Relação do perímetro da coxa e comprimento dos membros inferiores com a força em crianças de 10 e 11 anos de idade Relación del perímetro del muslo y a longitud de los miembros inferiores con la fuerza en niños de 10 y 11 años de edad |
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*Pós Graduado em Treinamento Esportivo Universidade Federal de Minas Gerais **Mestre em Educação Física Universidade Católica de Brasília (Brasil) |
Geraldo Oliveira Carvalho Júnior* Tasso Coimbra Guerra** (Brasil) |
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Resumo O objetivo do estudo foi verificar a influência do comprimento dos membros inferiores e do perímetro da coxa sobre a força de membros inferiores. A amostra foi composta por escolares do sexo masculino, com idades entre 10 e 11 anos, estudantes de uma escola pública da cidade de Ipaba-MG (N = 51), cujo IMC (índice de massa corporal) situa-se abaixo de percentil 75 do padrão NCHS (National Center of Health Statistics), evitando-se assim que possíveis casos de sobrepeso e obesidade pudessem interferir no resultado. Para avaliação do crescimento e estado nutricional foram medidos o peso corporal e estatura, posteriormente calculado o IMC. Foram medidos ainda o perímetro medial da coxa e a altura dos membros inferiores, através da subtração da estatura menos a altura sentado. Para avaliação da força de membros inferiores foi utilizado o teste de impulsão horizontal. Para verificação da associação entre as variáveis utilizou-se o teste de correlação de Pearson, não tendo encontrado valores significativos entre as variáveis analisadas. Obteve-se um r = - 0,16 (negativa baixa) na relação entre o perímetro da coxa e o teste de impulsão horizontal, e um r = - 0,11 (negativa baixa) na relação da altura do membro inferior e o teste de impulsão horizontal. Pelos resultados encontrados pode-se concluir, no presente estudo, que não houve associação significativa entre perímetro da coxa e o comprimento do membro inferior com a força avaliada através do teste de impulsão horizontal. Unitermos: Impulsão horizontal. Perímetro da coxa. Comprimento membro inferior
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010 |
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Introdução
O salto é um tipo de atividade presente diariamente em nossa vida, sendo pulando sobre objetos, transpondo obstruções e saltando sobre valetas e poças para evitar territórios os quais não desejamos pisar Nas modalidades esportivas, sejam elas coletivas ou individuais os saltos também estão sempre presentes. Seja combinado a uma corrida, a um arremesso a gol ou a um ataque utilizando os braços e ate mesmo a cabeça. Cada uma destas atividades envolve um período de tempo no qual o corpo não está em contato com o solo. Neste sentido saltar pode ser considerado como uma extensão natural da corrida que, por sua vez, é uma extensão natural da locomoção (Durward; et al., 2001).
Para um melhor desempenho na ação do saltar, a força dos membros inferiores exerce o papel principal. Segundo Rocha e Rodrigues (1997) “força é a capacidade do individuo utilizar sua musculatura para vencer resistência externa”. Conforme Ashby e Heegaard (2002), o teste de impulsão horizontal é um dos mais usados para medir força explosiva, o qual tem por objetivo medir a potência dos membros inferiores no plano horizontal, podendo ser realizado desde os seis anos de idade, além de ser um movimento humano fundamental que requer coordenação motora complexa dos segmentos superiores e inferiores do corpo.
Este teste envolve forças musculares que devem ser obtidas para os movimentos num curto espaço de tempo, a utilização de energia deve ser rápida, e isto permite classificar o teste em termos de gasto energético no sistema ATP-CP.
Segundo McArdle et al (1998), o músculo esquelético humano gera de 16 a 30 newtons (N) aproximadamente de força por centímetro quadrado de corte transversal do músculo. Mas no corpo humano, essa capacidade de força relacionada ao rendimento varia de acordo com o arranjo das alavancas ósseas e com a arquitetura muscular. De acordo com Howley e Franks (2000) o tamanho do músculo, seu comprimento inicial e velocidade de contração influenciam na força muscular exercida pelo individuo para realização dos movimentos.
Assim o estudo verifica a influência do comprimento dos membros inferiores e do perímetro da coxa sobre a força muscular em crianças com idade entre 10 e 11 anos.
Metodologia
Amostra
Foram feitas as medidas de todos os alunos, com idade entre 10 e 11 anos, do sexo masculino, matriculados e freqüentes da 5º série do ensino fundamental de uma escola pública do município de Ipaba-MG, sendo um total de 51 alunos.
Para evitar possíveis casos de sobrepeso e obesidade, foram utilizadas apenas as medidas dos alunos os quais estiveram abaixo do percentil 75 do padrão NCHS (National Center of Health Statistics) do cálculo do índice de massa corporal (IMC). Utilizando esse critério de seleção o número da amostra foi reduzido para 39 alunos.
Instrumentos e procedimentos
Foi realizado a medida de peso utilizando uma balança com precisão de 100g da marca Welmy, o avaliado utilizando somente a bermuda do uniforme da escola segundo Fernandes Filho (1999).
Utilizando o antropômetro metálico acoplado na balança, foi feita a medida da estatura dos alunos conforme Fernandes Filho (1999)
Após a medida de peso e estatura foi realizado o calculo do índice de massa corporal (IMC) utilizando a formula peso corporal em quilograma dividida pela estatura em metros elevada ao quadrado (Kg/m2) (Fernandes Filho, 1999).
Para mediar o comprimento do membro inferior foi feita a medida da altura sentado conforme Rocha (1997). Posteriormente foi calculado o comprimento dos membros inferiores subtraindo a estatura menos a altura sentado.
Foi realizada a medida do perímetro da coxa, estando o avaliado em pé, circundado a fita no plano paralelo ao solo ao nível do ponto médio-femural (Rocha, 1997).
Para mensuração da força dos membros inferiores foi realizado o teste de impulsão horizontal segundo Celafiscs citado por Fernandes Filho (1999). O movimento dos braços foi livre. Sendo realizado três tentativas e registrando a melhor marcar a partir da parte anterior do pé.
Para a realização dos testes na dependência da escola, foi expedida uma carta de apresentação ao diretor, contendo um pedido de autorização e a finalidade do estudo. As medidas foram realizadas com uma criança de cada vez, onde um avaliador orientou e anotou o resultado das crianças no teste de impulsão horizontal e um outro avaliador mediu e anotou os dados antropométricos das crianças.
Tratamento dos dados e cuidados éticos
Os dados obtidos foram tratados através do programa Microsoft Excel sendo realizados os cálculos estatísticos: média do grupo, desvio padrão e coeficiente de correlação de Pearson (r) entre as variáveis. Sendo os resultados apresentados em forma de gráficos e tabelas.
A participação no teste foi de livre e espontânea vontade do aluno. Os nomes dos participantes não foram divulgados, para que não ocorresse qualquer tipo de constrangimento para a criança em relação ao resultado alcançado.
Resultados e discussão
A amostra foi composta por 39 estudantes de uma escola pública do município de Ipaba - MG, do sexo masculino e com idade entre 10 e 11 anos.
Tabela 1. Valores médios, desvio padrão, mínimos e máximos das variáveis: peso, estatura, IMC, perímetro da coxa, tamanho dos membros inferiores e salto horizontal
Indivíduos (n = 39) |
S |
Mínimo |
Máximo |
|
Peso (Kg) |
31,96 |
±5,27 |
24,0 |
43,4 |
Estatura (m) |
1,40 |
±0,06 |
1,28 |
1,56 |
IMC kg/m2 |
16,19 |
±1,57 |
13,2 |
19,3 |
Perímetro da Coxa (cm) |
36,21 |
±3,20 |
30,0 |
43,5 |
Tamanho do Membro Inferior (cm) |
66,82 |
±4,06 |
59,5 |
77,0 |
Salto Horizontal (cm) |
142,67 |
±15,80 |
107,0 |
177,0 |
Em relação às medidas antropométricas, o peso corporal apresentou uma média de 31,96 ±5,27Kg. A medida de peso não é adequada para se afirmar se uma pessoa é obesa ou magra, é também bastante utilizada para medir o crescimento somático das crianças sendo o mesmo o resultante da participação do crescimento dos diferentes tipos de tecidos do corpo, como os ossos, os músculos, a gordura entre outros. Guedes e Guedes (2002) citam que a criança que demonstra um elevado peso corporal para sua estatura pode caracterizar-se como obesa ou ser considerada simplesmente uma criança com sobrepeso. Sendo assim a comprovação de obesidade é o excesso de tecido adiposo, e não necessariamente, o maior peso corporal.
A estatura apresentou uma média 1,40 ±0,06m. A relação entre peso/estatura para determinação de índices corporais é bastante utilizada por pesquisadores para analise do crescimento somático de crianças. O IMC dos indivíduos analisados apresenta uma média de 16,19 ±1,57Kg/m.2. Segundo a literatura o IMC é utilizado para avaliar a normalidade do peso corporal de um individuo, usado também como indicador de estado de desnutrição, sobrepeso e obesidade.
Segundo Malina e Bouchard (2002), existe uma forte associação entre a maior quantidade de tecido adiposo no organismo e a manifestação de cardiopatias, hipertensão, diabetes e menor tolerância ao calor, o excesso de gordura provoca alterações bioquímicas como hiperlipidemia, diminuição a tolerância de glicose e resistência à insulina.
Em um estudo Guedes e Guedes (2002) realizou medidas de estatura, peso, IMC e salto a distância em crianças, com idades de 10 e 11 anos, do município de Londrina – Paraná, tendo encontrado valores médios respectivamente para estatura de 1,36 ±6,85m e 1,42 ±6,88m; para o peso corporal os valores foram de 31,0 ±6,95Kg e 34,89 ±8,08Kg; para o índice de massa corporal 16,69 ±1,8Kg/m2 e 17,27 ±3,04Kg/m2 e finalmente para o salto em distância os valores foram 139,01 ±17,13cm e 151,40 ±18,06cm. Sendo esses valores próximos aos valores médios apresentados no presente estudo.
O comprimento dos membros inferiores apresentou uma média de 66,82, ±4,06cm. O crescimento das extremidades inferiores é caracterizado no começo do estirão de crescimento da adolescência em estatura, o crescimento em comprimento troncocefálico da estatura ocorre mais tarde, porem o crescimento dos membros inferiores termina mais cedo que o crescimento troncocefálico, que prossegue até o final da adolescência (Malina e Bouchard, 2002).
O perímetro da coxa apresentou uma média de 36,21 ±3,20cm. Segundo Malina e Bouchard (2002) esta medida envolve o osso circundado por uma massa de tecido muscular que é envolto por uma camada de gordura subcutânea. Assim, o perímetro não fornece uma medida do tecido muscular em si. No entanto, como o músculo é o principal componente de tecido da circunferência, menos em indivíduos obesos, os perímetros dos membros são usados para medir um desenvolvimento muscular relativo.
O gráfico 1 a seguir demonstra a associação do resultado do teste de impulsão horizontal com o tamanho do membro inferior.
Gráfico 1. Relação o teste impulsão horizontal com o comprimento dos membros inferiores (r = -0,11)
Para verificar a associação entre as variáveis analisadas foi calculado o coeficiente de correlação linear momento-produto de Pearson (r), tendo encontrado um r = -0,11 (negativa baixa) entre as variáveis, comprimento do membro inferior e o teste de impulsão horizontal. A relação demonstra que os indivíduos que possuem menor comprimento de membros inferiores apresentaram um melhor desempenho no teste de impulsão horizontal. Sendo assim pode-se dizer que, o comprimento dos membros inferiores em crianças não é o principal mecanismo para desempenho de força de membros inferiores e sim a coordenação das habilidades motoras.
O gráfico 2 a seguir mostra associação do resultado do teste de impulsão horizontal com o perímetro da coxa.
Gráfico 2. Relação teste impulsão horizontal e perímetro de coxa
Para verificar a associação entre as variáveis analisadas foi calculado o coeficiente de correlação linear momento-produto de Pearson (r), tendo obtido o resultado de r = -0,16 (negativa baixa) para a relação do perímetro da coxa e o teste de impulsão horizontal. Beunen et al (1976) apud Guedes e Guedes (2002) cita que entre rapazes na faixa etária de 12 e 13 anos, os resultados de testes motores (saltos e corridas) que envolvem força/resistência muscular têm apresentado coeficientes de correlação negativa. Devido ao fato de que, o avaliado devia vencer a sobrecarga de seu próprio peso corporal, sendo nessa idade o aumento da massa corporal bastante acentuado.
Em um estudo envolvendo 50 crianças do sexo masculino com média de idade de 8,0 anos, Guerra (2004) encontrou uma relação negativa moderada (r = - 0, 21) analisando as variáveis, perímetro da coxa e salto horizontal. Sendo assim os resultado apresentados neste estudo estão de acordo com a tendência apontada Beunen et al (1976) e citado por Guede e Guedes (2002) e com os resultados encontrados por Guerra (2004).
Amorim et al (2004) verificou a relação do perímetro da coxa e os torques máximos dos flexores e extensores do joelho na avaliação isocinética em indivíduos com idade média de 27, 5 anos e encontrou uma correlação significativa (r = 0,751) concluindo que, os músculos de maior perímetro realmente geram mais força. O resultado difere-se do encontrado no presente estudo, devido a diferença de idade abordada entre os dois estudo.
Segundo Campos (2000) a força muscular aumenta conforme o aumento da massa muscular e adaptações do sistema nervoso com a idade. O pico de força é adquirido entre vinte e trinta anos para os homens. Os meninos têm um maior aumento de força durante a puberdade devido a alterações hormonais que acompanham esta fase e que geram o aumento de massa muscular. Em comparação aos resultados encontrado no presente estudo os adultos diferem-se das crianças, pois a força muscular sofre influência da estrutura muscular e das adaptações do sistema nervoso.
Conclusão
Os resultados encontrados, no presente estudo, permitem concluir que, o comprimento dos membros inferiores e perímetro da coxa não têm influência significativa na força avaliada através do teste de impulsão horizontal em crianças de 10 e 11 anos.
O desempenho das crianças, em teste de saltos horizontal, estão mais relacionados às habilidades coordenativas do que as estruturas musculares e alavancas corporais.
Os resultados das avaliações antropométrica e teste de impulsão horizontal não diferem dos resultados encontrados em outros estudos.
Referências bibliográficas
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