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Protocolo de intervenção de equoterapia para idosos

Protocolo de intervención en terapia equina para personas mayores

 

Universidade Católica de Brasília

(Brasil)

Thais Borges de Araujo | Nélida Amorim da Silva

Juliana Nunes Costa | Márcio de Moura Pereira

Marisete Peralta Safons

fisioterapeuta.thais@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Este trabalho tem por objetivo desenvolver, testar e apresentar à comunidade científica uma metodologia de equoterapia, no Programa Educação/reeducação. Metodologia: 7 indivíduos idosos (2 homens, 5 mulheres; idade entre 60 e 84 anos), completaram este estudo. Foram realizadas 16 sessões de equoterapia, com 2 sessões semanais de 30 minutos. Os conteúdos dos exercícios foram analisados e classificados dentro da estrutura dividida em aquecimento, treinamento específico e relaxamento. Resultados: A seqüência proposta no experimento mostrou-se de fácil aprendizagem para os idosos, baixa dificuldade para execução, motivando melhor interação entre cavalo e cavaleiro, baixo estresse durante as práticas, melhor segurança e prazer na atividade. Durante todo o programa, apenas uma falta foi registrada. Conclusão: A equoterapia ministrada na forma do programa educação/reeducação, com exercícios simples e seqüências curtas é um exercício que desperta reatividade positiva, grande aderência, longa permanência, relatos de sucesso na prática e autonomia do praticante idoso.

          Unitermos: Equoterapia. Idoso. Exercício

 

Abstract

          Objectives: The aim of this study is to develop, to test and to present to the scientific community an Equotherapy methodology in the Program Education/re-education. Methodology: 7 aged individuals (2 men, 5 women; age average between 60 to 84 years old), who had completed this study. 16 sessions of Equotherapy had been carried through, with 2 weekly sessions of 30 minutes. The contents of the exercises had been analyzed and classified inside of the structure divided in heating, specific training and relaxation. Results: The proposal sequence in the experiment showed an easy learning for the aged individuals, low difficulty for execution, motivating a better interaction between horse and knight, low stress during the practical ones, better security and pleasure in the activity. During all the program, only one lacks was registered. Conclusion: The Equotherapia given in the form of the program education/re-education, with simple exercises and short sequences is an exercise that gives positive reactivity, great tack, long permanence, successes stories in practical and the autonomy of the aged practitioner.

          Keywords: Equotherapia. Aged. Exercise

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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1.     Introdução

    A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e necessidades especiais (ANDE-BRASIL, 1989). A oscilação rítmica da parte traseira do cavalo estimula principalmente o mecanismo de reflexo postural do cavaleiro, resultando no treinamento do equilíbrio e coordenação (JANURA et al. 2009; ARAUJO et al. 2009).

Equoterapia
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    O cavalo possui ciclos de movimentação análogos aos ciclos do homem durante sua andadura natural, o passo. O paralelismo entre o andar humano e o do cavalo é evidenciado pelo movimento tridimensional de ambos (FERREIRA, 2003; NÓVOA et al. 2005; COPETTI et al. 2007; TOIGO et al. 2008;). Os impulsos locomotores da traseira do cavalo são transferidos ao cavaleiro numa freqüência de 90 a 110 impulsos por minuto ou 1.5 a 1.8Hz, num plano tridimensional (JANURA et al. 2009).

    Os primeiros relatos dos exercícios eqüestres, como forma de reeducação psicomotora, são datados de 458a.C., por Hipócrates, também considerado como o pai da medicina. Em seu Livro das Dietas, aconselhava a equitação para “regenerar a saúde e preservar o corpo humano de muitas doenças”, afirmava ainda, que a equitação fazia com que os músculos melhorassem o seu tônus. Gustavo Zander, fisiatra sueco, em 1890, foi o primeiro a afirmar que a transmissão de 180 oscilações por minuto estimulam o sistema nervoso simpático. Em 1917, o Hospital Universitário de Oxford, fundou o primeiro grupo de equoterapia, para atender o grande número de feridos da 1ª guerra mundial, com idéia fundamental de lazer e quebra de monotonia (apostila ANDE 2007).

    No Brasil, o método foi utilizado de forma não sistemática até o ano de 1989 quando foi fundada a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), que cunhou o termo “equoterapia” em português com o intuito de evitar que esse método terapêutico se proliferasse de forma desordenada, dificultando no futuro, sua normatização, ordenação, controle e até mesmo, o reconhecimento científico. A palavra equoterapia engloba todos os conceitos de reabilitação e educação feitos por meio do cavalo.

    A equoterapia é composta por quatro (4) programas básicos:

  • Hipoterapia;

  • Educação/reeducação;

  • Pré-esportivo e

  • Prática esportiva para-eqüestre.

    A hipoterapia utiliza o cavalo basicamente como instrumento cinesioterapêutico, onde o praticante se beneficia essencialmente do estimulo tridimensional (movimentos nos eixos ântero-posterior, médio-lateral e longitudinal) do animal, para melhora dos ajustes tônicos e equilíbrio corporal.

    No programa de educação/reeducação, o cavalo continua propiciando benefícios pelo seu movimento análogo ao movimento humano, no entanto, o praticante exerce alguma atuação sobre o cavalo, tendo este uma ação cinesioterapêutica e pedagógica.

    O programa pré-esportivo, o praticante exerce maior influência sobre o animal, sendo o mesmo, principalmente, um instrumento de inserção social.

    Por fim, no programa prática esportiva para-equestre, tem por finalidade preparar a pessoa com deficiência para competições.

2.     Objetivo

    Este trabalho teve por objetivo desenvolver, testar e apresentar à comunidade científica uma metodologia de equoterapia, no Programa Educação/reeducação, com idosos, com o objetivo de:

  • Melhorar o equilíbrio de pessoas idosas;

  • Prevenir quedas em idosos;

  • Propiciar a indivíduos idosos vivências e experiências de encontro, cooperação e superação;

  • Valorizar a prática da atividade física em idosos com ênfase na saúde e prevenção.

3.     Métodos

    O estudo piloto de implantação da equoterapia foi realizado no Centro Básico de Equoterapia do Instituto Cavalo Solidário, localizado no Distrito Federal. No presente estudo, foram realizadas 8 semanas de equoterapia, 2 vezes por semana, totalizando 16 sessões, com duração de 30 minutos cada.

3.1.     Seleção da amostra

    De acordo com a Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos, a participação no presente estudo foi voluntária, sendo um termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos participantes. Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da Universidade de Brasília (UnB) e aprovado, sob o número 0079.0.012.000-09.

    Participaram do estudo 7 idosos (2 do sexo masculino e 5 do sexo feminino) selecionados entre idosos da comunidade do Guará, cidade satélite do Distrito Federal, com idades entre 60 e 84 anos, capazes de realizar atividades de vida diária de forma independente, com liberação médica para montaria e dispostos a participar do estudo.

    Como critérios de inclusão foram selecionados idosos com: capacidade para entender ordens simples; montar de forma independente (apenas com auxílio da plataforma de montaria); apresentar atestado médico para prática desta atividade.

    Foram excluídos do estudo idosos com mais de 90 Kg (o excesso de peso do cavaleiro compromete a qualidade da biomecânica do passo do cavalo) e idosos que apresentavam fobia ao animal.

3.2.     Protocolo de intervenção

3.2.1.     Escolha do cavalo

    Foram selecionados cavalos que transpistam, ou seja, aqueles em que naturalmente, durante o passo, os membros posteriores ultrapassam as marcas feitas pelos anteriores, esta escolha visa obter cavalos que produzam um estímulo tridimensional mais intenso em membros inferiores e cintura pélvica do cavaleiro. Um animal que possui essa biomecânica do passo permite um movimento rítmico e cadenciado, com maior amplitude de deslocamento de sua garupa, conseqüentemente, maior amplitude de deslocamento tridimensional.

    A cada passo, são realizados 12 movimentos: 4 médio-laterais, 4 ântero-posteriores e 4 longitudinais. Esses movimentos apresentam uma cadência, em média, de 60 passos por minuto. A cada minuto de exercício, são executados no corpo do praticante, em média, 720 movimentos tridimensionais.

3.2.2.     Escolha do material de montaria

Os materiais básicos para a montaria são:

  • Sela;

  • Manta;

  • Cilhão;

  • Cabeçada com bridão e focinheira;

  • Coleira ou peitoral e

  • Rédeas

    Apesar da manta propiciar menor perda da propagação dos estímulos provocados pelo cavalo sobre a pelve do cavaleiro, por efeito de segurança, já que se trata de uma população idosa, optou-se pela utilização de sela. Foram utilizados estribos mais baixos, de modo que o centro das articulações da coluna cervical, coluna vertebral, ombros, quadris, joelhos e tornozelos ficassem alinhados, facilitando, pois, o enfoque do tratamento na melhora do equilíbrio postural em ortostatismo.

3.2.3.     Exercícios sob o cavalo

    A sequência de exercícios sempre foi iniciada com um aquecimento com a duração de 10 minutos, que consistiram de exercícios de alongamento integrados com exercícios respiratórios e de consciência corporal.

    Em seguida realizou-se o treinamento específico, com duração de 15 minutos, onde foram feitos os seguintes exercícios:

  1. Mudanças de direção ritmadas: chamadas de movimentos em serpentina. O objetivo dessa atividade foi estimular maior amplitude de dissociação de cinturas pélvica e escapular. Importante movimento da marcha humana, implicador do equilíbrio dinâmico.

  2. Variações de piso (areia, asfalto e gramado): objetivando ativação dos barorreceptores, estimulando assim, propriocepção.

  3. Variações de terreno (plano, acidentado e inclinado): objetivando intensificar movimentos de anteroversão e retroversão pélvica.

  4. Montaria lateral: o idoso sentava lateralmente na sela, intensificando a ação do cavalo no plano frontal, intensificando o deslocamento da cabeça do praticante e, portanto, a ação do sistema vestibular.

  5. Subir e descer nos estribos: com intuito de promover fortalecimento muscular de membros inferiores.

  6. Grito de incentivo: ao final de cada exercício o mediador falava “Uipe” e os idosos respondiam “Rá”, com intuito de descontrair a terapia e realizar uma expiração forçada, aumentando assim o volume corrente de ar nos pulmões.

    Na última fase da prática (5 minutos finais), foi realizado o relaxamento ou volta à calma, que consistiu de exercícios de descontração psíquica e muscular, favorecendo a diminuição da contração muscular excessiva, além de educar as sensações proprioceptivas. Foram realizados exercícios respiratórios, alongamento e interação afetiva com o cavalo ainda montado (passar a mão, afagar o animal, etc.).

4.     Resultados

    A seqüência proposta no experimento mostrou-se de fácil aprendizagem para os idosos, baixa dificuldade para execução, motivando maior interação entre cavalo e cavaleiro, baixo estresse durante as práticas, maior segurança e prazer na atividade. Durante todo o programa, apenas uma falta foi registrada.

5.     Conclusão   

    A equoterapia ministrada na forma do programa educação/reeducação, com exercícios simples, seqüências curtas é um exercício que desperta reatividade positiva, grande aderência, longa permanência, relatos de sucesso na prática e autonomia do praticante idoso.

Bibliografia

  • ANDE-BRASIL. Apostila do Curso de Equitação para Equoterapia, agosto, 2007;

  • ARAUJO, T.B.; LEMOS, L.F.C.; ARAUJO, R.; SANTANA, L.A.; LOPES, M.; FRANK, C.R. Equoterapia para Melhora do Equilíbrio Postural em Amputados de Membro inferior: um Estudo Piloto. EFDeportes.com, Revista Digital, n135, 2009. http://www.efdeportes.com/efd135/equoterapia-para-amputados-de-membro-inferior.htm

  • COPETTI,F.; MOTA, C.B.; GRAUP,S.; MENEZES,K.M.; VENTURINI,E.B. Comportamento angular do andar de crianças com síndrome de Down após intervenção com Equoterapia. Revista Brasileira de Fisioterapia. v11, p503-507, 2007.

  • FERREIRA, F. A. Intervenção da Equoterapia na Reabilitação Promovendo Habituação e Compensação do Sistema Vestibular. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Fisioterapia) – Universidade Católica de Goiás – UCG. 2003.

  • JANURA.M.; PEHAM.C; DVORAKOVA.T; ELFMARK.M. An Assessment of the Pressure Distribution Exerted by a Rider on the Back of a Horse During Hippotherapy. Human Movement Science, v28, p387-393, 2009.

  • NÓVOA, A.; FONTES, C.E; DIAS, R.P. Atuação da Equoterapia na Espondilite Anquilosante. Revista brasileira de reumatologia, v. 45, n. 2, p. 17-18, mar/abr 2005.

  • TOIGO.T; JÚNIOR,E.C.P.L; ÁVILA,S.N. O Uso da Equoterapia como recurso Terapêutico para Melhora do Equilíbrio Estático em Indivíduos da Terceira Idade. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v11, n3, p391-403, 2008.

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