A contribuição das aulas de Educação Física no ensino da comunicação e expressão Aporte de las clases de Educación Física en la enseñanza de la comunicación y expresión |
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*Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina Campus de São Miguel do Oeste/SC **Licenciada em Ed. Física pela Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC/SMO Especialista em Educação Física Escolar pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação/CE/UFSM Professora do curso de Licenciatura em Educação Física da UNOESC/SMO |
Fátima Riffel* Andréia Paula Basei** (Brasil) |
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Resumo Esta pesquisa teve como objetivo analisar como as aulas de Educação Física podem contribuir na melhoria da Comunicação e Expressão dos alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual do município de São Miguel do Oeste, Santa Catarina, através da implementação de uma proposta didático-metodológica nas aulas de Educação Física baseada em atividades recreativas. O presente trabalho caracterizado como uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo, teve como participantes trinta alunos matriculados na 5ª série do Ensino Fundamental com idades de 10 e 11 anos. A coleta de dados foi realizada através de um questionário respondido pela professora de Educação Física, um questionário respondido pelos alunos e do diário de campo onde foram anotadas as informações obtidas durante o desenvolvimento da proposta de intervenção. Os dados foram analisados e discutidos por meio da criação de categorias temáticas de acordo com as respostas obtidas e com as perspectivas teóricas adotadas. Constatou-se que propostas dessa natureza são bastante interessantes para serem desenvolvidas em âmbito escolar, já que, podem contribuir de maneira significativa com a aprendizagem dos alunos ao trabalhar a comunicação e expressão por meio do corpo em movimento. As contribuições aparecem de forma significativa no que diz respeito ao reconhecimento corporal, expressão de sentidos e significados dos movimentos e reconhecimento desse corpo como forma de comunicação com o mundo. Por fim, aponta-se a necessidade de construção de um projeto interdisciplinar desenvolvido durante um período mais longo, o que possibilitaria melhores resultados com relação ao desenvolvimento da comunicação e expressão dos alunos. Unitermos: Educação Física escolar. Prática pedagógica. Comunicação e expressão. Atividades recreativas
Abstract This research had as objective analyzes as the classes of Physical education they can contribute in the improvement of the Communication and the students' of the 5th series of the Fundamental Teaching of a state school of the municipal district of São Miguel do Oeste, Santa Catarina, through the implementation of a didactic-methodological proposal in the classes of Physical education based on recreational activities. The present work characterized as a qualitative research of descriptive stamp, he/she had as participants thirty enrolled students in the fifth series of the Fundamental Teaching with ages of 10 and 11 years. The collection of data was accomplished through a questionnaire answered by the teacher of Physical Education, a questionnaire answered by the students and of the field diary where you/they were logged the information obtained during the development of the intervention proposal. The data were analyzed and discussed through the creation of thematic categories in agreement with the obtained answers and with the adopted theoretical perspectives. It was verified that proposed of that nature they are quite interesting for they be developed in school extent, since, they can contribute in a significant way with the learning of the students when working the communication and expression through the body in movement. The contributions appear in a significant way in what says respect to the corporal recognition, expression of senses and meanings of the movements and recognition of that body as communication form with the world. Finally, the need of construction of an interdisciplinary project is appeared developed during a longer period, what would make possible better results regarding the development of the communication and the students' expression. Keywords: School Physical Education. Pedagogic practice. Communication and expression. Recreational activities
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
A Educação Física escolar se reveste de um importante papel na formação da criança. Segundo Batista (2001, p. 11),
O objetivo da Educação Física no ensino fundamental consiste em desenvolver a coordenação de uma forma geral, através de jogos recreativos, estafetas (“leva-e-traz”), brincadeiras etc. Nessa faixa etária, as crianças estão em fase de assimilação, atentas a tudo o que acontece á sua volta e aceitando tudo o que lhes é oferecido. São ativas, dinâmicas, querendo sempre mais, são ansiosas para aprenderem algo: é como se o mundo fosse terminar naquele dia.
Considerando esses objetivos, pode-se afirmar que uma de suas funções é oportunizar ao educando a vivência do/pelo movimento no âmbito escolar, sendo a escola um espaço de interação e ensino-aprendizagem, é importante que a mesma seja objeto de análise através da qual se consiga fundamentar teoricamente a prática pedagógica e abrangendo diversos conteúdos para contribuir com o desenvolvimento de competências e habilidades nas crianças. Dentre estas, destacamos a importância de desenvolver a comunicação e expressão.
De acordo com Ladeira (2003 apud Mattos; Neira, 2001) as linguagens podem ser definidas como instrumentos de conhecimento e construção de mundo. A Educação Física incorpora as produções sociais que se estruturam mediadas por códigos permanentes e passíveis de representação abstrata do pensamento humano e de elaboração de uma realidade que permite organizar uma visão de mundo mediada pela expressão, comunicação.
Conforme Betti (1994) sugere, a linguagem deve servir como instrumento para que o aluno compreenda o modo de relacionar-se com as outras pessoas.
Sendo assim, por meio da expressão corporal o indivíduo expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com seu corpo, integrando-o às em outras linguagens expressivas como a fala, o desenho e a escrita (Leite, 2007, p. 06). Conforme o autor ainda,
O desenvolvimento de uma corporalidade engloba a sensibilização e a conscientização de nós mesmos tanto para nossas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas como para nossas necessidades de exprimir, comunicar, criar, compartilhar e interagir na sociedade em que vivemos. A s expressão corporal, uma linguagem através da qual o indivíduo expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com seu corpo, integrando-o, assim, às suas outras linguagens expressivas como a fala, o desenho e a escrita.
Segundo Soares (1992, p.82) a expressão “pode ser considerada como uma linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra, etc”.
O corpo passa a ser linguagem expressiva, falando através dos movimentos, do olhar, do jeito de andar e sentar, do balançar dos quadris ou das expressões de tristeza e alegria, e das representações que estabelecem para o mundo e para as relações (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 257 apud Silva, 2006, p.4).
Para o mesmo autor,
Os gestos e as experiências vividas através do corpo estão cheios de expressão, de intenções e de vontade própria. Ao observar o movimento é possível perceber os múltiplos significados as diferentes falas das crianças, o que revela o seu modo de ser e de interagir no seu meio social. Desta forma, “o uso que um homem fará de seu corpo é transcendente em relação a esse corpo enquanto ser simplesmente biológico”.
Nesse sentido, segundo Santos (1998, p 52), o papel do professor nas atividades deve ser o de provocar e desafiar a participação coletiva, contribuindo com o conhecimento dos alunos, com atividades que vão auxiliando no aprendizado e no desenvolvimento das habilidades e competências dos seu alunos e com isso os professores aprenderam com alunos.
Conforme o autor ainda, é preciso criar alternativas de ensino para que as aulas sejam desejadas e não obrigadas para que sejam atraentes interessantes e significativas para todos os alunos e professores e as atividades lúdicas podem contribuir significativamente para o processo de construção do conhecimento da criança.
O processo usado nas atividades lúdicas tem todos os aspectos mais complexos da construção de significados pelo ser humano, papel da experiência, aprendizagem progressiva, importância da interação, da interpretação, diversificação da cultura conforme diferentes critérios, importante da criatividade no sentido das crianças (Brougère, 1998).
É através das atividades recreativas que podemos repassar conhecimento de forma lúdica, assim como nos jogos pré-desportivos. Para embasarmos esse pensamento, buscamos Snyder (1974 apud Almeida, 2000, p.11) quando afirma que “é preciso organizar o jogo de tal forma que sem destruir ou sem desvirtuar seu caráter lúdico, contribua para formar qualidades do trabalhador e do cidadão do futuro”. Nessa questão reside a importância das atividades de recreação escolar.
Segundo Guerra (1998, p. 38)
A recreação escolar diferencia-se da recreação publica ou privada, pelas particularidades de planejamento e objetivos. O que pretende nos espaços públicos ou privados para essas atividades são questões relacionadas diretamente a Ludicidade, a descontração e a ocupação de tempo livre. Já a recreação escolar objetiva além da Ludicidade, descontração e ocupação do tempo livre, a formação do sujeito, pois através desta pode-se contribuir para o seu desenvolvimento psicomotor, social, afetivo, cognitivo e cultural.
Partindo desse contexto, o objetivo desta pesquisa foi analisar como as aulas de Educação Física podem contribuir na melhoria da Comunicação e Expressão dos alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual do município de São Miguel do Oeste, Santa Cantarina, através da implementação de uma proposta didático-metodológica nas aulas de Educação Física baseada em atividades lúdicas e recreativas.
Procedimentos metodológicos
Este estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo. Para Richardson (2007, p.31),
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos.
Segundo Gil (1999, p. 44) as pesquisas do tipo descritivo têm como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento.
As pesquisas descritivas são juntamente comas exploratórias, as habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação pratica. São as mais solicitadas por organizações como instituições educacionais, empresas, partidos políticos etc.
Os participantes desta pesquisa foram trinta alunos, sendo vinte alunos do gênero masculino e dez do gênero feminino com idades de 10 e 11 anos, matriculados na 5ª série do Ensino Fundamental da escola estadual do município de São Miguel do Oeste, Santa Catarina.
A coleta de dados foi realizada através de um questionário com questões abertas realizado com os alunos e também de um questionário com questões abertas respondido pela professora de Educação Física. Foi utilizado ainda, o diário de campo para acompanhar e analisar o desenvolvimento dos alunos, assim como para descrever as informações obtidas através da intervenção nas aulas de Educação Física.
O questionário, conforme Michel (2009) é um instrumento previamente construído, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador. A opção pelo questionário aberto se deu como forma de obter mais informações com relação a temática pesquisada levando em consideração as perspectivas discentes e docentes sobre o trabalho desenvolvido na proposta de intervenção.
Sendo assim, para análise das informações obtidas, os dados foram organizados a partir de categorias temáticas criadas com base nas respostas dos questionários, buscando discuti-los com a literatura adotada para esta pesquisa.
Para o desenvolvimento da pesquisa, num primeiro momento foi realizado contato com a escola, solicitando autorização para o desenvolvimento deste estudo. Após a autorização concedida, foi entregue aos alunos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi ser assinado pelos pais ou responsáveis para que o aluno participasse das aulas de Educação Física ministradas pela pesquisadora. Em seguida, foram planejadas e desenvolvidas as aulas, durante três meses, sendo duas aulas semanais de 45 minutos, visando a contribuição na comunicação e expressão, fundamentadas na abordagem construtivista.
Discussão dos resultados
De acordo com as aulas desenvolvidas, percebemos uma grande dificuldade dos alunos em relação à Comunicação e Expressão. Nas primeiras aulas, tivemos muita dificuldade em trabalhar com eles, pois os mesmos não queriam fazer as atividades porque diziam que as aulas eram para a pré-escola, o relacionamento entre eles foi um pouco difícil, principalmente na parte afetiva e social.
Essa dificuldade inicial pode estar relacionada com alguns fatores como: a resistência dos alunos ao desenvolvimento de uma proposta de ensino diferenciada do que tradicionalmente eles vivenciam nas aulas, assim como a inserção da pesquisadora no contexto escolar. Mas, acredita-se que isso se deve, sobretudo, ao fato de que essas questões não são exploradas nas aulas de modo a estimular os alunos a refletir e ter consciência da importância e contribuição que das aulas para a melhoria da comunicação e expressão.
Enfatizando esses aspectos Ladeira e Darido (2003, p. 34) afirmam que a escola deve evidenciar a importância de todas as linguagens enquanto constituintes do conhecimento e das identidades dos alunos. É nas aulas de Educação Física que os alunos darão início à produção de textos, à leitura dos diferentes textos corporais, compreendendo uma dança, um jogo ou um esporte como forma de comunicação e expressão.
No desenvolvimento das práticas relacionadas às atividades recreativas sobre Comunicação e Expressão, evidenciamos inúmeros aspectos relevantes que mostram que os alunos através dessas atividades podem mudar seu comportamento, possibilitando através disso uma mudança em sua vida, contribuindo assim para sua formação.
Com esse intuito, foram desenvolvidas as aulas buscando desenvolver a compreensão dos alunos sobre a importância da temática, assim como, incorporarem essas práticas nas suas atividades de movimento. Já que, conforme é apontado por Ladeira; Darido (2003) “o corpo está repleto de significados, sendo ele responsável pela integração do indivíduo na sociedade. É com ele que somos capazes, entre outras coisas, de perceber e sentires determinados comportamentos”.
Considerando os objetivos desse estudo, foi elaborada e desenvolvida a proposta de intervenção onde foram realizadas dezoito aulas com atividades bastante variadas que pudessem contribuir com o objetivo do estudo. Sendo assim, acredita-se na importância de relatar as atividades desenvolvidas a medida que faz-se a análise das mesmas a partir do referencial teórico adotado.
Na primeira aula, foi apenas conversado com os alunos sobre a proposta de intervenção, sobre os objetivos das aulas e também sobre algumas regras para a boa convivência de professora e alunos no período que seria realizada a intervenção. Nesta aula foi também entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos alunos para que seus pais tomassem conhecimento do trabalho que seria desenvolvido e permitissem a participação de seus filhos.
Na segunda aula é que começaram a ser desenvolvidas as atividades com o objetivo de contribuir com a comunicação e expressão dos alunos, no entanto, alguns alunos não participaram da aula, dizendo que as atividades eram para crianças da pré-escola. Com relação às atividades foi realizada a salada de frutas com jornais, onde os alunos deveriam todas tinham uma fruta um dos alunos dize-se (fui ao mercado compra maçã os alunos que fosse maçã tinha que sai do lugar que era em cima do jornal e assim continua a atividade e, em seguida foi realizado o telefone sem fio com palavras e com frases.
No desenvolvimento dessas atividades pode-se constatar que os alunos tiveram dificuldades ao falar no ouvido dos colegas e na interpretação das palavras..., porque se tratava de atividades conhecidas era simples.
Nas atividades propostas, foi possível enfatizar e fazer com que os alunos começassem a tomar consciência de que “o corpo é veículo e meio de comunicação. O relacionamento interpessoal só é possível pela comunicação e pela linguagem que o corpo é e possui” (BRASIL, 1999).
A terceira aula foi iniciada com uma conversa com os alunos sobre respeito com os colegas e professor, responsabilidade e sobre como seria realizada a aula daquele dia. No primeiro momento da aula, foi entregue uma questão aos alunos sobre o que eles acreditam que é uma aula de Educação Física. No entanto, poucos responderam, a maioria dos alunos respondeu que a Educação Física é Praticar esportes e alongamento, respeitado os professores e colegas, brincado se divertido com os colegas.
No segundo momento da aula foram realizadas algumas atividades. Na brincadeira de coelho sai da toca alguns não quiseram fazer afirmando serem atividades para crianças de pré-escola. Após isso, foi realizada a atividade Negrinha da áfrica, onde todos os alunos participaram. E, por fim, foi conversado sobre as atividades desenvolvidas nas aulas, onde se constatou que as crianças gostavam da atividade e queriam continuar fazendo aquela atividade.
Relacionando as atividades propostas com o objetivo da aula, é possível concordar com Betti (1994 apud LADEIRA; DARIDO, 2003) quando afirma que a linguagem deve servir como instrumento para que o aluno compreenda o modo de relacionar-se com os outros.
Na quarta aula foi realizada a atividade de gato e rato com a participação de todos os alunos, já que se tratava de uma atividade bastante conhecida e dinâmica. Em seguida, realizou-se uma atividade onde os alunos tinham que correr até o centro da quadra e pegar um papel que estava lá no centro, depois que todos pegaram o papel cada um tinha que ler em voz alta. Após a realização das atividades observou-se que os alunos tinham dificuldades na leitura.
A partir disso, buscou-se conscientizar os alunos sobre a amplitude dos conhecimentos a serem tratados nas aulas de Educação Física, assim como construir o entendimento de que a Educação Física é uma área que ultrapassa a ideia única de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto (LADEIRA; DARIDO, 2003).
No início da quinta aula os alunos apresentaram as frases com as palavras que cada aluno pegou na atividade desenvolvida por eles. No segundo momento foram formadas três equipes para a mini-gincana, cada equipe tinha 10 componentes, os alunos escolheram o nome para suas equipes, os nomes foram: Força Máxima, Águia Negra e Tropa de Elite. Em seguida, os alunos pediram para brincar de Negrinho da África. Os jogos mais típicos para essa idade são os jogos sociais e os jogos de faz-de-conta (FREIRE, 1999).
Na sexta aula os alunos desenvolveram atividade, com texto e cartolina, os alunos tinham que ler um texto e sublinhar parte que cada um fosse desenhar na cartolina. Assim cada aluno desenhou na cartolina o que tinha interpretado do texto através da leitura. Muito recorrente no trabalho corporal das alfabetizadoras é aquele que visa o “desenvolvimento do esquema corporal”, está vinculada à melhoria das “habilidades perceptivo-motoras” e buscam, através do movimento, trabalhar as habilidades e as destrezas requeridas para aprendizagem da escrita e da leitura (SILVA; PEIXE, 2006).
Na sétima e oitava aulas, os alunos desenvolveram em equipe palavras com o corpo, ou seja, com o corpo os alunos tiverem que criar uma palavra e mostrar aos colegas, cada equipe montou uma palavra. Nossa imagem corporal representa uma experiência muito especial, uma vez que o objeto em foco corresponde ao nosso eu. Inclui aspectos conscientes e inconscientes (ADAMI, 2005).
Na nona aula, cada aluno pegou uma palavra e formou uma equipe e assim cada equipe teria que criar uma apresentação. Exemplo: a equipe pegou a palavra escola, os alunos da equipe teriam que fazer como funciona na escola e apresentar como se fosse um teatro. Esta atividade os alunos teriam que criar como é o dia-a-dia na escola, ou fora da escola na família.
A escola necessita reconhecer que à relação à criança quando controla a sua espontaneidade, pelo domínio dos seus corpos, em detrimento do aprendizado cognitivo. As crianças, ao trançarem as primeiras letras, devem ter a mão e o corpo educados para desenvolver atividades que tem conhecimento (SILVA; PEIXE, 2006).
Na décima aula os alunos desenvolveram a atividade do “telefone sem fio” com uma frase. Em seguida a atividade “o chefe manda”, onde os alunos tinham que interpretar os movimentos que um dos colegas fazia. Nestas atividades os alunos tiveram muita dificuldade na interpretação das frases e também dos movimentos do corpo.
Segundo Teles (1999 apud Grübel, 2006) brincar se coloca num patamar importantíssimo para a felicidade e realização da criança, no presente e no futuro. Brincando, ela explora o mundo, constroi o seu saber, aprende a respeitar o outro, desenvolve o sentimento de grupo, ativa a imaginação e se auto realiza.
Na décima primeira aula as equipes teriam que montar as palavras com o alfabeto, organizando as letras do alfabeto e depois escrevendo as palavras numa folha que cada equipe teria que entregar. O corpo é utilizado no processo de alfabetização apenas como recurso pedagógico, que busca o sucesso da aprendizagem cognitiva. O movimento é usado para enfatizar o aprendizado de conteúdos e deixam de ser expressão da corporeidade para ser um reforço da inteligência (SILVA; PEIXE, 2006).
Na décima segunda aula os alunos desenvolveram desenho com as palavras de um texto,cada aluno tinha ler e achar uma palavra, interpretar a palavra e assim fazer um desenho desta interpretação.
Na décima terceira aula os alunos desenvolveram atividade para que tivessem conhecimento de mais palavras e assim soletraram palavras.
Nas três aulas seguintes, foi realizado o ensaio e apresentação de teatros. Cada equipe tinha a liberdade de escolher o tema para o teatro. Após as apresentações, até os alunos se surpreenderam com belas apresentações que contaram com a participação de todos os alunos, demonstrado alegria e felicidade ao desenvolver a atividade.
E, por fim, nas duas últimas aulas os alunos apresentaram uma coreografia com músicas, sendo que cada equipe podia escolher a música e criar a sua coreografia para apresentá-la. Todos os alunos participaram e ficou perceptível que os alunos gostaram de realizar esta atividade.
A linguagem corporal visa à compreensão e a utilização das formas de expressão, como gestos e movimentos, seus significados, suas técnicas e táticas. Os alunos nesse segmento devem ler e compreender uma dança, um jogo ou um esporte, percebendo e interpretando o que se passa, diferenciando ritmos e sabendo acompanhá-los com o movimento, compreendendo os jogos e interferindo neles de forma eficiente e estratégica (MATTHIESEN; DARIDO, 2008).
Dessa forma, acreditamos que esta proposta de intervenção trouxe uma contribuição importante para as aulas de Educação Física e para a aprendizagem dos alunos, no sentido de chamar a atenção de que a linguagem corporal é uma forma de comunicação e expressão com alta eficácia, assim como a linguagem escrita ou falada e que, portanto deve fazer parte dos objetivos e estratégias de ensino do professor de Educação Física, devendo ser amplamente explorada.
No entanto, o que se pode observar na área da Educação Física é que não se tem dado ênfase nesses aspectos durante as aulas, permanecendo inconscientes, tanto para os alunos quanto para o professor, o que pode estar relacionado com o desconhecimento dos professores, com as limitações com relação a hierarquia de determinados conteúdos e objetivos a serem atingidos nas aulas.
Partindo dos pressupostos orientadores desta proposta, é possível desenvolver todos os conteúdos da Educação Física, o que deve ser ressaltado são os sentidos e significados de cada conteúdo. Sendo assim, em nossa perspectiva de análise, existem amplas possibilidades para esse tipo de propostas nas aulas de Educação Física, que, certamente necessitam serem melhores exploradas, seja com relação ao seu desenvolvimento durante um período maior que o proporcionado para o desenvolvimento deste trabalho, seja buscando interagir com outras áreas do conhecimento que também trabalham diretamente com a linguagem, comunicação e expressão na escola.
Perspectivas discentes sobre o desenvolvimento da proposta
A partir do desenvolvimento da proposta, consideramos relevante destacar também a perspectiva dos alunos com relação ao trabalho desenvolvido. Para isso, utilizamos as informações obtidas com o questionário respondido pelos alunos após a realização da intervenção.
Sendo assim, os alunos foram questionados se perceberam alguma diferença com relação à intervenção feita nas aulas de Educação Física e as que comumente estavam habituados a participar e o que aprenderam com essas aulas. A grande maioria dos alunos respondeu que perceberam diferenças sim, especialmente no que se refere ao tipo de atividades que foram desenvolvidas e, também que gostaram das aulas. Isso, conforme as respostas dos alunos estão relacionadas com as aprendizagens proporcionadas e também a outros fatores.
Para explicitar melhor essas questões, podem-se observar algumas das respostas descritas pelos alunos, “porque divertimos bastante e aprendemos mais coisas diferentes” (ALUNO 2); “porque nós mesmos tínhamos que fazer as letras com o corpo” (ALUNO 4); “porque ninguém brigou” (ALUNO 8); “muito interessante adorei nós se enturmamos tivemos mais criatividade” (ALUNO 9); “aprendi ter mais respeito”(ALUNO 11); “porque que essas aulas envolviam o raciocino” (ALUNO 24) e; “porque nós aprendemos novas atividades e ajudar uns aos outros” (ALUNO 19).
O fato dos alunos terem gostado das aulas e relatado que contribuíram com sua aprendizagem, relacionou-se com a preocupação de, durante o desenvolvimento do trabalho de compreender os alunos, tentar identificar suas preocupações e dificuldades, para que desta forma pudéssemos intervir de modo coerente e preciso na vida escolar desses alunos (LADEIRA; DARIDO, 2003).
Brincar se coloca num patamar importantíssimo para a felicidade e realização da criança, no presente e no futuro. Brincando, ela explora o mundo, constrói o seu saber, aprende a respeitar o outro, desenvolve o sentimento de grupo, ativa a imaginação e se auto realiza (Teles, 1999 apud GRÜBEL (2006).
Dentre as questões, foi solicitado também aos alunos que descrevessem sobre o que aprenderam com as aulas, entre as respostas podemos identificar que elas contribuíram, para além do desenvolvimento específico do conteúdo, mas também com questões pessoais e sociais. Isso pode ser identificado analisando algumas das respostas dos alunos: “Com a estagiária eu aprendi a me expressar” (ALUNO 1); “aprendemos trabalhar em equipe” (ALUNO 9); “eu aprendi que com brincadeira a gente pode viajar num outro mundo”(ALUNO 10); “eu aprendi que tenho que participar” (ALUNO 15) explica que brincando a criança também coloca para fora as suas emoções e personaliza os seus conflitos. O brincar estimula a criatividade, a imaginação, aprofunda, para a criança, compreensão da realidade (Teles, 1999 apud Grübel, 2006).
E, por fim, os alunos foram questionados sobre o seu entendimento sobre aula de Educação Física. De acordo com as respostas, percebeu-se que, de forma geral, as concepções estão relacionadas com a prática esportiva, como pode ser visualizados nas respostas: “é esporte” (ALUNO 4, 7, 9, 12, 16, 23, 27); “Educação Física para mim é prática de tudo quanto é tipo de esporte” (ALUNO 17).
Para outros, verificou-se que a Educação Física se resume em “Brincadeiras” (ALUNO 2, 6, 8, 11, 20, 23). Porém, observamos que para alguns alunos essa concepção é ampliada, quando afirmam que a Educação Física “É brincar, se divertir, aprender coisas novas e conhecer os esportes e brincadeiras” (ALUNO 1); “Educação Física para mim é brincar, aprender, praticar esportes, se divertir com a participação e o companheirismo. Ser feliz” (ALUNO 22); “pra mim é ter saúde, exercício e brincadeira” (ALUNO 26); “para mim é um material que nos ajuda a desenvolver nosso corpo a aprendemos esportes” (ALUNO 19).
Segundo Valente (1993 apud Grübel, 2006) a pedagogia por traz dos jogos educacionais é a de exploração auto-dirigida ao invés da criança criar as brincadeiras, esta filosofia de ensino defende a ideia de que a criança aprende melhor quando ela é livre para descobrir relações por ela mesma, ao invés de ser explicitamente ensinada como desenvolver ou ela mesma criar as atividades com ajuda do professor.
Considerando a aceitabilidade da proposta pelos alunos, acredita-se que a mesma deve ser planejada pelos professores de Educação Física, constituindo-se parte do currículo da disciplina na escola, e não apenas ser enfocada em momentos isolados, como foi o caso da realização deste trabalho.
Perspectivas docentes sobre o desenvolvimento da proposta
Da mesma forma, buscou-se a compreensão da professora de Educação Física que estava atuando na escola, que acompanhou o trabalho desenvolvido sobre a importância e pertinência do mesmo. Sendo assim, questionamos a professora sobre as contribuições das atividades realizadas para o desenvolvimento da comunicação e expressão dos alunos. Sobre essa questão, a professora afirma que “mostrou uma maneira diferente de trabalhar a Educação Física e com isso poderá contribuir com as disciplinas” (PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA).
O estudo surgiu de inquietações originadas enquanto estudante-estagiária, o que gerou satisfação e também marcou substancialmente a sua carreira, principalmente por ter sido possível encontrar respostas para algumas perguntas no início de sua caminhada profissional (FOLLE; FARIAS 2009).
Por outro lado, e considerando que atividades desse tipo são pouco realizadas nas aulas de Educação Física, o que poderia ultrapassar as concepções de aula relacionadas a ensino de gestos motores, questionou-se a professora sobre as dificuldades para se trabalhos dessa natureza em âmbito escolar. Com relação e este aspecto, ela afirma que “existe pouca dificuldade, uma delas é o grupo de professores das várias disciplinas precisarem de mais tempo para planejar juntos” (PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA).
Nesse mesmo sentido, questionou-se ela sobre as possibilidades de se desenvolver projetos interdisciplinares no âmbito escolar, já que, esta proposta que foi desenvolvida poderia ser relacionada também com outras disciplinas da área da comunicação e expressão. Sendo assim, ela assegura que “seria muito importante, pois uma disciplina pode contribuir com outra para uma melhor aprendizagem” (PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA).
Com relação a estes aspectos, é importante criar a existência de um “diálogo” maior entre as disciplinas em cada área de ensino e, para isto, o planejamento das aulas e conjunto torna-se imprescindível, pois “A dinâmica curricular da sala de aula não ganha sentido em si mesma, mas enquanto elemento da dinâmica curricular de toda a escola” (MARQUES, 1995 apud BOSCATTO, 2008).
Considerações finais
Este estudo apresentou e discutiu como as atividades de recreação como estratégias pedagógicas podem interferir consideravelmente no comportamento das crianças, nos casos de indisciplina, socialização, afetividade e desenvolvimento de atividades para o ensino da Comunicação e Expressão.
A partir da implementação das aulas de Educação Física escolar, pode-se constatar que propostas dessa natureza são bastante interessantes para serem desenvolvidas em âmbito escolar, já que, podem contribuir de maneira significativa com a aprendizagem dos alunos ao trabalhar a comunicação e expressão por meio do corpo em movimento. As contribuições aparecem de forma significativa tanto no que diz respeito ao reconhecimento corporal, expressão de sentidos e significados dos movimentos, tanto no que se refere ao reconhecimento desse corpo como forma de comunicação com o mundo, com o contexto que cada aluno vive.
A partir do desenvolvimento da proposta de intervenção, verificou-se que, através das atividades, houve de fato, uma mudança no comportamento apresentado pelas crianças.
Isso pode estar relacionado ao fato de as atividades recreativas chamarem a atenção pela beleza das várias brincadeiras, estimulando as crianças a participarem das aulas. Isso porque, em muitos casos, os alunos estão saturados das repetições dos conteúdos escolares, em aulas tradicionais.
As atividades práticas recreativas seduzem pela beleza das várias brincadeiras, estimulando as crianças a participarem das aulas. Isso porque, em muitos casos, os alunos estão saturados das repetições dos conteúdos escolares, em aulas tradicionais, nas quais ficam horas e horas sentadas como espectadores.
Então, a proposta foi “quebrar” esse paradigma, oferecendo aos alunos a oportunidade de modificar sua rotina a qual estavam acostumados, quando então passaram de observador/repetidor a participantes/construtores de sua própria aula. Tal metodologia os auxiliou na “construção” de suas personalidades, pois davam ênfase às suas construções e seus sonhos, utilizando-se da sua criatividade. Com isso estavam, sem saber, adquirindo conceitos e valores.
Quanto aos princípios das atividades recreação, que além de incentivar a brincadeira para desenvolvimento da criança em relação ao motor, afetivo, cognitivo e emocional, verifica-se que se utilizam também vários conteúdos escolares diversificados, para o desenvolvimento das crianças.
Recomendam-se aqui as atividades práticas de recreação, as quais utilizam materiais pedagógicos de baixo custo, contribuindo para que através das brincadeiras de construir e desconstruir, a criança vivencie experiências onde seja estimulado todo o seu desenvolvimento e contribua para que seja formado um cidadão consciente de seus limites e suas possibilidades. Assim, observa-se que experiências adquiridas fazem parte do aprendizado e contribuem para que se adquira autonomia, respeitando a própria individualidade e a dos demais, ou seja, aprende-se a viver em sociedade, respeitando os limites nela existentes.
As atividades de recreação possibilitam que a criança desenvolva Expressão verbal e Expressão corporal, aumentando a espontaneidade criadora, e em conseqüência, o processo de desenvolvimento e aprendizagem. A brincadeira é uma forma de comportamento social, que se destaca da atividade do trabalho e do ritmo cotidiano da vida. Portanto, as atividades auxiliaram na questão da afetividade e socialização dos alunos, contribuíram para o bem estar deles. A afetividade e a socialização devem ser trabalhadas durante muito tempo, para realmente se obter bons resultados.
Por fim, a partir dos resultados verificados no presente estudo, aponta-se a necessidade de construção de um projeto interdisciplinar desenvolvido durante um período mais longo, o que possibilitaria melhores resultados com relação ao desenvolvimento da comunicação e expressão dos alunos.
Referências
ADAMI, Fernando. Aspectos da construção e desenvolvimento da imagem corporal e implicações na Educação. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 10, N° 83, Abril de 2005. http://www.efdeportes.com/efd83/imagem.htm
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digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires,
Mayo de 2010 |