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Resposta das citocinas ao exercício físico

Respuesta de las citocinas al ejercicio físico

Cytokines responses to physical exercise

 

*Autor responsável. Mestre em Educação Física

**Mestrando em Educação Física

***Professora Doutora do Departamento de Nutrição e Saúde

****Professor Doutor, coordenador do Mestrado em Educação Física

Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG

(Brasil)

Bruno Gonzaga Teodoro*

Osvaldo Costa Moreira**

Maria do Carmo Gouveia Peluzio***

Antônio José Natali****

brunaoeduca@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As citocinas são proteínas secretadas pelas células da imunidade inata e adaptativa que medeiam muitas funções destas células, elas são produzidas em respostas a microorganismos e outros antígenos. Após o exercício ou infecção, as citocinas aparecem na seguinte ordem TNFα, IL1, IL6, os receptores de citocinas IL1ra (inibidor de IL1) e sTNF-R (inibidor de TNFα). TNFα, IL1 são tidas como citocinas pró-inflamatórias, já os seus receptores antagonistas (IL1ra e sTNF-R), são geralmente classificados como citocinas anti-inflamatórias. IL6 por sua vez, tem sido considerada uma citocina com características pró e anti-inflamatória. Após uma sessão de exercício, a citocina que sofre maior alteração é a IL6 e isto parece atuar como fator protetor ao organismo. O exercício físico tanto aeróbio quanto de força crônico geralmente age de maneira positiva sobre todas citocinas.

          Unitermos: Citocinas. Exercício aeróbio. Exercício de força

 

Abstract

          Cytokines are proteins secreted by cells of innate and adaptive immunity that mediate many functions of these cells, they are produced in response to microorganisms and other antigens. After exercise or infection, cytokines appear in the following order TNFα, IL1, IL6, the receptors of cytokines IL1ra (inhibitor of IL1) and sTNF-R (inhibitor of TNFα). TNFα, IL1 are considered pro-inflammatory cytokines, while their receptors antagonists (IL1ra and sTNF-R), are generally classified as anti-inflammatory cytokines. IL6, has been regarded as a cytokine with pro-inflammatory and anti-inflammatory features. After a session of exercise, a cytokine that undergoes the greatest change is IL6 and this factor seems to act as body protector. Aerobic as much as strength training generally acts in a positive manner on all cytokines.

          Keywords: Cytokines. Aerobic exercise. Strength exercise

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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1.     Introdução

    As citocinas são proteínas secretadas pelas células da imunidade inata e adaptativa que medeiam muitas funções destas células, elas são produzidas em respostas a microorganismos e outros antígenos. Diferentes citocinas estimulam respostas diversas das células envolvidas na imunidade e inflamação, sendo, frequentemente citadas como modificadores da resposta biológica1.

    Como muitas citocinas são sintetizadas por leucócitos e atuam sobre outros leucócitos, elas também são chamadas de interleucinas (IL). Este termo é imperfeito, pois existem citocinas que são produzidas por leucócitos e atuam sobre outros leucócitos e não são denominadas interleucinas (por exemplo TNF). Por outro lado existem interleucinas que não são produzidas e não atuam sobre leucócitos (por exemplo, IL1). Entretanto, o termo é útil pelo fato de que à medida que as estruturas moleculares são descobertas dá-se uma nomenclatura seqüencial (por exemplo: IL1, IL2)1, obedecendo padronização internacional.


    Embora as citocinas sejam estruturalmente diferentes elas compartilham várias propriedades, tais como: sua secreção é um evento breve e autolimitado; possuem ações pleitrópicas (habilidade de uma citocina em agir em diferentes tipos celulares) e redundantes (propriedade de múltiplas citocinas possuírem o mesmo efeito funcional); influenciam a síntese e ações de outras citocinas; podem possuir ação local ou sistêmica; iniciam suas ações pela ligação de receptores específicos nas células alvo; sinais externos regulam a expressão de seus receptores influenciando no potencial de resposta das células às citocinas e; alteram a expressão gênica em células-alvo para expressarem novas funções ou proliferação1.

    As citocinas podem ser divididas funcionalmente em três categorias: 1) – mediadoras e reguladoras da imunidade inata (TNF, IL1, IL12, IL10 etc); 2) mediadoras da imunidade adaptativa (IL2, IL4, etc) e; 3) – estimuladoras de hematopoese (IL7, IL3, etc)1.

    Na cascata de citocinas após algum stress (por exemplo, o exercício) ou infecção, as citocinas iniciais aparecem na seguinte ordem TNFα, IL1, IL6, os receptores de citocinas IL1ra (inibidor de IL1) e sTNF-R (inibidor de TNFα), sendo que na presença de infecção ou stress agudo muitas dessas citocinas e seus respectivos receptores multiplicam-se e, quando o efeito do stress ou infecção acaba, geralmente, há decréscimo nos níveis plasmáticos destas citocinas22.

    A partir do conhecimento das funções gerais e classificação das citocinas, podemos entender como exercício físico influenciará a expressão e concentração desse sinalizador antes, durante e após uma única sessão de exercício, assim como nas adaptações crônicas a estas atividades.

    Nesta revisão abordaremos apenas as três citocinas mais estudadas em relação aos efeitos do exercício sobre as mesmas e dois importantes receptores inibitórios. Abrangeremos portanto, TNFα e sTNF-R; IL1 e IL1ra e; IL6, sendo nosso objetivo analisar os efeitos do exercício agudo e crônico, aeróbico e resistido sobre estas citocinas.

2.     Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNFΑ)

2.1.     Estrutura e função

    Identificado inicialmente como uma substância encontrada no soro de animais tratados com lipopolissacarídeo (LPS) que desenvolviam necrose tumoral in vivo, é sintetizado, principalmente, por fagócitos mononucleares ativados como uma proteína de membrana tipo II não glicolisada, com extremidade aminoterminal intracelular e uma grande extremidade carboxiterminal extracelular1.

    A principal função fisiológica desta citocina é estimular o recrutamento de neutrófilos e monócitos para locais de infecção e ativar estas células para erradicar os microorganismos. A ausência de TNFα pode levar ao fracasso em conter infecções1. Dessa maneira, esta citocina é essencial para o organismo humano.

    Em baixas concentrações plasmáticas (< 10-9 M), o TNFα age sobre os leucócitos e endotélio para induzir inflamação aguda. Em concentrações moderadas, medeia os efeitos sistêmicos da inflamação, tais como febre, produção de proteínas de fase aguda (amilóide A e fibrinogênio) e produção de leucócitos pela medula óssea. Em altas concentrações plasmáticas (> 10-7 M), todavia, causa anomalias patológicas do choque séptico, tais como inibição da contratilidade cardíaca, diminuição da resistência dos vasos sanguíneos, levando a formação de trombos e, hipoglicemia severa1.

    Entretanto, a produção de TNFα não é restrita apenas ao contexto de inflamação. A obesidade é fortemente associada com aumentos nos níveis circulantes desta citocina, enquanto a perda de peso e atividade física reduz os seus níveis sistêmicos7. Além disso, níveis elevados desta citocina induzem resistência à insulina em modelos animais25, hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL e altos níveis de LDL na circulação6. Associa também com a hipertensão arterial pela ativação do sistema renina-angiotensina14, além de apresentar forte correlação com a síndrome metabólica26.

    Existem dois tipos de receptores para o TNFα, sendo que os do tipo I são responsáveis pela transdução de sinal para as células-alvo, e os do tipo II também chamados de sTNF-R (receptores de TNFα solúveis), parecem ser inibidores naturais desta citocina, pois não deixam que esta citocina se ligue à outra célula22. Portanto é importante o comportamento destes receptores e a qual o receptor TNF se ligará para desencadear ou não suas funções. Assim, torna-se importante o conhecimento dos efeitos do exercício sobre esta citocina.

2.2.     Efeitos gerais do exercício

    O exercício físico parece atenuar dos níveis basais de repouso de TNFα. Um estudo de corte transversal utilizando nível de atividade física auto-reportado, demonstrou que pessoas com alto nível de atividade física apresentaram níveis circulantes de TNFα e outros marcadores inflamatórios (tais como IL6 e proteína C reativa) menores do que aqueles que se auto-reportaram sedentários, independentemente do gênero, idade, tabagismo, índice de massa corporal, colesterol total, glicose sanguínea e pressão arterial20. Estes dados indicam nível de atividade física por si só relaciona-se inversamente com os níveis circulantes de TNFα. De fato, tem sido sugerido que o nível de atividade física elevado diminui os níveis de mediadores da resposta inflamatória periférica, inclusive o TNFα, em uma taxa de 20-60% comparado com estilo de vida sedentário4.

    Dessa maneira, torna-se importante o estudo dos efeitos das diferentes modalidades de exercício sobre o nível plasmático desta citocina, já que a melhora desses níveis relaciona-se com importantes parâmetros de saúde.

2.2.1.     Exercício aeróbio

    Com objetivo de avaliar a resposta antiinflamatória e inibição da elevação de TNFα no repouso ao exercício aeróbio, STARKIE e colaboradores24 realizaram um estudo com 8 voluntários realizando três experimentos: 3h de repouso (controle); 3h realizando exercício aeróbio em bicicleta ergométrica com carga correspondente a 75% do VO2máx e; infusão de rIL6 por 3h. Após 180 minutos, os indivíduos receberam uma endotoxina que estimula a produção de TNFα e constatou-se que os indivíduos que exercitaram ou os que sofreram infusão de rIL6, não tiveram aumento desta citocina no plasma, enquanto o grupo controle, após infusão, teve aumento de duas vezes em relação ao repouso. Este estudo dá suporte à hipótese de que o exercício físico aeróbio medeia fortes efeitos antiinflamatórios através de mecanismos que envolvem a IL6.

    Outro estudo levando em consideração a expressão gênica de mRNA de TNFα no músculo esquelético, mostrou que o treinamento de 8 semanas de exercício aeróbio em bicicleta ergométrica a 70% do VO2max do sintoma, divididos em 6 sessões diárias de 10 min cada, foi suficiente para diminuição da expressão gênica desta citocina em pacientes com insuficiência cardíaca crônica15. Isto mostra que atividade física aeróbia pode diminuir a expressão gênica desta citocina, até mesmo na presença de patologias.

    Contudo, existem estudos que demonstram que o exercício aeróbio não consegue diminuir o conteúdo de mRNA de TNFα muscular, como descrito por FERRIER e colaboradores9, que não mostrou diminuição da expressão desta citocina em indivíduos obesos [IMC = 32(Kg.m2)-1] submetidos a 8 semanas de treinamento fisco aeróbio a 65% de freqüência cardíaca máxima, 30 min.dia-1, 3 vezes por semana em bicicleta ergométrica.

    Esta falta de consenso na literatura científica pode ser explicada pelas diferentes metodologias, tanto nos programas de atividade física quanto nas diferentes patologias analisadas, adotadas por deferentes estudos, mas há uma forte tendência em dizer que atividade física aeróbia crônica consegue diminuir os níveis basais desta citocina e estudos que não mostraram isso, como o de FERRIER e colaboradores9 acima citado utilizou de cargas e volumes relativamente baixos para que houvesse melhora significativa em relação ao comportamento desta citocina.

2.2.2.     Exercício resistido

    De maneira aguda, o exercício resistido parece não promover grandes aumentos na expressão de TNFα. Um estudou demonstrou isso no exercício resistido de extensão do joelho por 180min, em que o conteúdo de mRNA desta citocina no músculo não elevou de maneira significativa (p = 0,08) durante os primeiros 30 minutos de exercício, e esta situação manteve-se até o final da sessão de 180 minutos, dessa maneira não há liberação desta citocina no plasma durante o trabalho resistido de pernas8, o que pode ser benéfico por não estimular a cascata de reações inflamatórias geradas por altas concentrações plasmáticas desta citocina, como dito anteriormente.

    O aumento dos níveis de força muscular em resposta ao treinamento, todavia, correlacionam inversamente com os níveis plasmáticos basais de TNFα. Para investigar este efeito, BRUUNSGAARD e colaboradores3 analisaram o efeito de 12 semanas de treinamento resistido (3 séries de 8 repetições de 50 à 80% de 1RM, com 2 min de intervalo entre as séries) em idosos frágeis (86 à 95 anos) e verificou que ao final do estudo, os idosos que mais desenvolveram a força muscular, tiveram menores níveis plasmáticos desta citocina, justificando a hipótese da correlação inversa entre força muscular e níveis de TNFα.

    A literatura ainda carece de estudos que avalia os efeitos crônicos de exercícios resistidos nos níveis desta citocina, porém parece que este tipo de atividade física modifica o comportamento tanto da expressão desta citocina quanto sua concentração no plasma em repouso.

3.     Interleucina 1 (IL1)

3.1.     Estrutura e função

    Assim como o TNFα, a IL1 é sintetizada principalmente por fagócitos mononucleares ativados, porém ao contrário do TNFα pode ser produzido também por vários tipos celulares tais como neutrófilos, células epiteliais (queratinócitos) e células endoteliais1.

    Suas funções fisiológicas são semelhantes às do TNFα e dependem da quantidade de citocina produzida, mostrando o efeito redundante destas citocinas. Em baixas concentrações, atua como mediador da inflamação local, aumentando a expressão de moléculas de superfície que medeiam a adesão de leucócitos. Em grandes quantidades, entra na circulação sanguínea e exerce funções sistêmicas juntamente com TNFα, tais como febre, síntese de proteínas e desgaste metabólico. Porém, ao contrário do TNFα, mesmo em concentrações muito elevadas de IL1 não se observa choque séptico ou apoptose celular1.

    Assim como TNFα, níveis plasmáticos elevados de IL1 estão associados com algumas enfermidades tais como hipertriglicerilemia, baixos níveis de HDL e altos níveis de LDL na circulação, hipertensão arterial pela ativação do sistema renina-angiotensina, e síndrome metabólica.

    A interleucina 1 possui, dois tipos de receptores da superfamília Ig, um responsável pela transdução de sinal intracelular e outro (IL1ra – receptor antagonista de IL1) que inibe a transdução de sinal de IL1.

    Assim, no estudo de IL1 sempre deve-se considerar seus efeitos complementares e redundantes do TNFα e torna-se importante verificar os efeitos do exercício sobre a expressão gênica e níveis plasmáticos de IL1.

3.2.     Efeitos gerais do exercício aeróbio e resistido

    A interleucina 1 é uma citocina de caráter pró-inflamatório e o exercício físico agudo geralmente, não eleva sua concentração. Isto pode ser parcialmente explicado pelo fato da atividade física aumentar os níveis de IL1ra (receptor antagonista de IL1) que, por sua conformação, consegue ligar-se a esta citocina, porém, IL1ra não faz transdução de sinal para que IL1 atue, deixando, então, esta interleucina desativada22.

    Entretanto, alguns estudos demonstram que a atividade física crônica parece diminuir os níveis plasmáticos desta citocina. O exercício aeróbico crônico tem demonstrado diminuição dos níveis de IL1. Por exemplo, CHEN e colaboradores5 verificaram o efeito de 4 semanas de treinamento aeróbio em ratos wistar submetidos a uma hora de exercício físico na esteira, com velocidade de 21 m.min-1, e freqüência semanal de 5 dias. Após o treinamento, os animais receberam injeção de LPS (estimulador de choque séptico) e os animais que exercitaram tiveram um aumento significativamente menor de IL1 do que os animais controle, mostrando que o exercício físico aeróbio em animais atenua a resposta séptica após injeção de LPS.

    Dessa maneira, o exercício físico aeróbio parece exercer função positiva nos níveis plasmáticos de IL1, porém, pouco se tem pesquisado sobre os efeitos do exercício resistido nos níveis de IL1, mas pode-se considerar que os efeitos devem ser parecidos com os estudos que analisaram os níveis de TNFα, uma vez que essas citocinas têm funções e comportamentos bem parecidos.

4.     Interleucina 6 (IL6)

4.1.     Estrutura e função

    A interleucina 6 é produzida por fagócitos mononucleares, células do endotélio vascular, fibroblastos e outras células em resposta a microorganismos e outras citocinas, especialmente IL1 e TNFα. Sua fórmula funcional constitui de um homodímero, com cada subunidade contendo quatro α-hélices. É uma citocina que atua tanto no sistema imune inato quanto adaptativo, tendo como principais funções biológicas a síntese de proteínas na fase aguda da inflamação pelos hepatócitos; estimulação da produção de neutrófilos e; crescimento de linfócitos B que se diferenciam em produtores de anticorpos1.

    A concentração plasmática de IL6 em repouso é de aproximadamente 1pg/ml, mas pode atingir 10.000 pg/ml em resposta a infecções sistêmicas severas13. Aumentos menos expressivos podem ser encontrados em doenças inflamatórias e infecciosas, enquanto pequenos aumentos crônicos nos níveis de IL6 plasmático de repouso está associado com obesidade, baixo nível de atividade física, resistência insulínica, diabetes tipo 2, doença cardiovascular além de servir como preditor de mortalidade12.

4.2.     Efeitos gerais do exercício

    Desde o estudo inicial de NORTHOFF e BERG19 em 1991, muitos estudos tem demonstrado consistentemente que a concentração de IL6 aumenta em resposta ao exercício. Apesar da concentração plasmática das outras citocinas aumentarem durante o exercício físico, a IL6 é que demonstra aumento mais drástico11, provavelmente, por este motivo, a IL6 é atualmente a citocina mais estudada em relação aos efeitos do exercício.

    Após o exercício, a concentração plasmática de IL6 pode aumentar em até 100 vezes em relação ao valor basal, porém, aumentos menos drásticos são mais freqüentes11. Além disso, aumentos plasmáticos de IL6 não possuem linearidade com o tempo e o seu pico é atingido ao final do exercício ou em curtos intervalos pós-exercício, retornando rapidamente aos valores pré-exercício11.

    O aumento de IL6 induzida por exercício parece ocorrer pela contração muscular, que vem sendo apontada como principal local de síntese de IL611. Em resposta ao exercício, aumento de conteúdo de mRNA de IL6 no músculo que contrai pode ser detectado após 30 minutos de exercício e parece que quanto maior a massa muscular utilizada durante o exercício maior o aumento de IL621, demonstrando a importância da contração muscular no aumento de IL6 durante o exercício.

4.2.1.     Exercício aeróbio

    A combinação do modo, intensidade e duração do exercício determinam a magnitude do aumento plasmático de IL6. Porém, a duração do exercício parece ser o parâmetro que mais influencia o aumento de IL611. Um exemplo clássico e extremo que podemos citar é o aumento das concentrações de IL6 plasmático de 8000 vezes, em relação ao valor basal, após ultramaratona de 246 Km com média de prova de 32 h18.

    Os níveis de IL6 também se correlacionam com a quantidade de massa muscular exigida durante a atividade física, dessa maneira, observa-se que a corrida é o exercício que mais eleva a concentração de IL6 pós-exercício11.

    Em relação à adaptação ao treinamento aeróbio, estudos epidemiológicos têm sugerido uma relação inversa entre quantidade de atividade física e níveis plasmáticos basais de IL620. Essa relação foi verificada em alguns estudos longitudinais, como o de KOHUT e colaboradores17 em que 32 idosos, com média de 64 anos, foram submetidos a 10 meses de treinamento aeróbio, com intensidade de 65 à 80% da reserva de freqüência cardíaca, e verificou-se diminuição nos níveis basais de IL6 após o período de treinamento. Outro estudo com esquiadores profissionais, mostrou que durante a temporada de treinamento, seus níveis basais de IL6 foi menor do que no período de férias destes atletas23. Portanto, o exercício aeróbio regular e crônico parece exercer um papel importante na redução dos níveis basais de IL6.

4.2.2.     Exercício resistido

    Há alguns anos a magnitude do aumento de IL6 era relacionada à microlesão muscular, porém, atualmente, sabe-se que o exercício excêntrico está associado com aumentos de IL6 de forma similar aos exercícios concêntricos. Porém, as contrações excêntricas levam a picos de IL6 mais tardios e a recuperação aos níveis normais é mais demorada2.

    Existem poucos estudos analisado os efeitos do treinamento resistido sobre a IL6. Podemos citar um estudo em que se analisou o conteúdo de mRNA de IL6 após um teste de 3h de extensão de joelho com carga de 50% da carga máxima, antes e após 10 semanas de treinamento com o mesmo exercício, 5 vezes por semana, 1 hora por dia. Observou-se que no primeiro teste (antes do treinamento) houve aumento de 76 vezes do valor de repouso, enquanto no segundo teste (após o treinamento) o valor de conteúdo de mRNA de IL6 aumento em apenas 8 vezes10. Estes dados sugerem um efeito adaptativo do treinamento resistido na diminuição do aumento de IL6 pós exercício.

5.     Interações entre as citocinas durante o exercício

    A concentração plasmática de citocinas é pequena e em alguns casos difícil de ser detectada. Este fato acontece por que, geralmente, na circulação sanguínea essas citocinas desencadeiam funções supressoras do sistema imune, tanto na inflamação excessiva quanto em desordens neuro-endócrino-metabólica sistêmicas. Dessa maneira, PETERSEN e PEDERSEN22, sugerm, que inflamação sistêmica crônica de baixa intensidade (do inglês cronic low-grade systemic inflamation) estão fortemente associados com as doenças crônico-não-transmissíveis, tais como aterosclerose, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e resistência insulínica.

    Uma das formas de prevenção conhecida de todas essas enfermidades é prática regular de atividade física. As primeiras citocinas na cascata, são TNFα e IL1, citocinas pró-inflamatórias, logo após na continuação da cascata vem a IL6, tida como pró e anti-inflamatória, e após isso, segue a liberação de IL1ra e sTNF-R classificados como fatores anti-inflamatórios22. Geralmente, após o exercício agudo, não há aumento das citocinas pró-inflamatórias (IL1 e TNFα). Isto pode ser parcialmente explicado pelo aumento de IL6 que induz a síntese dos receptores antagônicos de IL1 e TNFα (IL1ra e sTNF-R, respectivamente) e ainda, de outras citocinas anti-inflamatórias4. Porém, independentemente de IL6, o exercício por si só consegue suprimir de outras maneiras a entrada destas citocinas pró-inflamatórias no plasma. Por exemplo, em camundongos Kcnockout para o gene de IL6, houve modesta diminuição dos níveis de TNFα de repouso após exercício16. Isto sugere que existem dois mecanismos de atenuação de pequenos níveis inflamatórios sistêmicos. Um IL6 dependente e outro IL6 independente.

    Assim é importante a análise conjunta desta cascata de citocinas, pois suas funções tanto nas adaptações agudas quanto crônicas ao exercício físico, são de caráter complementar e interativo.

6.     Considerações finais

    O exercício físico crônico geralmente age de maneira positiva sobre todas citocinas citadas. Em relação à TNF e IL1, atua, principalmente na diminuição dos níveis plasmáticos à medida que a atividade física se torna crônica. Na fase aguda do exercício estas citocinas parecem não aumentar, em função do aumento de seus receptores inibitórios (sTNF-R e IL1-ra), exercendo, dessa maneira, importante papel na prevenção e tratamento de doenças crônico não transmissíveis.

    A IL6, na fase aguda, aumenta tanto em exercícios aeróbios quanto em de força. Esse aumento expressivo, tem uma explicação biológica, já que através dele pode-se induzir a síntese de fatores anti-inflamatórios, tais como sTNF-R, IL1-ra e IL10, protetores de possíveis danos causados pela excesso de citocinas pró-inflamatórias na circulação sanguínea. Cronicamente, tanto o exercício de força quanto o aeróbio parecem diminuir seu nível plasmático basal.

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