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Pesquisa da qualidade de vida dos portadores de 

hipertensão arterial na cidade de Pedra Bonita, MG

Investigación sobre la calidad de vida de los portadores de hipertensión arterial en al ciudad de Piedra Bonita, MG

 

*Médico, Faculdade de Minas – Faminas, Muriaé/MG

**Aluna do Curso de Farmácia, Faminas

***Enfermeira Especialista, Faculdade de Minas – Faminas, Muriaé/MG

****Coordenadora do Curso de Enfermagem, Faminas, Muriaé/MG

*****Fonoaudióloga, mestranda em Ciências da Reabilitação, Unec, MG

******Doutor em Ciências Médicas, UCP-RJ

(Brasil)

Daniel Almeida da Costa, Msc*

Katya Gomes Coelho Vitor**

Gisele Simas dos Santos***

Soraya Lucia do Carmo da Silva Loures, Msc****

Lina Claudia Pereira Lopes*****

Marcus Vinicius de Mello Pinto, Dr.Sc*****

acostta@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A hipertensão arterial é uma doença cardiovascular considerada uma das principais causas de mortalidade na população brasileira, por isso é considerada um dos problemas mais graves em saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Este estudo tem por objetivo a avaliação do impacto que esta patologia traz na qualidade de vida das pessoas que residentes no município de Pedra Bonita – MG. O estudo trata-se de uma abordagem quantitativa e qualitativa onde o instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário WHOQOL-ABREVIADO (Programa de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde – Genebra), aplicado a 20 pacientes (50% do sexo masculino e 50% feminino), portadores de hipertensão arterial. Pode-se verificar que apesar da condição desta patologia houve uma modesta quebra na qualidade de vida dos entrevistados. A conscientização de um trabalho multiprofissional com uma abordagem holística fica evidente neste trabalho.

          Unitermos: Qualidade de vida. Hipertensão arterial. Saúde

 

Abstract

          Hypertension is a disease considered a major cause of mortality in the Brazilian population, so it is considered one of the most serious problems in public health. According to the World Health Organization (WHO), quality of life is the individual's perception of their position in life in the context of culture and value system in which they live and in relation to their goals, expectations and concerns. This study aims to assess the impact that this disease brings the quality of life of people living in Pedra Bonita - Minas Gerais. The study is a quantitative and qualitative approach where the instrument of data collection used was the WHOQOL-BRIEF (Mental Health Program of the World Health Organization - Geneva), applied to 20 patients (50% male and 50% female) suffering from hypertension. You can verify that despite the condition of this disease was a modest drop in quality of life of respondents. The awareness of a multidisciplinary approach with a holistic approach is evident in this work.

          Keywords: Quality of life. Hypertension. Health

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    A hipertensão arterial é uma doença cardiovascular considerada uma das principais causas de mortalidade na população brasileira, por isso tem sido um dos problemas mais graves da saúde pública. Porém a maioria das pessoas desconhece que são portadoras desta doença, considerada “silenciosa”, uma vez que na maioria dos casos não apresenta sintomas. È uma doença crônica, que quando não tratada adequadamente, pode levar a complicações que podem atingir outros órgãos e sistemas (BUSATO, 2001).

    O tratamento para controle da hipertensão arterial inclui, além da utilização de medicamentos, a modificação de hábitos de vida (PÉRES et al., 2003). Mediante a tal afirmação, pode-se afirmar que o doente vascular crônico passa por uma modificação na sua vida alterando sua rotina individual, causando um impacto em sua qualidade de vida.


    Além da mudança de hábito, os medicamentos anti-hipertensivos, segundo Cavalcante (2007) afirma que:

    “Paralelamente aos benefícios proporcionados aos pacientes hipertensos tratados adequadamente, medicamentos anti-hipertensivos podem produzir efeitos adversos que interferem no prazer de viver.”

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (CAVALCANTE et al., 2007).

    Este estudo tem como objetivo a avaliação do impacto que essa doença traz na qualidade de vida das pessoas que sofrem desta patologia no município de Pedra Bonita – MG.

Hipertensão arterial

    Nos últimos tempos, tem-se visto um crescente aumento de pessoas portadoras deste mal silencioso, que é praticamente assintomático, dizimando milhares de brasileiros. Segundo Péres et al.(2003) as doenças crônicas não transmissíveis, dentre elas a hipertensão arterial, apresentaram um aumento significativo nas últimas décadas, sendo responsáveis por um grande número de óbitos em todo o país.

    De acordo com Kearney et al. apud Melochiors (2008), mais de um quarto da população adulta no mundo sofre de hipertensão arterial e a tendência, com o advento de novos fármacos e o avanço na medicina, é deste valor aumentar para 29% até 2025, alcançando 1,56 bilhões de adultos.

    “Quando não tratada adequadamente, a hipertensão arterial pode acarretar graves conseqüências a alguns órgãos alvos vitais, e como entidade isolada está entre as mais freqüentes morbidades do adulto. Desse modo, a doença hipertensiva tem se constituído num dos mais graves problemas de saúde pública” (Péres et al., 2003).

    A hipertensão arterial sistêmica (HAS), decorrente do aumento na pressão arterial (PA) no indivíduo, é uma enfermidade crônica que apresenta altos custos médicos e socioeconômicos decorrentes principalmente das complicações que a acompanha, sendo essas o acidente vascular cerebral (AVC), a doença arterial coronariana, a insuficiência cardíaca, a insuficiência renal crônica e a doença vascular de extremidades (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA apud MELCHIORS, 2008).

    No Brasil, a prevalência da HAS, estimada em 1997 pelo Ministério da Saúde foi de 20%, numa população de aproximadamente 20 milhões de pessoas com idade ≥ 20 anos. Além disso, a HAS foi responsável por 80% dos casos de AVC, 60% dos casos de infarto agudo do miocárdio (bastante acima dos dados mundiais que foram em 2003, 40% e 25%, respectivamente) e 40% das aposentadorias precoces. Essa enfermidade significa um custo de 475 milhões de reais, gastos com 1,1 milhões de internações por ano (SECRETARIA DE POLÍTICAS DA SAÚDE; GUIMARÃES apud MELCHIORS, 2008).

    Para saber a melhor maneira de se tratar e controlar a PA é necessário o entendimento dos fatores de risco para HAS, sendo os mais importantes: idade, gênero, etnia, nível sócio-econômico, obesidade, taxa de ingestão de sal, consumo de bebida alcoólica, sedentarismo e tabagismo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA apud MELCHIORS, 2008).

Tratamento

    O tratamento da hipertensão arterial é basicamente medicamentoso, entretanto é associado a uma mudança de hábitos como o sedentarismo, fumo e etilismo.

    Para Jardim et al apud Péres (2003):

    “Modificar hábitos de vida envolve mudanças na forma de viver e na própria idéia de saúde que o indivíduo possui. A concepção de saúde é formada por meio da vivência e experiência pessoal de cada indivíduo, tendo estreita relação com suas crenças, idéias, valores, pensamentos e sentimentos.” 

    Ainda segundo o mesmo autor, uma das dificuldades encontradas no atendimento a pacientes hipertensos é a falta de aderência ao tratamento, 50% dos hipertensos conhecidos não fazem nenhum tipo de tratamento e dentre aqueles que o fazem, poucos têm a pressão arterial controlada. Entre 30 a 50% dos hipertensos interrompem o tratamento no primeiro ano e 75%, depois de cinco anos.

    Pierin apud Péres (2003), afirma que o fato dos pacientes conhecerem, de forma inadequada ou parcialmente, os riscos da hipertensão não controlada pode ser um fator que favorece a não adesão ao tratamento.

    Outro fator preocupante no tratamento da hipertensão é levantado por Maciel apud Péres (2003). Ele afirma que é freqüente médicos e pacientes rotularem a doença hipertensiva de “emocional” e “nervosa”, evidenciando um reducionismo na atribuição das causas da hipertensão arterial. Tal fato poderia ser explicado pela inexistência de uma causa física identificável.

    A inadequação e a desatenção por parte de profissionais de saúde juntamente com pacientes levam ao quadro acima explicitado por Péres (2008) onde a hipertensão arterial tornou-se um dos mais graves problemas de saúde.

    Concomitante a isso, temos ainda a situação que Péres (2008) expõe logo abaixo:

    “Considerando o dado de alguns sujeitos tomarem a medicação alopática quando acham que a pressão está alta, nota-se uma possível manipulação do tratamento medicamentoso, ou seja, os pacientes acabam atribuindo a si a capacidade de administrar o medicamento quando julgam ser necessário. Esta automanipulação do tratamento medicamentoso parece indicar uma irregularidade na ingestão dos medicamentos.”

    Um meio de mudar este estado é apontado por Laplatine apud Péres (2008), onde ele afirma que o uso de práticas populares no cuidado com a saúde significa a percepção da doença de um modo mais abrangente, promovendo a totalização homem-natureza-cultura, ou seja, a popularização e a diminuição da distância entre paciente e profissionais de saúde.

Qualidade de vida

    Martins et al. (1996) afirma que a qualidade de vida é um conceito intensamente marcado pela subjetividade, envolvendo todos os componentes essenciais da condição humana, quer seja físico, psicológico, social, cultural ou espiritual.

    Para Minayo et al. (2000) Qualidade de Vida (QV) é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar.

    Seidl & Zannon (2004) explica que o conceito QV é um termo utilizado em duas vertentes: na linguagem cotidiana, por pessoas da população em geral, jornalistas, políticos, profissionais de diversas áreas e gestores ligados às políticas públicas; no contexto da pesquisa científica, em diferentes campos do saber, como economia, sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia e demais especialidades da saúde.

    “Na área da saúde, o interesse pelo conceito QV é relativamente recente e decorre, em parte, dos novos paradigmas que têm influenciado as políticas e as práticas do setor nas últimas décadas. Os determinantes e condicionantes do processo saúde-doença são multifatoriais e complexos. Assim, saúde e doença configuram processos compreendidos como um continuum, relacionados aos aspectos econômicos, socioculturais, à experiência pessoal e estilos de vida. Consoante essa mudança de paradigma, a melhoria da QV passou a ser um dos resultados esperados, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas públicas para o setor nos campos da promoção da saúde e da prevenção de doenças.” (Seidl & Zannon, 2004)

    Castellanos apud Minayo et al. (2000) explica que a noção de QV transita em um campo semântico polissêmico: de um lado, está relacionada a modo, condições e estilos de vida; de outro, inclui as idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana.

    Minayo et al. (2000) ainda expõe da tentativa de alguns em sintetizar, ou melhor, medir a qualidade de vida criando seu respectivo indicador. Muitos, afirmam que a saúde seria o principal indicador de qualidade de vida. Entretanto foi desenvolvido o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que, de forma simplificada, soma e divide por três os níveis de renda, saúde e educação de determinada população.

    O termo qualidade de vida relacionada à saúde é muito freqüente na literatura e tem sido usado com objetivos semelhantes à conceituação mais geral.

    Seidl & Zannon (2004) ainda explicitam que existem duas tendências quanto à conceituação do termo na área de saúde são identificadas: qualidade de vida como um conceito mais genérico, e qualidade de vida relacionada à saúde:

    “No primeiro caso, QV apresenta uma acepção mais ampla, aparentemente influenciada por estudos sociológicos, sem fazer referência a disfunções ou agravos. Ilustra com excelência essa conceituação a que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu estudo multicêntrico que teve por objetivo principal elaborar um instrumento que avaliasse a QV em uma perspectiva internacional e transcultural. A QV foi definida como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Um aspecto importante que caracteriza estudos que partem de uma definição genérica do termo QV é que as amostras estudadas incluem pessoas saudáveis da população, nunca se restringindo a amostras de pessoas portadoras de agravos específicos.”

    Para Auquier et al. apud Minayo et al. (2000) a expressão qualidade de vida ligada à saúde é definida como o valor atribuído à vida, ponderando pelas deteriorações funcionais; as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença, agravos, tratamentos; e a organização política e econômica do sistema assistencial.

    A definição mais utilizada e, definida por muitos como a mais abrangente, é a da Organização Mundial de Saúde (OMS) que Cavalcante et al. (2007) cita: “qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”

Metodologia

    Este estudo trata-se de uma abordagem quantitativa e qualitativa. Segundo Oliveira (1977):

    “a abordagem quantitativa, conforme o próprio termo indica, significa quantificar opiniões, dados, nas formas de coleta de informações, assim como também com o emprego de recursos e técnicas estatísticas desde as mais simples, como percentagem, média, moda, mediana e desvio padrão, até as de uso mais complexo, como coeficiente de correlação, análise de regressão etc., normalmente utilizado em defesas de teses.”

    Oliveira (1977) também afirma que a abordagem qualitativa não tem a pretensão de numerar ou medir unidades ou categorias homogenias. São vários os autores que não estabelecem qualquer distinção entre os métodos quantitativos e qualitativos, tendo em vista que a pesquisa quantitativa também é qualitativa.

    Relacionado à abordagem estatística dos resultados, será utilizando o teste t. Segundo Vieira (1980), esse tipo de abordagem bioestatística é utilizada para comparar duas amostras, sendo no caso do presente estudo, amostra masculina e feminina.

    “É, provavelmente, o mais usado para comparar duas amostras, duas colunas de dados entre si; mesmo quando é aplicada a uma única amostra, uma coluna de dados, ele compara a média da mesma com uma média hipotética teórica, extraída da literatura ou de outro experimento da população” (DORIA FILHO, 1999).

    O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário WHOQOL-ABREVIADO (Programa de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde – Genebra) contendo 26 perguntas, aplicado a 20 pacientes (50% do sexo masculino e 50% feminino), portadores de hipertensão arterial e moradores da zona urbana do Município de Pedra Bonita – MG, dados estes provenientes do cadastro de pacientes hipertensos do Centro de Saúde Rita Ferreira de Oliveira deste Município.

    Os entrevistados assinaram o termo de consentimento e livre esclarecido.

Instrumento de pesquisa

    O presente instrumento de coleta de dados, o WHOQOL-ABREVIADO (Programa de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde – Genebra), é largamente utilizado em todo o mundo. Este questionário foi elaborado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para avaliar a qualidade de vida das pessoas. Fleck et al. (1999) afirma:

    “A busca de um instrumento que avaliasse qualidade de vida dentro de uma perspectiva genuinamente internacional fez com que a Organização Mundial da Saúde desenvolvesse um projeto colaborativo multicêntrico. O resultado deste projeto foi à elaboração do WHOQOL-100, um instrumento de avaliação de qualidade de vida, composto por 100 itens.”

    Sua utilização no Brasil ocorreu após sua tradução do inglês para o português, mantendo uma profunda semelhança com o original.

    “A formulação das questões no original em inglês, seguindo uma metodologia que enfatiza a clareza, objetividade e simplicidade, facilitou o processo de tradução. Optou-se por manter palavras de uso corrente na língua portuguesa. A retrotradução para o inglês por um tradutor independente mostrou que a versão em português guardava forte semelhança com a versão do instrumento original” (FLECK et al. 1999).

Apresentação de dados e discussão

    Será utilizada uma abordagem seguindo o próprio questionário WHOQOL-ABREVIADO, ou seja, a abordagem os domínios.

    “O reconhecimento da multidimensionalidade do construto refletiu-se na estrutura do instrumento baseada em seis domínios: domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade / religião / crenças pessoais” (FLECCK et al. 1999).

    Diferente da citação acima os resultados serão divididos em cinco domínios, visto que o questionário utilizado é o WHOQOL-ABREVIADO e não o WHOQL-100, que possui mais áreas abordadas por ele.

    “O WHOQOL-bref consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original (...). Assim, diferente do WHOQOL-100 em que cada uma das 24 facetas é avaliada a partir de 4 questões, no WHOQOL-bref cada faceta é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à versão abreviada foram extraídos do teste de campo de 20 centros em 18 países diferentes”(FLECK ET AL., 2000).

    Os domínios a serem trabalhados serão: físico; psicológico; relações sociais; meio ambiente e global. Ressalta-se que cada domínio abrange um determinado número de perguntas que estão contidas no questionário.

Domínio físico

    O domínio físico consta das abordagens feitas pelas questões: 3; 4; 10; 15; 16; 17; 18. Tais questões abordam necessidades e sentimentos como: dor, tratamento médico, disposição em geral, mobilidade e repouso.

    Relacionado à dor, 65% responderam que a dor física não impede de realizar tarefas. Tal resultado se torna, portanto, algo surpreendente, pois observa-se que a dor não é um mecanismo, pelo menos pra a maioria dos entrevistados, que os limita funcionalmente.

    “A dor é considerada como uma experiência genuinamente subjetiva e pessoal. A percepção de dor é caracterizada como uma experiência multidimensional, diversificando-se na qualidade e na intensidade sensorial, sendo afetada por variáveis afetivo-motivacionais (SOUSA, 2002).”

    Quando foram indagados sobre a necessidade de tratamento médico para levar sua vida diária, 55% dos entrevistados assinalaram “mais ou menos”. Tal resultado obtido pode ser justificado por se tratar de pessoas com hipertensão arterial, considerada uma doença crônico-degenerativa.

    Relacionado à vitalidade para realizarem tarefas cotidianas, 50% responderam possuírem muita. Em uma pesquisa, Castro & Car (2000) fizeram uma abordagem semelhante. Eles descobriram que em relação ao cotidiano da vida, após a descoberta da hipertensão arterial, houve diferentes comportamentos e reações entre os doentes estudados: a manutenção da "normalidade" da vida, sem nenhuma modificação, mesmo quando os hábitos eram considerados exagerados foi a mais assinalada.

    Em relação à capacidade de locomoção por parte dos entrevistados, 70% afirmaram possuírem uma capacidade muito boa de locomoção. Pode-se evidenciar que a capacidade de movimentação não foi alterada, supõe-se que tais entrevistados não permitiram que a doença evoluísse para possíveis complicações como infarto e, principalmente, AVC onde tal fisiologia é alterada.

    Um ponto negativo neste domínio foi o repouso. A maioria dos entrevistados, 50%, afirmaram estarem insatisfeitos com o sono.

    A satisfação das áreas: desempenho de atividades diárias (40%) e capacidade para o trabalho (35%) foram consideradas pelos entrevistados como satisfatórias.

    Ao serem analisados os dados verificou-se uma diferença significativa entre homens e mulheres entrevistados. Constatou-se que os entrevistados do gênero feminino possuem o presente domínio superior ao do gênero masculino, conforme demonstrado no gráfico abaixo.

    Deve-se lembrar que a hipertensão arterial é uma doença que afeta diretamente o doente em diversas áreas. Mendes & Trevizan apud Castro & Car (2000) afirmam que a doença pode “trazer complicações sérias para o indivíduo que, comprometem seu estado físico, causam incapacidades e exigem mudanças em seu estilo de vida. Seu controle adequado promove a redução de complicações e melhora na expectativa de vida.”

    Para explicitar tal diferença apresentada, Zaitune et al. (2006) afirma que:

    “(...) as mulheres geralmente têm maior percepção das doenças, apresentam maior tendência para o autocuidado e buscam mais assistência médica do que os homens, o que tenderia a aumentar a probabilidade de ter a hipertensão arterial diagnosticada.”

Domínio psicológico

    O domínio psicológico consta das abordagens feitas pelas questões: 5; 6; 7; 11; 19; 26. Tais questões abordam temas como: aproveitar a vida, sentido de viver, concentração, aceitação da aparência física, satisfação pessoal e sentimentos negativos.

    Questionadas sobre o aproveitamento da vida, 40% afirmaram aproveitar bastante a vida. Outro ponto importante de assinalar é a resposta obtida quando indagados sobre a percepção de sentido da vida. 55% responderam que a vida, para eles, possui bastante sentido.

    Abordados sobre concentração, 40% responderam conseguir concentrar-se “mais ou menos”. Pode-se explicar o resultado acima, citando Maciel apud Péres et al. (2003), onde afirma:

    “(...) é freqüente médicos e pacientes rotularem a doença hipertensiva de “emocional” e “nervosa”, evidenciando um reducionismo na atribuição das causas da hipertensão arterial. Tal fato poderia ser explicado pela inexistência de uma causa física identificável.”

    Outros fatores consideráveis para serem analisados é a aceitação da aparência, onde encontrou-se que a maioria, 45%, responderam aceitá-la completamente e 35% afirmaram estarem satisfeitos pessoalmente.

    A questão que abordava sobre a freqüência de sentimentos negativos que o entrevistado tivera nas duas últimas semanas, 55%, assinalaram que tiveram tais sentimentos algumas vezes.

    O tratamento de uma doença crônica é muito mais que um método para controlar sintomas, lidar com incapacidades ou adaptações para as mudanças psicológicas e sociais que uma doença incurável a longo prazo traz para a vida das pessoas atingidas e seus familiares, sendo um processo de mudança muito complicado (WOOG apud CASTRO, CAR, 2000).

    Os resultados obtidos foram comparados e concluiu-se que não existe diferença significativa entre homens e mulheres em relação ao domínio psicológico.

    Tal resultado pode ser verificado quando se analisa o gráfico 2 que vem a seguir.

    Ressalta-se que pacientes hipertensos, independentemente do gênero, sofrem alterações psicológicas consideráveis. Martins, França e Kimura (1996) afirmam:

    “As doenças crônico-degenerativas relacionam-se, portanto, às condições de vida, trabalho e consumo da população, “gerando atenções psicossociais e, conseqüentemente, o desgaste e a deterioração orgânico-funcional, com especial sobrecarga dos sistemas nervoso, endócrino e cardiovascular”. Neste contexto, um número cada vez maior de indivíduos com este padrão de afecções tende a compor a clientela dos serviços de saúde.”

    Sigerist apud Buss (2000) afirma que “a saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e descanso.”

Domínio relações sociais

    O presente domínio foi abordado pelo questionário através das questões: 20; 21; 22. Tais questões abordam a satisfação dos entrevistados quanto a: relações pessoais, sexual e amizades.

    As relações pessoais foi o item onde 40% dos entrevistados declaram estarem muito satisfeitos, logo em seguida as amizades onde 60% responderam estarem satisfeitos, enquanto 40% responderam estarem nem satisfeito, nem insatisfeito com sua vida sexual.

    O resultado comparativo obtido neste domínio mostra que não existe diferença significativa entre homens e mulheres entrevistados. O gráfico 3 aborda e demonstra tal fato.

    No contexto em que o doente portador de hipertensão arterial para tal domínio. Black, Matassarin-Jacobs apud Castro, Car (2000) aponta a difícil adaptação da pessoa ao estado de doente:

    “Psicologicamente, o indivíduo trava uma luta consigo mesmo onde aceitar ou negar o diagnóstico implicará em enfrentamento ou fuga da morte. Cada indivíduo utiliza um determinado tipo de mecanismo que auxilia na adaptação à doença.”

    Dentro desta afirmação, pode-se exemplificar e considerar a fuga de vários pacientes da vida social. Não somente isso, mas que o estado de doente proporciona uma mudança no estilo de vida dessas pessoas independe de gênero.

Domínio meio ambiente

    Deve ser ressaltado que o domínio explicitado neste tópico se refere ao ambiente em o entrevistado se encontra, ou seja, sua residência e proximidades.

    As questões que abordam tal domínio são: 8; 9; 12; 13; 14; 23; 24; 25. Elas consideram situações como: segurança, ambiente saudável, finanças, informatividade, lazer, condições de moradia, acesso aos serviços de saúde e meio de transporte.

    Em relação à segurança, 55% dos entrevistados afirmaram terem bastante segurança na vida do dia-a-dia. Pode-se, a partir desses resultados, relacionar que a maioria dos pacientes entrevistados têm esperança de continuarem levando sua vida normalmente, independemente de possuírem a doença.

    O questionamento direcionado ao ambiente físico onde mora, 50% afirmaram viverem em um ambiente bastante saudável.

    Quando o foco mudou-se para as finanças, encontramos 55% dos entrevistados afirmarem estar muito pouco satisfeitos. Para Martins, França e Kimura (1996) afirmam em sua pesquisa que:

    “a percepção da qualidade de vida, para os entrevistados, parece ser fortemente determinada por fatores de ordem sócio-econômica, uma vez que a doença crônica interrompe ou dificulta a inserção no processo produtivo, diminuindo as possibilidades de acesso aos bens de consumo.”

    Já o acesso à informação sobre a doença que os acometia, 60% escolheram a categoria mais ou menos (médio). Este dado é de fundamental importância para o tratamento e controle da doença, pois pessoas mal informadas são àquelas que abandonam o tratamento mais facilmente. Fica evidenciado tal fato quando Péres et al. (2003):

    “Para que o processo educativo seja eficaz, é necessário conhecer a atitude do indivíduo a respeito da doença da qual é portador. Muitas vezes, os costumes sobre as práticas de saúde, os valores e as percepções do paciente em relação à doença e ao tratamento são diferentes daqueles pensados pelos profissionais da saúde, já que são dois grupos socioculturais, lingüísticos e psicológicos distintos. Torna-se, então, necessário conhecer e considerar as práticas populares de saúde para uma maior efetividade do atendimento.”

    Em relação às práticas e oportunidade de lazer, 40% afirmaram não realizarem nenhuma atividade recreativa. Deve-se entender que o paciente hipertenso passa por períodos de adaptação à doença. Atividades recreativas e esportivas ajudam o paciente a mudar o seu foco na doença, além de auxiliar no tratamento da mesma.

    “para que seu tratamento atinja a eficácia desejada que é a diminuição da morbidade e da mortalidade cardiovascular, se faz necessária a adoção de medidas que interferem no estilo de vida dos hipertensos e que, comprovadamente, favorecem a redução da pressão arterial. Tais medidas são: redução do peso corporal, da ingestão do sal e do consumo de bebidas alcoólicas; prática de exercícios físicos com regularidade; e a não utilização de drogas que elevam a pressão arterial”(CASTRO, CAR, 2000)

    A abordagem direcionada às condições de moradia e meio de transporte, evidenciou que a maioria dos entrevistados afirmou estarem satisfeitos. Em relação à acessibilidade ao serviço de saúde, grande parte respondeu estarem muito satisfeitos.

    Ao analisar-se e comparar os resultados obtidos, verificou-se que não existe diferença significativa relacionada ao gênero.

    O Whoqol Group definiu, segundo Fleck et al. (1999), qualidade de vida como sendo “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

    A questão ambiental é de fundamental importância na recuperação e interfere na qualidade de vida dessas pessoas. Minayo, Hartz e Buss (2000) afirmam: “Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial.”

    Sigerist apud Buss (2000) afirma também que “a saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e descanso.”

Domínio global

    O presente domínio foi abordado pelas questões 1 e 2 contidas no questionário. Tais perguntas avaliam a percepção dos entrevistados em relação à qualidade de vida e saúde.

    Relacionado à qualidade de vida, 55%,ou seja, a maioria, avaliou sua qualidade de vida como “boa”.

    Em relação à saúde, os entrevistados foram indagados sobre a satisfação que possuem da saúde. As repostas foram interessantes devido há contradição encontrada: 45% afirmaram estarem satisfeitos com a saúde que possuíam enquanto 35% responderam estarem insatisfeitos.

    Dentro deste contexto, Auquier et al. apud Minayo, Hartz e Buss (2000) define qualidade de vida na saúde “como o valor atribuído à vida, ponderado pelas deteriorações funcionais; as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença, agravos, tratamentos; e a organização política e econômica do sistema assistencial.”

    Ao comparar-se os resultados obtidos verificou-se que não há diferença significativa entre homens e mulheres neste domínio, sendo demonstrado pelo gráfico 5.

    Ressalta-se uma abordagem feita por Melchiors (2008) onde relata que:

    “Estudos comprovam que o melhor controle da PA tem um impacto positivo na QV e é um fator independente para a melhora na QV dos pacientes, este fato deve-se porque o não controle da PA traz uma maior reação de ansiedade e depressão e uma pobre QV impede o controle da PA e o tratamento farmacológico.”

    A tabela 1, demonstra os resultados obtidos pelo teste t ao compararmos as respostas explicitadas pelos entrevistados levando em consideração o gênero.

Tabela 1. Comparação entre os valores médios apresentados pelos homens e pelas mulheres quanto aos domínios avaliados

Domínios

Média

p valor

Homens

Mulheres

Físico

3,24

4,09

0,02*

Psicológico

3,57

3,90

0,265 NS

Relações Sociais

3,57

3,83

0,42NS

Meio Ambiente

3,35

3,35

1,00NS

Global

3,20

3,75

0,33NS

* Significativo a 5% de probabilidade pelo teste t.

NS Não significativo a 5% de probabilidade pelo teste t.

Considerações finais

    A hipertensão arterial sendo uma doença crônico-degenerativa produz ao indivíduo portador uma série de disfunções fisiológicas levando a uma mudança brusca na sua rotina diária.

    Pode-se verificar que os hipertensos residentes do município de Pedra Bonita – MG, objeto deste estudo, apesar da condição de doente, possuem uma modesta quebra em sua qualidade de vida.

    Ao comparar-se os resultados nota-se que houve apenas no domínio físico uma diferença significativa da percepção da qualidade de vida do respectivo tópico.

    A partir disso pode-se verificar que a doença crônica altera independente de gênero, o estilo de vida do portador e de sua percepção da vida e saúde.

    Vários fatores abordados na pesquisa obtiveram um índice de satisfação e aceitação muito elevados. Grande parte deste resultado pode ser graças à atuação na atenção primária à saúde no município, visto que grande parte dos entrevistados afirmaram estarem muito satisfeitos à acessibilidade ao serviço de saúde oferecido no município.

    Entretanto um ponto que deva ser trabalhado é o aspecto psicológico deste doente, podendo ser comprovado pelas respostas obtidas nas questões do sono e presença de sentimentos negativos.

    A conscientização de um trabalho multiprofissional com uma abordagem holística fica evidente neste trabalho. Não adianta apenas tratar a clínica ou a sintomatologia, apesar da hipertensão ser uma doença aparentemente assintomática.

    O trabalho psicológico com pacientes portadores de doenças crônicas deve ser levado em consideração, pois um paciente com uma satisfação completa do seu “eu”, diminui possíveis complicações e seqüelas que porventura venham evoluir, diminuindo o gasto público para tais tratamentos.

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revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
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