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Características das lesões do futebol amador em Torres, RS

Características de las lesiones en el fútbol aficionado en Torres, RS

 

*Universidade Gama Filho, UGF

**Universidade Luterana do Brasil, ULBRA

(Brasil)

Leandro Felipe Thumé Beier*

leandrobeier@terra.com.br

Marinei Lopes Pedralli**

marineip@brturbo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Existe grande apelo para realização de Atividade Física (AF) visando à promoção da saúde, a população que faz ou pratica algum tipo de exercício físico, seja no sentido competitivo ou recreativo, fica exposta aos acidentes desta prática. Preocupados com isso o objetivo do presente estudo foi analisar a incidência, circunstâncias e características de lesões, em um campeonato de futebol amador. A amostra foi constituída por 96 atletas amadores que participaram de competições de futebol de campo promovidas pela Secretaria Municipal de Esporte de Torres (RS) realizadas nos finais de semana. Os sujeitos receberam as informações e esclarecimentos sobre o estudo, após assinaram o Termo de Consentimento Informado, não havendo exclusões de qualquer natureza. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Luterana do Brasil, estando de acordo com os princípios de ética referidos na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Para a associação entre as variáveis não paramétricas foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Spearman (r) e Qui-quadrado (α), sendo consideradas significativas quando P£0,05. Nesse estudo observou-se um alto índice de lesões musculares 15 (15,9%) conforme os atletas, a parte anatômica mais atingida por lesões foi o tornozelo 19 (33%). Evidenciou-se ainda que o tipo da lesão têm uma correlação significativa (r=0,326 e p=0,025) com o tempo (duração) de pratica dos exercícios físicos. As lesões costumam acontecer durante o segundo tempo de partida com 30 (31,3%) dos atletas. Concluímos que os dados estão de acordo com a literatura nacional e internacional, e que os altos índices de lesões no futebol merecem cada vez mais medidas que possam servir de base para a tomada de decisões em relação à prevenção da ocorrência de lesões mesmo que tenha um caráter amador.

          Unitermos: Futebol amador. Atividade física. Lesões

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    Existe grande apelo para realização de Atividade Física (AF) visando à promoção da saúde, a população que faz ou pratica algum tipo de exercício físico, seja no sentido competitivo ou recreativo, fica exposta aos acidentes desta prática (GONÇALVES, 1997). Esses acidentes podem ser agravados se for levado em consideração os potenciais fatores de risco tais como a falta de condicionamento físico, sobrepeso, locais, equipamentos, características individuais, orientação profissional entre outros (CONTE, 2002 & POWELL, 1998). Quando o assunto é esporte coletivo, observa-se que este sofreu profundas modificações técnicas. Estas exigem um desempenho físico, que se não for muito bem programado, corretamente executado e supervisionado, pode predispor seu praticante à lesão (PEREIRA, 2005).

    O futebol como esporte competitivo implica em elevadas demandas para os atletas seja de caráter amador ou profissional. É um esporte que exige uma rápida e seqüenciada alternância de ações defensivas e ofensivas, intercaladas com pequenos intervalos de bolas fora de jogo. Envolvendo ainda simultaneamente condição física, qualidade técnica, mobilização psíquica e eficiência tática (GONÇALVES, 2007).


    O desenvolvimento de estratégias para prevenção das Lesões desportiva (LD) deve requerer, sobretudo, a quantificação sistemática de diagnósticos específicos das lesões, bem como investigação de potenciais fatores de risco (KOLT, 1999). A partir do entendimento sobre o tema, controle, prevenção e reabilitação das lesões serão facilitadas, o que pode resultar em manutenção da saúde do atleta amador, retornos mais seguros à prática desportiva (GONÇALVES, 1997).

    Neste contexto, as informações sobre como se comportam as lesões em relação às modalidades esportivas, o gênero, à idade, às regiões corporais mais acometidas em cada modalidade, ou seja, como se comporta a epidemiologia das lesões no esporte, tornam-se fundamentais para o melhor entendimento e sua prevenção.

    Portanto, faz-se necessária observação mais detalhada sobre aspectos relacionados aos futebolistas amadores e aos riscos de lesões, ligadas à modalidade. Assim, constitui-se como objetivo do presente estudo analisar a ocorrência de lesões (freqüência, tipo e segmento anatômico) no futebol amador, associando-as a fatores de risco específicos da modalidade (tipo de gramado, posição) em relação às características do atleta (idade, IMC, tempo de prática).

Procedimentos metodológicos

    A coleta de dados foi realizada entre os meses de agosto a outubro de 2007, em competições promovidas pela Secretaria Municipal de Esporte de Torres (RS) realizadas nos finais de semana O campeonato foi composto por oito equipes composta por 25 atletas cada uma e totalizou 200 atletas amadores. Foram voluntários deste estudo 96 sujeitos. Consideraram-se como critérios de inclusão: estar participando das competições durante a temporada corrente. Optou-se pela seleção dos voluntários ao acaso, durante as competições do campeonato, os quais receberam informações e esclarecimentos sobre o estudo, após assinaram o Termo de Consentimento Informado, não havendo exclusões de qualquer natureza. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Luterana do Brasil (parecer n.º 2007/397H), estando de acordo com os princípios de ética referidos na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.

    Para realização da coleta de dados, foi elaborado um questionário específico baseado no inquérito descrito por Orchard (1995) e modificado segundo a realidade da modalidade, solicitando informações retroativas à temporada, ou seja, aproximadamente seis meses. Todo o processo de entrevista foi conduzido pelos pesquisadores. Para o Cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), foi mensurada a massa corporal (kg) e a estatura (cm) utilizando uma balança com estadiômetro, calibrada antes da avaliação. O jogador participante foi orientado a subir na balança e permanecer imóvel e em posição ereta enquanto eram tomadas as medidas de massa corporal e estatura. Para a aferição da Circunferência do Abdômen (CA) utilizou-se uma fita métrica inelástica, com precisão de 1mm. Para efeito de estudo considerou-se LD qualquer dor ou afecção musculoesquelética resultante de treinamentos e/ou competições desportivas, suficiente para causar alterações no treinamento normal, seja na forma, duração, intensidade ou freqüência, conforme já utilizado em outras pesquisas (PEDRINELLI, 1994 & PASTRE, 2005). Para a associação entre as variáveis não paramétricas foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Spearman (r) e Qui-quadrado (α), sendo consideradas significativas quando P£0,05 (ZAR, 1999).

Resultados e discussões

    No que concerne ao perfil dos atletas, as características de idade, antropométricas e de tempo de prática, corrobora com o perfil de uma equipe amadora (Tabela 1). As características observadas demonstram normalidade para as médias do IMC e CA. Assim como se verificou regularidade na prática desportiva pelos sujeitos.

Tabela 1. Perfil dos atletas amadores de futebol em relação às variáveis antropométricas e tempo de prática desportiva

Variável

Média

DP

Idade

26,10

4,9

Massa corporal

72,62

9,67

Estatura

1,76

0.06

IMC

23,59

2,12

CA

78,66

6,73

Tempo de prática

14,91

4,54

Nota: IMC= Índice de Massa Corporal; CA= Circunferência Abdominal; DP= desvio padrão.

    Em relação à posição dos jogadores a mais freqüente foi a de atacante 21 (21,9%), seguido por zagueiro 19 (19,8%), 17 (17,7%) meio-campo. 16 (16,7%) volante, 12 (12,5%) lateral e 11 (11,5%) de goleiros.

    Dos 96 atletas que fizeram parte desse estudo 40 (42,0%) dos atletas relataram ter sofrido algum tipo de lesão nos últimos seis meses. A classificação segundo o diagnóstico da lesão observou-se que a lesão muscular foi a mais prevalente 15 (31,9%), seguida de ligamentares 10 (21,3%), contusão 9 (19,1%), meniscais 5 (8,5%), fraturas 3 (6,4%) luxações e sinovite 2 (4,3%) e 1 (2,1%) para as lesões tendinosas e bursites (Figura 1).

Figura 1. Distribuição do tipo de lesão segundo o diagnóstico

    As lesões ocorreram 30 (57,7%) durante o segundo tempo da partida, 16 (30,8%) no primeiro tempo, 2 (3,8%) no inicio do treino, 1 (1,9%) antes do jogo, fim do treino, depois do jogo e aquecendo respectivamente. Esta relação pode ser explicada pela fadiga muscular que funciona como um avaliador limite de segurança do organismo e decide interromper a atividade se ela não for interrompida a lesão quase sempre acontece (TORRES, 2004). Para Silva (2006) a competição é responsável por 33,3% das lesões.

    O tipo de piso predominante foi o gramado natural 44 (45,8%). Os gramados onde são disputadas as partidas do campeonato de futebol de campo da cidade de Torres são irregulares e com falhas, o que aumenta as chances de um atleta sofrer uma lesão, principalmente as relacionadas com o tornozelo (Tabela 2).

    Preocupados com a saúde dos atletas procuramos estudar se eles tiveram diagnostico por algum profissional, das lesões ocorridas, 28(43,1%) tiveram diagnóstico firmado pelo médico, 5 (7,7%) pelo massagista e 1 (1,5%) pelo fisioterapeuta e/ou preparador físico. Quanto ao grau do diagnóstico 12 (18,8%) tiveram lesão leve, 11 (17,2%) lesão moderada e grave respectivamente, 4 (1,6%) lesão gravíssima e 29 (45,3%) não tiverem diagnostico quanto ao grau da lesão. Sendo que 33 (34,4%) das lesões são novas, 14 (14,6%) recorrentes da temporada anterior, 4 (4,2%) da temporada atual, 2 (2,1%) lesões agudas e 1 (1%) são lesões não esportivas.

    Em relação à região anatômica das lesões, estas ocorreram predominantemente nos membros inferiores, localizam-se principalmente no tornozelo 19 (32,8%), seguidas do joelho 14 (24,1%), coxa 6 (10,3%), pé 5(8,6%), 4 (6,9%) perna (canela) e tendão do calcâneo, quadril e púbis 2 (3,1%). Quanto às lesões classificadas como outras 2 (3,1%), são condromalácia (Figura 2).

Figura 2. Distribuição da localização anatômica das lesões

    Na busca de evidências que pudessem servir como base para discussão em relação aos resultados encontrados, encontrou-se subsídio em Pacheco et al (2000), o entorse de tornozelo é a lesão mais comum do esporte, sendo responsável por aproximadamente 25% das lesões esportivas. Segundo Moore (1997), as entorses dos ligamentos laterais do tornozelo ocorrem em um índice de 1/10000 pessoas/dia, ocorrendo habitualmente lesões de inversão, são vistas mais comumente no voleibol, basquete e futebol.

    A distribuição proporcional dos tipos de lesões verificadas neste estudo foi similar aos achados de pesquisas prévias com jogadores profissionais (MIGUEL, 1998 & RAYMUNDO et al., 2005). Atribui-se estes tipos de lesões ao estilo do futebol atual, o qual exige grande quantidade de movimentos de aceleração e desaceleração em curto intervalo de tempo. Outras possíveis explicações para essa situação apontam o desequilíbrio de força muscular e a baixa flexibilidade nos músculos isquiostibiais (HEIDT, 2000).

    Um ponto que merece destaque é a associação significativa quando relacionamos a região anatômica com o tipo de piso em que é praticado o futebol. O tipo de piso predominante foi o gramado natural, entretanto, os gramados onde são disputadas as partidas do campeonato de futebol amador são irregulares e com falhas, o que aumenta as chances de um atleta sofrer uma lesão, principalmente as relacionadas com o tornozelo (tabela 2).

    Quanto ao tempo em que o atleta permaneceu afastado da prática desportiva, 20(34,5%) ficou afastado por mais de um mês. Ao correlacionarmos a parte anatômica lesionada com o tempo de afastamento observou uma significância (tabela 2).

    Analisando o tempo de afastamento dos atletas da prática desportiva, as entorses foram as lesões que, em média, deixam os atletas afastados por mais tempo. Cabe salientar, no entanto, que essa média foi deslocada por lesões ligamentares. Apesar disso, analisando-se o percentual de lesões que resultou em afastamento de até uma semana, as entorses foram as que obtiveram menor percentual de recuperação rápida. Esses resultados são comparáveis aos de Cohem (1997), no qual apenas as fraturas e luxações resultaram em afastamento maior do que as entorses. Outra explicação é de que em nosso estudo os atletas que relataram ter sofrido algum tipo de lesão nos últimos 6 meses, 34(52,3%) tiveram diagnostico firmado por algum profissional da área.

Tabela 2. Correlação de Spearman entre as variáveis de potenciais fatores de risco especifica da 

modalidade com o tipo de lesão, região anatômica atingida e tempo de afastamento da prática desportiva

Variáveis de associação

“r”

p

Posição do jogador em relação à freqüência de lesão

0, 250

0, 014

Tipo de piso em relação ao tipo de lesão

0, 481

0, 000

Tipo de lesão com relação à região anatômica

0, 343

0, 020

Região anatômica com relação ao tempo de afastamento

0, 312

0, 017

Nota: “r” Correlação linear de Sperman; p<0,05

    Para melhor caracterizar a amostra, questionou-se sobre o treinamento complementar, sendo que a maioria 56(58,3%) só prática o futebol, 34(35,4%) prática outras atividades (natação, yoga, dança e caminhada), 5(5,2%) corrida e 1(1%) prática musculação. Ao questionar o atleta sobre receber orientação para a prática desportiva, observou-se que 67(69,8%) não recebem nenhuma orientação, 16(16,7%) do técnico do time, 10(10,4%) de um professor de educação física e 1(1%) do médico, fisioterapeuta e/ou massagista respectivamente. Além das características enfatizadas, os sujeitos apresentam debilidade na realização de atividade destinada à prevenção de lesões e melhora do condicionamento físico, haja vista que os atletas não se preocupam com a realização de atividades complementares.

    Este achado demonstra que os atletas estão mais vulneráveis a sofrer lesões. Horta (1995) enfatiza a importância de trabalho compensatório na prevenção de lesões. Nesse sentido, seria importante a realização de exames e testes preventivos, assim como trabalho físico preparatório e compensatório, atuando no sentido de minimizar os efeitos acumulativos da prática desportiva, uma vez que os atletas deste estudo demonstram uma regularidade na prática do futebol amador.

Conclusão

    Os dados do presente estudo permitem-nos concluir que a freqüência de lesões em atletas amadores de futebol em uma temporada apresenta uma alta incidência. Predominância significativa de LD nos membros inferiores (tornozelos). Quanto ao tipo de lesão a mais freqüente foi a entorse. Houve uma associação significativa nos fatores relacionados a posição do atleta, tipo de lesão, região anatômica, tipo de piso e tempo de afastamento. Os achados também apontam para a necessidade de melhoria no treinamento físico quanto do nível técnico das equipes a fim de prevenir as lesões.

Referências bibliográficas

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