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O treinamento das técnicas avançadas no tênis: um estudo descritivo-exploratório com jovens tenistas de 15 a 18 anos

El entrenamiento de las técnicas avanzadas en el tenis: un estudio 

descriptivo-exploratorio con jóvenes tenistas de 15 a 18 años

The training of advanced techniques in tennis: a describing-exploratory 

studying with young tennis players from 15 to 18 years old

 

*Licenciado em Educação Física

**Doutor em Ciências do Desporto

***Mestre em Ciências do Desporto

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Brasil)

Alessandro Garbin*

Carlos Adellar Abaide Balbinotti**

Marcelo Meirelles da Motta***

alegarbinzao@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O treino das técnicas avançadas no tênis é o tema central dessa pesquisa. O objetivo central é descrever a freqüência de treinamento dos principais golpes que compõem esse conteúdo de treino: Golpes de Preparação (GP) e Golpes de Definição (GD). O instrumento utilizado foi o Inventário do Treino Técnico-desportivo do Tenista (ITTT-12) (BALBINOTTI, 2003). Os resultados apresentaram índices favoráveis aos GP, o que determina a especialização precoce de um grupo de golpes em relação ao outro. Isso porque, a literatura recomenda que todos esses golpes sejam treinados nessa fase da formação do jovem tenista. Espera-se que esses resultados possam contribuir não apenas para a comunidade acadêmica, mas também para os treinadores que atuam diretamente nas quadras de treinamentos.

          Unitermos: Tênis. Técnicas avançadas. Treinamentos

 

Abstract
         
The training of advanced techniques in tennis is the focus of this research. The main objective is to describe the frequency of training of key strokes that make up the content of training: Preparation Strokes (GP) and Definition Strokes (GD). The instrument used to prepare this research was the Inventory of technical training of the Tennis player (ITTT-12) (BALBINOTTI, 2003). The found results were favorables to the rate of Preparation Strokes, which determines the early specialization from this kind of strokes, in comparation with the other. This is because, the literature recommends that all these strokes need to be used in the training of young tennis players development stage. It is hoped that these results may contribute not only to the academic community, but also for the coaches who work directly in tennis training.

          Keywords: Tennis. Advanced techniques. Training

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    O tênis é uma modalidade desportiva que se utiliza de técnicas complexas para responder as exigências impostas nas competições. Isso porque nas competições de alto nível o jogo é disputado numa velocidade tal que dificulta ao extremo o posicionamento do corpo para executar a técnica padrão de movimento. De acordo com Schönborn (1999), trata-se de um esporte em que o grau de incerteza antes de cada jogada é um dos maiores em comparação com vários outros esportes, devido ao fato de cada situação vivenciada pelos tenistas em cada ponto ser única, principalmente, pelas seguidas trocas de direção, profundidade, rotação e velocidade da bola impostas pelos jogadores.


    Para que haja êxito na execução dessas técnicas de nível avançado, é necessário que o tenista entenda para que, como, quando e porque ele pode e deve executá-las (BRECHBUHL; ANKER, 2000; GROPPEL, 1993). Logicamente, para isso se faz indispensável mais uma vez a atuação do professor e/ou treinador no sentido de fornecer essas informações e subsídios práticos que contribuirão de forma decisiva no processo da aprendizagem e do treinamento dessas técnicas específicas do tenista (CRESPO; COOK, 1999; GARCIA; FUERTES, 1996).

    Para isso, faz-se necessário que, ao buscar maiores consistência e aprimoramento das técnicas já estabelecidas, os treinadores montem exercícios que se aproximem da realidade encontrada no jogo. Isso, sem dúvida, fará com que os tenistas escolham os golpes mais coerentes, correspondentes às ações prévias efetuadas pelo adversário (MONTE; MONTE, 2007; SAVIANO, 1999; DENT; PANKHURST, 1998; MOLINA, 1995). Nesse sentido, o planejamento e a organização das sessões de treinamento técnico no tênis devem contemplar, inclusive, a compreensão do jogo, bem como a adaptabilidade necessária para tomar corretas decisões durante as partidas, como requisitos cruciais para a obtenção de algum sucesso na prática dessa modalidade (CRESPO; COOKE, 1999; GARCIA; FUERTES, 1996). Esse trabalho que visa o desenvolvimento do tenista de forma global e completa através do jogo, é conhecido como GBA (Game Based Aproach) ou GBC (Game Based Coaching), no qual o treinador deve buscar elaborar exercícios e atividades específicos situacionais que se aproximem da realidade do jogo de tênis, além da individualidade e estilo de jogo próprios de cada tenista (Pankhurst, 1999; Wilson, 2009).

    Com o objetivo de chegar a essa condição de bom nível de compreensão e domínio dos fatores relacionados ao jogo, fica clara a importância da obtenção de uma técnica desportiva de nível avançado. Essa condição impõe algumas características centrais: (a) máximo grau de efetividade; (b) bom controle na realização do movimento; (c) mínimo gasto energético possível; (d) redução nos riscos de lesão; (e) solução ótima de todas as situações da partida; (f) capacidade de ajustar o próprio jogo às distintas condições do contrário e do tipo de piso (ZLESAK, 1989).

    A busca pelo alto nível de performance técnica passa por três fases do treinamento: a técnica básica, o aperfeiçoamento técnico e a técnica avançada (ZLESAK, 1994a; ZLESAK, 1994b). Essas três fases são essenciais na construção de uma técnica eficaz. Se, por algum motivo, houver uma má condução desse processo, as conseqüências futuras podem dificultar seriamente um bom desempenho do atleta. O desenvolvimento do tenista em cada uma dessas fases deve ser respeitado, e o processo deve ser progressivo e bem consolidado.

    No que diz respeito, especialmente, às técnicas avançadas no tênis – foco desse estudo – de acordo com Groppel (1993), trata-se do domínio da quadra obtido através de combinações de golpes ou jogadas, que permitam que o tenista explore as inúmeras variações de potência, precisão e rotação dos golpes e, inclusive, dos diferentes posicionamentos possíveis de receber as bolas golpeadas pelo adversário.

    Há dois grupos de golpes que são considerados indispensáveis para o desenvolvimento das técnicas avançadas no tênis: Os Golpes de Preparação (GP) e os Golpes de Definição (GD) (BALBINOTTI, 2003; BALBINOTTI; MOTTA, 2009a; BALBINOTTI et al., 2008). No instrumento utilizado neste estudo (ITTT - 12), os GP são representados por seis situações específicas de preparação para a definição do ponto que está sendo disputado (ex: troca de bolas para aproximação a rede); enquanto que os GD são constituídos de seis situações de golpes que buscam a definição do ponto propriamente dito (ex: devolução de saque como golpe vencedor). Todas as 12 situações ocorrem com muita freqüência durante a disputa dos pontos na quadra de jogo.

    Cabe ressaltar que é indispensável para qualquer tenista de nível avançado o treinamento regular e sistemático dessas 12 ações, pois são consideradas elementares para a performance do tenista desse nível. Isso não significa que o tenista tenha que desempenhar com maestria todas essas ações, mas se o desempenho de um desses grupos de golpes – GP ou GD – estiver aquém do esperado, certamente, os resultados competitivos em médio e longo prazo serão frustrados (BALBINOTTI, 2003; BALBINOTTI; MOTTA, 2009a; BALBINOTTI et al., 2008; MONTE; MONTE, 2007; SAVIANO, 1999; DENT; PANKHURST, 1998; MOLINA, 1995). Portanto, é necessário que a freqüência de treinamento desses golpes seja regular e equilibrada para, dessa forma, não permitir o desequilíbrio básico na formação do tenista de alto nível.

    Tendo como base essas concepções norteadoras do treinamento das técnicas avançadas dos tenistas, o objetivo central desse estudo é investigar se os tenistas de 15 a 18 anos que participam das competições oficiais da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) treinam com a mesma freqüência os GP e GD.

2.     Metodologia

2.1.     Caracterização do estudo

    Trata-se de um estudo descritivo-exploratório de natureza transversal, que se fundamenta na premissa de que problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio da análise e descrição objetiva de determinados fenômenos (THOMAS; NELSON, 2002).

2.2.     População e amostra

    A população desta pesquisa foi formada por tenistas (15 a 18 anos de ambos os sexos), que participam de competições federadas. O número amostral foi de 60 tenistas que, na ocasião, estavam participando de um torneio de âmbito nacional organizado pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT).

    A maioria dos tenistas também declarou participar de competições oficiais da Confederação Brasileira de Tênis a mais de três anos. Dos 60 indivíduos da amostra total, 20% (12 sujeitos) disseram que participam dessas competições a menos de três anos. Este fato dificulta a existência da possibilidade de relacionar os dados apurados nesse estudo com o fato de uma parte da amostra se revelar estreante em competições, o que poderia de alguma forma sugerir que essa pouca experiência servisse de explicação para eventuais diferenças percebidas quanto ao objetivo do estudo.

2.3.     Instrumento

INVENTÁRIO DO TREINO TÉCNICO-DESPORTIVO DO TENISTA (ITTT-12)

 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

 Nome:

 Idade:

 Ranking FGT/CBT/ITF:

 Categoria em que compete:

 Participa de competições oficiais: a 3 anos ou menos - a mais de 3 anos

 Treinos semanais: até 2 vezes por semana - mais de 2 vezes por semana

 Com os itens a seguir, pretende-se obter informações com relação à freqüência de treino das diferentes jogadas realizadas pelos tenistas durante os últimos 12 meses. Cada questão corresponde a um tipo de jogada específica no Tênis de Campo. Responda, dentro dos parênteses e de acordo com a escala abaixo, com que freqüência você tem treinado as jogadas apresentadas.

 O valor 1 indica que você tem treinado as jogadas com pouquíssima freqüência. Já o valor 5 indica que você tem treinado com muitíssima freqüência. Os valores 2, 3, e 4 indicam graus intermediários de freqüência de treino. Note apenas que, à medida que aumenta o número, aumenta proporcionalmente a freqüência que você treina as jogadas. Não existem respostas certas ou erradas, o objetivo é apenas obter informações com relação a sua freqüência de treino.

 Durante a prática de seus treinos na quadra de tênis, em sua opinião, qual a freqüência que você executa as jogadas abaixo relacionadas?

 1) pouquíssima freqüência

 2) pouca freqüência

 3) com freqüência

 4) muita freqüência

 5) muitíssima freqüência

 01. ( ) Saque como golpe vencedor.

 02. ( ) Saque para aproximação à rede.

 03. ( ) Saque para o domínio do ponto do fundo da quadra.

 04. ( ) Saque com variação de potência e rotação.

 05. ( ) Devolução de saque como golpe vencedor.

 06. ( ) Devolução de saque para aproximação à rede.

 07. ( ) Devolução de saque para o domínio do ponto do fundo de quadra.

 08. ( ) Devolução de saque com variações de potência e rotação.

 09. ( ) Troca de bolas para um golpe vencedor.

 10. ( ) Troca de bolas para aproximação à rede.

 11. ( ) Troca de bolas para o domínio do ponto do fundo da quadra.

 12. ( ) Troca de bolas com variações de potência e rotação.

    Para esta pesquisa foi utilizado o Inventário do Treino Técnico desportivo do Tenista (ITTT-12) desenvolvido por Balbinotti (2003). No ITTT-12 constam 12 itens que pretendem verificar duas dimensões associadas ao treino técnico-desportivo do tenista – Golpes de Preparação (GP) e Golpes de Definição (GD). As respostas aos itens do ITTT-12 foram dadas conforme uma escala de tipo Likert, bidirecional, graduada em cinco pontos, indo de “pouquíssima freqüência” (1) a “muitíssima freqüência” (5). O ITTT-12 foi construído e validado (BALBINOTTI, et al., 2004; BALBINOTTI, 2003) conforme os princípios comumente aceitos na literatura internacional (ANGERS, 1992; ASÇI; ASÇI; ZORBA, 1999; BARTOLOMEW, et al., 1998; EKLUND; WHITEHEAD; WELK, 1997; BISQUERA, 1987). Nestes estudos foram apresentados de forma detalhada os seguintes resultados do processo de proposição e validação do instrumento: análises de itens, matriz de correlação entre os itens de cada uma das duas subescalas, estrutura fatorial exploratória e validação de conteúdo dos itens.

    No cabeçalho deste instrumento estão presentes algumas questões que têm por objetivo trazer informações sócio-demográficas dos participantes da pesquisa como: nome, categoria em que disputa, tempo de participação em competições, ranking oficial e tempo de prática semanal.

2.4.     Procedimentos

    O projeto deste estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na Reunião nº 14, Ata nº 94, de 06 de setembro de 2007, sendo aprovado sob o número 2007721. Após sua aprovação, procedeu-se a aplicação do ITTT-12 de duas maneiras: individualmente ou em pequenos grupos. Cada participante utilizou, em média, 15 minutos para responder aos itens do ITTT-12. Os critérios adotados no recrutamento e compilação dos dados finais foram os seguintes: tenistas brasileiros infanto-juvenis (15 a 18 anos) dos sexos masculino e feminino, que participaram de competições oficiais da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) no ano de 2009.

    A aplicação do ITTT-12 ocorreu no período de descanso entre os jogos, durante os eventos realizados no Estado do Rio Grande do Sul, entre agosto e setembro de 2009 e em visitas realizadas aos clubes e academias onde estes atletas realizam seus treinamentos.

    O banco de dados foi construído no pacote estatístico SPSS, versão 15.0. Os dados obtidos foram analisados conforme as etapas a seguir. Primeiramente, foram calculados os índices que sustentaram a aderência à normalidade dos dados (Kolmogorov-Smirnov com correção Lilliefors, Assimetria, Achatamento). Foram calculados, também, os índices de tendência central, não-central e dispersão. Por fim, foram comparadas as médias por meio do Teste t pareado.

3.     Apresentação e discussão dos resultados

    Com o objetivo de responder adequadamente à questão central desta pesquisa, realizou-se a exploração dos escores obtidos pelo ITTT-12, seguindo princípios largamente aceitos e descritos na literatura especializada (BISQUERA, 1987; BRYMAN; CRAMER, 1999; PESTANA; GAGEIRO, 2003; REIS, 2000; SIRKIN, 1999). Cumprida essa etapa, segue a apresentação das estatísticas descritivas e das comparações das médias.

3.1.     Estatísticas descritivas gerais

    Para descrever os resultados obtidos, apresentaremos as estatísticas de tendência central (média, mediana, média aparada a 5% e a moda); de dispersão (desvio-padrão e amplitude total); e de distribuição da amostra (normalidade, assimetria e achatamento). Inicialmente, apresentaremos as estatísticas de tendência central e de dispersão da amostra geral. Como se pode observar na Tabela 2, os índices obtidos nas médias da freqüência de treinamento das dimensões técnicas Golpes de Preparação (GP) e Golpes de Definição (GD) dos tenistas variaram consideravelmente; em valores nominais, a dimensão mais praticada foi Golpes de Preparação (média de 24,38) em relação aos Golpes de Definição (média de 18,38).

Tabela 1. Estatísticas de tendência central, de dispersão e distribuição

Dimensões

Categorias

Tendência Central e Não Central

Normalidade

Assimetria

Achatamento

(DP)

Mínimo/

Máximo

Med

Trimed

5%

Mod

K-S

gl

Sig

Skewness/EPs

Kurtosis/EPk

Golpes de Preparação

Geral

24,38 (3,54)

12 – 30

25

24,61

27

0,133

60

0,010

-3,77

2,89

Golpes de Definição

Geral

18,38 (3,22)

12 – 27

18

18,31

17

0,157

60

0,001

1,27

-0,63

    Em relação à dispersão da amostra, não houve uma grande variação entre o desvio-padrão das diferentes dimensões. Destaca-se, ainda, que em nenhuma dimensão o desvio-padrão ultrapassou a metade do valor nominal das médias, indicando que a variabilidade e a dispersão dos dados são satisfatórias. Foram testados os índices de normalidade da distribuição das dimensões, para o sexo masculino, através do cálculo Kolmogorov-Smirnov (p > 0,05), com correção Lilliefors. Seus resultados indicam que as dimensões apresentaram distribuições que aderem à normalidade. A análise da assimetria (-1,96 < Skewness/EPs < 1,96) e achatamento (-1,96 < Kurtosis/EPk < 1,96) das distribuições indicam que a dimensão “Golpes de preparação” apresentou distribuição assimétrica negativa platicúrtica e assimétrica positiva leptocúrtica na dimensão “Golpes de Definição”.

3.2.     Comparações das médias

    A fim de verificar o teste estatístico adequado para a realização da comparação das médias realizou-se, inicialmente, o teste de Mauchly. A partir deste teste foi possível verificar que a homogeneidade da variância do grupo total de atletas de tênis foi rejeitada (p < 0,01). Sendo assim, conduziu-se um teste t pareado com o intuito de verificar as diferenças entre os valores nominais observados. Nota-se que, a partir da Tabela 2, as diferenças são altamente significativas (p < 0,001) entre as dimensões GP e GD foram encontradas para a mostra geral, sempre favoráveis à dimensão GP.

Tabela 2. Comparações entre os escores das dimensões GP e GD dos tenistas

Dimensões Pareadas

t

gl

p

Definição – Preparação

-13,959

59

0,000

    Os resultados encontrados permitem algumas afirmações e discussões interessantes a respeito do tema central desta pesquisa. Alguns dados se aproximam bastante de referenciais teóricos presentes na revisão bibliográfica feita no início do estudo, sendo que a maior contribuição se revelou em alguns resultados bastante interessantes sobre a freqüência de treinamento dos GP e GD.

    Espera-se que estes resultados possam trazer indicativos que contribuam, principalmente, para os treinadores ligados ao treinamento de tenistas pertencentes não só à população investigada, mas também de outras faixas etárias e categorias de competidores de tênis.

3.3.     Amostra geral

    Os resultados das médias obtidas para a amostra geral nos mostram que a dimensão GP é praticada com maior freqüência durante os treinamentos dos tenistas do que a dimensão GD. Essa afirmação não chega a surpreender, já que os estudos de Balbinotti et al. (2003a; 2003b; 2004, 2008) e Motta (2009) já haviam demonstrado resultados semelhantes em trabalhos sobre tenistas infanto-juvenis e adultos, respectivamente.

    Os sujeitos da amostra, por se tratarem de competidores de nível nacional que fazem parte das duas últimas categorias infanto-juvenis que precedem o nível adulto profissional ou amador, constituem-se de tenistas que provavelmente já possuem certa experiência no tênis competitivo, apesar da pouca idade. Isso denota que eles já tenham uma boa noção de como funciona de forma mais aprofundada o “jogo de tênis” propriamente dito.

    Portanto, aspectos básicos da disputa de um jogo de tênis, como a regularidade, que consiste na ação de trocar bolas sem cometer erros não forçados (CRESPO; MILEY, 1999), e o controle dos golpes com variação de direcionamentos, profundidades e rotações, já são relativamente dominados pelos jovens tenistas, alvos do estudo. Isso explica a importância dada pelos treinadores e atletas ao treinamento dos GP percebida por meio dos resultados da aplicação do ITTT-12.

    Sem dúvida, esse é um ponto positivo a que se chega durante a análise dos resultados da amostra geral do trabalho. Aqui se demonstra uma correta condução das rotinas de treinamento em relação à técnica, pois muito mais vale a regularidade e a possibilidade de colocar o oponente em dificuldades, preparando os pontos com certa segurança, do que correr exagerados riscos tentando finalizar constantemente os pontos (BALBINOTTI; MOTTA, 2009b). E pelo o que dizem os números, esses jovens tenistas na sua maioria treinam exatamente nessa perspectiva.

    Mais um ponto que sustenta a importância do treinamento técnico de tenistas com ênfase nos GP é o fato de que quanto mais alto for o nível da competição, e por conseqüência dos adversários, maior a necessidade da utilização dos GP de forma eficiente para que se alcance um bom desempenho. Nessa fase de desenvolvimento técnico, somente manter a bola na quadra do adversário com regularidade sem cometer erros, porém sem maiores ambições táticas, já não é o suficiente para se conseguir sucesso (BALBINOTTI; MOTTA, 2009a; GROPPEL, 1993). Portanto, para conseguir bater adversários de maior estirpe, devido ao equilíbrio técnico percebido entre tenistas mais maduros tecnicamente, como é o caso dos sujeitos da presente pesquisa, se faz necessária uma maior freqüência de treinamento de GP em relação à GD.

    É importante lembrar, também, que a maioria das quadras de tênis existentes no Brasil é de saibro. Esse tipo de piso torna o quique da bola consideravelmente mais lento se comparados com uma quadra de piso duro (cimento) (BALBINOTTI et al., 2004; WOODS; FERNANDES, 2001; CRESPO; MILEY, 1999 ). Sendo assim, os GP se fazem mais uma vez extremamente importantes na disputa de pontos no tênis infanto-juvenil brasileiro, já que os GD são perceptivelmente mais difíceis de serem executados de forma indefensável nesse tipo de piso. Isso justifica mais uma vez a predominância do treinamento de GP por parte dos tenistas brasileiros com idade entre 15 e 18 anos.

    Por fim, um dado que gerou bastante surpresa foi a larga diferença das médias entre a freqüência de treino dos GP (23,38) e dos GD (18,38). Essa surpresa se deve à idéia inicial de que talvez os GD, por pressupor um nível de tênis mais próximo do profissional, com a presença de muitos winners (golpes vencedores) e jogadas plásticas efetuadas com muita potência e precisão, poderia ser praticado com maior freqüência do que foi constatado pelos resultados do trabalho. Especialmente para a população alvo da pesquisa, de jovens tenistas que muitas vezes se espelham em ícones do tênis de alto rendimento, essa assertiva é bastante realista. Porém, os dados estatísticos relativos à amostra geral demonstram uma menor frequência no treino dos GD.

    Ao analisarmos os pontos de discussão acima descritos, podemos perceber que uma mudança de concepção em relação ao desenvolvimento dos treinamentos técnicos dos tenistas brasileiros está acontecendo. Isso porque durante muito tempo, esses treinamentos específicos foram baseados em modelos desenvolvidos a partir da performance de atletas profissionais, sem relação direta com a realidade da população de tenistas com a qual se trabalha, bem como dos conteúdos relacionados a ela. O fato de os GP serem treinados com maior freqüência por tenistas de 13 a 16 anos (BALBINOTTI, 2003), de 15 a 18 anos (presente estudo) e por tenistas adultos federados (MOTTA, 2009), demonstra claramente que hoje em dia o trabalho de preparação técnica de tenistas competidores no Brasil está sendo desenvolvida de forma muito mais coerente e organizada do que em outros tempos. Afinal de contas, os pontos disputados nas partidas de tênis, na sua maioria, se decidem nos erros efetuados e não nas jogadas indefensáveis (MCGRAW, 2002; CRESPO; MILEY, 1999; WOODS; HOCTOR; DESMOND, 1995; GROPPEL, 1993), o que denota a importância de uma boa preparação das jogadas por meio de GP para que os tenistas atinjam um nível de jogo mais alto do que se encontram.

    Porém, devemos sempre lembrar que os treinadores, buscando desenvolver seus tenistas da forma mais coerente e completa possível, atualmente percebem que o ensino do tênis baseado no jogo (GBA – Game Based Aproach) é a melhor maneira de se trabalhar os aspectos técnicos, táticos, cognitivos, físicos e psicológicos inerentes ao jogo de tênis de forma realista , eficiente e motivante (ELDERTON, 2008). Assim sendo, para que o trabalho feito durante os treinamentos seja realmente pautado sob essa pespectiva, se faz necessário que muitas vezes os GP e os GD sejam treinados na mesma sequência de exercícios específicos, e de forma conjunta. Aqui denota-se a clara interdependência de ambas as dimensões de golpes, já que sem a prévia execução de consistentes e eficientes GP, dificilmente sobrarão bolas mais oportunas para que se execute GD; assim como a falta de domínio numa situação de definição do ponto na qual o GD é necessário, pode resultar na perda de diversas oportunidades de vitória em pontos importantes das partidas.

    Portanto, é importante ser dito neste momento, que este trabalho não tem como objetivo definir os GD como menos relevantes na preparação técnica adequada de tenistas. Os GD possuem sim grande importância na busca por melhores desempenhos e resultados, pois se efetuados de forma coerente, em momentos propícios da disputa dos pontos e das partidas, eles são de grande eficiência. Porém, o que não se pode esquecer é que sem a presença de GP executados de forma correta, dificilmente existirão GD precisos e indefensáveis (BALBINOTTI; MOTTA, 2009a; CRESPO; MILEY, 1999). Portanto, uma dimensão de golpes não pode ser considerada mais importante do que a outra, e sim diferente no que diz respeito ao momento, a forma e a freqüência com a qual deve ser praticada durante os treinamentos e competições, mesmo sendo executadas em sequência e/ou em conjunto durante a prática do tênis.

    Contudo, podemos entender como ponto primordial do desenvolvimento deste trabalho, o fato de que a grande maioria dos sujeitos do estudo, compreendidos na população de tenistas infanto-juvenis competidores de nível nacional com idade entre 15 e 18 anos, treina mais freqüentemente GP do que GD. Isso mostra a evolução em andamento que acontece no planejamento e acompanhamento dos treinos técnicos desses tenistas, o que pode ser bastante benéfico não só para a evolução desses indivíduos enquanto tenistas, mas também para o tênis brasileiro. Isto porque, se tivermos tenistas infanto-juvenis acompanhados e desenvolvidos de forma correta durante o processo de formação e aperfeiçoamento no tênis, com certeza no futuro poderemos esperar que tenhamos tenistas adultos jogando em um nível de tênis mais alto, seja no âmbito amador ou profissional.

Consideraçôes finais

    O desenvolvimento deste trabalho teve por finalidade, além de cumprir todos os pré-requisitos de um trabalho de natureza científica, a trazer à tona aspectos práticos da condução dos treinamentos de tenistas infanto-juvenis que venham a contribuir não apenas com a comunidade acadêmica, mas também com os profissionais que “fazem” o esporte acontecer na realidade. Buscou-se, também, analisar como acontece o treinamento técnico dos tenistas compreendidos na faixa etária relativa ao estudo (15 a 18 anos), no sentido de oferecer subsídios teóricos e estatísticos para os treinadores e profissionais que atuam diretamente com essa população. Essa faixa etária, indubitavelmente, é de grande importância para o tênis nacional, já que compreende as idades que precedem o nível de desempenho mais alto exigido nas categorias adultas, sejam elas profissionais ou não.

    Como principais conclusões do trabalho, podemos citar o fato até certo ponto surpreendente, e extremamente positivo, de os GP serem largamente praticados com maior freqüência do que os GD pela população que é alvo deste estudo. Isso deixa evidente um bom desenvolvimento dos treinamentos técnico-desportivos no tênis por parte de treinadores e atletas, quebrando os paradigmas relacionados à busca errônea de modelos copiados de tenistas de alto rendimento como “carro-chefe” das rotinas de treinamento.

    Pôde-se perceber, também, relativizando os resultados aqui encontrados com estudos no qual se utilizou o mesmo instrumento metodológico, o ITTT-12, porém, com populações diferentes, que os resultados foram muito semelhantes no que diz respeito a uma maior freqüência de treinamento dos GP em relação aos GD. Isso expressa perfeitamente a premissa de que os GP têm um papel fundamental no que diz respeito ao trabalho mais qualificado de cada ponto jogado, de cada partida disputada, e, conseqüentemente de um bom desempenho do tenista na quadra de tênis.

    Apesar disso, não se pode esquecer, como já foi referido anteriormente, que a prática regular dos GD é importantíssima. Porém é natural que sejam menos treinados do que os GP, já que acontecem com menor freqüência também durante os jogos.

    Por fim, recomenda-se que novos estudos relacionados à freqüência de treinamento dos GP e GD sejam desenvolvidos com populações de tenistas de outras faixas etárias e categorias de níveis técnicos, no sentido de enriquecer ainda mais o conhecimento existente sobre o treinamento técnico-desportivo de tenistas.

Referências

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revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
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