetivo do presente estudo foi caracterizar o perfil das situações e setores de finalizações da categoria adulta na Copa do Mundo de Futsal-FIFA 2008, através da análise dos parâmetros técnico-táticos relacionados com a ação esportiva.

Métodos

Amostra

    Foram analisados os 4 jogos finais da Copa do Mundo de Futsal-FIFA 2008. Observou-se 271 ações de finalização.

Instrumento

    O instrumento utilizado para observação das partidas foi uma planilha de scout em Excel adaptada de Gomes e Fagundes (2007).

    As variáveis observadas foram:

a.     Setor de Finalização – é observado o local onde ocorre o ato de finalização em si. No presente estudo foi utilizado um campograma elaborado no Centro de Estudos em Cognição e Ação (CECA-UFMG) dividido em 6 possíveis zonas de finalização (Figura 1).

Figura 1. Campograma para demarcação da área de finalização

b.     Situação da Finalização – foi considerada a circunstância que permitiu a finalização à meta adversária

b1.     Jogo Organizado: forma racional e planejada (organizada) de aplicar um sistema de jogo, a fim de tirar vantagens de todas as circunstâncias da partida e obter resultados nas manobras realizadas (MUTTI, 2003).

b2.     Contra-Ataque: elemento técnico-tático ofensivo onde a equipe recupera a posse de bola e sai rapidamente para o ataque buscando a finalização diante de uma defesa adversária desestruturada e em inferioridade numérica.

b3.     Bolas Paradas: são ações de tiros livres diretos e indiretos, arremesso lateral, arremesso de canto, arremesso de meta e bola de saída que tem por objetivo principal ludibriar a equipe adversária, através de fintas, dribles ou deslocamentos rápidos, e assim possibilitar que a equipe chegue facilmente à meta oponente (MUTTI, 2003).

b4.     Goleiro Linha: estratégia de jogo que possibilita um posicionamento diferenciado na quadra de ataque, gerando uma superioridade numérica e comumente possibilidade de finalização (MUTTI, 2003).

b5.     Jogador Expulso: situação de jogo em que equipe encontra-se em superioridade numérica obtendo maior chance de finalização à meta adversária.

Procedimentos

    A coleta de dados foi realizado após a captação dos jogos de 4 seleções nacionais transmitidos em rede nacional pela emissora SPORTV e gravados em DVD. A análise dos dados foi realizada no Centro de Estudos de Cognição e Ação (CECA), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recorreu-se a técnica de análise centrada no jogo.

    De forma a verificar a consistência dos dados analisados no estudo foi realizada uma análise de confiabilidade intra-observador e inter-observador em 88 ações, correspondentes a 32% do total da amostra, valor acima do valor mínimo aceitável de 10% estipulado pela literatura (TABACHNICK & FIDELL, 1989). Os resultados obtidos alcançaram valores de concordância superiores aos de 80% sugeridos pela literatura (VAN DER MARS, 1989).

    Os dados foram tabulados e tratados utilizando-se o software SPSS for Windows® versão 17.0. Para a apresentação dos resultados recorreu-se a estatística descritiva, composta por distribuição de freqüência.

Resultados

    Inicialmente foram apresentados e discutidos os dados que abordam aspectos como total de finalizações, número de gols, e eficácia das finalizações. Posteriormente, foram destacados os aspectos táticos das finalizações (situação e setor dos arremates).

    A tabela 1 apresenta os dados freqüências gerais da amostra retratada no estudo. Foram registradas um total de 271 finalizações no decorrer dos 4 jogos, resultando em 15 gols, o que registra uma eficácia de 5,54% nas finalizações à meta adversária.

Tabela 1. Descrição geral dos dados do estudo

Número de Jogos

4

Total de Finalizações

271

Número total de Gols

15

Eficácia das Finalizações

5.54%

    A eficácia de finalização possui valores discrepantes na literatura. Porcentagens de acerto de 11,55% nas ações de finalização foram reportadas para uma amostra de 7 jogos do Campeonato Brasileiro de Juvenil de Seleções no ano de 2002 (NUNES, 2004). Um estudo comparativo entre o aproveitamento das finalizações executadas por atletas da categoria adulta e juvenil em 20 jogos do Campeonato Brasileiro de Seleções de 2005 reportou um percentual de aproveitamento de 11,69% das finalizações para a categoria juvenil e 6,27% para a categoria adulta (BACKES, 2007).

    Em relação à circunstância de finalização a Tabela 2 exibe os resultados encontrados. É possível observar que a circunstância em que ocorreu um maior número de finalizações foi no Jogo Organizado, com 38%, seguida de Bola Parada, 36,9% e Contra-Ataque, 22,9%. A situações de finalização com o Goleiro-linha representaram 2,2% da amostra.

Tabela 2. Valores Percentuais em Relação à Circunstância da Finalização

Circunstância da Finalização

N

%

Jogo Organizado

103

38.00%

Contra-ataque

62

22,9%

Bola Parada

100

36,9%

Jogador Expulso

0

0.00%

Goleiro-Linha

6

2,2%

Total

271

100.00%

    Os resultados encontrados sugerem que as equipes precisam apresentar padrões de jogo pré-definidos, que facilitem as movimentações dos atletas em busca de espaços vazios e a criação de superioridade numérica na tentativa de finalização. Além disso, as jogadas de bola parada são situações oportunas de conseguir surpreender o adversário, e devem ser consideradas nos treinamentos das equipes. Ademais, as movimentações pré-ensaiadas, por meio da análise do posicionamento do adversário, são aspectos altamente relevantes para a escolha da ação a realizar (SAMPEDRO, 1997).

    Outros estudos reportaram valores de 34,6% das ações de finalização que ocorreram quando as equipes estavam realizando os seus padrões de jogo estabelecidos. Como segunda e terceira circunstâncias mais utilizadas para se criar uma oportunidade de finalização, os autores encontraram as jogadas de bola parada (28,2%) e os contra-ataques (25,9%) (CHAVES; COSTA, 2008).

    Gomes e Fagundes (2007) também estudaram atletas de alto nível da categoria adulta e encontraram um comportamento semelhante quanto à principal circunstância utilizada para criar situações favoráveis à finalização. O jogo organizado representou a forma mais utilizada, seguida por contra-ataque, bola parada e goleiro linha respectivamente.

    Quanto ao setor da quadra em que ocorreram as finalizações, verifica-se na Tabela 3 os resultados observados. Os setores em que mais ocorreram finalizações foram o setor 2 com 26,2% e o setor 3 com 21% do total de finalizações. Esses setores representam respectivamente os corredores laterais esquerdo e direito, à frente da linha do tiro de dez metros. Em seguida aparecem o setor 4 (7,7%), o setor 1 (7,3%), o setor 5 (14,8%) e o setor 6 (3%) do tom os respectivos percentuais do total de finalização.

Tabela 3. Valores Percentuais em Relação ao Setor de Finalização

Setor

N

%

1

47

17.30%

2

71

26.20%

3

57

21.00%

4

48

17.70%

5

40

14.80%

6

8

3.00%

271

100.00%

    Uma explicação para o maior número de finalizações ocorridas nos corredores laterais, tanto esquerdo quanto direito, é o fato de que as equipes em ações defensivas, propositalmente, induzem os atletas adversários para as laterais da quadra onde as chances de se consignar um gol são mais baixas. Nesses locais a menor angulação para o arremate dificulta a ação do atacante e aumenta as chances de sucesso dos defensores.

Conclusões

    Através das análises realizadas por esse estudo foi possível identificar que não houve uma clara predominância em relação ao parâmetro Circunstância da Finalização. Entretanto, as situações de Jogo Organizado e Bola Parada apresentam-se com destaque. Sugere-se, a partir da maior freqüência de ocorrência dessas circunstâncias, que o treinador as contemple em seu processo de ensino-aprendizagem-treinamento, formando equipes consistentes e versáteis em suas movimentações.

    Ao analisar o setor de ocorrência das finalizações destaca-se uma distribuição equilibrada nos cinco setores da meia quadra ofensiva. Dessa forma, sugere-se que o treinamento de finalização envolva os diferentes setores ofensivos da quadra. Conclui-se assim que, a partir dos resultados encontrados na análise de jogo dos aspectos técnico-táticos foi possível caracterizar o perfil das finalizações da categoria adulta na fase final da Copa do Mundo de Futsal-FIFA 2008.

Referências

  • AMARAL, R., & GARGANTA, J.. A modelação do jogo em Futsal. Análise sequencial do 1x1 no processo ofensivo. Revista Portuguesa de Ciência e Desporto, v. 3, p. 298-310, 2005.

  • BACKES, M. Análise das ações Técnico-Táticas ofensivas em jogos de futsal: uma comparação entre as categorias Sub-15 e Adulta. 2007. 76f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2007.

  • CARLING, C.M. Handbook os soccer match analysis. Abringdon: Routledge, 2005.

  • CHAVES, B. C., COSTA, R. S. G. Caracterização das finalizações do jogo de futsal: um estudo sobre a categoria sub – 15. 89f Monografia (Graduação em Educação Física) – Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2008.

  • GARGANTA, J. Modelação tática do jogo de futebol: um estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 1997. f. 292. Tese (Doutorado em Ciência do Desporto) – Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 1997.

  • GARGANTA, J. Analisar o jogo nos Jogos Desportivos Colectivos: Uma preocupação comum ao Treinador e ao Investigador. Horizonte, XIV (83), 7-14, 1998.

  • GARGANTA, J. A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise de jogo. Revista Portuguesa da Ciência do Desporto, v. 1, n. 1, p. 57-64, 2001.

  • GOMES, A.; FAGUNDES, L. Caracterização das ações de finalização em jogos de futsal: uma análise técnico e tática. 2007. Monografia (graduação em Educação Física) – Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2007.

  • GRECO, P.J.; FILHO, E.F.; GOMES, M.V. Proposta científica para a observação e avaliação do handebol. In: Caderno de Rendimento do Atleta de Handebol. 1ª edição, GRECO, P.J. (Org). Belo Horizonte: Health, 2000. p. 149-159.

  • MUTTI, D. Futsal: da Iniciação ao Alto Nível. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2003.

  • NUNES, G. Análise do Perfil das finalizações de ações ofensivas das equipes Juvenis de futsal do Campeonato Brasileiro de Seleções. 59f Monografia (Graduação em Educação Física) – Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2004.

  • SAMPEDRO, J. Futbol Sala, las acciones del juego. Madrid: Editora Gymnos: 1997.

  • TABACHNICK, B.G.; FIDELL, L.S. Using multivariate statistics. 2nd ed. New York: Haper & Row, 1989.

  • VAN DER MARS, H. Observer reliability: Issues and procedures. In: Analysing physical education and sports instruction. DARST, P.W.; ZAKROSJSEK, D.B.; MANCINI, V.H. (Eds.). 2nd ed. Champaign: Human Kinetics, 1989. P.53-80.

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