Avaliação do estresse em atletas de futebol da categoria júnior Evaluación del estrés en jugadores de fútbol juvenil Stress evaluation in junior soccer team league |
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*Psicóloga formada pela Universidade de Caxias do Sul, UCS **Professora da UCS. Coordenadora de Psicologia do Instituto de Medicina do Esporte e Ciências do Movimento Humano Mestre em Ciências do Movimento Humano, UFRGS Doutora em Ciências Pneumológicas, UFRGS |
Kátia dos Santos* Rossane Frizzo de Godoy** (Brasil) |
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Resumo O atleta de futebol é pressionado por diversas situações que quando interpretadas como ameaçadoras podem desencadear sintomas específicos de estresse. Objetivo: verificar o nível de estresse em 15 atletas masculinos de futebol da Categoria Júnior. Instrumentos: Inventário de Stress para Adultos de Lipp; Questionário criado para realizar levantamento de fatores potencialmente associados ao estresse. Resultados: 13,3% dos atletas apresentaram estresse na fase de resistência e prevalência de sintomas psicológicos. Conclusão: os fatores percebidos como potencialmente associados ao estresse, no momento não estão sendo geradores ou causadores deste, pois o diagnóstico de estresse apareceu em um número reduzido de atletas. Unitermos: Estresse. Futebol
Resumen El jugador de futbol se encuentra presionado por numerosos factores que interpretados como amenazantes pueden desencadenar síntomas específicos de estrés. Objetivo: Verificar el nivel de estrés en 15 jugadores de fútbol masculino de la categoria juvenil. Instrumentos: Inventario de Estrés para Adultos de Lipp; preguntas creadas para realizar levantamiento de factores potencialmente asociados al estress. Resultados: 13,3% de los atletas presentaron estrés en la fase de resistencia y aumento de sintomas psicológicos. Conclusión: Por el momento, los factores percibidos como potencialmente asociados al estrés, no están siendo generadores o productores, pues el diagnóstico de estrés apareció en un número reducido de jugadores. Palabras clave: Estrés. Fútbol
Abstract Soccer players are under pressure due to several situations that are interpreted as threatening, and such situations may trigger specific symptoms of stress. Objective: To check the level of stress in 15 male athletes belonging to the junior soccer team league. Instruments: LIPP Stress Inventory for Adults – a questionnaire designed to carry out a survey of factors potentially associated with stress. Results: 13.3% of the athletes showed stress during the phase of resistance and prevalence of psychological symptoms. Conclusion: The factors regarded as potentially related to stress at the moment are not generating or causing such stress as the diagnosis of stress appeared in a small number of athletes. Keywords: Stress. Soccer
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
O futebol é um esporte que move grandes interesses financeiros e recebe uma vasta atenção da mídia. Os jogadores de elite alcançam grande popularidade, prestígio e vantagens econômicas. Muitos atletas aderem ao futebol na expectativa de obterem reconhecimento nacional e internacional. Em razão desses aspectos, os atletas de futebol estão expostos a um grande potencial de fatores estressores que podem interferir em seu desempenho. (Brandão, 2000)
O estresse é uma reação do organismo que envolve componentes psicológicos, físicos, mentais e hormonais quando surge a necessidade de uma adaptação grande a um evento ou situação de importância. Lipp (2000)
De acordo com Alchieri e Cruz (2004), o estresse não deve ser visto apenas como uma mera reação, pois, por tratar-se de uma cadeia de reações cuja função é adaptar o organismo a uma condição ambiental que, de alguma maneira, exija uma tomada rápida de decisão, deve ser entendido como um processo.
Segundo Samulski (2008), o estresse faz parte da vida para a manutenção, aperfeiçoamento da capacidade funcional, autoproteção e conhecimento dos próprios limites. Por isso, deve-se compreender que o estresse pode em alguns momentos ser positivo (eustress), em outros, negativo (distress). Castelnuovo (2005)
Segundo Weinberg e Gould (2008), o estresse ocorre quando há um desequilíbrio importante entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta; e sob condições em que a falha em satisfazer tais demandas tem conseqüências substanciais.
Os fatores que levam ao estresse podem ser de causas internas e/ou externas. Entre as causas internas pode-se mencionar: características pessoais, crenças, valores, etc. As causas externas incluem fatores diversos, como: fome, sede, morte de alguém, separação. França e Rodrigues (1999)
No esporte, a manifestação do estresse é bastante evidenciada. Santos e Shigunov (2000) referem que não adianta o atleta estar bem fisicamente, em excelente nível tático e técnico, se as influências psicológicas estão sendo fortes a ponto de interferir negativamente na performance. Fleury (2000) assinala que a performance de um atleta depende muito do equilíbrio emocional alcançado e que, suas emoções podem afetar o bem estar físico.
De Rose Jr. et al. (em Lopes, Beisiegel, Neto, Oliveira & Gôuvea, 2007), referem que o esporte competitivo é um evento potencialmente provocador de estresse, pois exige do atleta um desempenho próximo do ideal. Essa ênfase no desempenho do atleta, na visão de Vicenzi (2002), acaba aumentando consideravelmente a situação de estresse, pois a saúde e a qualidade de vida deixam de ser prioridade.
“Especialmente no futebol, o estudo de estresse tem um papel relevante uma vez que os atletas, inclusive os do futebol amador, são submetidos a pressões constantes. Neste esporte o atleta almeja um lugar na equipe e uma vez atingido esta posição, ela deve ser defendida e mantida. O rendimento é uma preocupação constante e a queda de produção, até mesmo em uma única partida, pode resultar em não ser titular na partida seguinte. Para atender o que se espera dele, o atleta precisa enfrentar adequadamente as expectativas do treinador, de seus companheiros de equipe, dos seus familiares, dos amigos e dos meios de comunicação, para poder render corretamente”. (Apistzsch em Sanches, Casal & Brandão, 2004).
Portanto a gênese do estresse no esporte é considerada multifatorial, pois vários são os fatores causadores do estresse (Dosil, 2004)
Em face desses aspectos referidos, salienta-se que a percepção que o atleta tem de determinada situação vai mediar o potencial valor estressante da mesma e sua conseqüente resposta emocional e comportamental. Portanto, fatores que podem levar um indivíduo ao estresse, podem não levar outro, pois as causas são subjetivas e estarão interligadas à capacidade de cada sujeito lidar com as situações de seu cotidiano. Brandão (2000)
Baseado nestes aspectos abordados, este estudo buscará dentro de seus objetivos: identificar a presença do diagnóstico de estresse em atletas de futebol da categoria júnior; verificar a fase de estresse em que o atleta se encontra; verificar a prevalência de sintomas físicos ou psicológicos dos atletas que apresentaram diagnóstico de estresse e da amostra total e, realizar um levantamento dos possíveis fatores estressores percebidos por estes atletas.
Método
Delineamento
Trata-se de uma pesquisa quantitativa de tipo descritivo de coorte transversal.
Participantes
Participaram desta pesquisa 15 atletas masculinos de futebol da Categoria Júnior, de idades entre 18 e 20 anos, de um clube de futebol localizado em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.
No momento da aplicação os atletas desta categoria encontravam-se disputando o Campeonato Estadual Sub 20, e no final de semana anterior empataram o jogo em 1x1.
Foram critérios de exclusão: atletas que se encontravam afastados de sua atividade profissional por lesão e atletas menores de idade.
Instrumentos
Foi utilizado o Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e um questionário elaborado a partir de material bibliográfico encontrado na área e que possui como objetivo identificar fatores potencialmente associados ao estresse.
Questionário sobre Fatores Potencialmente Associados ao Estresse
Abaixo você encontrará algumas situações que podem ser geradoras de estresse. Preencha com sim, as alternativas que você considera como geradoras de estresse para você, e com não aquelas que não lhe geram estresse.
Fatores |
Sim |
Não |
1. Machucar-se durante o jogo |
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2. Entrar no jogo machucado |
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3. Ser prejudicado pelos juízes |
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4. Falta de preparação psicológica |
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5. Preparação técnico-tática inadequada |
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6. Condicionamento físico inadequado |
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7. Derrotas anteriores |
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8. Pressão da mídia |
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9. Pressão de si mesmo para ganhar |
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10. Pressão da torcida |
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11. Conflitos com o técnico |
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12. Pressão dos companheiros de equipe |
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13. Conflitos com os companheiros de equipe |
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14. Distância da família |
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15. Problemas familiares |
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16. Campo em condições ruim |
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17. Dificuldade financeira |
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18. Mudança de técnico |
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19. Obrigatoriedade de ganhar a partida |
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20. Renovação de contrato |
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21. Clima/ Temperatura |
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22. Cobrança excessiva do técnico |
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23. Alimentação no clube |
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24. Insatisfação com o clube |
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25. Dormir mal na noite anterior |
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26. Jogar em casa |
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27. Jogar fora de casa |
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28. Jogar contra o time favorito |
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29. Permanecer no banco de reservas |
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30. Marcar gol contra |
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31. Cobrança de pênalti |
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32. Ser expulso do jogo |
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O ISSL visa identificar a presença de sintomas de estresse, o tipo de sintoma apresentado (somático ou psíquico), e a fase em que a pessoa se encontra. Apresenta um modelo quadrifásico do estresse (alerta, resistência, quase exaustão e exaustão). O inventário é composto por 37 questões de caráter somático (identificado através dos quadros 1a, 2a e 3a) e 19 de caráter psicológico (identificado através dos quadros 1b, 2b e 3b), com intensidade e grau de seriedade aumentado. O teste foi baseado no modelo de estresse proposto por Selye. Lipp (2000)
O teste é dividido em três quadros, que se referem às quatro fases do estresse. Quadro 1: visa diagnosticar a presença de sintomas de estresse na fase de alerta – o que se refere aos sintomas experimentos nas últimas 24 horas. A fase de alerta, corresponde à primeira reação no processo de estresse. Desenvolve-se quando a pessoa percebe uma ameaça a seu organismo e prepara-se para agir, lutar ou fugir. Segundo Lipp (2000) essa fase pode ser considerada como positiva, pois mobiliza a pessoa para a ação. Quadro 2: pode diagnosticar a presença de sintomas de estresse nas fases de resistência ou de quase-exaustão (dependendo do número de sintomas assinalados) – refere-se aos sintomas experimentados na última semana. Nesta fase o organismo busca recursos para lidar com os estressores, a fim de tentar manter o estado de equilíbrio interno. Lipp e Novaes (2000) referem ser um momento de bastante desgaste, quando a energia começa a esgotar-se e o sujeito começa a sentir cansaço excessivo, esquecimentos e dúvidas. A fase de quase-exaustão ocorre quando os recursos internos do indivíduo não são mais suficientes para lidar com os fatores estressores, havendo uma quebra da resistência, iniciando-se o processo do adoecimento. Quadro 3: pode diagnosticar a presença de sintomas de estresse na fase de exaustão – o que se refere aos sintomas experimentados no último mês. Esse estágio de se desenvolve quando a ação do estressor, permanecer por um longo período até finalmente esgotar-se a energia de adaptação. Doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis. Lipp (2000).
O ISSL não é de domínio público, somente podendo ser utilizado no Brasil na forma de teste psicológico editado pela Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda., razão pela qual não poderá ser colocado como anexo.
Procedimentos
Foi solicitada uma autorização ao clube de futebol em questão, para que se pudesse realizar a investigação. Após o projeto foi enviado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa e os atletas foram convidados a participar do estudo. Marcou-se um dia e horário com os atletas integrantes da Categoria Júnior (respeitando os critérios de exclusão). A aplicação foi realizada de forma coletiva. Todos os atletas inseridos no estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Análise dos Dados
Foi realizada análise estatística descritiva dos dados.
Resultados
A amostra constituiu-se de 15 atletas do sexo masculino de futebol da Categoria Júnior. No momento da aplicação, esta categoria, estava formada por 24 atletas, sendo que 5 foram excluídos da amostra por serem menores de idade, 1 por estar lesionado e 3 por não comparecerem ao horário marcado para aplicação do teste.
A média de idade dos atletas é de 19,3 anos. Quanto à escolaridade, 53,3% da amostra têm Ensino Médio completo; 33,3%, Ensino Médio incompleto; 6,7% Ensino Fundamental completo; e 6,7% Ensino Fundamental incompleto; 13,3% são casados e 86,7%, solteiros.
Os atletas são de diferentes estados: Rio Grande do Sul; Santa Catarina; São Paulo; Pará; Minas Gerais; e Mato Grosso do Sul. Desta amostra, 80% dos atletas moram no alojamento no clube, 13,3% moram com a esposa e 6,7% moram com amigos.
Em relação ao teste ISSL, verificou-se que 13,3% da amostra apresentou diagnóstico de estresse, na fase de resistência, apresentando prevalência de sintomas psicológicos: pensar constantemente em um só assunto (ver Tabela 1).
Tabela 1. Inventário de Stress para Adultos de Lipp
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n(15) |
Sem diagnóstico de stress |
13 (86,7) |
Com diagnóstico de stress |
2 (13,3) |
Fase de resistência |
2 (100) |
Predominância de sintomas psicológicos |
2 (100) |
Pensar constantemente em um só assunto |
2 (100) |
Sintoma físico significativo |
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Cansaço constante |
2 (100) |
Os dados são apresentados em percentuais
Analisando a sintomatologia apresentada por toda a amostra, os sintomas físicos predominantes no quadro 1a foram: tensão muscular (33,3%) e insônia (26,7%); no quadro 2a: cansaço constante (60%) e sensação de desgaste físico constante (26,7%); e, no quadro 3a: insônia (26,7%) (ver Tabela 2).
Tabela 2. Sintomas físicos predominantes
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n(15) |
Quadro 1a (sintomas físicos experimentados nas últimas 24 horas) |
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Tensão muscular |
5 (33) |
Insônia |
4 (26,7) |
Quadro 2a (sintomas físicos experimentados na última semana) |
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Cansaço constante |
9 (60) |
Sensação de desgaste físico constante |
4 (26,7) |
Quadro 3a (sintomas físicos experimentados no último mês) |
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Insônia |
4 (26,7) |
Os dados são apresentados em percentuais
Os sintomas psicológicos predominantes na amostra total foram: quadro 1b: aumento súbito de motivação (46,7%); quadro 2b: pensar constantemente em um só assunto (60%); e no quadro 3b: pensar / falar constantemente em um só assunto (33,3%), vontade de fugir de tudo (26,7%), cansaço excessivo (26,7%) e angústia/ ansiedade diária (26,7%) (ver Tabela 3).
Tabela 3. Sintomas psicológicos predominantes
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N (15) |
Quadro 1b (sintomas psicológicos experimentados nas últimas 24 horas) |
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Aumento súbito de motivação |
7 (46,7) |
Quadro 2b (sintomas psicológicos experimentados na última semana) |
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Pensar constantemente em um só assunto |
9 (60) |
Quadro 3b (sintomas psicológicos experimentados no último mês) |
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Pensar / falar constantemente em um só assunto |
5 (33,3) |
Vontade de fugir de tudo |
4 (26,7) |
Cansaço excessivo |
4 (26,7) |
Angústia/ ansiedade diária |
4 (26,7) |
Os dados são apresentados em percentuais
Para finalizar; quanto aos fatores potencialmente associados ao estresse encontrou-se no total da amostra: possibilidade de ser prejudicado pelos juízes (93,3%), condicionamento físico inadequado (86,7%); ser expulso do jogo (86,7%); permanecer no banco de reservas (80%); machucar-se durante o jogo (73,3%); campo em condições ruins (73,3%); dormir mal na noite anterior (73,3%); preparação técnico-tática inadequada (66,7%); problemas familiares (66,7%); dificuldade financeira (66,7%); entrar no jogo machucado (60%); conflitos com os companheiros de equipe (60%); insatisfação com o clube (60%); e cobrança excessiva do técnico (53,3%) (ver Tabela 4).
Tabela 4. Fatores Potencialmente Associados ao Estresse
N(15) |
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Ser prejudicado pelos juízes |
14 (93,3) |
Condicionamento físico inadequado |
13 (86,7) |
Ser expulso do jogo |
13 (86,7) |
Permanecer no banco de reservas |
12 (80) |
Machucar-se durante o jogo |
11 (73,3) |
Campo em condições ruins |
11 (73,3) |
Dormir mal na noite anterior |
11 (73,3) |
Preparação técnico-tática inadequada |
10 (66,7) |
Problemas familiares |
10 (66,7) |
Dificuldade financeira |
10 (66,7) |
Entrar no jogo machucado |
9 (60) |
Conflitos com os companheiros de equipe |
9 (60) |
Insatisfação com o clube |
9 (60) |
Cobrança excessiva do técnico |
8 (53,3) |
Os dados são apresentados em percentuais
Discussão
Os resultados do estudo mostraram que apenas 13,3% da amostra apresentou diagnóstico de estresse. Em um estudo realizado por Vicenzi (2002) com o objetivo de avaliar os níveis de estresse em 56 jogadores de futebol, (26 profissionais e 30 juniores), utilizando um questionário (porém não o ISSL), identificou que nenhum atleta apresentava diagnóstico de estresse naquele momento.
Quanto à análise da fase de estresse que os atletas se encontram (resistência) e a sintomatologia predominante (psicológica), coincide com um estudo realizado por Maciel (2001) ao qual investigou a presença do estresse e as possíveis fontes internas e externas em 39 atletas mulheres adolescentes que atuavam em equipes esportivas das seguintes modalidades: basquetebol, futebol feminino, natação e tênis.
A fase de resistência é caracterizada como um momento de luta do organismo contra os estressores; como refere Lipp (2000): “a pessoa automaticamente tenta lidar com os seus estressores de modo a manter sua homeostase interna.” (p. 9). Devido a essa característica de “luta”, trata-se de uma fase significativamente desgastante para o indivíduo, sendo que ele acaba por direcionar toda sua energia nesse embate, decaindo em termos de qualidade de vida pessoal ou profissional.
Szeneszi e Krebs (2007), através de uma pesquisa realizada com seis atletas (quatro homens e duas mulheres), com idades entre 25 e 35 anos – pesquisa que objetivava identificar os níveis de estresse em triatletas durante o treinamento em Ironman –, chegou à conclusão que:
“Com relação aos sintomas de estresse vivenciados pelos atletas ao longo do treinamento, vale ressaltar que, mesmo os atletas sentindo-se desgastados fisicamente de forma constante, esse desgaste pode ser apenas um sintoma de adaptação do organismo, e não necessariamente um indicativo significativo de estresse físico. Pode-se questionar a influência deste desgaste físico nas ações cognitivas e emocionais dos atletas refletindo-se em estresse psicológico maior.” (p. 55).
A colocação feita pelos autores acima, reforça o que já havia se comentado anteriormente quanto ao desgaste do organismo na fase de resistência, porém, acredita-se que este desgaste não indica necessariamente a prevalência de sintomas físicos, como mesmo referido por eles. Entende-se que sim, se pode fazer uma relação deste desgaste físico como influência ao aparecimento de sintomas psicológicos, podendo deixar os atletas emocionalmente mais susceptíveis ao estresse, principalmente se pensarmos que corpo/mente não podem e não devem ser vistos como “entidades” separadas ou distintas.
Quanto à sintomatologia apresentada pelos atletas na fase de resistência, verificam-se semelhanças nos resultados obtidos pelo estudo de Maciel (2001).
Na presente pesquisa o sintoma físico predominante foi o “cansaço constante”. Este sintoma também foi o mais prevalente no estudo de Maciel (2001). Entre os sintomas psicológicos, destaca-se nesta investigação o “pensar constantemente em um só assunto” e que também se apresenta como predominante na pesquisa de Maciel (2001).
Em relação aos sintomas físicos e psicológicos predominantes em toda amostra deste estudo, comprovou-se que os dados foram parecidos com os obtidos por Szeneszi e Krebs (2007). O único sintoma que não foi coincidente foi o “excesso de gases” encontrado nesta outra pesquisa mencionada.
Fora os estudos citados acima (Maciel, 2001; Szeneszi & Krebs, 2007), nenhuma outra pesquisa foi encontrada avaliando o estresse em atletas através do ISSL, dificultando o comparativo com outras fontes.
Na análise dos fatores potencialmente associados ao estresse, percebe-se o quanto a subjetividade interfere e é determinante na percepção de um estímulo ou fator como sendo estressor. As características do estímulo, o padrão de interpretação da pessoa, o modo como ela avalia e percebe o estímulo, estão diretamente relacionadas ao aparecimento do estresse. Samulski (2000)
Um estudo realizado por Samulski e Chagas (1992) que teve como objetivo analisar os fatores estressores e motivadores na competição em jogadores de futebol das categorias infantil e juvenil encontrou resultados semelhantes aos achados deste estudo. No estudo realizado pelos autores, os conflitos interpessoais, as perturbações psicovegetativas e o comportamento prejudicial pelo juiz representaram os fatores que mais podem desequilibrar os jovens jogadores de futebol tanto antes quanto durante a competição. Cabe salientar, que esses conflitos interpessoais, estariam relacionados às discordâncias e conflitos com o treinador, com companheiros ou com a família.
Analisando separadamente, item por item, o comportamento prejudicial pelo juiz, foi um fator coincidente em ambas as pesquisas, sendo que nesta realizada com os atletas da Categoria Júnior, este item se apresentou em primeiro lugar. Entende-se que determinado fator pode e deve estar relacionado ao estresse, principalmente tendo em vista que é uma variável a qual os atletas não têm controle e nada podem fazer para reverter. Este fator também foi observado em outras modalidades esportivas, como referido no estudo de Costa e Vieira (2003) os quais realizaram uma pesquisa sobre os fatores motivadores e estressantes em atletas do campeonato nacional de basquete masculino adulto, identificando que ‘ser prejudicado pelos juízes’ é o principal fator considerado estressante pelos mesmos.
Esse mesmo estudo realizado por Costa e Vieira (2003), apresenta outros fatores considerados estressantes: discordâncias e conflitos com o treinador, com companheiros ou com a família e a sensação de debilidade física.
Antes de se realizar um comparativo sobre esses fatores, vale salientar, que o presente estudo (com atletas de futebol da Categoria Júnior), investigou esses fatores relacionados a conflitos com técnico, companheiros e família, separadamente, e não em um mesmo item como nos estudos anteriormente citados. Nesse sentido, encontram-se semelhanças quanto à associação do estresse aos fatores de problemas com familiares, que no presente estudo se apresentou em 66,7% da amostra; e conflitos com companheiros de equipe em 60% da amostra.
Em contrapartida, conflitos com o técnico não se mostrou como dado significativo na presente pesquisa, sendo associado ao estresse por menos da metade dos participantes (46,7%) da amostra. Apesar disso, o fator ‘cobrança excessiva do técnico’ está associado por mais da metade da amostra (53,3%) como fator potencialmente associado ao estresse.
Outro fator coincidente entre a pesquisa realizada por Samulski e Chagas (1992) e a presente pesquisa, está relacionado ao fator “problemas de dormir”, considerado como fator estressor em ambas as pesquisas, sendo que nesta se mostra através do item “dormir mal na noite anterior”, que foi associado ao estresse por 73,3% da amostra.
Samulski (2002), ao citar estudos realizados por Chagas (1995) e De Rose Jr. (1996), que visavam analisar o estresse psíquico competitivo relacionado a jogadores de futebol das categorias básicas (juvenil e júnior), apresentou como resultados que “entrar no jogo machucado”, “condicionamento físico inadequado”, e “conflitos com companheiros e com o treinador” são as situações vistas como mais estressantes pelos atletas.
O último item: “conflitos com companheiros e com o treinador”, já foi mencionado anteriormente; contudo, observamos semelhanças nos demais resultados dessas pesquisas com o presente estudo realizado com os atletas de futebol de campo da Categoria Júnior. “Condicionamento físico inadequado” obteve um percentual de 86,7% da amostra, se apresentando em segundo lugar entre os fatores mais votados (o que se assemelha as pesquisas mencionadas por Samulski, 2008); e “entrar no jogo machucado”, se apresentou em 60% da amostra como fator potencialmente relacionado ao estresse – número significativo também, podendo considerar como um dos fatores mais votados.
Indo um pouco além nos fatores potencialmente associados ao estresse mencionados até o momento, encontramos, por exemplo, que o “campo em condições ruins” é considerado um fator estressor. Pensa-se no significado que tal dado tem para estes atletas, tendo em vista que realmente se o campo não estiver em condições boas de jogo, pode interferir no desempenho dos mesmos durante uma partida, facilitando erros, etc.
Além disso, Lopes et al. (2007) referem que o atleta necessita de atenção e concentração, durante os treinos e jogos, “e não estando num local apropriado para treinamento, esses atletas não conseguirão ter esse tipo de comportamento, pois, sempre há preocupação em evitar lesões, por exemplo.” (p. 157). Essa citação nos leva a pensar que o campo em condições ruins também pode ser associado a um fator estressor, pelo perigo desses atletas se lesionarem.
Nesse sentido, podemos inclusive associar esse fator ao índice alto de atletas que associam “machucar-se durante o jogo” com o estresse, demonstrando o medo de se lesionarem. Esse mesmo autor menciona que a integridade física dos atletas é apontada em sua pesquisa como algo que preocupa e que é considerada importante para os avaliados (Lopes et al., 2007).
Além disso, entende-se que lesionar-se para esses atletas é algo preocupante não somente tendo em vista a sua integridade física, mas também por estarem num momento de suas carreiras que é decisivo, pois aqueles que se destacarem na Categoria Júnior terão grandes chances de ocuparem uma vaga num time profissional no ano seguinte, porém a lesão pode vir a ser impeditiva para isso, dependendo da gravidade da mesma.
A questão referente à insatisfação com o clube também deve ser mencionada, pois se apresentou em porcentagem significativa da amostra (60%). Esse dado coincide com a pesquisa realizada por Corrêa et al. (2002) – estudo que visava analisar os aspectos que influenciam a performance do jogador de futebol e os fatores contextuais relacionados – onde observou-se que os atletas “relataram que o clube tem que dar tranqüilidade para o atleta jogar, orientar com competência e contar com uma boa estrutura de apoio” (p. 455); o que demonstra e reforça a importância do clube também para satisfação e performance do atleta, e como no caso do presente estudo, para que este não seja um fator que leve ao estresse.
Outro fator mencionado faz referência à “dificuldade financeira”. Este fator foi potencialmente associado ao estresse. Nesta categoria o valor que os atletas recebem do clube pode ser considerado baixo em comparação a renda de atletas profissionais. Além disso, pode-se levantar a hipótese de que talvez muitos desses atletas venham de famílias mais humildes, de condições financeiras baixas, sendo então que a dificuldade financeira é algo presente em sua realidade e que pode ser visto como fator estressante ou preocupante (que de modo geral, através do futebol, eles visam superar).
Quanto à “preparação técnico-tática inadequada” que se apresentou em 66,7% da amostra, também pode ser considerada como fator estressor. Este dado coincide novamente com a pesquisa realizada por Corrêa et al. (2002), onde os atletas pesquisados trouxeram a importância dada por eles sobre a preparação técnica, tática e física. Inclusive os atletas, nessa pesquisa, mencionam “a importância de se ter uma comissão técnica bem preparada, experiente e que realiza cursos, inclusive de ensino superior.” (p. 456).
Uma limitação encontrada nesta investigação diz respeito aos poucos estudos realizados na área do esporte utilizando como instrumento de avaliação do estresse, o ISSL. A maioria das pesquisas encontradas visava identificar fatores estressores no esporte, porém poucas tinham a preocupação em identificar o diagnóstico propriamente dito de estresse, a fase e, principalmente, a sintomatologia apresentada – sendo este, portanto, um estudo diferenciado dentre os outros estudos existentes sobre estresse no esporte.
Mais estudos no esporte devem ser realizados através da utilização do ISSL. Este instrumento é validado e eficaz para realizar o diagnóstico do estresse, identificar a fase e a sintomatologia predominante, permitindo que o psicólogo possa pensar em ações de tratamento ou preventivas a este, pois como refere Lipp (2000): “sabendo a vulnerabilidade do respondente, ajuda a formular tratamentos ou ações preventivas que levem em consideração a maior predisposição de ter sintomas de uma natureza ou de outra.” (p. 21).
Conclui-se, então, que apesar de inúmeros fatores serem percebidos como potencialmente associados ao estresse pela amostra, no momento, não estão atuando efetivamente como geradores ou causadores de estresse nestes atletas.
Referências bibliográficas
Alchieri, João Carlos; Cruz, Roberto Moraes. Estresse: Conceitos, métodos, medidas e possibilidades de intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2004. 144 p.
Brandão, Maria Regina Ferreira. Fatores de estresse em jogadores de futebol profissional. 205 f. Tese (Doutorado), Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2000.
Brandão, Maria Regina Ferreira, Casal H.M.V., Machado A.A., Rebustini F.A., Ribeiro F.A.. Futebol, esporte internacional e identidade nacional. Estudo 1:uma comparação entre Brasil & Japão: Revista Brasileira Ciência e Movimento, Brasília, 12(1): 57-62, 2004.
Castelnuovo, R. (2005, mai). O prazer fundamental. Viver Mente & Cérebro, 148, 64-68.
Corrêa, D. K. A., Alchieri, J. C., Duarte, L. R. S. & Strey, M. N. (2002). Excelência na produtividade: A performance dos jogadores de futebol profissional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15 (2), 447-460.
Costa, L. C. A. & Vieira, L. F. (2003). Estudo dos fatores motivadores e estressantes em atletas do campeonato nacional de basquete masculino adulto. Revista da Educação Física/UEM, 14 (1), 7-16.
Dosil, Joaquin. Psicologia de La actividad física y Del deporte. Espanha: McGraw-Hill, 2004. 516 p.
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digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires,
Mayo de 2010 |