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Educação Física: do higienismo à reflexão crítica

Educación Física: del higienismo a la reflexión crítica

 

*Mestre em Educação Física - UNIBH

**Acadêmico de Educação Física – UNIBH

(Brasil)

Jurema Barreiros Prado Debien*

jpbdebien@yahoo.com.br

Aroldo Luís Ibiapino Cantanhede**

alicantanhede@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho é discutir a Educação Física na escola e de como a mesma atravessou diversas fases desde o século passado até nos dias atuais. Para tanto analisou-se a Educação Física na escola e a ressignificância que deve ocorrer nesta área do conhecimento para que se colham resultados positivos.

          Unitermos: Educação Física. Escola. Reflexão crítica

 

          Este trabalho é fruto da Semana pedagógica e politica em Educação Física do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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    A Educação Física suscita ainda muitos questionamentos nos dias atuais, principalmente na escola. Qual a sua relevância? Onde e como ela atua? Quais são seus pressupostos temáticos e conteúdos?

    Essas são indagações plausíveis de serem feitas na atualidade, principalmente em um campo dicotômico como é a Educação Física (REZENDE et al., 2010).

    Por esses questionamentos é que objetiva-se com este trabalho discutir a ação da Educação Física, partindo de sua historicidade, influências sofridas ao longo do tempo e sua inserção na escola.

    Este trabalho se justifica em virtude da obrigatoriedade da Educação Física como disciplina na Educação Básica brasileira o que deveria gerar novos questionamentos relacionados à relação Educação Física/Escola.

    O método de revisão de literatura em periódicos e artigos indexados em bases de dados nacionais e internacionais, revistas e livros foram consultados visando dar subsídios ao desenvolvimento do tema.

Introdução

    A educação física no Brasil teve fortíssimas influências médico-biológicas, onde a saúde, higiene e eugenia eram as bases para a sua prática (BRASIL, 1998; DARIDO, RANGEL, 2005).

    Ao final dos anos 60 o Brasil atravessava um período ditatorial e o controle da sociedade em todos os seus aspectos era uma política de Estado (FERREIRA, BITTAR, 2008). Com isso o governo, visava o controle das consciências que poderiam se opor as suas diretrizes, geralmente opressoras.

    Como política governamental, o Estado investiu na Educação Física visando o desenvolvimento do nacionalismo integrativo, o fortalecimento dos jovens e, por conseguinte das forças armadas e, finalmente, o desenvolvimento da força produtiva de trabalho. Essa política foi colocada em prática pelas Leis 5.540/68, 5.692/71 e decreto 69.450/71 (TABORDA DE OLIVEIRA, 2002; BRACHT, 1999). Além desses objetivos, outro em particular foi fomentado com essas políticas públicas: a busca por talentos que pudessem representar o país em competições internacionais (BRASIL, 1998).

    Nessa conjuntura a Educação Física servia bem aos propósitos de um governo controlador e repressor (GERMANO, 1993).

    A partir do final dos anos 70, com a titulação de doutores e mestres a Educação Física passou a ter contato com teorias contrárias ao modelo vigente (esporte/aptidão física) (BETTI, 1992). Nas palavras de Darido (1999) “[...] na tentativa de romper com o modelo hegemônico [...] são elaborados os primeiros pressupostos teóricos num referencial crítico”.

    Muito embora alguns autores já demonstrassem suas ideias dentro das características de uma abordagem crítica, onde se podem citar como exemplo as publicações "Educação Física cuida do corpo... e mente" (MEDINA, 1983), "Prática da Educação Física no primeiro grau: Modelo de reprodução ou perspectiva de transformação?" (COSTA, 1984), "Educação Física e aprendizagem social" (BRACHT, 1992), a publicação "Metodologia do ensino da Educação Física” publicada por um coletivo de autores em 1992 é considerada como a célula-mater desta abordagem (DARIDO, 1999).

O objetivo central da Educação Física

    O real objetivo da Educação Física na contextualização crítica e por assim dizer reflexiva é levar o educando a conhecer a Cultura Corporal do Movimento (CCM). Essa forma de cultura abrange tudo o que o homem criou ao longo do tempo relacionado ao corpo e o movimento: Jogos, danças, lutas, esporte, ginástica, etc. (NEIRA, 2009).

    Contudo engana-se quem pensa ser a Educação Física uma disciplina que ensina, corrige e aprimora apenas o movimento.

    A Educação Física, ao se basear na CCM, problematiza questões sociais diversas, interpreta fatos cotidianos, constrói conhecimentos com características autônomas e de liberdade crítica. Nas palavras de Kunz (1994):

    ‘...não se elimina o interesse do movimento que é específico do Esporte, da Aprendizagem motora, da Dança, ou das atividades lúdicas enquanto conteúdo específico da área, porém coloca-se o estabelecimento dos objetivos para desenvolver a competência de autonomia.

    Já Soares et al. (1992) afirma:

    ...os temas da cultura corporal (o jogo, o esporte, a ginástica e a dança), devem compor um programa de Educação Física, com os grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceito urbano, distribuição de renda, dívida externa e outros.

    Para Neira (2009) a sustentação da Educação Física está na reflexão sobre as produções humanas que estão associadas ao movimento humano. Sendo que esta reflexão é imprescindível nas aulas de Educação Física.

Ressignificância da Educação Física na Escola

    Na fase escolar o educando deve vivenciar uma diversidade de experimentações dentro da Educação Física. Há nesse contexto oportunidades impares de práticas corporais não apenas no esporte (DARIDO, 2006). Sendo assim a escola deve favorecer ao educando a participação em diversas manifestações da CCM ministradas por profissional habilitado (BRASIL, 1996).

    Vale lembrar que é nessa fase que o educando trava contatos com discussões relacionadas ao corpo. E esses valores, tais como o corpo perfeito, estética, sexualidade, beleza, etc., se tornam uma constante na vida do escolar.

    A Educação Física pode então utilizar de suas ferramentas trazendo para dentro das aulas a discussão e reflexão sobre essa e diversas outras temáticas (BETTI, 1998).

    A Educação Física na escola deve ser promotora de inclusão a todos os alunos e possuidora de estratégias para que esses mesmos alunos possam se inteirar do conhecimento adquirido, transformá-lo, adaptá-lo, sistematizá-lo de maneira a atender as características do seu corpo, da sua comunidade, etc.(DARIDO, 2006).

    Nas palavras de Oliveira (2002) ao se referir a Educação física na escola: “...uma forma de pensar integral, de maneira a unir a cultura corporal do movimento com aspectos sociais, afetivos e cognitivos com caráter transformador.”

    Cria-se então dentro da prática uma ação crítico-reflexiva na qual nada é feito apenas por fazer ou por acaso.

Considerações finais

    Conclui-se então que a Educação Física no Brasil foi influenciada por um referencial médico-biológico onde a eugenia, a higiene e a saúde eram pressupostos para a sua inclusão na Escola.

    Outra caracterização da Educação Física foi a de ter sido utilizada pelo regime ditatorial com o objetivo do desmantelamento das opiniões contrárias, para o fortalecimento das forças armadas através da juventude, do aumento da ideia de nação e de sua integralidade como país e também da força produtiva de trabalho.

    No decorrer dos anos a Educação Física teve contato com outros referenciais teóricos que contrariavam a forma de ensino vigente que era baseada no tecnicismo-esportivismo.

    Atualmente a Educação Física tem se apresentado como disciplina que objetiva levar ao educando a Cultura Corporal do Movimento. Cultura essa que traz em seu bojo as manifestações corporais criadas pelo homem através dos tempos.

    Finalmente conclui-se que a Educação física não está restringida apenas ao campo do movimento, da motricidade ou do comportamento motor, mas seu escopo transcende estes patamares levando seu conhecimento a uma gama de lugares e situações. É por isso que a Educação Física pode e deve tratar em suas aulas de conhecimentos diversos partindo da Cultura Corporal do Movimento.

Referências bibliográficas

  • BETTI, M. Ensino de primeiro e segundo graus: Educação Física para quê? Revista do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, v.13, n.2, p.282-287, 1992.

  • BETTI, Mauro. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus 1998.

  • BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos do CEDES (UNICAMP), Campinas, v. XIX n. 48, p. 69-88, 1999.

  • BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. v.7 Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

  • DARIDO, S.C. Ação pedagógica do professor de Educação Física. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia, 1999.

  • DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação Física na escola: implicações para prática pedagógica. Editora Guanabara Koogan, 2005.

  • DARIDO, S. C. Em que consiste a Educação Física escolar hoje?. Novas orientações para a Educação Física escolar e a questão da cultura. Revista Presente! Revista de Educação, ano 15, n. 53, p. 26-28, 2006.

  • FERREIRA Jr., Amarilio; BITTAR, Marisa. Educação e ideologia tecnocrática na ditadura militar. Cadernos do CEDES (UNICAMP), v. 28, p. 333-355, 2008.

  • GERMANO, José Wellington. Estado militar e educação no Brasil (1964-1985). São Paulo: Cortez; Campinas: Editora Unicamp,1993. 297p

  • KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Editora Unijuí, 1994.

  • NEIRA, M. G.. Em vez de formar atletas, analisar a cultura corporal [Depoimento concedido a Rodrigo Ratier]. Revista Nova Escolar, São Paulo, p. 38 – 40, Ago/2009.

  • NEIRA, M. G.. Ensino de Educação Física. 1. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. v. 1. 210 p.

  • OLIVEIRA, D. T. R. Por uma ressignificação crítica do esporte na Educação Física: uma intervenção na escola pública. Campinas: Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Unicamp, 2002.

  • REZENDE, A. C. C., CANTANHEDE, A. L. I., NASCIMENTO, E., TEIXEIRA, R. D., ARAÚJO AZEVEDO, V. F. W. Professor de Educação Física? A baixa procura pela Licenciatura em diversas Instituições de Ensino Superior pelo Brasil. EDeportes.com, Revista digital. Buenos Ayres, ano15, n. 143, abril de 2010. http://www.efdeportes.com/efd143/educacao-fisica-a-baixa-procura-pela-licenciatura.htm

  • SOARES, C. L. TAFARREL, C. VARJAL, E., CASTELANI FILLHO, L.,ESCOBAR, M., BRATCH, V. Metodologia do ensino de Educação Física, Coleção magistério 2 grau. Série Formação do professor. São Paulo: Cortez, 1992.

  • TABORDA DE OLIVEIRA, M. A.. Educação Física e ditadura militar no Brasil: entre a adesão e a resistência.. In: II Congresso Brasileiro de História da Educação, 2002, Natal/RN. História e memória da educação brasileira. Natal/RN: Technomedia, 2002. v. único. p. 1-10.

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