Comparação entre desempenho cognitivo de adultos e idosos fisicamente ativos Comparación entre el rendimiento cognitivo de adultos y personas mayores físicamente activos Comparison of cognitive performance among adults and elderly physically active |
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*Especialista em Gerontologia **Mestre em Educação Física ***Doutora em Ciências da Saúde Faculdade de Educação Física – FEF Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos – GEPAFI Universidade de Brasília – UnB, Brasília - DF |
Edvânia Pereira de Almeida* Márcio de Moura Pereira** Marisete Peralta Safons*** (Brasil) |
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Resumo Introdução : Dentre os diversos transtornos que afetam os idosos, a saúde mental merece especial atenção. A demência incapacita idosos em todo o mundo, levando à perda da independência e da autonomia. Já se sabe que a perda cognitiva está associada com a demência. Entretanto, permanecem dúvidas quanto ao comportamento da cognição em idosos. Objetivo: Comparar o desempenho cognitivo de adultos e idosos fisicamente ativos. Metodologia: Este estudo caracterizou-se como pesquisa descritiva, de caráter transversal, em que uma amostra composta por 119 indivíduos praticantes regulares de atividades físicas, divididos em G1 (adultos; n = 19; idade = 56,05±2,99 anos) e G2 (idosos; n = 100; idade = 69,89±6,82 anos) foi avaliada através do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) para desempenho cognitivo. Utilizou-se estatística descritiva (média e desvio-padrão) e inferencial não paramétrica (Teste de Mann-Whitney e Qui-quadrado) na comparação entre os escores e as classes de comprometimento cognitivo dos grupos, para uma significância p ≤ 0,05. Resultados: Na comparação entre os escores obtidos no MEEM pelo G1 (28,42±1,77) e G2 (27,00±3,14), não foi verificada diferença significativa (p=0,71) no desempenho cognitivo entre indivíduos adultos e indivíduos idosos. Não houve também significância (p=0,40) quando se compararam idosos e indivíduos mais jovens para as categorias de comprometimento cognitivo. Conclusão: Verificou-se que o distanciamento cognitivo entre adultos e idosos tende a desaparecer quando se comparam indivíduos fisicamente ativos. Este fato reforça a hipótese de que a prática de exercício regular possa ter um efeito protetor em relação às perdas cognitivas relacionadas ao avançar da idade.Unitermos: Cognição. Idosos. Exercício
Abstract Introduction: among the various disorders that affect the elderly, mental health deserves special attention. Dementia incapacitates elderly people all over the world, reducing independence and autonomy. It is already known that the cognitive impairment is associated with dementia. However, questions remain about the behavior of cognition in the elderly. Objective: this study aimed to compare cognitive performance between adults and elderly people, both physically active. Methods: for this descriptive and cross-sectional study, a sample of 119 apprentices of physical activity was separate in 2 groups: G1 (adults; n = 19; age = 56,05±2,99 yr) and G2 (old; n = 100; age = 69,89±6,82 yr). Cognitive performance was measured using the Mini Mini-Mental State Examination (MMSE). Descriptive (mean and standard deviation) and inferential nonparametric statistics (Mann-Whitney and Chi-square) was used to compare the scores and classes of cognitive performance of the groups. Statistical significance was set at p ≤ 0.05. Results: no significant relationships (p = 0.71) between MMSE scores obtained by G1 (28.42±1.77) and G2 (27.00±3.14) were observed in cognitive performance among individuals adults and the elderly. There also were not significant relationships (p = 0.40) when comparing older and younger individuals into categories of cognitive impairment. Conclusion: It was found that the differences in cognitive performance between adults and the elderly tend to disappear when comparing physically active individuals. This fact reinforces the hypothesis that the practice of regular exercise may have a protective effect in relation to cognitive losses related to advancing age. Keywords: Cognition. Elderly. Exercise
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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1. Introdução
O envelhecimento populacional ocorrido nas últimas décadas tem provocado o aumento de prevalência das doenças crônicas. O estudo do comprometimento cognitivo entre idosos assume papel importante, sobretudo quando se leva em conta que esta condição pode preceder as manifestações clínicas da doença de Alzheimer (BUSSE, 2008).
Dentre os diversos transtornos que afetam os idosos, a saúde mental merece especial atenção. Depressão e demência têm incapacitado idosos em todo o mundo por levarem à perda da independência e quase inevitavelmente, da autonomia. As desordens mentais comprometem 20% da população idosa, entre as quais se destacam a demência e a depressão como prevalentes (BENEDETTI et. al, 2008; ALMEIDA, 2009).
Além das alterações motoras na velhice, as alterações de origem neuropsicológicas envolvidas no processo cognitivo, tais como o aprendizado e memória, constituem um dos principais alvos de pesquisas na área do envelhecimento, já que estas alterações podem comprometer o bem-estar biopsicossocial do idoso impedindo a continuidade da sua vida social de forma participativa (ALMEIDA, PEREIRA e SAFONS, 2009).
A disfuncionalidade cognitiva constitui uma das maiores queixas da população idosa. Ela promove diminuição da adaptabilidade social, dependência, e perda da autonomia sendo, por isso, um fator determinante no comportamento dessa faixa etária, por ser um agente causador de um desempenho menos eficiente (COUTINHO FILHO, 2008).
O envelhecimento saudável é associado a preservação da funcionalidade que esta intimamente ligado à manutenção da autonomia e da independência, ou seja, da capacidade de determinar e executar as atividades da vida diária, sem ajuda de outros.
As cidades têm reservado cada vez mais espaços onde idosos podem se exercitar, ocupar-se com atividades artesanais, dançar, participar de projetos sociais, etc. Um envelhecimento ativo depende de uma diversidade de fatores que podem melhorar efetivamente a qualidade de vida não apenas dos idosos, mas de toda a comunidade (WHO, 1999).
A expectativa de vida na terceira idade aumenta de acordo com a melhoria da qualidade de vida desses, ou seja, com o controle das doenças infectocontagiosas. Esse controle está associado ao modo de vida que estes apresentam durante toda a vida: a prática regular de exercícios físicos e os bons hábitos alimentares.
Exercício físico é conceituado como uma forma especial de atividade física planejada, sistematizada, progressiva e adaptada ao indivíduo. Os benefícios da prática de exercícios incluem o reforço da musculatura e do sistema cardiovascular; o aperfeiçoamento das habilidades atléticas; a perda ou a manutenção de peso; a profilaxia, tratamento e reabilitação de doenças; promoção de aptidão para atividades de vida diária, trabalho, lazer e esporte. Exercícios físicos realizados de forma regular ou frequente estimulam o sistema imunológico, ajudam a prevenir doenças (como cardiopatia, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, etc.), equilibram o colesterol, ajudam a prevenir a obesidade. Além disso, melhoram a saúde mental (STAMPFER et al, 2000; MANSON et al, 2001).
As modalidades mais difundidas entre idosos são musculação, dança de salão, hidroginástica, ioga, tai chi chuan, caminhada e natação.
As atividades em grupo proporcionam o chamado “ganho secundário” que inclui o equilíbrio emocional, incremento na autoestima e a integração social, benefícios comumente ignorados na prática clínica cotidiana, porém, extremamente vantajosas para idosos (JACOB FILHO, 2006).
O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), elaborado por Folstein et al. (1975), é um dos testes cognitivos mais empregados e mais estudados em todo o mundo: usado isoladamente ou incorporado a instrumentos mais amplos, permite a avaliação da função cognitiva e rastreamento de quadros demenciais.
Desde sua criação, suas características psicométricas têm sido avaliadas, tanto na sua versão original, quanto pelas inúmeras traduções e adaptações para várias línguas e países. No Brasil, o MEEM recebeu a atenção de clínicos e pesquisadores, sendo utilizado em atividades clínicas e de investigação científica.
A avaliação do estado mental de idosos é importante para elaboração de planos de reabilitação e de políticas de prevenção de saúde mental. Medidas de intervenção visando a identificar causas tratáveis de déficit cognitivo e de perda de independência e da autonomia de idosos deveriam torna-se prioridade do sistema de saúde, objetivando promover a saúde e o bem-estar da crescente população de idosos (MALLOY-DINIZ e CARVALHO, 2001).
Estudos populacionais (IBGE, 2000; DATASUS, 2007) sugerem que há perdas significativas tanto nas variáveis físicas quanto mentais com o avançar do processo de envelhecimento, inclusive relatando alterações importantes a cada década a partir dos 60 anos. Entretanto, há carência de relatos sobre o comportamento deste processo em grupos de idosos fisicamente ativos.
2. Objetivo
Comparar o desempenho cognitivo de adultos e idosos fisicamente ativos.
3. Metodologia
3.1. População e amostra
Participaram deste estudo uma amostra não probabilística composta por 119 indivíduos, divididos em 2 grupos: G1 (adultos) e G2 (idosos) com as características descritas na tabela 1.
Tabela 1. Caracterização da amostra
Grupo
n
Idade
Sexo
G1
19
56,05±2,99
Masc. = 15,8%
Fem. = 84,2%
G2
100
69,89±6,82
Masc. = 27%
Fem. = 73%
Todos sujeitos eram praticantes regulares de exercícios físicos (musculação, ioga, dança de salão, etc.), matriculados em Programas de Atividades Físicas desenvolvidos na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília – UnB.
Como critério de inclusão para os pacientes foi exigido não estar em uso de medicamentos que comprometam o raciocínio.
3.2. Protocolo de avaliação
O instrumento utilizado para a realização do estudo foi o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), usado para avaliar a memória dos participantes e foi escolhido a partir de estudos realizados por Bertollucci et al. (1994) e Almeida (1998).
O MEEM possui diversas questões tipicamente agrupadas em sete categorias, cada uma delas planejada com o objetivo de avaliar funções cognitivas específicas: orientação de tempo (5 pontos), orientação para local (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), lembrança de três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto).
Os escores do MEEM podem variar de um mínimo de 0 até um total máximo de 30 pontos. Sofrem influência significativa da idade e da escolaridade do indivíduo, sugerindo a necessidade de se utilizar pontos de corte diferenciados. De acordo com Bertolucci et al. (1994), a ausência de transtorno cognitivo é dada pelos seguintes valores de corte: 13 para analfabetos; 18 para indivíduos com 1 a 7 anos de escolaridade e 26 para 8 anos ou mais de escolaridade (OLIVEIRA et al., 2006).
3.3. Estatística
Pesquisa descritiva, de caráter transversal, em que o comprometimento cognitivo (variável dependente) foi comparado entre dois grupos (G1 e G2) de praticantes de atividades físicas de diferentes faixas etárias (variável independente). Utilizou-se a média e desvio-padrão na estatística descritiva e a comparação entre os resultados de G1 e G2 foi feita através de estatística não paramétrica (Teste de Mann-Whitney e Qui-quadrado), para uma significância de 5% (p≤0,05).
4. Resultados
Como a distribuição dos escores entre os grupos não apresentou normalidade na distribuição (Teste de Shapiro-Wilk com p = 0,002) optou-se pelo tratamento não paramétrico dos dados.
Na comparação entre os escores obtidos no MEEM pelo G1 (28,42±1,77) e G2 (27,00±3,14), através do Teste de Mann-Whitney, não foi verificada diferença significativa (p = 0,71) no desempenho cognitivo entre indivíduos adultos e indivíduos idosos, ambos fisicamente ativos.
Também não foi verificada significância (p= 0,40) no teste do Qui-quadrado quando se compararam idosos e indivíduos mais jovens para as categorias de comprometimento cognitivo com “n” suficiente para a realização do teste estatístico. Nenhum indivíduo foi classificado como portador de comprometimento cognitivo severo. A distribuição (frequência relativa) de indivíduos dentro de cada classe de comprometimento cognitivo está descrita na Tabela 2.
Tabela 2. Comprometimento cognitivo
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Faixa etária |
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Adultos de 40 a 60 anos |
Idosos |
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Comprometimento cognitivo |
Nenhum |
94,7% |
92,0% |
Leve |
0,0% |
6,0% |
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Moderado |
5,3% |
2,0% |
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Severo |
0,0% |
0,0% |
5. Conclusão
Os resultados obtidos neste estudo contrariam os relatos prévios de desempenho cognitivo de pessoas idosas, nos quais estes indivíduos tendem a apresentar escores inferiores aos dos sujeitos mais jovens, sendo que as diferenças tornam-se maiores a cada década que separa as diferentes faixas etárias.
Verificou-se ainda que o distanciamento cognitivo entre adultos e idosos tende a desaparecer quando se comparam os escores de indivíduos fisicamente ativos. Este fato reforça a hipótese de que a prática regular de exercícios físicos tenha um efeito protetor em relação às perdas cognitivas relacionadas ao avançar da idade.
Referências
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ALMEIDA, O.P. Mini-exame do estado mental e o diagnóstico de demência no Brasil. Arq. Neuropsiquiatr, v. 56, n. 3B, p. 605-612, 1998.
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BERTOLUCCI, P.H; BRUCKI, S.M; CAMPACCI, S.R; JULIANO, Y. O mini-exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arq Neuropsiquiat, v. 52, p. 1-7, 1994.
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COUTINHO FILHO, R.C. As influências da prática de atividade física nas funções cognitivas em idosos. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Airews, v. 12, nº 118, 2008. http://www.efdeportes.com/efd118/as-influencias-da-pratica-de-atividade-fisica-nas-funcoes-cognitivas-em-idosos.htm
DATASUS. URL: Disponível em www.datasus.gov.br, acessado em 24 de fevereiro de 2010.
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