Bailarinas, nadadoras e futebolistas: concepções sobre a prática desportiva feminina Bailarinas, nadadoras y futbolistas: concepciones sobre la práctica deportiva femenina |
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*Docente do Departamento de EF e Desporto da Escola Superior de Educação de Beja, Portugal Doutoranda em Actividade Física e Saúde na Universidade de Huelva, Espanha **Docente do Departamento de EF e Desporto da Escola Superior de Educação de Beja, Portugal Doutorando em Ciências da Educação – Educação para a Saúde na Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa ***Licenciada em Desporto |
Vânia Loureiro* Nuno Loureiro** Marta Florindo*** (Portugal) |
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Resumo A actividade física (AF) está relacionada a uma vida saudável, mais longa e com menor risco de doença. No entanto, nos adolescentes portugueses, os níveis de AF e de participação no desporto diminuíram e esta diminuição surge associada ao aumento da idade e ao género feminino. O presente estudo pretendeu identificar as motivações e os agentes motivadores para a prática desportiva das adolescentes; compreender a análise que fazem sobre a prática desportiva e identificar os facilitadores e obstáculos da sua prática desportiva. A amostra foi constituída por 18 atletas de três desportos diferentes (futebol, natação e ballet) e os dados foram recolhidos através de focus group interviews. O estudo revelou que o início da prática desportiva está associado à idade mas, o motivo que conduziu ao início da prática desportiva é o interesse/gosto pela modalidade. Outros motivos referidos são o divertimento e a saúde. As nadadoras e futebolistas consideram que o género do treinador não influencia a prática desportiva mas, as bailarinas têm uma opinião contrária e assumem que o género do treinador pode influenciar a prática. A família e os factores intrínsecos são também agentes motivadores da prática desportiva nas modalidades analisadas. As nadadoras e futebolistas consideram que a sociedade tem uma opinião negativa em relação à prática desportiva da mulher e todas admitem que existe uma visão estereotipada da sociedade sobre a prática, admitindo a existência de desportos destinados para mulheres e para homens. O aspecto físico é uma característica utilizada para dar opiniões sobre as praticantes de modalidades diferentes e apenas as bailarinas referem que não existem diferenças entre as praticantes. O estudo revelou ainda que a existência e possibilidade de prática das modalidades desportivas é um factor facilitador e o tempo é o maior obstáculo à prática desportiva. Unitermos: Prática desportiva. Motivação. Agentes motivadores. Estereótipos. Facilitadores/obstáculos
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
A actividade física durante a juventude exerce uma influência benéfica na maturação biológica, na aptidão física e no desenvolvimento pessoal e social dos jovens; que ao manterem-se activos, têm mais probabilidades de se tornarem adultos activos (Telama, Naul, Nupponen & Rychtecky, 2002).
A actividade física está associada a uma vida saudável e mais longa, com menor risco de doença (USDHHS, 1996) e a preocupação da sua inclusão no estilo de vida dos jovens surge da percepção de que a inactividade física é um factor de risco de diversas doenças (Matos & Sardinha, 1999; Matos, Carvalhosa & Diniz, 2002).
No entanto, Hickman, Roberts e Matos (2002) referem que a prática desportiva da população diminuiu e encontram -se diferenças significativas entre os géneros, sendo inferior junto do género feminino.
Um estudo que compara a actividade física dos adolescentes portugueses entre 1998 e 2002 indica que os níveis de actividade física e de participação no desporto diminuíram e que, em 2002, apenas 36,8% (48% de rapazes e 25,5% de raparigas) praticavam actividade física, de quatro a sete vezes por semana (Matos & Projecto Aventura Social, 2003).
Ao analisar a prática desportiva, em relação à faixa etária, verifica - se uma diminuição da mesma, à medida que a idade aumenta (Matos, 2003).
Traill, Clough e McCormack (1993) avaliaram a participação desportiva entre adolescentes, em função do género, e verificaram que os rapazes (24%) praticam desporto/actividade física mais regularmente que as raparigas (16%) e que o género masculino (47%) pratica mais desporto organizado que o género feminino (37%).
As motivações fundamentais, para o adolescente praticar actividade física, são em primeiro lugar manter-se em forma, seguido por estar fisicamente bem, sentir prazer, melhorar o seu nível e melhorar as suas habilidades (Allen, 2000). Num estudo realizado em Gradada por Torre (1998, cit Delgado & Tercedor, 2002), com adolescentes, verificou-se que as principais motivações referidas para a prática desportiva foram o estar saudável (64.1%), divertir-se e ocupar o tempo (55.1%), libertar tensões (40.7%), gosto pelas competições (32.3%), manter a linha (27%), gosto pelo risco e emoção (17.4%), encontrar os amigos (17.3%) e fazer carreira desportiva (10.6%).
A actividade física na adolescência é caracterizada por actividades de intensidade e frequência moderadas (Telama & Yang, 2000) e alguns dados apontam para uma prática significativamente maior de actividades informais (Esculcas e Mota, 2001).
Matos, Gonçalves, Reis, Simões, Santos et al (2003) referem que, relativamente às actividades desportivas tradicionais, a modalidade desportiva mais praticada é em primeiro lugar, o futebol (47,5%), em segundo, a ginástica (18,5%), seguida da natação (18.3%) e indicam que os rapazes praticam com mais frequência futebol e as raparigas praticam mais ginástica e natação.
Aaron, Storti, Robertson, Kriska e LaPorte (2002) afirmam que as raparigas participam mais em actividades de carácter individual e os rapazes em actividades colectivas. Taylor, Baranowski e Young (1998) afirmam que as raparigas praticam pouca actividade física nos clubes, o que contribui significativamente para a sua inactividade.
Mota e Sallis (2002) salientam a importância de criar alternativas às propostas tradicionais de prática de actividades físicas das crianças e adolescentes pois os estudos concluem que os sujeitos com hábitos de actividade física recreativa parecem ter mais oportunidades de manutenção ao longo da vida, do que os sujeitos com envolvimento em actividades físicas competitivas.
Nesta perspectiva, Matos, Carvalhosa e Diniz (2002) referem que a identificação das barreiras à actividade física é essencial para a promoção de oportunidades de prática e para a manutenção dos níveis de actividade física diários adequados.
Identificar e compreender os factores que condicionam e influenciam a prática e a promoção da actividade física dos jovens assume-se como um aspecto extremamente importante.
Esculcas e Mota (2005) afirmam que a elaboração de programas de intervenção para a população infanto – juvenil, deve ter em conta as diferenças de género e etárias.
Um estudo realizado sobre a igualdade das oportunidades de escolha da prática desportiva entre ambos os géneros, com crianças e adolescentes entre os 10 e os 15 anos em Vila do Conde, mostrou que, crianças do mesmo género preferem actividades/modalidades desportivas, espaços e companheiros de jogo dentro do mesmo género; e que existem condicionantes limitadoras das oportunidades de acesso ao lazer nas escolas que penalizam essencialmente as raparigas (Carmo, 2005). Ainda no que se refere às oportunidades de actividades desportivas, Hallal, Bertoldi, Gonçalves e Victora (2006) referem que são menores para o género feminino.
Existe incutido na sociedade um padrão estético definido para a feminilidade e para a masculinidade e os desportos, de uma forma geral, podem ser classificados como detentores de mais características masculinas (por exemplo o futebol e halterofilismo) ou mais características femininas (por exemplo a ginástica artística e dança).
Lefebvre (2002) menciona que os jogos desportivos são estereotipados como género neutro, feminino, ou masculino baseado em concepções relativo ao género e convicções sobre a conveniência de participação devido ao género. O estereótipo, aplicado à psicologia, sugere um sistema de crenças sobre atributos, traços de personalidade ou comportamentos usuais que são atribuídos a determinados grupos (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999). Estes aspectos de forma inconsciente interferem no julgamento dos jovens, principalmente quando o género do atleta contraria a característica do desporto que pratica (Giovani, 2002).
O biótipo de mulheres atletas, relacionado com desportos associados a características masculinas, desencadeia a aplicação de estereótipos sexuais por parte de alguns sectores da sociedade, que ignoram o atleta e o contexto desportivo. Este viés perceptivo pode ser uma forte influência junto das jovens adolescentes que se encontrem numa fase de transição da aprendizagem para o aperfeiçoamento de um determinado desporto (Giovani & Tamayo, 2000)
Os estudos de género vêm colaborar para um maior entendimento das relações sociais entre os géneros. Um estudo realizado com crianças entre os 8 e os 9 anos demonstrou que as actividades motoras são realizadas por grupos do mesmo género e que há distinção entre os jogos e brincadeiras realizados para as meninas e para os meninos (Pereira & Mourão, 2005).
Nos média, Duncan e Messner (1994, cit Lefebvre, 2002) revelaram que 70% da cobertura dos jogos desportivos passados na televisão eram desportos designados masculinos e apenas 5% do tempo foi dedicado a jogos desportivos de mulheres.
Um estudo realizado por Etxaniz (2005), sobre o autoconceito físico e a satisfação corporal em adolescentes do género feminino segundo o tipo de desporto que praticam, verificou que o grupo de adolescentes que não pratica qualquer desporto obteve resultados muito mais baixos em relação aos restantes desportos analisados (aeróbica, ballet, futebol, natação, ginástica rítmica e basquetebol). O autor refere que a prática de qualquer tipo de desporto tem efeitos benéficos na percepção da habilidade desportiva e condição física. Os desportos que alcançaram melhores resultados foram a natação, a ginástica rítmica, o ballet e o futebol.
A imagem do corpo é muito importante para os adolescentes e estes são mais propensos a preocupações, a distorções e sentimentos de insatisfação em relação ao seu corpo (Weinshenker, 2002 cit Matos, 2003). Segundo Traill, Clough e McCormack (1993) os factores que influenciam as raparigas a praticarem desporto são: amor-próprio/autoconceito e gosto pelo aspecto corporal.
Assim os objectivos desta investigação foram: (I) Identificar as motivações para a prática desportiva das adolescentes femininas; (II) Identificar quais ao agentes motivadores para a prática desportiva; (III) Compreender a análise que as adolescentes fazem sobre a prática desportiva; (IV) Identificar os facilitadores da prática desportiva.
Material e métodos
Este estudo contou com a participação de 18 adolescentes, organizadas em três grupos de acordo com o envolvimento desportivo e a prática da mesma modalidade. Para a constituição dos grupos foram estabelecidos contactos com as instituições onde existam a prática feminina de Ballet, Futebol e Natação.
O instrumento de recolha dos dados utilizado foi a entrevista semi-estruturada realizada em grupo (grupo focal). Para a realização das entrevistas focais foram combinadas datas e horários, em locais tranquilos e reservados.
O guião orientador da entrevista foi produzido com base na revisão bibliográfica e composto com questões alusivas à prática desportiva, a saber: o inicio da prática desportiva, as motivações para a prática de desporto, a mulher e o desporto, a acessibilidade para a prática desportiva, a continuidade da prática desportiva e a importância do género do treinador.
A implementação da entrevista foi conduzida por uma moderadora e aplicada aos três grupos (ballet, natação e futebol). As entrevistas tiveram uma duração entre 60 a 90 minutos. Durante as entrevistas a moderadora foi introduzindo os temas delineados no guião e deixou as participantes desenvolverem o tema
A partir da diversidade das respostas, dadas pelas diferentes participantes, obteve-se informações de carácter qualitativo sobre os temas. Procurou-se, através deste meio, identificar o maior número possível de opiniões, crenças, valores, discurso e compreensão dos participantes sobre determinada temática, partindo do princípio que toda a informação dada pelos participantes é válida (Verduyckt & Lambert, 2002).
As entrevistas foram gravadas, através de gravador de áudio, depois transcritas textualmente para suporte Word e posteriormente, analisadas através do software MAXQDA2.
Amostra
A amostra foi seleccionada aleatoriamente pelos responsáveis das associações contactadas para a realização do estudo. A amostra foi composta por 18 indivíduos do género feminino, com uma média de idade 14,56 anos (DP+/-1,34 anos). Os três grupos foram constituídos por 6 elementos cada.
Apresentação e discussão dos resultados
Como resultado da informação recolhida através das entrevistas, e de forma a possibilitar uma melhor compreensão, criaram-se temas e categorias. Assim, a informação foi agrupada em cinco temas: 1) Motivação para a prática desportiva; 2) Agentes motivadores para a prática desportiva; 3) Análise sobre a prática desportiva feminina, 4) Facilitadores da prática desportiva e 5) Obstáculos à prática desportiva.
Figura 1. Análise e categorização da informação recolhida
Na Figura 1, podemos verificar que o maior volume de informação recolhida foi relacionado com o tema 3 – Análise sobre a prática desportiva feminina, sendo o grupo focal do Futebol o que reuniu o maior volume de informação recolhido (46,5%), seguido do grupo focal do Ballet (40,8%) e por fim, o grupo da Natação (34,2%). O tema que requereu menor atenção de todos os grupos focais foi o tema 4, apenas com 4,2 % para a Natação, 4,7% para o Ballet e 7,5% para o Futebol.
Foi realizado o estudo mais aprofundado de cada um dos temas, ressalvando apenas os aspectos mais importantes. Para isso, dividiu-se os temas em categorias.
Motivação para a prática desportiva
A Figura 2 expõe a análise do tema 1, Motivação para a prática desportiva, e apresenta as respectivas categorias.
Figura 2. Análise das categorias do tema 1, Motivação para a prática desportiva
No que se refere às categorias do tema 1 - Motivação para a prática desportiva, a razão mais apresentada para o início da prática desportiva é o interesse/gosto, apresentado com maior percentagem no grupo futebol (32%). A saúde é referida apenas pelas nadadoras (29%) e o divertimento é essencialmente referido pelas futebolistas (24,0%).
Estes dados são semelhantes aos encontrados Torre (1998, cit Delgado & Tercedor, 2002) em que as motivações fundamentais para o adolescente praticar actividade física envolviam o estar saudável (64.1%), divertir-se e ocupar o tempo (55.1%).
Apresentamos alguns exemplos da informação na categoria razões para o início da prática:
Gosto
“ …gosto, sim, eu gosto mais de futebol 11 mas como é a única hipótese aqui, o futsal e eu adoro bola desde pequenina então vim.” (futebolista)
“… já não me recordo bem, comecei porque gostava e também foi naquela altura em que toda a gente gostava de ser bailarina, gosto e continuei…” (bailarina)
“…pratico porque gosto, faz-me bem…” (nadadora)
Saúde
“… também porque faz bem à saúde, como ela disse já, mexe com todos os membros …” (nadadora)
Quanto à categoria, início da prática desportiva, o volume de informação entre as duas subcategorias é maior na subcategoria idade com que iniciaram a prática da modalidade desportiva.
O inicio da prática de actividade física depende da época do ano apenas para futebolistas (4%). Apesar de não serem apresentados na Figura 2, por motivos de facilidade de leitura dos dados, a época do ano referida pelo grupo foi o Verão. Este dado parece corroborar Santos, Gomes, Ribeiro e Mota (2005) que referem que as raparigas são mais activas durante o período de Primavera/Verão do que propriamente durante o Outono/Inverno.
Na categoria 1.3. continuidade da prática desportiva, existe unanimidade na opinião dos grupos e todas pretendem continuar a sua prática, “Eu por mim praticava até morrer.” (nadadora); “…Até ao fim da vida.” (futebolistas); “… continuar a praticar sempre.” (bailarina).
Agentes motivadores para a prática desportiva
O tema 2 refere-se aos agentes motivadores para a prática desportiva (ver Figura 3), tendo-se agrupado em três categorias: factores intrínsecos, factores extrínsecos e influência do género do treinador.
Figura 3. Análise do tema 2, Agentes motivadores para a prática desportiva
De acordo com a análise da Figura 3, o maior volume de informação concentrou-se na categoria 2.3. Influência do género do treinador, sendo que o grupo do Ballet destaca a influência do género (50%) e o grupo da Natação destaca a sua não influência (53,8%).
Eis alguns exemplos da informação na categoria:
“…nós com o tempo também vamos criando mais à vontade com as professoras, contamos-lhe as nossas vidas e se fosse um homem se calhar não tínhamos tanto à vontade.” (Bailarina)
“Nós já tivemos professoras, duas ou três, e nós estamos sempre divertidos, tanto com a professora como com o professor e aprendemos na mesma, é igual.” (Nadadora)
O factor extrínseco Família é destacado por todos os grupos, em particular pelo da natação (23%). Este grupo é o único que indica a influência dos amigos (3,85%).
Taylor, Sallis, Dowda, Freedson, Eason e Pate (2002) referem que os factores significativos para a realização de actividades físicas se relacionavam com maior apoio familiar e maior apoio por parte dos pares.
O grupo que mais releva os factores intrínsecos, como motivadores para a prática, é do Futebol (14,8%) onde as raparigas futebolistas referiram“…nós próprias”.
Análise sobre a prática desportiva
Figura 4. Análise do tema 3, Análise sobre a prática desportiva
O tema 3, exposto na Figura 4, revela as quatro categorias em que foi agrupada a informação: percepção da sociedade sobre a prática desportiva feminina, visão das praticantes sobre a prática desportiva feminina, a percepção sobre a visão estereotipada da prática e a opinião sobre as praticantes das modalidades com características diferentes das suas.
Para as praticantes da Natação (19,5%) e Futebol (23,3), a percepção da sociedade sobre a prática desportiva feminina é negativa.
(futebolista)“Eu penso que poderiam vir mais gente, porque o futebol feminino é o futebol do futuro (risos), é e as pessoas olham para uma rapariga a jogar à bola e pensam: os rapazes jogam melhor por isso nem vale a pena”
“As pessoas quando vêem uma mulher a jogar futebol chamam-na logo de “Maria Rapaz” ou qualquer coisa do género.” (nadadora)
O grupo do Ballet refere (16,3%) que a prática desportiva feminina é cada vez maior ao contrário, as Futebolistas consideram que ainda existe pouca prática desportiva feminina.
A percepção sobre a existência de uma visão estereotipada da sociedade sobre a prática é maior junto das Bailarinas (20,4%).
As opiniões sobre as praticantes de modalidades diferentes das suas concentram-se nos aspectos físicos é mencionado por todos os grupos, em particular pelas futebolistas (33,3%). De salientar que as bailarinas são o grupo que reúnem maior volume de informação na subcategoria não existir diferenças (14,3%).
Facilitadores da prática desportiva
Figura 5. Análise do tema 4, Facilitadores da prática desportiva
O tema 4 tenta caracterizar a opinião das adolescentes sobre os Facilitadores da prática desportiva (ver Figura 5). Os facilitadores apontados foram: os pais, as organizações/clubes, a própria modalidade que praticam e a condição física.
Os pais (20%) e as organizações/clubes (60%) são facilitadores apontados apenas pelas nadadoras.
As futebolistas consideram como o grande facilitador de prática a existência da própria modalidade que praticam (100%). As bailarinas distribuem a sua informação desta categoria pela existência da própria modalidade que praticam (66,7%) e a condição física (33,3%).
Obstáculos da prática desportiva
O tema 5 tenta caracterizar a opinião dos adolescentes sobre os Obstáculos da prática desportiva (ver Figura 6).
Figura 6. Análise do tema 5, Obstáculos da prática desportiva
Os obstáculos apontados foram: a falta de tempo, os namorados, o tabaco, os pais, a condição física e a oferta.
A falta de tempo é referenciada por diversos adolescentes como um obstáculo à prática desportiva (Silva & Silva, 2003; Cardoso, 2002; Allen, 2000).
Pierón (1998) considera que a pressão muito forte exercida pelos pais para que os filhos invistam nos estudos de forma a obterem resultados escolares, os leva a ocupar os seus tempos livres com a realização de trabalhos de casa e/ou a estudarem, o que se assume como umas das razões que permitem explicar o fraco nível da actividade física dos jovens.
O tempo reúne maior volume de informação junto de todos os grupos, em especial no grupo das bailarinas (50%).
A oferta de prática desportiva é para as bailarinas (50%) e nadadoras (29,4%) um forte obstáculo para a prática.
As futebolistas referem que consumo de tabaco (27,3%), os namorados (18,2%) e os pais (9,1%) são obstáculos à prática desportiva.
A condição física mencionada como obstáculo surge apenas no grupo das nadadoras (23,5%).
Conclusões
O início da prática desportiva está associado à idade mas, o motivo, comum a todos os grupos, que conduziu ao início da prática desportiva é o interesse/gosto pela modalidade. Outros motivos referidos são o divertimento e a saúde, apenas pelas nadadoras.
As nadadoras e futebolistas consideram que o género do treinador não influencia a prática desportiva mas, o grupo das bailarinas tem uma opinião contrária e assume que o género do treinador pode influenciar a prática. A família (factor extrínseco) e os factores intrínsecos também são agentes motivadores da prática desportiva nas modalidades analisadas.
Quanto à opinião da sociedade em relação à prática desportiva da mulher, as nadadoras e futebolistas consideram que a sociedade tem uma opinião negativa e todas admitem que existe uma visão estereotipada da sociedade sobre a prática, admitindo a existência de desportos destinados para mulheres e para homens.
O aspecto físico é uma característica utilizada para dar opiniões sobre as praticantes de modalidades diferentes e apenas as bailarinas referem que não existem diferenças entre as praticantes. Como factor facilitador da prática desportiva apresentam a própria modalidade e o tempo é o maior obstáculo à prática desportiva.
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