efdeportes.com
Influência da periodização sobre a aderência ao ciclismo indoor

 

*Centro Universitário Euro Americano (UNIEURO)

**Centro de Excelência em Medicina do Exercício (CEMEx)

***Universidade Católica de Brasília (UCB)

****Núcleo de Fisiologia do Exercício da Academia Resistência Física

(Brasil)

Renato André Sousa da Silva* **

Daniel Tavares de Andrade*

Yomara Lima Mota* ***

Leandro Monteiro Silva****

Hildeamo Bonifácio Oliveira* **

apicerenato@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estilo de vida ativo auxiliou na proliferação das academias. Nesses locais, a prática do Ciclismo Indoor (CI) aumenta vertiginosamente, pois, o este exercício possibilita melhoras no condicionamento cardiorespiratório, na composição corporal e no bem estar. Entretanto, a baixa aderência é um problema visível em todas as modalidades de academias, inclusive no CI. A baixa aderência pode estar atrelada a ausência de planejamento das aulas. O objetivo deste estudo foi propor e analisar a influência de um modelo de periodização na aderência às aulas de CI. Participaram do estudo 60 praticantes de CI, sendo 22 homens e 38 mulheres com idade média de 30,5 anos. O critério de inclusão consistiu de que o voluntário deveria freqüentar as aulas de CI há no mínimo um mês. O instrumento da pesquisa foi um questionário denominado de Formulário sobre Informação e Aderência ao CI (FIACI), composto de 09 questões abertas e fechadas. Os resultados demonstraram que tempo de prática do CI é de mais de 1 ano para 36,6% e de mais de 2 anos para 28,3% da amostra. O número de sessões semanais são de 2 a 3 vezes para 76%, sendo que 83% da amostra seguem e demonstram compreender as características do programa de treinamento em cada semana. Conclui-se que modelo proposto de periodização contribuiu para a aderência às aulas de CI.

          Unitermos: Spinning®. Treinamento. Ciclismo

 

Abstract

          The active lifestyle assisted in the proliferation of the gyms. In those places, the practice of Indoor Cycling (IC) spikes, for, this exercise enables improvements in the cardiorespiratory conditioning, in the body composition and in the welfare. However, the low adherence is an evident problem in all modalities of gyms, including IC. The low adherence can be linked to the absence of planning classes. The objective of this study was to propose and analyze the influence of a periodization model in the adherence to IC classes. In the study participated 60 IC practicing, being 22 men and 38 women with medium age 30.5 years old. The inclusion criterion consisted that the volunteer should frequent the IC classes for at least a month. The research instrument was a questionnaire titled as Form about Information and Adherence to the IC (FIAIC), composed of 09 open and closed question. The results demonstrated that the time of IC practice is more than a year for 36.6% and more than two years for 28.3% of the sample. The number of weekly sessions is from 2 to 3 times for 76%, whereby 83% of the sample follow and demonstrate to understand the characteristics of the training program in each week. It is ended that the proposed model of periodization contributed to the adherence to the IC classes.

          Keywords: Spinning®. Training. Cycling

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    O estilo de vida ativo auxiliou na proliferação das academias de ginástica. Nesses locais, profissionais de Educação Física orientam seus alunos em diferentes tipos de exercícios físicos (BAPTISTA et al., 2002; MARCELLINO, 2003). Dentre as diversas modalidades, atualmente destaca-se o Ciclismo Indoor (CI), que possibilita melhoras no condicionamento cardiorespiratório, na composição corporal e no bem estar. O CI caracteriza-se pela prática do ciclismo em bicicletas estacionárias equipadas com pião fixo, sem caráter competitivo e o praticante é orientado a controlar seu desempenho (SILVA; OLIVEIRA, 2004; DESCHAMPS; DOMINGUES FILHO, 2005; KANG et al., 2005; VILLALBA, 2005).


    O planejamento das aulas (treinos) de CI tem um papel fundamental para que os alunos (atletas) sejam conduzidos à plenitude das formas física, técnica e psicológica, dentro de um planejamento racional (periodização) que possibilite o alcance dos objetivos individuais (DANTAS, 1998; VERCOSHANSKY, 2001ab; ROSA, 2001). A periodização pode ser dividida em duas fases: preparatória e competitiva; ou em quatro períodos: preparatório ou básico, pré-competitivo, competitivo e de transição. Estes períodos são fracionados em macrociclos- várias meses; mesociclos- várias semanas; microciclos- vários dias e, em sessões de treinamento. As sessões de treino variam em função da duração, intensidade e alternância de estímulos conforme o nível de condicionamento e idade do praticante (FRANKEL; KRAVITZ, 2000; CERQUEIRA, 2001; VERCOSHANSKY, 2001).

    No treinamento desportivo (TD) são dois os principais modelos de estruturação de treinamento: linear e não-linear (ALMEIDA et al., 2000). O modelo linear propõe cargas progressivas com migração do grande volume e baixa intensidade para baixo volume e alta intensidade ao longo de várias semanas, enquanto que, no modelo não-linear utiliza-se alto volume e baixa intensidade intercalados com alta intensidade e baixo volume durante a semana de treinamentos (MONTEIRO et al., 2009).

    Estes modelos são amplamente empregados na preparação física de atletas de diferentes modalidades esportivas. Porém, os objetivos do freqüentador de academia diferem dos atletas de alto rendimento. Assim, a periodização voltada ao ambiente de academia, é mais bem entendida como a organização temporal do treinamento, orientados pelos princípios científicos do TD, mas, com atenção voltada fundamentalmente à melhora dos níveis de aderência, prevenção de lesões e promoção e/ou manutenção da saúde.

    A aderência refere-se ao nível de comprometimento dos praticantes de exercícios físicos (EF) com a rotina programada de treinos e seus formatos, ou seja, se individuais ou em grupos (BARBANTI, 1994; SABÁ et al., 2001). Contudo, é latente a alta rotatividade dos praticantes de EF nas academias, sendo esses níveis reduzidos de aderência justificados pela não compreensão dos praticantes sobre as metodologias e expectativas do profissional que os orienta, pela ausência do planejamento dos treinos, como também, por excesso de treinamento (MARCELLINO, 2003).

    A aderência pode ser impactada pelo tempo que as pessoas disponibilizam ao EF, mas também, pela forte influência que a mídia exerce sobre os anseios dos praticantes, visto que, difunde metas associadas à estética e ao estilo de vida saudável (SILVA et al. 2003). Assim, é necessário que os programas de treinamento em academias considerem esses dois aspectos.

    Os pensadores da Educação Física vêm discutindo a importância de periodizar com maior acuidade as aulas (treinos) em academias, a fim de prevenir excessos de treinamento (JÚNIOR et al., 1998), evitar lesões (SILVA et al., 2002), otimizar o treinamento e aumentar a aderência (DANTAS, 1988). Contudo, até o momento existem poucos estudos publicados sobre essa dessa temática no CI. Desta forma, o objetivo deste estudo foi propor e analisar a influência de um modelo de periodização na aderência às aulas de CI.

2.     Materiais e métodos

2.1.     Pressupostos teóricos para a proposta de periodização aplicada ao CI

    A presente proposta foi embasada em especificidades tanto do modelo de periodização linear quanto do não-linear, viabilizando uma estratégia de planificação das aulas de maneira esquemática, mas que respeitasse os princípios do TD e a fidelização do aluno à modalidade e à academia. Além de promover um direcionamento para os professores elaborarem seus planos de aula sem que os mesmos fiquem presos a modelos metodológicos engessados.

    Este modelo de periodização busca assegurar um desenvolvimento orgânico e psíquico do aluno, através da elevação individual da sobrecarga metabólica, do enriquecimento gradual do conjunto de ações motoras e da assimilação do gesto motor específico (adaptado de Dantas, 1998).

    Foram estabelecidos três eixos norteadores (pressupostos teóricos) para a elaboração do modelo de periodização:

  • Fisiológicos e psico-motores - relaciona-se com a adaptação à bicicleta de CI, devido às características do selim e do pião-fixo; desenvolvimento do condicionamento aeróbio medido na avaliação física; aperfeiçoamento técnico para as diferentes técnicas e posições sobre a bicicleta; existência de uma fase incorporativa (semana 1) e a orientação para prática semanal de 3 aulas.

  • Mercadológicos - relaciona-se com o direcionamento do aluno iniciante em um programa de exercícios já no primeiro mês, visto que esse é considerado o tempo mínimo de permanência na academia; o marketing funcionamento de um método que atenda as preferências/interesses dos alunos em virtude daquilo que é explorado pela mídia.

  • Organizacionais - relaciona-se ao quadro de funcionários da academia que deve estar capacitado para informar os alunos quanto às generalidades dos treinamentos individualizados e coletivos; a interação dos professores deve ser elevada e as recepcionistas devem conhecer a periodização para que possam fazer o primeiro contato com o aluno iniciante. Com também, a confecção de material didático para leitura em murais e encartes.

    A inobservância em alguns destes itens, pode comprometer a aplicação do modelo de periodização proposto.

2.2.     Especificações da periodização

    A periodização proposta fundamenta-se na progressão da sobrecarga de treino semanalmente, totalizando 04 semanas (mesociclo), onde a Semana 1 de um microciclo caracteriza-se como a recuperação da Semana 4 do ciclo anterior. Neste caso, entende-se sobrecarga como o produto do volume pela intensidade de treino. Ocorre que o volume varia muito pouco, pois as aulas são em média de 45 min, e a intensidade resulta das interações entre a cadência de pedalada e a técnica utilizada, como também da duração tanto dos exercícios.

    No decorrer das semanas, as aulas (sessões de treino) são intercaladas com dias de descanso ou outras modalidades oferecidas pela academia. Sendo que, durante a semana as aulas são sempre do mesmo ‘tipo’, podendo variar, ou não, a dinâmica da mesma, com exceção da Semana 01 onde se podem intercalar as aulas de Aeróbio 1 e 2. A planificação pode ser normatizada para todos os horários da academia.

    Na mudança de semana o tipo de aula é obrigatoriamente modificado. Fica restrita a execução dos exercícios avançados, como: jumping e sprint nas semanas 03 e 04. As aulas de tolerância lática ficam restritas à semana 04 e apenas uma vez por semana (preferencialmente em eventos). Aos finais de semana o ‘tipo de aula’ e a dinâmica das mesmas devem ser alteradas, contudo, continuam a seguir as diretrizes de intensidade descritas para aquele microciclo. Na delimitação do ‘tipo de aula’, as faixas percentuais das intensidades de exercícios (expressos em freqüência cardíaca) deverão ser respeitadas segundo os valores escalares descritos na Tabela I.

2.3.     Proposta de periodização não-linear aplicada ao CI (PPNL)

    A PPNL apresenta características de um Mesociclo Básico, formado por 04 Microciclos, sendo: 1 - Incorporativo; 2 - Ordinários; 1 – Choque. Este formato objetiva propiciar adaptações fisiológicas positivas do organismo à carga aplicada (DANTAS, 1998).

    A participação de cada microciclo na PPNL é representada na Figura- 01, que enfatiza a magnitude dos diferentes tipos de estímulos no treinamento mensal, sendo: 25% com características recuperativas, 50% de aulas de moderada intensidade e 25% enquadrando-se no domínio de intensidades elevadas.

  • Semana 01 (Microciclo Incorporativo) - momento apropriado para o início da prática; período de adaptação à bicicleta de pião-fixo; instrução do professor ao iniciante sobre as generalidades da modalidade; o iniciante permanecerá na técnica sentado no plano em sua 1ª semana.

  • Semana 02 (Microciclo Ordinário) - 2° momento para iniciação; 2º período de adaptação ao implemento; aumento na intensidade; o profissional avaliará se o iniciante apresenta condições de pedalar em pé; inserção dos tipos de aula: Resistência de Força e Intervalado.

  • Semana 03 (Microciclo Ordinário) - início das técnicas avançadas, como: jumping e sprint; os iniciantes permanecem contidos em relação à intensidade e às técnicas avançadas; a intensidade intermediária, em função de que os exercícios intensos são dosados com uma recuperação necessária.

  • Semana 04 (Microciclo de Choque) - semana mais intensa do ciclo; o aluno deve receber instrução de como será a aula, e este deve estar em plenas condições físicas e psíquicas; utilização das técnicas e exercícios mais avançados e intensos; pouco tempo de recuperação; necessidade de largos períodos de aquecimento e volta a calma; os alunos em seu 1º mesociclo continuam sofrendo restrições, sendo vedada a realização de técnicas avançadas e altas intensidades.

Figura 01. Magnitude de participação dos três modelos de microciclos na PPNL

2.4.     Planificação e montagem de aulas

    A planificação depende basicamente dos tipos de aula e obrigatoriamente das variáveis que a delimitam (Tabela I). Desta forma, segue abaixo a descrição de quatro variáveis obrigatórias para o planejamento da sessão de treinamento (aula).

  • Descanso - pode aparecer descrito como ‘abundante’ ou ‘escasso’, dependendo do estímulo prescrito, da semana e da preferência do professor, que decidirá se os descansos vêm entre ou durante as músicas e, está relacionado aos períodos intensos da aula que exigem um maior ou menor tempo de recuperação,

  • Tempo de aula - As aulas podem ser convencionalmente de: 30’, 45’, 50’, ou 60 min, porém, após a delimitação do tempo total da aula, considera-se como “Tempo de Aula” o período de trabalho vigoroso (@ acima dos 65% FCmáx).

  • Quantidade de músicas - varia de 08 e 20 músicas dependendo do tempo total e do tipo de aula.

  • Tamanho das músicas - varia de 02 e 20 minutos, dependendo do tempo total e do tipo de aula.

Tabela I. Diretrizes para planificação e planejamento das aulas a partir do modelo de PNLFM

Variáveis

Semana 01

Semana 02

Semana 03

Semana 04

Descanso

Abundante

Abundante (-)

Escasso

Escasso (+)

Tempo de Aula

Menor

Menor (-)

Maior

Maior (+)

Quantidade de Músicas

Maior

Maior (-)

Menor

Menor (+)

Tamanho das Músicas

Pequenas e

Grandes

Pequenas e

Grandes

Pequenas (-)

Grandes (+)

Pequenas (-)

Grandes (+)

Sistema Energético

Aeróbio

Aeróbio-

Anaeróbio (-)

Aeróbio-

Anaeróbio (+)

Aeróbio-

Anaeróbio (++)

Intensidade

60% a 75%

65% a 80%

65% a 85%

65% a 92%

Tipo de Aula

1 e 2

2,3 e 4

3,4 e 5

3,5 e 6.

Escala de Borg

02 a 06

03 a 07

03 a 09

03 a 10

Símbolos: (-) em menor escala ou participação e, (+) em maior escala ou participação.

    As intensidades são expressas em níveis percentuais da freqüência cardíaca máxima (%FCmáx). A FCmáx é obtida em teste cardiopulmonar máximo ou estimada por meio de equações preditivas. Para estimar a FCmáx sugere-se a utilização de equação de Jones (1985): 202 – 0,72*Idade.

    As intensidades apresentam relação direta no rendimento e segurança do praticante durante a aula, portanto, devem ser criteriosamente monitoradas (EDWARDS, 1998). A tabela acima fornece subsídios para que o professor tenha condições de escrever seu(s) plano(s) de aula (planificar) de forma a ordenar os estímulos e suas respectivas intensidades (CERQUEIRA, 2001; FARTO, 2002). As intensidades de cada microciclo são representadas na Figura- 02.

    Para o plano de aula propriamente dito, além das variáveis já citadas, outras são de grande importância, como: estilo e as batidas por minuto (bpm) das músicas, as técnicas e a cadência de pedaladas e os volumes de alongamento no início e ao final das aulas (GOLDBERG, 2000).

Figura 02. Intensidades (%FCmáx.) de cada microciclo da PPNL

2.5.     Tipos de aula

    São apresentados os tipos de aula em função das áreas funcionais do treinamento e, baseadas nas terminologias sugeridas por Goldberg (2000) e Silva et al. (2006).

1. Recuperação (Aeróbia 1) - o objetivo principal é a recuperação após uma semana intensa de treinamento (no caso a Semana 4). Seu intuito maior é o de realizar sessões de treino com baixa intensidade. Para isso é dada bastante ênfase ao trabalho de respiração e concentração, sendo proibida a utilização de técnicas avançadas onde as intensidades variam de 60% a 75% da FCmáx. e a Escala de Borg de 02 a 05.

2. Resistência (Aeróbia 2) - objetiva a manutenção de uma mesma exigência física durante o tempo total de aula, através da aplicação de forças constantes e, conseqüente predomínio do metabolismo aeróbio. O aluno mantém um ritmo estável e, tende a resistir à fadiga. Aclives podem ser adicionados desde que se respeite à zona alvo. Intensidades de: 65% a 75% da FCmáx. / Escala de Borg (adaptada) - 03 a 07.

3. Resistência de Força (Contínua Intensiva) - utilização de cargas elevadas associadas a técnicas avançadas; objetivando o desenvolvimento da resistência muscular, cadência e conseqüente, construção de uma base cardiovascular que suporte intensidades elevadas, trabalhando ora aerobiamente e ora anaerobiamente. Intensidades de: 75% a 85% da FCmáx. / Escala de Borg (adaptada) - 04 a 08.

4. Intervalada Aeróbia (Intervalada 1) - aula mista onde se desenvolve velocidade, ritmo e potência. Este treino objetivo aumentar o tempo de tolerância a estímulos de intensidade moderada. Caracteriza-se pela existência de “picos” de intensidade até entre 80% intercalados com recuperação a 65-70%%. Intensidades de: 65% a 80% da FCmáx. / Escala de Borg (adaptada) - 03 a 08.

5. Intervalada Anaeróbia (Intervalada 2) - aula mista onde se desenvolve velocidade, ritmo e potência. Este treino requer um lastro fisiológico aeróbio, tendo como objetivo desenvolver a capacidade de recuperação após intensidades acima do limiar aneróbio. Caracteriza-se pela existência de “picos” de intensidade entre 80% e 92% intercalados com recuperação a 65%. Intensidades de: 65% a 92% da FCmáx. / Escala de Borg (adaptada) - 03 a 10.

6. Tolerância Lática (Contra-relógio) - aula muito intensa, onde é necessário que o praticante esteja preparado física e psicologicamente. Caracteriza-se por treino contínuo com intensidades elevadas, tem a necessidade de um amplo período de recuperação ao final. Intensidades de: 80% a 92% da FCmáx. / Escala de Borg (adaptada) - 08 a 10.

  • Foi utilizada para estratificar o esforço subjetivo a escala de Borg de 10 pontos.

2.6     Delineamento

    Essa pesquisa se caracteriza como estudo de caso, sendo a análise dos dados feita por estatística percentual-descritiva, onde limitamo-nos a investigar os níveis de informação e a aderência dos praticantes de CI frente ao modelo de periodização proposto.

2.6.1.     Descrição da academia onde foi implantado

    A academia está situada em bairro de classe média/alta de Brasília (DF) e apresenta excelente estrutura técnica e operacional. Possui em média 600 alunos, com idade média de 30,5 anos. Na sala de CI há 20 bicicletas (Schwinn, PRO®) todas com frequencímetros (Polar A1®), ar condicionado, bebedouro, umidificador de ar, termômetro, tablado e aparelhagem de som. O pagamento faz-se em formato de pacote, onde com o valor da mensalidade o aluno tem acesso a todas as modalidades oferecidas. Há uma equipe de 4 professores, que possuem uma boa relação profissional e grande interação com os demais professores da academia. Existem 8 turmas de CI nas 2as, 4as e 6 as-feiras, 6 turmas nas 3as e 5as-feiras e 3 turmas aos sábados.

    Os itens citados acima apresentam influência direta no modelo de treinamento, por exemplo, a questão do pacote de atividades e trânsito livre para todas as modalidades, é determinante para homogeneidade ou heterogeneidade das turmas.

2.6.2.     Implantação da PPNL

    Inicialmente os alunos foram informados sobre as generalidades relativas ao conceito de periodização. Entretanto, o programa só foi implementado após a total compreensão e padronização do modelo junto à equipe técnica da academia.

2.6.3.     Amostra

    Participaram do estudo praticantes de CI das 14 turmas da academia que voluntariamente assinarem um termo de consentimento livre e esclarecido. Os voluntários totalizaram 10% dos alunos (n=60) da academia. O critério de inclusão consistiu de que o voluntário deveria praticar o CI há no mínimo um mês.

2.6.4.     Instrumento

    Foi utilizado um questionário desenvolvido pelos autores e denominado de Formulário sobre Informação e Aderência ao Ciclismo Indoor (FIACI). Este questionário foi submetido a 3 profissionais da área, para avaliar as questões em termos de clareza e objetividade e foi composto de 09 questões abertas e fechadas, sobre: o perfil do praticante; a aderência às aulas e à modalidade; nível de informação sobre a proposta de periodização; fidelização à academia.

2.6.5.     Procedimento de coleta de dados

    Foi encaminhado à coordenação da academia uma solicitação para realização do estudo. Após a autorização e conhecimento do corpo técnico os dados foram coletados pelos próprios pesquisadores, por meio da aplicação do questionário individualmente.

2.7.     Limitação do estudo

    Não foi quantificado o nível de conhecimento dos praticantes sobre aulas de CI periodizadas antes de serem submetidos a tal proposta.

3.     Resultados

    Na Tabela II são apresentadas as características descritivas da amostra e a freqüência de respostas do FIACI em valores percentuais.

Tabela II. Características descritivas da amostra e freqüência de respostas ao FIACI

Pergunta

Respostas

1. Idade

Masculino = 30 anos

Feminino = 31 anos

1.1 Sexo

Masculino (n=22) 37%

Feminino (n=38) 68%

2. Freqüência na academia

1 mês(6,6%)

2-6 meses

(20%)

6 meses a 1 ano (15%)

+ 1 ano (30%)

+ 2 anos (28,3%)

 

3. Tempo de prática do CI

1 mês (10%)

2 a 6 meses (18,3%)

6 meses-1 ano(16,6%)

+ 1 ano (26,6%)

+ 2 anos (28,3%)

 

4. Número de aulas por semana

1 dia(0%)

2 dias (28,3%)

3 dias (48,3%)

4 dias (15%)

5 dias (5%)

6 dias (3,3%)

5. Segue as orientações sobre o n° de aulas?

Sim(83.3%)

Não(16,6%)

6. Conhece sobre a programação?

Sim(97%)

Não (1,6%)

7. Consegue acompanhar a programação?

Sim(86,6%)

Não(13,3%)

8. Associação das intensidades com as semanas

0% (6,6%*)

25% (5%*)

50% (8,3%*)

75% (3,3%*)

100% (76%*)

 

9. A programação lhe agrada?

Sim (81%)

Não (18,3%)

10. Progresso no treinamento

Sim (68,3%)

Não (1,6%)

Omissos (30%)

(*) resultados referentes ao percentual de acerto das associações.

4.     Discussão

    Diversos estudos vêm investigando transversalmente o impacto de sessões de CI em variáveis metabólicas, hemodinâmicas e custo energético. Contudo, na temática do presente estudo ainda há poucos trabalhos disponíveis, assim a discussão dos resultados ficou limitada a alguns poucos trabalhos correlatos.

    A amostra apresentou características peculiares em termos de faixa etária, gênero, assiduidade, nível de entendimento dos processos do treinamento e aderência ao programa proposto. Observou-se uma faixa etária geral de 30,5 anos [masculino 37% (n=22) e feminino 68% (n=38)]. A maioria dos estabelecimentos apresenta maior proporção de freqüentadores do sexo feminino que praticam CI (SABÁ, 2001). Contudo, a média de idade mostrou-se um pouco acima da maioria das academias, onde 36,6% (n=15) são do sexo feminino e 28,6% (n=4) do sexo masculino.

    Em relação ao tempo que freqüentam a academia (questão 02) os alunos demonstraram resultados similares para as opções: mais de um ano (30%) e mais de dois anos (28,3%). Esses resultados analisados paralelamente ao tempo que praticam CI (questão 03), demonstram que mais da metade dos praticantes (54,9%) iniciaram à prática do CI logo que começaram a freqüentar a academia, ou seja, praticam CI a mais de um ano (26,6%) e a mais de dois anos (28,3%). Considerando que o PPNL está implantado na academia há 4 anos, então todos estes alunos iniciaram sua prática do CI sob o regimento da periodização proposta.

    Os resultados apontaram um bom entendimento dos alunos no que se refere aos aspectos da relação estímulo/descanso e a concordância com as diretrizes preconizadas pela PPNL. Neste sentido, os dados indicam que 48,3% (n=29) dos indivíduos praticam o CI três dias por semana, e 28,3% (n=17) o faz duas vezes na semana, totalizando 76,6% dos praticantes seguindo o proposto pela PPNL. Estes resultados corroboram com SABÁ (2001) ao descrever que 41,3% (n=59) e 9,1% (n=13) freqüentam a academia entre 3 e 2 vezes por semana, respectivamente.

    Esse feedback dos alunos ao que é orientado, fica mais evidenciado nas questões 06 e 07, onde 97% dos alunos relatam conhecer a programação das aulas previamente e, destes, 86,6%, relatam conseguir acompanhar de forma regular essa programação. Estes dados analisados em conjunto com os resultados da questão 05, sobre os alunos seguirem as recomendações dos professores em relação ao número de aulas que devem ser feitas por semana (Sim= 83,3%), percebe-se, claramente, uma grande eficácia no atendimento e na relação professor/aluno. Estes resultados ressaltam um grau elevado de qualidade na comunicação professor/aluno, o que segundo SILVA et al. (2003), é determinante para a eficácia do atendimento e aderência em academias.

    A questão de número 8 fez alusão ao nível de compreensão dos alunos em relação às características das quatro diferentes semanas, onde eles deveriam interligar através de setas as semanas com suas respectivas características. Os resultados foram concebidos em termos de percentual de acerto das associações, onde: 76% dos alunos acertaram 100% das combinações verdadeiras e o segundo valor de 50% de acerto com 8,3% da população.

    Marcelino (2003) cita que o conformismo, a baixa motivação e a ausência de uma metodologia coerente para as aulas, são agentes importantes na evasão ou troca de academia pelos alunos. Os resultados da questão 9, os quais abordaram se a PPNL agrada os alunos ao ponto de ser relevante na hora de decidir em continuar na academia ou não, claramente surpreendeu os pesquisadores, a partir do momento que se evidenciou a fidelização dos alunos à academia. O resultado foi de 81% (n=49) para aqueles que disseram que esta programação é relevante no momento de decidir se continua ou não na academia.

    A questão 10 investigou a percepção individual de progresso dentro do CI, 80% (n=48) dos voluntários responderam de maneira bastante variada e favoravelmente à PPNL, onde 5%(n=03) responderam de outras maneiras, e apenas 15% (n=9) dos voluntários foram omissos. Dentre os itens favoráveis mais citados, destacam-se em incidência os seguintes: “é estimulante..”; “por que aumenta gradativamente o condicionamento e a resistência..”; “por que não permite a monotonia e a acomodação..”; “ devido ao estímulo ser gradativo e que torna o esforço menor..”; “ porque acelera o resultado esperado..”; “ porque você vai pegando o ritmo durante a semana..”. Estas opiniões refletem a necessidade da continuidade de estudos sobre a percepção dos praticantes às metodologias didáticas utilizadas nas práticas da Educação Física.

5.     Considerações finais

    Em função dos resultados sugere-se que a PPNL pode ser utilizada, uma vez que, demonstrou ser eficiente para a aderência dos alunos à academia e à modalidade e, ainda, ressaltou o nível de interação entre professores e alunos desta academia.

    Em função da necessidade de se respeitar às diferenças individuais, indica-se que os profissionais a tenham como referência teórica e metodológica para que montem seus próprios modelos de periodização.

    Considerando os depoimentos, sugere-se também, que estudos futuros utilizem parâmetros fisiológicos como forma de evidenciar a viabilidade da presente proposta metodológica.

6.     Agradecimentos

    Os autores agradecem ao professor Emílio Ferreira, ao quadro de profissionais de Educação Física da academia e aos alunos que responderam o questionário.

Referências bibliográficas

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revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010  
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