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Esportes e escola na educação 

de jovens: conciliação ou antagonismo?

Deportes y escuela en la educación de los jóvenes. ¿Acuerdo o antagonismo?

 

*Autor. Formado pela Universidade Católica de Brasília – Brasília DF

**Co-Autores. Formados pela Faculdade da Serra Gaúcha – Caxias do Sul RS

***Co-Autores. Docentes da Universidade Católica de Brasília – Brasília DF

(Brasil)

Victor Eduardo Rodrigues de Oliveira*

Gabriel Seben de Medeiros**

Odális Valerino Fernandez***

Ronaldo Pacheco de Oliveira Filho***

Lucas Maldonado**

gabriel_seben@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar se o praticante de esporte consegue ter tempo de conciliar a prática esportiva e o estudo, em uma amostra compostas por 36 sujeitos, pertencentes ao sexo masculino com faixa etária entre 15 e 18 anos e praticantes de modalidades esportivas coletivas. Os sujeitos estão cursando o ensino médio e também o ensino superior. Participaram também do estudo três professores. Os sujeitos envolvidos na pesquisa responderam o questionário pertinente a suas funções, em sua maioria perguntas de caráter objetivo. Foi verificado que grande parte dos alunos-atletas, “às vezes”, tem dificuldades de conciliar os estudos ao esporte. Em outra questão, a maioria dos alunos-atletas respondeu que “às vezes” tem tempo de antecedência para estudar para as provas escolares. Também para a maioria dos alunos, o esporte ajuda no dia-a-dia escolar. Neste estudo, podemos verificar que os alunos-atletas encontram dificuldades em conciliar a prática esportiva como os estudos. Como a maioria da amostra treina mais de três vezes por semana, aconselha-se uma melhor organização de tempo para que a carga horária de treinamento não atrapalhe o desempenho escolar. Propõe-se neste estudo o apoio, aconselhamento e organização temporal entre pais e treinadores, para que aja uma excelência no desenvolvimento intelecto e esportivo dos sujeitos acima citados ou qualquer outrem que venha a participar de atividades esportivas extra-escolares.

          Unitermos: Estudo. Esporte. Alunos-atletas

 

Abstract

          This study had the objective to verify if the practitioner of the sport can reconcile the practice of sport and study, in one example with 36 persons, male aged between 15 and 18 years and practicing team sports. All these persons are enrolled with high school and higher education. Also attending this study were three teachers. All of these students answered a questionnaire, relevant to their functions, that mostly questions were simple. It was found that most student-athletes, "sometimes", is struggling to reconcile the studies to sports. On another issue, most student-athletes said they "sometimes" have time to advance to studying for exams school. Also for most students, the sport helps in school. In this study, we found that the student-athletes find it difficult to reconcile the practice of sports and studies. Like the majority train more than three times a week, it is advisable to better organization of time for the workload of training without interfering with school performance. It is proposed in this study support, advice and temporal organization of parents and coaches, to act as excellent in sports and intellectual development of the subjects mentioned above or any others that may participate in sports activities out of school.

          Unitermos: Study. Sport. Student-athletes

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    O esporte é um fenômeno que chama a atenção de muitos jovens em nosso cotidiano. Tais indivíduos começam a praticar o esporte devido às influências de amigos, da mídia e também da própria vivência que, neste caso, pode ser enquadrado às brincadeiras lúdicas realizadas em grande parte na infância.

    Independentemente de raça, cor, sexo e idade, o esporte é um fenômeno social que tem atraído a atenção de muitos a praticá-lo. Vários são os motivos pelos quais as pessoas o procuram; quer seja pelo lazer, quer seja pela saúde, quer seja por hobby, o esporte é freqüentemente associado a um estilo de vida sadio (BENTO, 2001).

    O esporte tem a capacidade de integrar indivíduos, algumas vezes confrontando o próprio ego, expondo dificuldades e alçando qualidades. Desenvolve, nos mesmos, a capacidade de lidar com grupos, a pontualidade, a responsabilidade, a capacidade de interpretar, planejar e executar ações, além de aumentar a consciência corporal, respeitar diferenças e tantos outros aspectos de ações intra e inter pessoais, além de evitar o sedentarismo tão comum na atualidade. (MEYER, 2007).

    Quando começam a praticar tal esporte, o jovem tem em seu meio a figura dos pais e professores-técnicos, que estão presentes na vida escolar e esportiva. A prática de esportes na adolescência unida aos compromissos da vida escolar pode exigir muito do seu praticante tanto fisicamente e mentalmente, pois diante a exigência das sessões de treinamento, competições e a cobrança de resultados por parte do técnico-professor, podem corroborar a diminuição do desempenho dentro de sala de aula e ou na própria sessão de treinamento.

    Conforme TUBINO (1992), o principal equívoco histórico do entendimento do esporte-educação é a sua percepção como um ramo do esporte-performance, ou de rendimento. Nesta percepção equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, em vez disto, simplesmente reproduzem as competições de alto nível, com todas as suas características, inclusive com seus vícios, deformando qualquer conceito de educação. Saindo um pouco deste tópico sobre o que é correto ou não na didática de ensino e no nível de especificidade no âmbito do esporte competitivo escolar, sabe-se que antecipação do desenvolvimento coordenativo de um jovem esportista, pode levá-lo a ineficiência futura de possível execução de alguns movimentos. Observando autores que dedicam suas pesquisas a ciência do desenvolvimento e preparação de jovens atletas, há como exemplo a citação de BALBINOT (2003) sobre jovens tenistas: “Os jovens tenistas brasileiros são submetidos a um treinamento técnico especializado precoce” Essa antecipação no desenvolvimento é preconizada nas conclusões de SEBEN at. al. (2010) onde: “A formação do atleta juvenil brasileiro muitas vezes é feita de forma antagônica” e algumas vezes “não trabalha algumas fases do desenvolvimento e transpassa etapas, pelo propósito de vitórias imediatas”. Essa talvez seja o ponto chave da aceitação do esporte competitivo diante os olhares de pedagogos das escolas brasileiras, onde o compromisso com o aprender e a dinâmica da convivência e sociabilidade são apagadas pelo convencimento da vitoria imediata e não o desenvolvimento maturacional conveniente do jovem aluno.

    De acordo com Viacelli (2002), existe o fato que nos faz refletir sobre a existência do desporto nas escolas: a discriminação sofrida por alunos-atletas e profissionais de Educação Física baseada na crença de que pessoas envolvidas com esporte ou atividades físicas não gostam de estudar ou que são realmente “menos inteligentes”. A existência do desporto escolar de detém a alguns parâmetros instruídos constitucionalmente, sendo em 1851 a lei de n.º 630 incluiu a ginástica nos currículos escolares e a mais de um século após a ditadura militar usa a educação física escolar como um modo de disciplinar os escolares, reproduzindo o modelo das escolas militares, onde o professor efetivava altos níveis de exigência sobre alunos, provocando uma exclusão natural dos menos talentos e ou menos dotados fisicamente (BRACHT 1986). Esses critérios vêem mudando, graças à modernização da didática pedagógica, onde estão havendo a inclusão do lúdico as aulas tornando-as mais atrativas e inclusivas. Esse fato por uma natureza dos fatos pode estar excluindo o aluno-atleta, que se adaptava ao método mais ostensivo de décadas passadas, pois o aluno modelo da aula de educação física de ontem, pode estar hoje, sendo cada vez menos incluído aos programas escolares, antagonicamente aos modelos americano, cubano ou mesmo russos, onde o atleta ainda representa o modelo ideal do esportista escolar. Por outro lado, o desporto na escola é revestido de justificativas como, por exemplo, o desenvolvimento integral dos indivíduos, do raciocínio, de lideranças, de espírito competitivo, da capacidade de trabalhar em equipes, melhoria da disposição, entre outras, porém e, além disso, segundo Betti, 1999, a escola por si só desenvolve: “Os códigos do esporte, tais como o rendimento atlético-desportivo, a competição, comparação de rendimentos e recordes, regulamentação rígida, sucesso esportivo e sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas são utilizados pela Educação Física Escolar, e condicionam-se mutuamente, acabando a escola por desempenhar o papel de fornecer a "base" de uma pirâmide para o esporte de rendimento”

    O papel dos pais nos processos da pratica de esporte e vida escolar é muito importante, enquanto papel incentivador, quanto aquém das cobranças (positiva e negativa), e ou outros comportamentos sociais vinculados a família. Porém uma grande maioria de pesquisas (interelação pratica esportiva escolar/comportamento familiar) não leva em conta a relação familiar com o comportamento esportivo, costumam não associar esses dois fatores dentro de uma perspectiva social ou motivacional (BRUSTAD, 1992). Adentrando neste assunto, podemos atribuir uma gama de características similares ao comportamento do aluno esportista e a representação dos pais diante dos conflitos que o mesmo vivera em suas experiências escolares, onde o aluno mesmo dotado de talento para a pratica esportiva confronta uma vida onde outros podem e são menos capacitados em suas funções dinâmicas esportivas, SIMÕES (1999), alerta sobre o aspecto do talento esportivo, sendo que, essa perspectiva pode: “prejudicar a socialização pelo comportamento competitivo, contribuindo para o surgimento de problemas teóricos e metodológicos no esporte escolar”. Portanto, sobreposto a essas argumentações fica claro o quanto o papel dos pais na vida do aluno escolar que participa de treinamentos paralelos a escola, sendo ele dotado de talento ou não. Já que a pratica esportiva escolar não detém de todos os recursos para manter atletas dentro de suas atuais estruturas, tanto didáticas, quanto físicas.  

    Fora treinos e competições, há a vida escolar em questão, que é importante para a formação intelectual, social e afetiva do ser humano, com relevância predominante na construção da personalidade de um jovem, carregado de influencias externas ativa.

    Neste ponto entra a questão se há tempo considerável de estudo por parte dos alunos-atletas, já que eles dedicam boa parte de suas ocupações em treinos e competições. Outra preocupação que está presente na vida dos alunos-atletas é se o técnico concede tempo para os alunos conciliarem estudo e esporte, ou está preocupado exclusivamente com e resultado em treinos e competições. Já em relação aos pais, existe também essa preocupação inerente ao desenvolvimento de seus filhos. Existem vertentes opostas referentes à prática desportiva nas escolas. As opiniões são diversas e vão desde o apoio à existência das mesmas, até posicionamentos favoráveis à completa extinção dos desportos nas quadras escolares. Viacelli, 2002, contempla em suas pesquisas essas diferentes vertentes, onde o esporte em: “Sua função educadora dentro do ambiente escolar tem sido questionada por alguns autores. Porém, os estudos realizados a esse respeito têm geralmente como objetivo principal, as questões sociais e culturais do esporte. São escassos os trabalhos que tratam especificamente da influência da prática desportiva na vida escolar dos alunos, verificando se há melhorias, prejuízos no rendimento escolar ou se este não sofre alterações devido às atividades esportivas dos alunos.”

    A sociedade cultural Brasileira distingue o esporte em dois padrões, onde o esporte de rendimento antagonicamente do esporte escolar, não visa o desempenho e o resultado em competições, e sim, uma abordagem social para fins de ganho de valores educacionais e construção de cultura sociabilizada no ser humano. Porém autores como BRACHT (2000), refletem sobre o papel do esporte na escola procurando diminuir a linha que separa o maniqueísmo nas escolas, onde o esporte competitivo é tido como vilão da educação escolar. O mesmo autor sugere a tentativa de torná-lo pedagogicamente aceitável dentro da escola, maior aceitação da técnica esportiva (como base pedagógica) e a abordagem errônea de que o desempenho e o lúdico não podem ser associados, são criticas que afloram nos trabalhos deste autor. Comenta o mesmo: “Tratar criticamente do esporte na escola é abandonar o movimento em favor da reflexão”. Assim o esporte escolar, dado em quaisquer abordagens, tem o poder de educar o movimento humano e trabalhar a sociabilidade.

    Adentro desta critica feita pelo autor sugerido acima, temos como idéia de que o rendimento pode não ser bem aceito adiante dos olhos do educativo escolar, pois os mesmos advertem erroneamente que o esporte de rendimento é separativista, enquanto a EF escolar é humanista, fato que pode ser corrigido através de uma melhor construção pedagógica escolar, unindo o ensino, ao lúdico, ao técnico e ao competitivo.

    Tal pensamento mostra a lacuna que existe entre o comportamento competitivo e o interesse escolar em construir uma aliança entre a educação escolar o desempenho esportivo dos alunos-atletas citados nesta pesquisa. A interligação comunicativa entre o técnico e o professor de educação física escolar poderia melhorar essa dificuldade em o aluno-atleta organizar suas tarefas diárias. Neste estudo veremos o quanto o aluno-atleta tem dificuldades em estabelecer normas aos seus treinos, onde muitas vezes ele é excessivamente absorvido pelas tarefas e atividades escolares, onde, ambas as partes, escola e rendimento não respeitam as atividades ou nem mesmo tem conhecimento das atividades paralelas, causando um acumulo nos calendários diários deste individuo. Contudo, o presente estudo tem como objetivo verificar se o praticante de esporte pertencente às escolinhas esportivas ou equipes competitivas consegue ter tempo de conciliar a prática esportiva e o estudo.

Materiais e métodos

    A amostra foi composta por 36 sujeitos, pertencentes ao sexo masculino, com faixa etária entre 15 e 18 anos, praticante de modalidades esportivas coletivas tais como basquete, vôlei, handebol e futsal, que estão cursando o ensino médio e cursando o ensino superior, neste, caracterizado como o período de transição do ensino médio (2º grau) para o ensino superior (3º grau). Participaram também 3 professores que responderam questões pertinentes à sua função.

    O instrumento utilizado foi um questionário contendo perguntas objetivas relacionando a prática esportiva e as obrigações escolares, incluindo o tempo de estudo. Este questionário será respondido pelos alunos e professores de escolinha.

    O procedimento foi caracterizado com perguntas de caráter objetivo, ou seja, de marcar apenas uma alternativa. Os questionários foram respondidos por alunos-atletas e professores de forma espontânea. Uma parte dos alunos que responderam o questionário pertence a uma escolinha de basquete localizada em um clube de Brasília. Os dois professores que ensinam basquete também responderam. Já a outra parte da amostra envolvida nesta pesquisa, incluindo o restante dos alunos, neste caso, os que praticam vôlei, handebol e futsal, e um terceiro professor, respondeu o questionário em uma escola particular localizada em Brasília. Nos dias em que foram feitas as pesquisas, normalmente antes de começa um treino, os alunos e professores responderam as questões do questionário. O questionário foi respondido nos dias 17 de agosto e 4 de setembro de 2009.

    Para análise dos dados foram aplicados cálculos de média, desvio padrão e porcentagem através de tabelas de Excel Office 2007.

Resultados e discussão

    Dentro da pesquisa realizada com estudantes do sexo masculino e praticantes de modalidades esportivas coletivas, foi verificado que os 36 sujeitos têm uma média de 6,28 anos (±6,85) de pratica esportiva. Dos mesmos, 23 praticam basquete e tem tempo médio de prática igual a 6,34 anos (± 3,65) e freqüência semanal de prática igual a 3 vezes ou mais por semana, o que representa 86,96%. Começando com a questão que envolve a cobrança feita por parte dos pais sobre ter bom rendimento escolar para que haja permissão da prática esportiva, 41,67% responderam que os pais “sempre” cobram por parte dos filhos bom rendimento escolar para ganhar permissão diante a prática do esporte. Sobre a questão seguinte que aborda se por parte dos pais há um incentivo de praticar esporte e se tornar futuramente atleta de alto nível, 33,33% responderam que “às vezes” os pais incentivam a praticar esporte e se tornarem atletas de alto nível. Percebendo tais números percebemos que os atletas questionados apresentam uma cobrança advinda dos pais, mais intensa diante o desempenho escolar e menor perante o aspecto de profissionalização esportiva. Se analisarmos os valores encontrados nas questões acima veremos que menos da metade usa o argumento de vetar a permissão de pratica esportiva para o comprimento das atividades escolares e que um número menor de pais excitam em seus filhos a seguir carreira esportiva. Aqui nestes números podemos fazer uma interface dos alunos avaliados e interpretar uma diminuta participação dos pais na vida tanto escolar quanto de atividades extraclasse.

    A pergunta a seguir aborda se o estudante e praticante de esporte têm dificuldade de conciliar os estudos e o esporte. Desta questão, 52,78% responderam que “às vezes” tem dificuldade de conciliar os estudos e o esporte. Envolvendo a pergunta de os sujeitos terem tempo de antecedência para estudar para as avaliações escolares, 41,67% responderam que “às vezes” tem tempo de antecedência de estudar para as provas. Há um nível nas proporções das questões organizacionais dos alunos, quanto à prorrogação temporal, que pode acarretar desníveis no desempenho tanto escolar, quanto na vida esportiva. Para isso faz-se necessário um aprofundamento nas analises correlacionais do desempenho (escolar e esportivo) dos mesmos versos tempo voltado aos estudos extraclasse, apesar de quando questionados sobre se o esporte é capaz de estimular a vida escolar, 38,89% responderam que “sempre” o esporte ajuda no dia-a-dia escolar, demonstrando que a maioria dos atletas alunos apresentarem a dificuldade de vincular o treinamento com vida escolar, mas esses números ainda não são capazes de ligar a questão desempenho e vida escolar.

    Quando questionados em relação à questão da exigência do professor no cotidiano dos sujeitos, onde, houve uma igualdade de 33,33% nas respostas “às vezes” e “sempre”, onde o professor-técnico obrigatoriamente exige bons resultados ou faz dos esportes uma ferramenta de desenvolvimento do ser integral. Os resultados envolvendo as respostas dos alunos poderão ser vistos na tabela 1. O que demonstra a preocupação, que pode ser uma constante dos professores em tornar das aulas de educação física um campo de preparação de atletas, não que o lúdico não exija resultados, mas o fato de 66% apontarem esse número e isso pode caracterizar uma cobrança que esta fugindo do aspecto lúdico ou desenvolvimentista.

    Em outra questão envolvendo freqüência semanal de prática esportiva, foram colocados 3 itens para resposta objetiva. Nesse caso, as opções são 2 vezes por semana, 3 vezes por semana e 3 vezes ou mais. Nessa pergunta, 72,22% responderam que têm freqüência semanal de prática esportiva de 3 vezes ou mais. Com esse dado, ao fazermos uma ligação ao aspecto avaliado da conciliação esporte/escola na tabela a baixo percebermos o reflexo deste onde a carga horária destes atletas pode estar ultrapassando ou mesmo se equiparando aos estudos. Nada incomum quando se fala de atletas brasileiros que tem uma rotina de treinos intensa anti-consciliante aos estudos e horários dos mesmos. Vemos nos números abaixo (questões 3° e 4°) que os professores da escola estão sendo competentes quanto à antecedência dos estudos e avaliações curriculares, mas ao mesmo tempo vemos que há uma dificuldade de 52,78% das vezes em que há dificuldades de manipular esse tempo por parte dos atletas, mesmo que aja antecedência para os mesmos, tal número reflete na prática exacerbada destes atletas em estarem praticando como profissionais do esporte. Isso, pois, o treinamento diário é recomendado a atletas de alto nível em idade madura, a atletas de menor nível se faz importante a questão do desenvolvimento social nesta idade, entre incontáveis fatores de importância ao desenvolvimento do ser humano que podem estar sendo mal esclarecidos na periodização do treinamento destes jovens, onde neste caso voltamos a reafirmar a colocação predisposta na introdução deste mesmo trabalho sobre BALBINOT (2003): “Os jovens tenistas brasileiros são submetidos a um treinamento técnico especializado precoce”, onde mais uma vez repetimos a seguinte colocação de SEBEN at. al. (2010) onde: “A formação do atleta juvenil brasileiro muitas vezes é feita de forma antagônica” e algumas vezes “não trabalha algumas fases do desenvolvimento e transpassa etapas, pelo propósito de vitórias imediatas”.

    Com essas evidencias em mãos, perguntamo-nos: o esporte esta sendo colocado a frente dos conhecimentos culturais da escola? Até onde o atleta deve seguir em sua carreira de estudos? E Quando o atleta deve ser incentivado, se é que isso deve ser incentivado, a dedicar-se integralmente aos seus treinamentos? Estes questionamentos são duvidas muito freqüentes na vida tanto de um treinador, como de um educador escolar, quando em suas mãos está a responsabilidade de escrever o futuro de um atleta, sendo que os pais, maiores cúmplices deste envolvimento cobram, como visto na tabela, em uma maioria, mesmo que em diferentes intensidades o rendimento esportivo, só por este fator poderíamos perceber a raiz de um problema sócio cultural, ao qual estamos investigando neste trabalho.

Tabela 1. Referente às respostas dos alunos

Questões

Às vezes

Sempre

Constantemente

Nunca

1ª Cobrança dos pais sobre ter bom rendimento escolar para praticar esportes?

27,78 %

41,67 %

22,22 %

8,33 %

2ª Por parte dos pais há incentivo de praticar esportes e se tornar atleta de alto nível?

33,33 %

22,22%

13,9 %

30,55 %

3ª Dificuldade de conciliar os estudos com a prática esportiva?

52,78 %

0 %

13,89 %

33,33 %

4ª Tempo de antecedência para estudar para as avaliações escolares?

41,67 %

22,22 %

27,78 %

8,33 %

5ª O esporte ajuda no dia-a-dia na rotina escolar?

22,22 %

38,89 %

22,22 %

16,67 %

6ª Professor exige bons resultados ou faz do esporte uma ferramenta de desenvolvimento do ser integral?

33,33 %

33,33 %

11,11 %

22,22 %

    Ao se ampliar a visão e descobrir o outro lado do esporte, aceitando que ele também pode tornar-se um excelente meio que, através de uma abordagem educativa, possa contribuir para a formação integral e crítica do ser humano. Desta forma talvez percebamos o real objetivo do esporte escolar. Já que o mesmo, dotado de tais propriedades, não goza de um único contexto (escolar), rompe os limites dos muros da escola, indo muito além da fundamentação técnico-tática, priorizando outros aspectos como cooperação, participação, solidariedade, criatividade, competitividade emocional intrínseca, inserção social e profissional dos alunos que fazem parte desse processo educativo, e não como meros reprodutores dessa ou àquela modalidade esportiva. Porém, esse tipo de abordagem, deve ser encarado com muita reflexão crítica do educador, pois o esporte, como um legado deixado para a humanidade através dos tempos, envolve outras variáveis como competitividade, vitória, derrota, glória etc., que se não visto com um olhar crítico e amplo dentro de uma prática educativa, pode ser muito prejudicial ao desenvolvimento de crianças e jovens. Como exemplo, o uso excessivo de competições que tomam um caráter seletivo e restritivo ao invés de se tornar um meio de motivação insercivo socialmente, estimulante para a superação de si mesmo, como diz Cratty (1989, cit. por Machado e Presoto, 2001).

    Conforme MEYER (2007), o esporte, infelizmente, não é utilizado pelas instituições educacionais na proporção que deveria. Através da prática esportiva promovemos a socialização, a rotina, o cumprimento de regras, o respeito, a persistência, o saber competir, o aguardar a sua vez, o romper limites, o saber ganhar, o saber perder e muitos outros quesitos. O esporte deve ser o maior aliado da educação. Juntos promovem o desenvolvimento integral do indivíduo de forma harmoniosa e sadia, provocando um sendo critico cultural no individuo.

     Ainda existe atualmente, uma grande confusão entre o esporte-educação e esporte-competição e este é um assunto deveras polêmico. Alguns autores criticam a competição, situando-a bem distantes da prática educacional. Estes concordam que o esporte utilizado de forma lúdica consegue atingir as necessidades educacionais e sociais das crianças e adolescentes, sem cobranças, obrigações e responsabilidades neste período de desenvolvimento (BENELI E MONTAGNER, 2005).

    O esporte é pedagógico e, por conseguinte, educativo, tendo em vista a sua possibilidade de proporcionar obstáculos e desafios, fazendo com que o aluno experimente as regras e aprenda a lidar com o próximo e, porque não dizer, o esporte torna-se educativo quando a sua prática não for uma obrigação, mas um prazer para o aluno (PAES, 2002).

    Para BENTO 2004, o esporte apresenta um caráter normativo e prescritivo em suas práticas, onde existam responsabilidades e direitos, quer tratamos do esporte no setor da educação, da saúde, do lazer, da cultura e ou do rendimento. O autor complementa que o esporte comporta e deve assumir seu estatuto cultural e as obrigações que esta circunstância lhe impõe, incluindo sua dimensão de tempo e espaço. O professor de Educação Física tem a responsabilidade de preparar seus alunos para a cidadania. Neste sentido, um desafio que se impõe ao professor e ao futuro profissional da área, está na superação da visão de desenvolvimento (do aluno) que enfatiza com muita força o rendimento, resultados competitivos e uma exclusão inconsciente e criteriosa dos menos avantajados esportivamente. Não estamos querendo, com isso, abolir a competição entre os que praticam esporte. Pelo contrário, sabendo dosar, a competição é extremamente sadia entre as crianças e jovens (FLORENTINO, 2007).

    A competição se utilizada de forma competente, pode ser um excelente meio de educação e formação social, pois nela estão presentes diversas situações/problemas que contrastam com a vida cotidiana. O esporte competitivo necessita de um tratamento pedagógico que permita educar a criança e o adolescente através da prática da modalidade.  O esporte oficial necessita ter em seu conteúdo aspectos educacionais sem perder o seu caráter competitivo, ou seja, o técnico deve ter uma proposta pedagógica que consiga unir estes dois fatores (BENELI e MONTAGNER, 2005), como exemplo a inserção de esporte de luta na escola (promover disciplina), esporte coletivos (sociabilização) e ou esportes individuais (controle emocional).

    Já na próxima etapa do estudo, os professores-técnicos responderam um questionário direcionado para eles. O questionário com os dados das respostas do professores podem ser vistos na tabela 3. Neste questionário, foram feitas quatro perguntas de caráter objetivo, sendo no mesmo, os itens às vezes, sempre, nunca e constantemente foram colocados dentro das questões, similar ao dos atletas-estudantes. Na primeira questão que pergunta se costuma liberar os alunos quando estão em véspera de avaliações escolares, os três professores incluídos na pesquisa responderam que “sempre” costumam liberar os alunos em véspera de prova. Na segunda questão que pergunta se eles conversam com os pais sobre o andamento dos alunos na prática esportiva, um respondeu “constantemente” conversa com os pais. O segundo respondeu “sempre” e o terceiro respondeu “às vezes”.

    Em seguida, foi perguntado se eles incentivam os alunos para que no futuro tornam-se atletas de alto-nível. Um primeiro professor respondeu “às vezes”. Um segundo professor respondeu “constantemente” e um terceiro respondeu também “constantemente”. Já a última questão, pergunta se o professor exige um bom rendimento escolar dos alunos para jogar como titular em esportes coletivos, dois deles responderam que “nunca” exige bom rendimento escolar para jogar com titular e um terceiro respondeu às vezes exige bom rendimento escolar para jogar como titular.

Tabela 2. Referente às respostas dos técnicos

Questões

Técnico 1

Técnico 2

Técnico 3

a. Costumam liberar os alunos quando estão em véspera de prova.

Sempre

Sempre

Sempre

b. Conversam com os pais sobre o andamento dos alunos na prática esportiva.

Constantemente

Sempre

Às vezes

c. Incentiva os alunos para que no futuro tornem-se atletas de alto nível.

Às vezes

Constantemente

Constantemente

d. Exige bom rendimento escolar dos alunos para jogar como titular.

Nunca

Nunca

Às vezes

    O técnico-educador deve transmitir conceitos do esporte de competição não apenas ao atleta presente, mas também para aquele que vai interagir e participar da sociedade. Para isto, o esporte não deve ser apenas uma execução mecânica, mas também ser incorporador de atitudes, sendo um formador integral da personalidade (BENELI e MONTAGNER, 2005).

    Assim como foi visto nos dados apurados acima, pode-se ter uma noção do quão separativista encontra-se o esporte escolar diante de outras matérias, sendo que em uma pesquisa realizada com alunos de um colégio público de Santa Catarina, foi constatado que o professor coloca exigência aos alunos-atletas em relação ao desempenho escolar. Aqueles alunos que obtivessem notas baixas ou que porventura estivessem faltando demais à escola, seriam privados da participação nos treinamento, sobretudo nos coletivos, ou, quando fosse o caso, com a perda da posição de titulares da equipe. A preocupação em associar o desempenho escolar fica evidente, quando o professor disse que sempre procurava saber como andavam as notas dos seus alunos/atletas nas demais disciplinas, e que valorizavam o desempenho escolar deles, inclusive como critério para escalar o time (BASSANI et al, 2003). Tais condutas seriam de grande valor a educação, fazendo com que o esporte fosse ferramenta de incentivo a alunos/atletas, mas não seria tão atrativo a alunos com interesse diminuto ao esporte.

Conclusão

    A partir dos dados obtidos neste estudo, podemos verificar que os alunos-atletas encontram dificuldades em conciliar a prática esportiva como os estudos. Tendo em vista que a maioria da amostra treina mais de três vezes por semana, pode-se aconselhar uma melhor organização de tempo para que a carga horária de treinamento não atrapalhe os momentos de estudo.

    É importante, para que isso se concretize, o apoio do treinador e da família, que não devem obrigar o aluno-atleta a escolher entre uma ou outra atividade. As duas atividades conciliadas contribuem na formação ampla do individuo, porque o esporte quando bem conduzido se torna um poderoso instrumento educativo e os estudos são imprescindíveis para a ampliação da visão do mundo que todo ser humano deve possuir.

    Apesar das dificuldades, a pesquisa demonstra que a amostra pretende conciliar as duas atividades, apesar de haver uma balança positiva para o lado do treinamento desportivo. Conclui-se com o estudo que conciliar esportes e estudos não é apenas possível, é sim extremamente necessário.

Referências

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  • BASSANI, J.J. et al. Sobre a presença do esporte na escola: paradoxos e ambigüidades. Revista Movimento – Porto Alegre, v 9, n.2, p. 89-112, maio/agosto de 2003.

  • BENELI, L.M. e MONTAGNER, P. C. Intervenções pedagógicas no processo de evasão do basquetebol: possibilidades e conseqüências. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires – Ano 6 – Nº 86 – Julho de 2005. http://www.efdeportes.com/efd86/evasao.htm

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  • BRACHT, V. Esporte na escola e esporte. Movimento - Ano VI - Nº 12 - 2000/1.

  • BRUSTAD, R.J. Integrating socialization influences into the study of children's motivation sport. Journal of Sport & Exercise Psychology, v.14, p.59-77, 1992.

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revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
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