Análise da performance táctica de futebolistas de quatro escalões de formação Análisis del rendimiento táctico de jugadores de fútbol en los cuatro escalones de la formación Analysis of tactical performance of youth soccer players |
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*Centro Universitário de Belo Horizonte UNI-BH, Belo Horizonte, MG, Brasil **Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil ***Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal. ****Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto CIFI2D, FADEUP (Portugal) |
Israel Teoldo da Costa* *** Julio Garganta*** **** Pablo Juan Greco** Isabel Mesquita*** **** Bernardo Silva*** Ezequiel Müller*** Daniel Castelão*** |
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Resumo O presente estudo foi realizado com o objectivo de analisar a performance táctica de futebolistas de quatro escalões de formação utilizando o Teste “GR3-3GR”. Foram analisadas 2915 acções tácticas defensivas e 2662 ofensivas, desempenhadas por 106 jogadores de quatro escalões de formação. Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS. Para a caracterização da amostra foram realizadas análises descritivas. Verificou-se a distribuição normal dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov (p≤0,05) e recorreu-se à análise da variância (ANOVA) para comparar as médias dos índices de performance, das acções tácticas e dos seus erros e locais de realização. Os resultados mostram que existem diferenças estatísticas para todos os índices de performance Táctica (IPT), sendo que a maioria dos escalões obtiveram melhores IPT´s nos princípios tácticos “Mobilidade” e “Cobertura Defensiva. Conclui-se que em todos os escalões o menor IPT na fase ofensiva está associado ao princípio do “espaço” e que os menores IPT na fase defensiva aos princípios, “contenção”, “concentração” e “unidade defensiva”, que variam em função dos escalões. Unitermos: Futebol. Desempenho táctico. Escalões de formação. Princípios de jogo
Agradecimento: Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Européia para América Latina, bolsa nº E07D400279BR”. Esse trabalho foi apresentado na forma de pôster no I International Symposium of Sports Performance: Performance Enhanced by Bridging the Gap between Theory and Practice, 2009, Vila Real, Portugal.
Abstract The aim of this study was to analyze tactical performance of youth soccer players concerning different age groups, according to the tactical game principles and action’s place and outcome. The sample comprised 106 youth players who performed 2915 defensive and 2662 offensive tactical actions. The normal distribution of the data was verified by the test of Kolmogorov-Smirnov (p≤0.05). Analysis of variance (ANOVA) was used to compare the values of the performance indexes, concerning tactical actions. The results show significant statistical differences for all tactical performance indexes (p≤0.05) Also, it confirms that most of youth teams had better performance indexes for the “depth mobility” and “defensive cover” principles. It is possible to conclude that the lowest offensive performance index concerns to “width and length” principle, for all youth age groups. In addition, the lowest defensive performance index, concerning “concentration”, “defensive unity” and “delay” principles, showed a dependence of the age group in order these principles. It is also reasonable to conclude that youth players showed higher difficulties to be efficient in defensive tactical actions in the offensive midfield. Keywords: Soccer. Tactical performance. Youth teams. Game principles
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
A análise da performance táctica no Futebol tem adquirido nos últimos anos elevada importância para investigadores e treinadores, na medida em que ambos estão interessados em perceber o tipo de acções que se associam a eficácia das equipas: um, com o intuito de aumentar os conhecimentos acerca do processo, do conteúdo e da lógica do jogo; o outro, com o objectivo de modelar as situações de treino na procura da eficácia competitiva(1 e 3).
Alguns pesquisadores têm recorrido à Análise Notacional(4) e à Metodologia Observacional(5) para obter aquele tipo de informações, uma vez que tais metodologias permitem registar e interpretar os dados mais relevantes de uma ou várias partidas.
O presente estudo foi realizado com o objectivo de analisar a performance táctica de futebolistas de quatro escalões de formação utilizando o Teste “GR3-3GR”.
Material e métodos
Amostra
Participaram desse estudo 106 jogadores, sendo 42 provenientes do escalão escolas, 16 dos infantis, 24 dos iniciados e 24 dos juniores. Foram analisadas 5577 acções tácticas desempenhadas por todos estes jogadores, sendo 2915 defensivas e 2662 ofensivas. Foram excluídas da análise todas as acções de reposição da bola pela linha lateral, bem como a marcação de livres e aquelas em que não ocorreu movimentação do jogador no campo de jogo.
Instrumento
O instrumento utilizado para a recolha e análise de dados foi o teste “GR3-3GR” desenvolvido no Centro de Estudos dos Jogos Desportivos da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. O teste “GR3-3GR” é aplicado num campo reduzido de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura, durante 4 minutos de jogo. Durante a sua aplicação é solicitado aos jogadores avaliados que joguem de acordo com as regras oficiais do jogo, com excepção da regra de “fora-de-jogo”.
O teste visa avaliar as acções tácticas desempenhadas por cada um dos jogadores participantes, com e sem bola, de acordo com dez princípios tácticos fundamentais do jogo de Futebol, tendo em conta a localização da acção no campo de jogo e o resultado final da mesma. A partir dessas informações o teste fornece os índices de performance dos jogadores em cada princípio táctico, em cada fase de jogo e de todo o jogo.
Procedimento
A recolha de dados foi efectuada em quatro clubes portugueses, com o consentimento dos seus responsáveis. Para a aplicação do teste procedeu-se uma breve explicação dos respectivos objectivos e formou-se equipas para jogarem entre si. Todos os jogadores tinham os seus coletes numerados, de modo a facilitar a respectiva identificação. Foram concedidos aos jogadores 30 segundos de “familiarização”, findos os quais se deu início ao teste.
Material
Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmara digital PANASONIC modelo NV – DS35EG. O material de vídeo obtido foi introduzido, em formato digital num computador portátil via cabo, convertendo-os em ficheiros “.avi”. Para o tratamento de imagem e análise do jogo foi utilizado o software Utilius VS, software informático específico destinado à análise e arquivo dos registos observados.
Análise estatística
Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows®, versão 17.0. Para a caracterização da amostra foram realizadas análises descritivas de média e desvio padrão (dados contínuos - número e percentual de erros cometidos, e índices de performance táctica) - e distribuição de frequência (dados categóricos ou nominais - princípio táctico, localização e resultado da acção táctica).
Verificou-se a distribuição normal dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov (p≤0,05) e a homogeneidade das variâncias foi assegurada pelo teste de Levene. Recorreu-se à análise da variância (ANOVA) para comparar as médias dos índices de performance, das acções tácticas e dos seus erros e locais de realização(6). O teste Kappa de Cohen foi utilizado para aferir as fiabilidades dos valores dos índices de performance e das observações relativas aos inter-observadores.
Análise da fiabilidade
Para efeitos de aferição da fiabilidade, foram reavaliadas 1032 acções tácticas desempenhadas dos jogadores o que representa 18,50% da amostra, portanto, acima do valor de referência (10%), apontado pela literatura(7). As observações foram realizadas por três observadores treinados que apresentaram concordância inter-observadores igual a 0,93 (erro padrão=0,014), 0,82 (erro padrão=0,022) e 0,85 (erro padrão=0,020). Os resultados da fiabilidade intra-observadores exibiram valores de Kappa de 0,95 (erro padrão=0,014), 0,89 (erro padrão=0,022) e 0,92 (erro padrão=0,018) para os três avaliadores, que também são superiores aos valores de referência (0,61) apontados pela literatura(8).
Resultados e discussão
A Tabela 1 apresenta as médias e os desvios padrões dos índices de performance Táctica (IPT) de cada escalão (escolas, infantis, iniciados e juniores) obtidos através da aplicação do teste “GR3-3GR”.
Ao analisar os princípios ofensivos e defensivos nota-se que a maioria dos escalões obtiveram melhores IPT´s para os mesmos princípios tácticos “Mobilidade” e “Cobertura Defensiva, com excepção dos Infantis que apresentaram maiores valores para “Penetração e Equilíbrio”. Já os menores valores de IPT´s apresentaram-se diferentes em função dos princípios defensivos, entretanto para a fase ofensiva e para as fases do jogo apresentaram-se sempre os mesmos para todos os escalões, sendo “Espaço” e “Fase Defensiva”, respectivamente. A análise da variância indicou que todos os valores de performance analisados são diferentes (p≤0,05), mostrando que os desempenhos tácticos tanto na fase ofensiva quanto na fase defensiva são realmente diferentes.
A Tabela 2 apresenta as médias e os desvios padrões das acções, percentuais de erros e campo oposto ao princípio por cada escalão de formação analisado nesse estudo.
Em relação às acções realizadas verifica-se que os maiores valores encontram-se nos mesmos princípios para todos os escalões, com excepção do valor de “Cobertura Ofensiva” que foi maior para as Escolas. Os princípios menos realizados foram “Cobertura Defensiva” para a fase defensiva e “Unidade Ofensiva”, “Mobilidade” e “Penetração” para a fase ofensiva, o que também explica o menor número de acções para essa fase. A análise da variância indicou que todas as médias de realização de acções são diferentes (p≤0,05), mostrando que há um aumento no número de realização das mesmas a medida que há evolução do escalão, excepto para as acções ofensivas do escalão infantis.
Em relação ao percentual de erro de realização dos princípios tácticos, verifica-se também que os jogadores analisados possuem maior média nos princípios da “Unidade Ofensiva” e de “Contenção”, excepto os Infantis que maior média localiza-se nos princípios da “Unidade Defensiva” e da “Cobertura Ofensiva”. Entretanto, verifica-se que todos os escalões erram mais na realização dos princípios da fase defensiva do que os da fase ofensiva. A análise da variância mostrou que somente quatro valores dos princípios não são diferentes estatisticamente (p≤0,05), o que parece indicar que os jogadores cometem erros específicos à forma de jogar de cada escalão.
A última variável a ser analisada na Tabela 2 diz respeito ao campo oposto ao princípio, ou seja, refere-se ao local onde as acções tácticas foram realizadas. Assim, os dados dessa variável para os princípios ofensivos correspondem ao meio campo defensivo e os dados dos princípios defensivos correspondem ao meio campo ofensivo.
Nessa variável também se verifica que as maiores e menores médias encontram-se nos mesmos princípios para a maioria dos escalões estudados, sendo o “Espaço” e a “Unidade Defensiva” os com maiores médias e “Mobilidade” e “Cobertura Defensiva” os com menores médias. Além disso, verifica-se também menor média de execução dos princípios defensivos no meio campo ofensivo, sugerindo em conjunto com os resultados apresentados (Índice de Performance e Percentual de Erros) que os jogadores dos escalões avaliados possuem mais dificuldade em realizar as acções tácticas referentes aos princípios defensivos. A partir da análise da variância verifica-se que somente quatro valores dos princípios não possuem diferenças estatísticas (p≤0,05), indicando que a medida que os escalões evoluem os jogadores conseguem realizar mais acções dos princípios ofensivos e defensivos no campo oposto, provavelmente, porque possuem mais conhecimento do jogo e mais segurança nos seus comportamentos.
Em função destes resultados conclui-se que em todos os escalões o menor IPT na fase ofensiva está associado ao princípio do “espaço” e que os menores IPT dos princípios defensivos, “contenção”, “concentração” e “unidade defensiva”, variam em função dos escalões. Afigura-se plausível concluir que os escalões estudados apresentaram maiores dificuldades para realizar as acções tácticas defensivas com eficiência no meio campo ofensivo, uma vez que mesmo realizando mais acções desses princípios, eles possuem menor índice de performance.
Tabela 1 - Médias e desvios Padrões dos Índices de Performance Táctica por cada Escalão de Formação.
Tabela2 - Médias e desvios Padrões das Acções, Percentuais de Erros e Campo Oposto ao Princípio por cada Escalão de Formação.
* Não possuem diferença estatisticamente significativa (p≤0,05) % ERROS: Infantis: penetração (0,121); Iniciados: mobilidade (0,205) e equilíbrio (0,082); Juniores: mobilidade (0,328). CAMPO OPOSTO AO PRINCÍPIO: Escolas: cobertura ofensiva (0,160); Infantis: mobilidade (0,055); Juniores: mobilidade (0,328) e cobertura defensiva (0,162).
Referências
Gréhaigne JF, Mahut B, Fernandez A. Qualitative observation tools to analyse soccer. International Journal of Performance Analysis in Sport 2001;1(1):52-61.
Garganta J. Modelação táctica do jogo de futebol – estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento. [Tese de Doutoramento]. Porto: Universidade do Porto; 1997.
Garganta J. Analisar o jogo nos jogos desportivos colectivos - uma preocupação comum ao treinador e ao investigador. Horizonte 1998; 14(83):7-14.
Hughes C, Franks I. Notational analysis of sport. London: E. & F.N Spon; 1997.
Anguera M, Blanco A, Losada J, Hernández A. La metodología observacional en el deporte: Conceptos básicos. Lecturas: EF y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, 5 (24), 2000. http://www.efdeportes.com/efd24b/obs.htm
Pestana MH, Gageiro JN. Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. 3ª ed. Lisboa: Lisboa Edições Sílabo; 2003.
Tabachnick B, Fidell L. Using Multivariate Statistics. New York: Harper & Row Publishers; 1989.
Landis JR, Koch GC. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics 1977; 33:1089-91.
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