Aconselhamento em HIV/AIDS: a preparação dos enfermeiros frente à nova perspectiva para ações de saúde em atenção básica Counseling HIV/AIDS: the preparation of nurses to front new perspective for health actions in the primary care Asesoramiento en VIH / SIDA: la preparación de los enfermeros frente a la nueva perspectiva para las intervenciones de salud en atención primaria |
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*Acadêmica de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA) ** Enfermeira pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). ***Enfermeiro Mestre em Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco (UCB) e docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA) (Brasil) |
Ana Caroline Guedes Souza* Gisele Lobo Braga** Mário Antônio Moraes Vieira*** |
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Resumo O presente estudo trata da preparação dos enfermeiros frente à nova perspectiva para ações de prevenção em atenção básica em relação à HIV/AIDS, o Aconselhamento, tendo como principal objetivo compreender de que forma se deu a preparação dos enfermeiros que atuam nos serviços de atenção básica quanto à realização deste procedimento. Método: Foi realizado um estudo com abordagem qualitativa descritiva, que se desenvolveu na Unidade Básica Municipal de Saúde e nas Unidades Saúde da Família do município de Capitão Poço, que localiza-se na região nordeste do estado do Pará, onde foram entrevistados 7 enfermeiros que atuam na atenção básica deste município. Resultados e Discussão: Através da análise do conteúdo proposta por Bardin apud Triviños (1987), foram construídas 04 categorias: “O conhecimento dos enfermeiros sobre Aconselhamento”, “A preparação dos enfermeiros quanto ao Aconselhamento”, “A visão dos enfermeiros quanto à importância do Aconselhamento”, e “Prioridade no Aconselhamento: aspecto físico ou psicológico?”. Conclusão: A análise dos dados possibilitou o entendimento sobre como se deu a preparação dos enfermeiros que atuam nos serviços de atenção básica quanto à realização de aconselhamentos sobre HIV/AIDS, assim como se esses enfermeiros acreditam no aconselhamento como instrumento de uma nova perspectiva em ações de saúde, contribuindo com os enfermeiros, assim como com os futuros profissionais de saúde, através do repasse de informações, estimulando de forma indireta a melhoria da assistência, e fomentando a discussão sobre o tema e sobre a necessidade da busca de conhecimentos sobre o mesmo, além de buscar sensibilizar os gestores quanto à importância de propiciar aos profissionais que atuam na atenção básica, treinamentos necessários às atividades executadas pelos mesmos. Unitermos: Aconselhamento. HIV. AIDS
Abstract The present study is about preparation of the nurses front to the new perspective for prevention actions in basic attention in relation to HIV/ AIDS, advice, tends as main objective to understand that it forms if gave the nurses’preparation that nurse act in the services of basic attention as for the accomplishment of this procedure. Method: For that, a study was accomplished with descriptive qualitative approach, that grew in the Municipal Basic Unit of Health and in the unit of health of the Family of the Municipal district of Captain Poço, that is located in the northeast area of the state of Pará, where were interviewed 7 nurses that act in the basic attention of this municipal district. Results and quarrel: Through the analysis of the content proposed by Bardin apud Triviños (1987), 04 categories were built: The nurses’knowlwdge on advice, the nurses preparation as for advice, the nurses’vision as for the importance of advice, and “Priority in advice: aspect physical or psychological?”. Conclusion: Did the analysis of the data make possible the understanding on as felt the nurses’preparation that act in the services of basic attention as for the advice accomplishment on HIV /AIDS, as well as if those nurses believe in the advice as instrument of a new perspective in actions of health, contributing with the nurses, as well as with the professional futures of health, through it reviews of information, stimulating in an indirect way the improvement of the attendance and fomenting the discussion on the theme and about the need of the search of knowledge on the same, besides looking for to touch the managers as for the importance of propitiating the professionals that act in the basic attention, done necessary trainings to the activities execute by the same ones. Keywords: Advice. HIV. AIDS
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
O aconselhamento em HIV/AIDS configura-se em um diálogo que visa estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores e a oferecer ao cliente condições para que avalie sua condição de vulnerabilidade e riscos pessoais de portar o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV) ou de já ter desenvolvido a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), tome decisões e encontre maneiras realistas, ou seja, maneiras viáveis de enfrentar seus problemas relacionados às HIV/AIDS (Ministério da saúde, 2000).
Segundo Araújo, Farias e Rodrigues (2006), um estudo apontou que, para pacientes com HIV, o aconselhamento melhora os índices de adesão ao tratamento, o retorno para receber o resultado dos exames, o tratamento do parceiro sexual e uso do preservativo, no entanto mostrou que ainda é muito baixo o percentual de testagem no pré-natal, indicando que existem limitações para a realização do aconselhamento e testagem na atenção básica.
A inserção do aconselhamento na Atenção Básica constitui-se um grande desafio para gestores e profissionais de saúde, pois necessita de muitos mecanismos de superação para que resultados satisfatórios sejam obtidos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
Um dos aspectos que pode contribuir para uma boa cobertura de testagem do HIV é a realização de um aconselhamento de qualidade e para isso é necessário que os profissionais responsáveis por este procedimento sejam capacitados adequadamente para o mesmo.
Essa qualidade almejada pauta-se, sobretudo na perspectiva da escuta às demandas dos usuários, no apoio emocional para ajudá-las a enfrentar os conflitos que normalmente aparecem por ocasião da testagem valorizando a troca de informações, logo os profissionais não devem priorizar o conteúdo informativo e os aspectos cognitivos do aprendizado, em detrimento ao componente emocional, possibilitando, assim, aos pacientes maior segurança frente aos resultados dos exames realizados, eliminando, por exemplo, seus medos e dúvidas ainda existentes, pois caso isso não ocorra pode ocorrer de muitos pacientes deixarem de fazer o exame com medo do resultado (Ministério da saúde, 2007).
Objetivo
Compreender de que forma se deu a preparação dos enfermeiros que atuam nos serviços de atenção básica quanto à realização de aconselhamentos sobre HIV/AIDS;
Método
Tipo de estudo
Estudo descritivo com abordagem qualitativa, pois este modelo metodológico possibilitou uma interpretação mais profunda sobre a preparação dos enfermeiros para a realização do Aconselhamento em HIV/AIDS.
Procedimento metodológico
A pesquisa foi realizada na Unidade Básica Municipal de Saúde e nas Unidades Saúde da Família do município de Capitão Poço. Os sujeitos da pesquisa foram os enfermeiros, de ambos os sexos, que atuam na atenção básica no município de Capitão Poço (7 no total), e estes para serem incluídos na pesquisa atenderam os seguintes requisitos: no mínimo 1 ano de experiência nessa área e faixa etária entre 20 e 50 anos.
Os dados foram coletados utilizando-se a técnica da entrevista, através de um roteiro contendo perguntas abertas. O formulário foi previamente validado através de teste piloto e aplicado pela pesquisadora aos informantes pessoalmente em seu ambiente de trabalho, a entrevista foi marcada com 24 horas de antecedência diante da disponibilidade do profissional, gravada em mp3 e transcrita na integra para uma posterior análise. Para a garantia do anonimato dos participantes, foram criados nomes fictícios.
As falas foram interpretadas a partir do método de análise de conteúdo proposta por Bardin (apud TRIVIÑOS, 1987), que é um conjunto de técnicas de análise de comunicação que visam obter através de procedimentos sistemáticos e objetivos a descrição do conteúdo das mensagens. Estes indicadores permitem que a influência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção das mensagens.
Para que o conteúdo coletado fosse de mais fácil entendimento foi utilizada a modalidade de análise por categorias, que qualitativamente busca a presença de determinados assuntos que denotam os valores de referência semelhantes, sendo as informações coletadas agrupadas por quadro de questões, categorizadas, impessoalmente analisadas e relacionadas de acordo com o apoio do referencial bibliográfico.
Resultados e discussões
A epidemia da infecção pelo HIV e da AIDS constitui fenômeno global, dinâmico e instável resultante das profundas desigualdades da sociedade brasileira. A propagação da infecção pelo HIV e da AIDS revela uma epidemia de múltiplas dimensões que vem sofrendo transformações epidemiológicas significativas.
Nas categorias discutidas a seguir utilizou-se nos eixos temáticos o termo “aconselhamento sobre HIV/AIDS”, o qual é um diálogo confidencial entre o usuário e um conselheiro cuja finalidade é contribuir para que o primeiro supere o seu stress e tome decisões relacionadas com HIV/AIDS, e que hoje é visto como uma nova perspectiva para ações de saúde na luta contra essa epidemia. Foram usados os codinomes de “estrelas de cinema” para se identificar os sujeitos da pesquisa para que fosse garantido o anonimato dos mesmos.
Constatou-se no perfil dos enfermeiros entrevistados que 4 são do sexo feminino e 3 são do sexo masculino, a idade varia entre 24 e 38 anos, o tempo de formação e atuação na área da Atenção básica variam de 1 ano e 4 meses à 7 anos.
Com relação a qualificação, 2 entrevistados apresentam o curso de especialização em atenção básica ou saúde pública, 1 iniciou o curso de Atenção básica, mas não o concluiu, 1 o está concluindo, e 3 não apresentam nenhuma especialização.
Isso mostra que a maioria dos profissionais apresenta pelo menos um curso de pós-graduação, logo em tese, isso deve proporcionar uma melhor preparação para que os profissionais possam exercer suas atividades, assim como o tempo de trabalho na área também deve facilitar isso, sendo que a media de trabalho na área aqui entre os profissionais é de aproximadamente 3 e seis meses.
Constatou-se que os entrevistados vêem o aconselhamento como um ato de simples orientação, como mostrado na fala de Jim Carrey quando afirma que “aconselhamento seriam as orientações repassadas aos pacientes tanto nas consultas especificas quanto nas palestras para a comunidade”. No entanto, as principais características do processo de aconselhamento são a “escuta” e a “troca”. Somente escutando os anseios e medos do cliente, reconhecendo suas crenças e valores, podemos conhecê-lo melhor e com isso podemos perceber os limites e também as possibilidades que o cliente tem para lidar com as situações de risco a qual se expõe ou com a revelação do diagnóstico positivo para HIV, pois ainda há hoje uma associação de um resultado positivo para HIV com a perda e morte, além do que se a população não for bem esclarecida com relação entre outras coisas quanto às formas de transmissão da doença ainda existirá muito preconceito em relação aos soropositivos principalmente associando essa transmissão a comportamentos de promiscuidade, e isso ainda pode-se ver até mesmo entre os próprios profissionais de saúde.
Segundo a Onusida (1997), o processo de aconselhamento inclui a avaliação do risco pessoal de transmissão do HIV e a discussão sobre como prevenir a infecção.
O aconselhamento deve implicar uma reflexão conjunta, na qual o cliente deve ser estimulado a participar ativamente, pois este não deve simplesmente “ouvir” uma lista do que deve e o que não deve fazer, pois muitas vezes essas “regras”, impostas pelo profissional de saúde, acabam sendo inviáveis ao estilo de vida daquele cliente, logo o que deve ser feito é um levantamento das situações de risco e, assim, o cliente junto com o profissional devem discutir meios de tentar evitar esses riscos, respeitando a realidade de cada individuo.
Além disso, ainda há uma confusão entre os entrevistados quanto se trata do público alvo desse aconselhamento, pois alguns profissionais, como Angelina Jolie, acreditam que o aconselhamento deve ser realizado somente para pacientes que são portadores de HIV e/ou AIDS, no entanto um dos principais objetivos do aconselhamento é voltado justamente para a prevenção, tanto que no ano de 2008 o Ministério da Saúde teve como alvo da campanha do dia mundial contra AIDS os idosos que, há alguns anos, não eram considerados como um grupo de risco, no entanto, com o crescimento no número de idosos contaminados pelo HIV percebeu-se a necessidade de uma maior atenção a essa determinada população, assim como às outras, independente de sexo, idade, cor, estado civil ou opção sexual.
A prática do aconselhamento desempenha um papel fundamental no contexto da epidemia da AIDS e se reafirma como uma tecnologia de cuidado estratégico para promover a prevenção, para o momento da revelação do diagnóstico do HIV e na promoção da integralidade na atenção à saúde, e para isso é necessário que os profissionais responsáveis por este procedimento sejam capacitados adequadamente para o mesmo.
No entanto, o que podemos constatar é que apenas 1 enfermeira dos 7 profissionais entrevistados afirmou ter realizado um curto treinamento (duração de um dia) sobre Aconselhamento em HIV/HIDS, o que não lhe possibilitou preparação para a realização do aconselhamento, e também apenas 1 profissional afirmou se sentir preparada para realizar esse procedimento, sendo que sua capacitação não se deu por meio de treinamento, curso ou capacitação, ocorreu apenas por estudos próprios, sendo que a mesma ao ter sido questionada anteriormente sobre o que ela sabe a cerca de aconselhamento mostrou que tem apenas um conhecimento sobre o aconselhamento pós-teste, logo, tem apenas uma conhecimento parcial sobre o que é o aconselhamento e como ele deve ser realizado.
É justamente essa a grande dificuldade que os profissionais de saúde apresentam para desempenhar o aconselhamento na Atenção básica: a falta de capacitação tanto para a realização com segurança desse procedimento, quanto para saber lidar com estes usuários.
É unânime, entre os profissionais entrevistados, uma preocupação em abordar aspectos de cunho emocional aos clientes atendidos e não somente uma preocupação com o seu aspecto físico, o que é muito positivo, no entanto, will Smith e Sarah Jéssica Parker apesar de acharem importante abordar os aspectos emocionais ainda priorizam aspectos informativos.
Conclusão
Ao analisar de que forma se deu a preparação dos enfermeiros frente à nova perspectiva para ações de prevenção em atenção básica em relação à HIV/AIDS, o aconselhamento, percebe-se que a maioria dos profissionais de enfermagem envolvidos nesse processo são conscientes da importância da realização de treinamentos direcionados a ele, para que a assistência prestadas à esses clientes atenda não somente suas necessidades físicas, mas também as suas necessidades emocionais, no entanto, nenhum desses profissionais participou de qualquer treinamento adequado sobre o tema.
Ressalta-se ainda, na fala dos entrevistados, que é de estrema importância à educação continuada permanente, oferecida pelos gestores públicos, sobre o manejo a esta clientela, o que é um fator facilitador para que a equipe atue de forma mais eficaz para atender esses pacientes.
Foi evidenciado infelizmente que ainda existem muitas duvidas sobre o tema “aconselhamento” e sobre a utilização do mesmo como um instrumento indispensável a um cuidado de qualidade no que diz respeito a HIV/AIDS, não somente nos serviços especializados como na atenção básica, principalmente estimulando a adoção de práticas mais seguras contribuindo com a redução de risco de contagio e transmissão, assim como favorecendo apoio emocional para um possível diagnóstico e, se necessário, direcionando a um tratamento mais eficaz a cada caso, e contribuindo também para que extingam-se os mitos e crenças errôneos que ainda existentes sobre o tema.
Contudo, percebe-se que ainda há por parte dos enfermeiros falta de habilidade ao defrontar-se com um caso positivo para HIV e/ou AIDS apesar de uma entrevistada já ter passado por essa experiência no decorrer de sua atuação profissional e de todos afirmarem solicitar o teste anti-HIV a alguns de seus pacientes.
E como contribuição deste estudo, apresento as seguintes recomendações que deixam claro aos profissionais de saúde, aos futuros enfermeiros e aos gestores que há sim a possibilidade de se desenvolver um atendimento de qualidade quanto a HIV/AIDS pautado no aconselhamento, e que é possível fazer as coisas acontecerem, pois elas dependem mais de conscientização, esforço e boa vontade do que de fatores materiais.
Enfermeiros devem ser pessoas que cuidam de pessoas, sendo assim fica clara a importância de se tratar com seriedade a necessidade de qualificação na área da saúde como um todo, levando à reflexão sobre as competências que se espera dos profissionais da saúde em cuidar e relacionar-se com pessoas com HIV e/ou AIDS, assim como sobre o impacto dessa realidade na prevenção da doença e da necessidade de se ter como foco o atendimento das necessidades dos seres humanos, sejam eles portadores de HIV ou não.
Referências
Ministério da saúde. Aconselhamento em DST/HIV/AIDS para Atenção Básica. Brasília, 2005.
Ministério da saúde. Aprendendo sobre AIDS e Doenças sexualmente Transmissíveis. 3. ed. Brasília, 2001.
Ministério da saúde. Aconselhamento em DST, HIV e AIDS: diretrizes e procedimentos básicos. 4. ed. Brasília, 2000.
Ministério da saúde. Capacitação para Multiplicadores: Aconselhamento em DST, HIV e Teste rápido. Brasília, 2007.
Triviños, A. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em ação. São Paulo: Atlas, 1987.
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