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Introdução

    O exercício físico é fundamental para o bem - estar psicológico, qualquer que seja a idade da pessoa. Se nas crianças, ajuda ao desenvolvimento e crescimento das estruturas musculares, cognitivas, sociais e psicológicas, na adolescência é semelhante, definindo-se aqueles que optam pela vertente da alta competição, os que praticam pela competição, para estar com os amigos e aqueles que praticam por necessidade. Ao nível da terceira idade, a actividade física assume um papel fundamental relativamente a todos os factores que se relacionam com a atitude que cada indivíduo assume e desenvolve na sua vida. A relação positiva existente entre a actividade física e/ou desportiva e os benefícios na saúde física e mental é defendida em diversas investigações.

    Os programas de actividade física para pessoas idosas ajudam a prevenir problemas relacionados com a idade avançada e contribuem para a manutenção da saúde física, mental e social (Dosil, 2004).

    A valorização positiva da actividade física deve enfatizar os sentimentos de felicidade e de satisfação para com a vida, bem como as experiências a ela associadas (Wankel, 1997 in Ruiz 2004). A essência dos programas de actividade física no idoso devem consubstanciar as particularidades específicas à população em causa, permitindo a colocação em destaque da idade cronológica face à idade activa, bem como o papel dos idosos nas sociedades contemporâneas e o domínio das variáveis psico - sociais e biológicas inerentes ao processo de envelhecimento “saber viver: aprender a envelhecer. Saber viver: saber envelhecer”.

    Segundo as investigações científicas (Allmer,1998; Brehm, 1987 in Denk, 2003) as razões individuais para a prática da actividade desportiva centram-se nos conceitos de saúde, bem estar, sociabilidade, contacto com outras pessoas, variedade, rendimento, esforço, e alegria de realização de uma actividade física que supõe diversão.

    A actividade física deve ser proporcionada às pessoas da terceira idade, motivando-as através da divulgação dos diferentes factores referidos, não dando maior relevância a nenhum deles.

As hipóteses que estudámos foram as seguintes

1. Existem diferenças significativas nos motivos para a prática desportiva, relativamente ao género.

2. Existem diferenças significativas nos motivos para a prática desportiva, quanto ao tipo de motivação: intrínseca ou extrínseca, relativamente ao género.

    Trata-se de um estudo descritivo e comparativo. Pretendemos descrever e comparar quais os motivos que levam o grupo estudado a manter-se na prática desportiva.

Método

Amostra

    A amostra utilizada é caracterizada por praticarem ginástica de manutenção 2 ou 3 vezes por semana.

• Praticantes de ginástica de uma classe de manutenção do Sporting Clube de Portugal

  • 17 praticantes masculinos

  • 25 praticantes femininos

Procedimentos

    O primeiro passo foi o contacto com o clube, com o objectivo de obter autorização para intervir junto das praticantes. Posteriormente, solicitámos aos praticantes a sua participação, e por fim, realizámos a aplicação dos instrumentos. A aplicação dos instrumentos foi realizada de forma colectiva, nas instalações do clube.

Variáveis

Variáveis Independentes

• Contexto

  • Ginástica

• Género

  • masculino

  • feminino

Variáveis Dependentes

• A variável conceptual é a motivação: respostas resultantes dos questionários.

Instrumento

    Utilizámos um questionário sobre motivação para a prática desportiva que faz parte do Banco de Dados do Laboratório de Práticas Desportivas e de Lazer, da Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco e utilizado pelo laboratório de estudos em práticas desportivas e lazer com um conjunto de principais variáveis de adesão e permanência. Os itens são 25, considerando as dimensões saúde, bem estar, exercícios, ambiente de prática, aspectos psicossociais, qualidade do corpo docente e funcionários e os valores estéticos.

Análise dos dados

    Após a aplicação do instrumento, procedemos à cotação do mesmo para se efectuar o tratamento estatístico; recorremos à utilização da estatística descritiva e de inferência comparativa. Utilizámos a estatística não paramétrica na cotação dos itens em relação ao género, porque não se verificou a normalidade nos grupos. Na comparação dos géneros, em relação às diferentes dimensões, utilizámos o teste paramétrico para as dimensões saúde, exercício, ambiente e bem – estar, e a estatística não paramétrica para as dimensões psicossociais, professores e valores estéticos (prevê-se a opção pela prova paramétrica ou, sempre que a amostra o exige, o seu equivalente não paramétrico). Foi considerada uma probabilidade de erro de 0.05 (habitual em estudos desta natureza). Recorremos ao programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences).

Resultados

    Apresentamos de seguida a importância de cada um dos itens estudados para a permanência dos nossos ginastas na actividade desportiva, numa avaliação realizada pelos mesmos.

    Em relação aos itens “sentir-se realizado”, “conhecer os seus limites“, “prazer da prática“, encontramos para o nosso grupo, valores associados à sua avaliação como importante ou importantíssimo entre os 45,2% e os 52,4% contra valores associados à sua avaliação como sem importância de 2,4% a 11,9%. Em relação ao “bem-estar corporal “ encontramos também um resultado muito equilibrado entre o nível importante e o nível importantíssimo, com 50,0 % e 45,2 % respectivamente. No item “reduzir o nível de stress” consideram importante 47,6 % dos praticantes, enquanto que 38,1 % o consideram importantíssimo. Quanto a “recuperar-se das actividades do trabalho diário “ o importante destaca-se com 57,1 % contra 21,4 % daqueles que o consideram pouco importante. No item “libertar energias “ encontramos um resultado do importante com 66,7 % e do importantíssimo com um total de 85% %. Na “sensação de bem - estar proporcionado pelo exercício“, a avaliação como importantíssimo e importante atinge os valores de 52,4 % e 45,2 % respectivamente. Nenhum dos ginastas considerou sem importância este item, o que demonstra que os praticantes realizam esta actividade pelo prazer da prática. Em relação ao item “sensação de bem - estar proporcionado pelo ambiente“, os níveis mais escolhidos foram igualmente o importante e o importantíssimo, com 66,7 % e 26,2 % respectivamente. No item “por causa da alegria proporcionada no ambiente“ encontramos para os níveis importante e importantíssimo, um total de 73,9% contra 23% relativos ao nível pouco importante. Quanto à “ facilidade de acesso “ o nível importante destaca-se com 61,9 % seguido de 19% pertencente ao pouco importante. No item “por causa da atenção do professor “ o importantíssimo e o importante constituíram a avaliação de 45,2 % e 42,9 % dos praticantes, respectivamente. No item “por causa dos incentivos do professor“ encontramos também os níveis importantíssimo e importante como os mais escolhidos com 45,2 % e 42,9 %, respectivamente. No item “por causa da atenção dos funcionários do local “ o nível mais escolhido foi o importante com 38,1 % e encontramos 28,6 % para o item pouco importante. O “círculo de amizades“ é importante para 50 % dos nossos praticantes, destacando-se do nível pouco importante que aparece de seguida com 21,4 %. Para o item “por causa do local de prática “, encontramos 50 % dos ginastas que consideram importante e 26,2 % que consideram pouco importante. O “status social“, afirma-se como sem importância para 47,6 % e pouco importante para 26,2 %. Em relação ao item “aumentar o contacto social“ 45,2 % dos praticantes consideram – no importante contra 33,3 % que consideram-no pouco importante. No “incentivo da família e amigos “ encontramos também algum equilíbrio, sendo que 42,9 % dos praticantes o consideram pouco importante e 35,7 % o consideram importante. Em relação ao item “manter-se em forma “, voltamos a encontrar um predomínio dos níveis importante e importantíssimo contabilizando no seu total 95,3%. O item “ficar mais forte “, é importante para 42,9 %, e importantíssimo para 21,4%, mas é pouco importante para 26,2 % dos praticantes. “Emagrecer “50 % é importante para 50% e pouco importante para e 23,8 % dos praticantes. Em relação ao item“melhorar a aparência“ consideram-no importante 45,2 % dos praticantes, enquanto que 28,6 % consideram-no pouco importante. “Melhorar a postura “ é importante para 50 % dos praticantes e importantíssimo para 35,7 %. Em relação ao item “parecer mais jovem”, 38,1 % consideram-no pouco importante seguido do importante com 31 %. Resumindo, podemos referir que os itens que evidenciam níveis de opção mais elevados são : sensação de bem estar proporcionado pelo exercício, com uma média de 3,5 e por causa do local de prática, com uma média de 3,47. Os itens que evidenciam níveis de opção mais baixos são: ter status social com 1,85 e por causa dos funcionários do local, com 2,40.

Comparação das médias de cada item em relação ao género

    Quando comparamos o género em relação a cada item, encontramos valores mais elevados no género feminino em todos, com excepção dos itens ter status social e incentivo da família e amigos, que têm valores mais elevados no sexo masculino. Encontramos diferenças significativas em relação ao género, ao nível dos itens: sentir-se realizado, reduzir o nível de stress, facilidade de acesso, por causa da atenção do professor, por causa dos incentivos do professor, círculo de amizades, melhorar a postura, reduzir o nível de stress, facilidade de acesso e sentir-se realizado.

Motivação intrínseca e extrínseca

    A motivação intrínseca tem um valor mais elevado, relativamente à motivação extrínseca, nos praticantes com uma média de 3,0165 contra 2,7698. No entanto quando comparamos as motivações intrínseca e extrínseca relativamente ao género, não encontramos diferenças significativas.

Discussão

    O exercício atrasa ou diminui as alterações e mudanças anatómicas funcionais do idoso e assume-se como um apoio básico para lhe proporcionar uma melhor qualidade de vida (Dosil, 2004).

    O grupo estudado caracteriza-se por praticar desporto regularmente num clube desportivo e não num ginásio. Os resultados mostram que, nos itens “prazer da prática”, “aumentar o bem - estar corporal”,” libertar energias”, “sensação de bem - estar proporcionado pelo exercício”, “sensação de bem - estar proporcionado pelo ambiente”, “facilidade de acesso” e “manter-se em forma” encontramos uma opção que ultrapassa os 50 % no que respeita ao nível importante. Destes, três pertencem à dimensão exercício que se caracteriza por possuir a maior média de todas. De destacar o item “sensação de bem - estar proporcionado pelo exercício” que foi o item que encontrou uma percentagem superior a 50 % na resposta importantíssimo. Isto significa que a motivação para a permanência na pratica desportiva esta relacionada com o próprio exercício em si o que parece benéfico.

    A maior parte dos estudos referem que as pessoas procuram a actividade física por motivos de saúde. Neste estudo os itens relacionados com a saúde apresentam resultados médios mais baixos que a maioria dos itens. No entanto, isto não significa que o grupo não considere importante a actividade física para a saúde. A diferença e que a motivação principal não é esse factor. Parece que o conceito positivo da actividade física referido por Tokarski (1991, in Soler & Hernero, 2000), está presente aqui, juntando-se aos casos e modelos que estão de acordo com estes resultados.

    O item “sensação de bem - estar proporcionado pelo ambiente” obteve também um resultado muito elevado na resposta importante o que demonstra que o envolvimento é fundamental na realização da prática desportiva. Encontramos igualmente “facilidades de acesso” como um factor importante para a prática desportiva, o que coloca a dimensão”ambiente” como a segunda mais importante. Estes resultados estão, de alguma forma, de acordo com os estudos de Andrews & Withey (1978, in Fernandez,Fresneda, Martinez & Zamarron, 1999) das componentes de felicidade onde estão incluídos esses aspectos. É muito importante para as pessoas que o envolvimento existente na actividade seja bom o que vai fazer com que se sintam bem na realização da pratica desportiva.

    A dimensão professor também se encontra com um nível de respostas importante ou importantíssimo. Para este grupo o professor é fundamental, pois estão juntos há muito tempo e criaram-se afectividades que motivam os praticantes a realizarem esta actividade.

    O “bem - estar corporal” é uma dimensão que aparece igualmente com uma média de resposta elevada no nível importante. Poderemos referir que as pessoas valorizam o seu bem - estar corporal porque vai significar mais saúde e mais bem - estar psicológico.

    Os itens relacionados com a parte psicossocial mostram valores médios menos elevados que talvez se explique com o item do questionário pois as pessoas não estão preocupadas com o status social, se o tivessem praticavam desporto num ginásio. O item com valores médios mais elevados é o “circulo de amizades” o que está de acordo também com estudos de Andrews & Withey (1978, in Fernandez, Fresneda, Martinez & Zamarron, 1999) que consideram importantes entre muitos as relações positivas com os outros. A dimensão com menor média nos seus itens é aquela relacionada com valores estéticos o que se compreende pois parece estarmos perante um grupo que realiza a prática desportiva por prazer o que não quer dizer que não se preocupe com os itens desta dimensão

    De uma forma geral, consideramos que os resultados obtidos mostram-nos um grupo que valoriza as várias dimensões, na medida em que os resultados obtidos são muito semelhantes destacando-se a dimensão exercício com o valor médio mais elevado e os valores estéticos com a média mais baixa.

    Em termos de itens, temos apenas um item que a resposta importantíssimo ultrapassa todas as respostas e superior a 50 % do grupo que é a “sensação de bem - estar proporcionado pelo exercício”.

    Esta resposta explica de alguma forma o que encontramos referido na literatura, pois esta sensação de bem - estar permite às pessoas sentirem-se melhor, quer em termos físicos quer em termos psicológicos.

Motivos para a prática desportiva em relaçao ao genero

    Encontramos diferenças significativas em relação género nos itens “sentir-se realizado”, “reduzir o nível de stress”, “facilidade de acesso”, “por causa da atenção do professor”, “por causa dos incentivos do professor”, “círculo de amizades” e “melhorar a postura”.

    No que se refere aos itens, encontramos diferenças significativas apenas em sete dos 25 itens estudados, o que demonstra que as motivações são muito semelhantes ao nível dos dois géneros.

    Nos itens onde encontramos essas diferenças significativas, o género feminino apresenta valores mais elevados em todos eles. Apesar de não encontrarmos estudos que se refiram ao género, pensamos que o motivo pelo qual esses valores são mais elevados estejam relacionados com aspectos de segurança e

    Em relação às diferentes dimensões, encontramos diferenças significativas ao nível do género na saúde, ambiente de prática e na qualidade do corpo docente e funcionários, o que pode explicar-se pelo referido anteriormente, mas também porque pensamos que o género feminino preocupa-se mais com os aspectos relacionados com a saúde, com o envolvimento da pratica desportiva e com as pessoas que a rodeiam. Nestes aspectos, o género feminino parece ser mais exigente.

Motivaçao intrinseca e motivaçao extrinseca

    Os resultados mostram que o género feminino tem mais motivação intrínseca e extrínseca do que o género masculino. No entanto, não encontramos diferenças significativas entre os grupos, o que pode explicar-se pelo facto dos nossos ginastas permanecerem na actividade desportiva há muito tempo, no mesmo local.

    Ao contrário do que refere Tokarski (1991, in Solere Hernero, 2000) este grupo parece ter mais que um conceito positivo da actividade desportiva. Estamos perante um grupo que pratica desporto há muitos anos o que não necessita de motivação para a adesão ou permanência nesse desporto pois compreenderam desde há muito tempo, os benefícios dessa prática desportiva. O nosso grupo apresenta valores médios mais elevados de motivação intrínseca do que motivação extrínseca, o que consideramos muito positivo, pois sabemos que a motivação intrínseca é fundamental para ter êxito. Por outro lado, o motivo saúde não é o factor fundamental para a prática desportiva, mas sim o exercício em si. Tal como referíamos, os programas de promoção de actividade desportiva tem de incentivar as pessoas a realizarem desporto pelo prazer do desporto conseguindo assim uma intervenção positiva na parte relacionada com bem - estar físico e psicológico.

    Resumindo, concluímos com este estudo o seguinte

• O grupo estudado apresenta valores médios mais elevados nas dimensões exercícios e ambiente e valores médios mais baixos nas dimensões saúde e valores estéticos.

• Os itens com valor médio mais elevado são: sensação de bem estar proporcionado pelo exercício, e por causa do local de prática.

• Os itens que evidenciam níveis de opção menos elevados são: ter status social e por causa dos funcionários do local.

• Em 25 itens apenas encontramos diferenças significativas em sete deles, em relação ao género, que são: sentir-se realizado, reduzir o nível de stress, facilidade de acesso, por causa da atenção do professor, por causa dos incentivos do professor, círculo de amizades, melhorar a postura.

• Em relação ao género, encontramos diferenças significativas nas dimensões saúde, ambiente e qualidade do corpo docente e funcionários com valores mais elevados no sexo feminino.

• Não existem diferenças significativas no tipo de motivação, em relação ao género.

Referências bibliográficas

• Denk (2003). Actividad deportiva y abstención del deporte entre las personnas mayores. Deporte para Mayores. Editorial Paidotribo.

• Dosil, J. (2004). Psicología de la actividad Física y del Deporte. Universidad de Vigo.

• Fernández, Fresneda, Martínez & Zamarrón (1999). Qué es la psicología de la vejez. Universidad de Vigo. Editorial Biblioteca Nueva, S. L., Madrid, 1999.

• Ruiz (2004). Actividad física y hábitos saludables en personas mayores . Enrique J. Garcés de Los Fayos Ruiz. Universidad de Murcia. Publicación [Madrid]: Instituto de Migraciones y Servicios Sociales, D.L. 2004

• Soler & Hernero (2000). Guía completa de Fitness y Salud. Pág. 9. Brian J. Sharkey, ph. 2000 de la versión española realizada por Alberto Muños Soler y Manuel-Pedro Alonso Hernero, by Editores S.A..

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revista digital · Año 15 · N° 144 | Buenos Aires, Mayo de 2010   © 1997-2010 Derechos reservados