Panorama do conteúdo dança nas aulas de Educação Física escolar | |||
*Licenciada em Educação Física pela FAGOC, Ubá/MG **Professora do Curso de Educação Física, FAGOC, Ubá/MG ***Professor do Curso de Educação Física, FAMINAS, Muriaé/MG (Brasil) |
Elaine Maria da Silva* Marli das Graças Júlio** Jairo Antônio da Paixão*** |
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Resumo O objetivo desse estudo foi analisar o conteúdo dança nas aulas de Educação Física escolar. A partir de uma pesquisa descritiva junto aos professores de Educação Física constatou-se que a dança continua subjugada a um espaço no qual prevalece a hegemonia do conteúdo esporte. Apesar de os profissionais conhecerem os benefícios da dança no processo de formação dos alunos, mantém em sua maioria o despreparo e o desinteresse por parte dos mesmos em desenvolver a dança na escola. Unitermos: Dança. Educação Física escolar. Minas Gerais
Abstract The aim of this study was to analyze dance in Physical Education classes. From a descriptive search with teachers of Physical Education found that the dance remains subdued in an area where the prevailing hegemony of sports. Although professionals realize the benefits of dance in the formation of students, remains mostly the lack of preparation and lack of interest of them in developing the dance school. Keywords: Dance. Physical Education. Minas Gerais
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
A dança é uma expressão corporal repleta de movimentos e ritmos que exprimem as emoções e sentimentos humanos presentes no nosso dia a dia. Desenvolve a integração entre grupos de pessoas, proporcionando-lhes uma vivência afetiva e solidária. Apesar da dança não se configurar como um eixo temático trabalhado nas escolas pelos professores de Educação Física, percebe-se que se trata de uma manifestação corporal praticada por muitas pessoas, seja em grupo ou individualmente, e até como forma de lazer.
Como conteúdo nas aulas de Educação Física escolar, a dança, indubitavelmente, proporciona ao indivíduo uma série de benefícios à sua saúde e manutenção da qualidade de vida como a melhoria no desenvolvimento motor, construção de uma visão crítica e consciente de vida, além de aprimorar as habilidades motoras. Tudo isso, levando em consideração as limitações e capacidades de cada aluno.
No contexto escolar, a dança assume diferentes perspectivas como aquelas ligadas a criatividade, educacional e expressiva. Apresenta ainda como funções despertar no aluno maior integração com a sociedade em que vive, estimulando suas ações, melhorando a auto-estima, autoconfiança, aprimorando seu vocabulário, despertando sua sensibilidade, atenuando a timidez tornando-o mais comunicativo, sociável; e se o conteúdo for bem elaborado, pode contribuir positivamente para uma melhor aprendizagem.
Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi analisar e refletir sobre o trato pelos professores de Educação Física do conteúdo dança nas aulas de Educação Física em escolas do ensino fundamental.
Metodologia
Ao se considerar o problema aqui investigado, optou-se metodologicamente pelas técnicas da pesquisa descritiva que, nas palavras de Cervo e Bervian (2002, pg. 46) tem por finalidade “a descrição de característica de determinada população ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Para Gil (2009), o estudo de campo, como é desenvolvido no próprio local em que ocorrem os fenômenos, costumam apresentar resultados mais fidedignos. Nesse sentido, empregou-se para a coleta dos dados, um questionário semi-estruturado, validado por dois especialistas com ampla experiência na área, contendo questões pertinentes a situação da dança, bem como o tratamento proporcionado a esse conteúdo pelos professores nas aulas de Educação Física escolar.
A limitação da amostra deu-se pela escolha das escolas pertencentes à rede pública de ensino, situadas no município de Ubá/MG. O número da amostra em cada escola se deu de acordo com a existência de professores que mantinham vínculos empregatícios nessas instituições, bem como o aceite de participação na pesquisa. Totalizou-se 21 professores licenciados em ambos os sexos.
Dança no ambiente escolar
A dança se faz presente em diferentes momentos de nossas vidas, e em diversos espaços da sociedade. Um desses espaços é a escola, onde o aluno passa a maior parte da sua vida. Nessa perspectiva, como manifestação corporal, a dança deveria inserir-se em todos os contextos escolares com o intuito de sistematizar conhecimento para a formação de cidadãos. Nesses termos, a escola deixaria de ser apenas um espaço no qual se prioriza as atividades de ler, escrever e desenvolver o raciocínio lógico matemático e passaria a assumir também o papel na formação da expressividade postura e comuns ao comportamento do homem civilizado e educado no meio social.
Afirmação interessante é a de Rangel (2002), quando diz que a escola é o ambiente destinado à educação formal, pois sistematiza conceitos e pressupostos, visando à transformação social do cidadão. Ela proporciona aos alunos cultivar valores, tanto no convívio social quanto no meio dos colegas, professores e funcionários, além dos conteúdos abordados em sala de aula, Ela fornece diversidade de informações e comportamento, onde a educação é definida através da ideologia presente.
A escola pode tornar-se muito rígida, envolvendo o comportamento do aluno em relação à criatividade e o movimento (SILVA, 2000). Assim, a dança seria uma atividade que resgata e educa o corpo, não obrigando o mesmo a possuir técnica ou biótipo específico, mas despertando a participação de todos no sentido de experimentar, pesquisar e vivenciar movimentos, possibilitando ao aluno o conhecimento de si e de sua capacidade física baseado numa técnica livre.
Em seus estudos, Verderi (1998) afirma que a dança é utilizada na escola para expressar a corporeidade dos alunos, e graças a sua evolução podemos oferecer a eles diversas expressões e plasticidade, para que possam obter uma melhor performance, explorando a corporeidade, podemos perceber os benefícios que a dança promove nos alunos.
O trabalho da dança, segundo Garandy (1980 citado por Rangel, 2002), expressa os sentimentos liberando emoções e desejos através de movimentos, sem se prender a técnica. Dessa forma, permite ao aluno que se revele e desperte para o mundo de forma consciente, numa relação consigo e com outras pessoas. Complementando este pensamento, Nanni (1995 citado por RANGEL, 2002) entende que a dança e a educação poderão dinamizar e transformar o sujeito, permitindo que a fantasia aflore em seus movimentos.
O princípio da corporeidade visualiza a dança como um entrelaçar entre o corpo e mundo, pois os movimentos e gestos não serão impostos, mas construídos e desenvolvidos pelo próprio aluno, proporcionando-lhe a condição de um físico corpóreo dotado de expressão e se contextualizando melhor com o mundo a sua volta (PAIVA, 2002).
Através da dança, surgem mudanças no padrão motor, no conserto da imagem corporal e formação da auto-estima positiva (CARVALHO 2000). Com isso, o professor tem a função de levar o aluno à conscientização de que o que o move é o interior, que os “esforços” são apenas alavancas que suportam ossos e músculos, e que o direito à educação é possuir direito de “desejo” e de movimento.
A dança possui um caráter fundamental, enquanto atividade pedagógica associada à Educação Física no sentido de despertar uma relação concreta sujeito-mundo, estimulando a ação e compreensão do aluno, reforçando a auto-estima, o auto-conceito na vida do mesmo (VERDERI, 1998).
Nas palavras de Miranda (1991citado por RANGEL, 2002), embora muitas instituições de ensino superior ainda não aceitem a inclusão da dança nos cursos de Educação Física no Brasil, ela é realidade em muitas outras instituições. Ainda, na opinião de Rangel (2002), ela deve apresentar-se como disciplina obrigatória e como integrante da programação das aulas de Educação Física escolar. No entanto, encontramos pouca utilização desta atividade nas escolas, motivo que leva a uma diversidade de fatos, como, por exemplo, a visão de que o graduando tem a respeito da dança e do enfoque que ela tem recebido; nota-se a falta de licenciatura em cursos superiores de dança, ou mesmo a restrita referência que os outros fazem da atividade dançante enquanto conteúdo de Educação Física. Sendo assim, ele reforça em seu trabalho que a dança poderá, através da Educação Física, cooperar com o resgate e corporeidade do indivíduo, como aluno participante ou como graduando do curso de Licenciatura em Educação Física para sua melhor formação. Também valoriza o professor que utiliza a dança como parte de seu programa pedagógico a fim de que suas aulas sejam uma estratégia para viabilizar e edificar o ser na sua totalidade.
Sobre este aspecto, Souza (2004) salienta que os professores estão defasados em seus conhecimentos para a implantação da dança em suas aulas, limitando os alunos em seus movimentos, até quando eles são apenas preparados para festas escolares ou competições de festivais. Com isso, criam-se impossibilidades de vivenciar e entender os processos de criação dos trabalhos coreografados.
O autor acrescenta que, o importante é o professor renovar suas possibilidades de aplicar a dança em suas aulas, abrindo espaço para que os alunos também criem seus movimentos, compreendendo e dominando a linguagem da mesma. A dança, na escola, deve ser motivo para um interessante estudo sobre determinado país ou continente, pois assim não haverá apenas ação mecânica, mas uma correlação íntima com outros conhecimentos: música, história, geografia, dentre outros, levando a criança a descobrir novos interesses e uma mais viva interpretação (BARROS, 1980).
Por ser um conteúdo de conhecimento e também rico em diversidade cultural Proscênio et al (2007) destaca que a dança é importante no cotidiano escolar na educação infantil; como ela enriquece o processo de ensino aprendizagem quando trabalhada e adequada a seus alunos. Para os autores, qualquer professor com possibilidades de atuar no ensino poderá utilizar a dança em seus métodos educacionais. Este conteúdo poderá ser incluído de modo proveitoso sem se prender a técnicas estimulando movimentos básicos e simples de forma que possa melhorar a percepção corporal e domínio das ações, contribuindo na vida social dos alunos dando autoconsciência, independência e autonomia.
Paiva (2002) propõe que as escolas tenham um melhor método na aplicação da teoria construtivista para o ensino da dança com objetivo de aprimorar o aluno para sua formação profissional. Para o autor esta proposta ainda é muito pouco eficiente, não suprindo as necessidades dos alunos.
Entretanto os conteúdos Básicos Curriculares ressaltam a importância de se trabalhar a dança em todos os seus aspectos, proporcionando o aluno saber fazer e reproduzir os movimentos simples, transformando-os, modificando-os e até mesmo criando os seus próprios. (CBC/ MG, 2005). A dança vivida na prática poderá ampliar nosso vocabulário corporal através do nosso olhar sensível; ela, enquanto arte realiza sua função pensando em nossas formas de aprimorar o corpo, de estar no mundo e de nos comunicar com ele.
Segundo observações de Rangel (2002), o homem pode criar, analisar e transformar a dança em função de sua própria realidade, ou no ideal de suas aspirações.
A dança trabalha a coordenação motora, agilidade, ritmo e percepção espacial; desenvolve a musculatura corporal de forma integral e natural; permite melhoras na auto-estima e quebra diversos bloqueios psicológicos; possibilita convívio e aumento do rol de relações sociais: torna-se uma opção de lazer, promove a melhora de doenças e outros problemas. (FLORES, 2002, p.1)
Por ser uma atividade completa, Flores (2002) esclarece ainda mais ao dizer que ela promove muitos benefícios, e que eles são visíveis em cada ritmo, como, por exemplo, a dança de salão, que além de trabalhar diversos ritmos como forró, tango, samba e valsa, promove também o contato entre as pessoas e melhora a auto-estima. A dança do ventre, além de trabalhar a feminilidade e sensualidade das mulheres, desbloqueia tensões e alivia a baixa auto-estima. No que diz respeito à dança de rua, ela trabalha com movimentos livres, utilizando força e expressão, além de descarregar energia. O sapateado trabalha a agilidade dos movimentos de pés e pernas; o axé desperta a alegria e possibilita a queima de calorias. A dança folclórica de acordo com Ferreira (2005) quando inserida no contexto escolar, é atividade física, formativa e de socialização, uma vez que desenvolve os aspectos da personalidade, da valorização de um grupo e de preservação de raízes culturais.
Para o fisiologista Nóbrega, da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, citado por SZEGO (2009), dançar não faz bem somente para o corpo. Piruetas e rodopios são apenas detalhes que levam à motivação e a prosseguir na atividade com animação. Ela também fornece possibilidade de conhecer pessoas e de espantar o estresse, e faz-se de incentivo para os praticantes.
Para definir o contato da dança com crianças, Lima (1993) relata em seus estudos que ela é de grande importância na sua vida cotidiana, pois parte do principio de que a criança adora se movimentar; através do movimento, a criança pode perceber numerosas dimensões do espaço a sua volta, e se correlacionar com objetos, outras pessoas e consigo mesma. A dança também é importante para a sensibilidade da criança, levando-a a uma relação de proximidade com a natureza, e com isso ela vivencia corporalmente o espaço, tempo, peso e fluência, e reconhece o seu potencial físico-mental, tornando-se mais sensível ao mundo que a envolve.
Esclarecendo ainda, Porcher (1973 citado por LIMA, 1993), relata que, quando a criança obtém o domínio do seu corpo e de seus movimentos, ela entende melhor os estímulos sensoriais, como forma, cor, cheiro, sabor, movimentos e ruídos.
Reforçando a idéia do autor supracitado, Artaxo e Monteiro (2005) diz que praticamente todas as atividades corporais, visualiza-se um trabalho rítmico, não podendo este ser dissociado de atividades motoras ou da própria vida. Assim, é esperado que as atividades rítmicas educacionais mereçam maior atenção no programa de Educação Física. E estes autores ainda dão um destaque importante em seus estudos, que os métodos educacionais devem permitir que a criança crie, expresse, produza e não somente observe; pois os jogos sensório-motores que a criança realiza constituem esforços de organização da inteligência, pelos quais ela construirá seu conhecimento a respeito das formas, dos sons, dos movimentos, do tempo e do espaço.
Complementando os estudos dos autores supracitados, os PCNs (Brasil- 1997), trazem como atividades rítmicas e expressivas, incluindo a dança, as manifestações da cultura corporal humana que tem como características comuns a intenção de expressão e comunicação através da presença de estímulos sonoros como referência para movimento corporal. Ferreira et al. (2008), destaca que compreende as atividades rítmicas e expressivas, danças, brinquedos cantados, rodas e cantigas que pertencem a cultura corporal do homem ao longo do desenvolvimento da história, bem como atividades diferenciadas com movimentos ritmados, criados a partir das atividades tradicionais, através de impulso criativo, inovador e renovador; capaz de comunicar e divertir por meio da presença sonora, gerada a partir de diversas maneiras (músicas, palmas, objetos)
Em relação aos parágrafos anteriores, Ferreira (2005) destaca que ao trabalhar a dança escolar os professores devem se preocupar com a formação ética, a adaptação social, a organização do trabalho, o tratamento da informação, com o desenvolvimento psicomotor da criança, pois, são essas competências que são primordiais no cotidiano humano.
Assim, importante é trabalhar a dança em todos os seus aspectos o que fará o aluno saber fazer e reproduzir os movimentos simples, transformando-os, modificando-os e até mesmo criando os seus próprios movimentos. (CBC/ MG, 2005).
Le Boulch (1981, citado por NANNI, 2003) fala também da importância do esquema corporal no desenvolvimento da criança para adquirir noções psicomotoras e ações em geral que ela própria estabelece em relação ao mundo. Para os autores é a partir do sujeito-mundo; ao perceber os seres e as coisas que os cercam e a partir das funções do seu corpo e das possibilidades de agir e transformar o mundo que o esquema corporal estrutura a personalidade.
A utilização do esquema corporal e o referencial domínio do corpo ligado ao domínio do comportamento facilitam a adaptação da criança no espaço e no tempo; dando harmonia e equilíbrio às atividades diárias, aprendendo assim a enfrentar dificuldades, a executar tarefas com responsabilidades e a interagir com os outros e com o mundo social. Sendo assim, reforça a auto-imagem e melhora a auto-estima.
Em seus estudos Shimizu et al. (2004), faz considerações mostrando que a dança é capaz de seduzir os indivíduos, dando-lhes oportunidade de se expressarem, tornando as pessoas diferentes a cada instante, através do estímulo que lhes é proporcionado; também transforma as pessoas de uma forma tal que elas nunca serão iguais ao que já foram. Relaxa e alivia as tensões e é bastante eficiente nas escolas, pois ajuda a conter a agressividade dos alunos, tornando-os mais calmos e tranqüilos, e é eficiente na distração e fuga da vida e dos problemas cotidianos. Sobre este aspecto, o autor ainda acrescenta que os homens sentem necessidade de se relacionar, de se cultivar e se aprimorar, diante da sociedade.
Ceribelli (2008) destaca que através dos diversos ritmos a dança promove benefícios tanto para o corpo quanto para a mente, e que ela pode ser acessível a qualquer pessoa independente da faixa etária. Poderá melhorar a postura, ajudar na conquista de amigos, proporcionarem maior flexibilidade, equilíbrio, leveza nos movimentos e melhora na coordenação motora, ajuda também na sensibilidade de pensar, agir e sentir estimula o autoconhecimento e melhora a timidez. Estimula também a capacidade de comunicação especialmente a não verbal, expressa pelos movimentos corporais, a criatividade a imaginação; alem de proporcionar alegria, prazer, bem estar, paz e tranqüilidade.
Sendo assim com a dança é possível desenvolver a percepção e a imaginação, aprender a verdade do meio ambiente e apurar a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida, desenvolvendo a criatividade para mudar a realidade que foi analisada. (SOUZA, 2004).
Barreiras do ensino da dança na escola
Segundo Barreto (2004), encontramos algumas dificuldades que impede o ensino da dança nas escolas. A dança não sendo disciplina do currículo escolar, não poderá ser administrada nas escolas por licenciado em dança, só poderá ser trabalhada assumindo o papel do conteúdo de outra disciplina como Educação Artística e Educação Física, com isso aumentam as barreiras e obstáculos em relação o ensino da dança. Os licenciados em Educação Física e Educação Artística por não terem conhecimentos suficientes em seus cursos eles se sentem despreparados e não habilitados em exercer este conteúdo nas escolas, pois tiveram acesso apenas a uma disciplina semestral que discute questões referentes à dança. No entanto a dança e seus conhecimentos tratando-se de ensino aprendizado passam a ser fator de esquecimento nas escolas pelo fato de não saberem quem ensinará a dança na escola.
Rangel (2002) esclarece em seus estudos que o compromisso educacional da dança no ambiente escolar tem como agente transformador e formador de idéias o professor de Educação Física.
Ainda nas considerações do autor citado por Claro (1988), acredita que a dança é uma atividade possível de ser orientada pelo profissional de Educação Física, pois ela pode ser apreciada e vivenciada por todos que tem vontade de expressar seus desejos e pensamentos, sendo assim dança enquanto conteúdo metodológico desaprova característica que discriminam procurando respeitar os princípios da individualidade do educando.
Procêncio (2007) revela em seu trabalho desenvolvido com professores da Educação Infantil que estes ainda estão despreparados para trabalhar o conteúdo dança, pois não possuem conhecimento artístico, nem vivenciam essa atividade, mas, sabem de sua importância e suas possibilidades de trabalho; mas só a utilizam na escola quando são exigidos pela direção e nos momentos que precisam pensar em festivais culturais. Em função desses aspectos encontra-se em suas aulas dificuldades de controlar os alunos e de fazer com que memorizem os movimentos não estabelecendo objetivos nem resultados a serem alcançados.
Marques (1997) ressalta que a mídia põe em foco somente as lindas mulheres dançando na televisão, como se fosse lindas e atraentes, através desse fato a cultura foi sendo criada e transformou-se a dança como sendo “coisa de mulher” com isso os alunos do sexo masculino foram se afastando cada fez mais deste conteúdo, impedido sua atuação no ambiente escolar.
Segundo Barreto (2004, pág. 83):
“... dançar é essencial à formação humana, e seu ensino na escola tem um potencial de contribuir para a construção de um processo educacional mais harmonioso e equilibrado.”
Além das barreiras citadas pelos autores acima, Rangel (2002) enfatiza outros descaminhos da dança como o preconceito que enfrentamos principalmente no processo educativo, a falta de espaço ou local adequado para o desenvolvimento deste conteúdo, além da consideração que atribuímos a dança como atividade que incomoda a escola.
Outras dificuldades são descritos nos estudos de Darido (2004) que ressalta em suas considerações que os alunos consideram a Educação Física como matéria preferida, mas ao mesmo tempo solicitam despensas das aulas. Muitas das escolas em função de fatores como condições climáticas, organização curricular, condições de espaço, matérias optam por oferecer a disciplina em período alternado às demais disciplina, com isso a Educação física fora do período escolar dificulta a presença dos alunos nas aulas ficando afastados da cultura corporal.
Ainda nas considerações do autor, podemos observar em sua pesquisa que dentre os esportes praticados pelos alunos suas preferências estão o futebol, natação e basquetebol ficando a dança em penúltimo lugar. As aulas de Educação Física são baseadas somente em práticas repetitivas dos fundamentos e execução dos gestos técnicos esportivos, tem deixado de lado importantes conhecimentos produzidos ao longo da história da humanidade com a dança, as lutas, os esportes ligados à natureza; bem como o conhecimento do próprio corpo relacionado ao qual deveria fazer parte do ensino aprendizagem. Segundo ele a Educação Física na escola deveria oferecer oportunidade a todos os alunos de conhecer a cultura corporal, para que estes tenham uma melhor formação como cidadãos.
Resultados e discussão
A partir das questões investigadas junto aos professores de Educação Física atuantes na escola, foi possível tecer a seguinte discussão:
Conteúdos trabalhados pelos professores nas aulas
Dentre os temas sugeridos pela Cultura Corporal de Movimento para se trabalhar nas aulas de Educação Física escolar (esporte, jogos, lutas, dança e ginástica) o esporte e o jogo foram apontados como os principais na concepção dos professores. Mesmo sendo considerada essencial no contexto escolar, a dança não se encontra inserida nos planejamentos e nas aulas de Educação Física. Prevalece ainda a perspectiva de uma Educação Física escolar tradicional, na qual o esporte mantém sua hegemonia se comparado com os demais conteúdos. Essa constatação vem confirmar os estudos de Darido (2004) e Ferreira (2005), quando relata que dentre os esportes praticados pelos alunos suas preferências estão o futebol, natação e basquetebol ficando a dança em penúltimo lugar. As aulas de Educação Física são apenas repetições da programação e baseia-se somente em práticas dos fundamentos e execução dos gestos técnicos esportivos, tem deixado de lado importantes conhecimentos produzidos ao longo da história da humanidade como a dança, as lutas, os esportes ligados a natureza; bem como o conhecimento do próprio corpo relacionado ao objetivo do ensino aprendizagem. Segundo os autores, existe uma diferença fundamental entre movimento e exercício. O movimento é livre e espontâneo e o exercício implica método, sujeição a princípios técnicos e repetição. A Educação Física na escola deveria oferecer oportunidade a todos os alunos de conhecer a cultura corporal, para que estes tenham uma melhor formação como cidadãos.
Devemos levar em consideração também o que descreve Shimizu et al. (2004), a dança relaxa e alivia as tensões e é bastante eficiente nas escolas, pois ajuda a conter a agressividade dos alunos, tornando-os mais calmos e tranqüilos, e é eficiente na distração e fuga da vida e dos problemas cotidianos. Sobre este aspecto, o autor ainda acrescenta que os homens sentem necessidade de se relacionar, de se cultivar e se aprimorar, diante da sociedade.
O que os professores precisam urgentemente entender é que com a dança no contexto escolar o que se pretende é relacionar movimento, ritmo, orientação espaço-temporal, privilegiando a interpretação coletiva e a expressão/comunicação por meio da corporeidade.
Atividades rítmicas e expressivas nas aulas de Educação Física
Os professores atribuíram maior relevância as atividades que envolva ritmos e sons, essas atividades ajudam os alunos a expressarem seus desejos e sentimentos e aprender as múltiplas sensações do ritmo. Sobre estes aspectos, Barretos (2004) descreve em seus estudos que em função dos objetivos desejados poderá ser trabalhada por atividades inspiradas no cotidiano, como atividades lúdicas: jogos brincadeiras mímicas interpretação de cenas e músicas.
Em concordância com o autor supracitado, Ferreira (2005) ressalta que o objetivo de trabalhar o ritmo nas aulas de educação física, mais especificamente nas aulas de dança na escola, é desenvolver o rimo natural e tomar consciência dele e de sua importância na vida diária, profissional, desportiva, de lazer e até mesmo na vida escolar. E que educar o sentido rítmico implica prazer, memória, liberdade e movimento, vivência e domínio do movimento.
Nesta mesma linha de estudo, estão Artaxo e Monteiro (2005) ao relatarem que o ritmo é fundamental para a qualidade de vida das pessoas, principalmente nas atividades diárias, profissionais, lazer e esporte; e todas as atividades diárias exigem movimentos e este exige ritmo, manter esse ritmo através do movimento corporal poderá garantir a manutenção e o aumento da produtividade. A música, ou seja, o som também é fundamental por ser fator de estimulação, de motivação e todo o sistema motor, oferecendo conotação emocional do movimento como alegria e vibração.
Freqüência com que os professores trabalham a dança nas aulas
A fala da maioria dos professores evidencia que a dança é trabalhada em ocasiões que antecipam certas datas comemorativas e eventos na escola.
Procêncio (2007) comenta sobre os despreparo dos professores para trabalhar este conteúdo, para o autor os professores não receberam conhecimentos necessários, não se atentam para questões artísticas, além de não vivenciar o conteúdo, os professores sabem da importância e dos possíveis benefícios que possa oferecer, ainda sim não as utiliza em seus programas curriculares, para eles a dança é como uma obrigação exigida pela direção e pelos festivais culturais. Com isso os professores quando administra a aula de dança encontra dificuldades para com os alunos na memorização de movimentos e no controle da turma.
O conhecimento dos objetivos da dança
Quanto aos objetivos do conteúdo dança, a maioria dos professores afirmaram que pelo fato de não trabalhar a dança em suas aulas, não se consideram os objetivos desse conteúdo. No entanto, os poucos professores que afirmaram trabalhar a dança em suas aulas utilizam-na visando, sobretudo desenvolver em seus alunos a noção rítmica, a expressão corporal, a coordenação e criatividade.
Nesse sentido, como afirma Barreto (2004) a dança se tornou um fator de esquecimento nas aulas de Educação Física devido às dificuldades que encontramos ao ministrar as aulas de dança nas escolas como, por exemplo, os fatos dos professores não terem recebido conhecimento suficiente. Para o autor o primeiro objetivo que se tem da dança na escola é contribuir para a formação das pessoas, principalmente do educando em função da experiência profissional do educador. Esses profissionais afirmaram ainda que dentre os estilos de dança, o folclórico e a improvisação são os mais evidenciados em seus planejamentos.
Por meio das danças e brincadeiras os alunos poderão conhecer as qualidades do movimento, sendo capazes de analisá-los, conhecer algumas técnicas de movimentos, de construir coreografias e por fim, de adotar atitudes de valorização e apreciação destas manifestações expressivas, existem danças que estão desaparecendo tanto folclóricas quanto eruditas, pois não há quem as dance, quem conheça sua origem e significados. (PCNs, BRASIL, 1997).
Conhecimento das técnicas da dança pelo(a) professor(a)
Quando questionados sobre o domínio do conhecimento técnico da dança, a maioria reconhece sua importância, mas, no entanto não se apresenta como fator limitante para se trabalhar o referido conteúdo na escola. Alegaram ainda que o professor de Educação Física não precisa ter a formação em dança. O mais importante é buscar ligar a atividade ao movimento, deixar a criatividade tomar conta da aula. Em algumas situações, os alunos poderão ajudar na montagem da aula e o professor não precisa ser um profissional de dança, basta está atualizado nas informações através de pesquisas, vídeos ou até mesmo ter orientação de outro profissional. Nessa perspectiva, como afirma Rangel (1998), a dança é uma atividade possível de ser orientada pelo profissional de Educação Física, pois todos aqueles que têm desejos e pensamentos e vontade de expressa-los poderá vivenciá-la, deixando a discriminação de lado.
Sobretudo, a dança na escola deve permitir ao aluno, criar movimento, partindo de temas conhecido, e da improvisação, sendo assim, o professor não precisa saber e conhecer técnicas especiais de dança.
Considerações finais
Através dessa pesquisa, é possível afirmar que a maioria dos professores de Educação Física não apresenta experiência com o conteúdo dança, o que contribui para inviabilizar o trabalho desse conteúdo nas aulas de Educação Física escolar.
Apesar de muitos professores afirmarem conhecer a importância e os diversos benefícios proporcionados pela prática da dança, os mesmos parecem desconhecer os objetivos e benefícios desse conteúdo na escola.
Os professores precisam entender que não é necessário saber dançar, é necessário contextualizar os movimentos com objetividade, permitir aos alunos de vivenciar, experimentar e criar movimentos a partir de um tema, trechos de músicas e sons desafiadores para superar as dificuldades. Ao trabalhar este conteúdo, devem buscar o conhecimento prático-teórico, ou seja, conhecimento que envolva o fazer pensar e não somente seus aspectos pedagógicos, só assim, a dança poderá tornar um instrumento facilitador do processo ensino aprendizagem.
Neste estudo verificou-se que ainda há muito que estudar, pesquisar sobre esse conteúdo, conscientizar os profissionais da educação do valor educacional da dança para a formação do indivíduo.
Dentre os caminhos para se mudar a situação em que se encontra o conteúdo dança no âmbito escolar, se encontra primeiramente a necessidade de reflexão sobre a nossa prática, melhorar o nosso planejamento com atividades significativas que promovam experiências diversificadas, onde a dança possa ser uma ferramenta facilitadora do processo ensino aprendizagem.
Referências
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