Perspectivas do tratamento não-farmacológico da insuficiência cardíaca Perspectivas del tratamiento no farmacológico de la insuficiencia cardiaca |
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*Especialista em Unidade de Terapia Intensiva (CEPETI, Curitiba) e Fisiologia do Exercício (UGF) **Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Cesumar Inspirar ***Especialista em Fisioterapia em Geriatria pela Cesumar Inspirar ****Especialista em Fisiologia do Exercício pela UGF Mestrando em Ciências do Movimento Humano-UDESC *****Doutorando em Ciências do Movimento Humano-UDESC (Brasil) |
Christiani Decker Batista Bonin* Vanessa Schveitzer** Samanta Rattis Canterle Bez Fontana** Renato Claudino*** Juan Marcelo Simões Cáceres**** Anderson Zampier Ulbrich***** |
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Resumo A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa e de caráter progressivo, considerada a via final de toda a cardiopatia. É caracterizada por atividade neuro-hormonal exacerbada, baixa tolerância ao exercício, baixa sobrevida, e qualidade de vida deteriorada. No período de 2000 a 2007, as doenças do aparelho circulatório compuseram a terceira maior causa de internações pelo sistema único de saúde (SUS) no Brasil. Dessas, a IC é a mais freqüente, sendo responsável por mais de 2,7 milhões de hospitalizações e equivalendo a 29,35 do total por doenças cardiovasculares e 3,0% do total geral. A abordagem não farmacológica no tratamento de pacientes com IC tem se mostrado útil para auxiliar o gerenciamento dos sintomas, reduzir o número de internações e melhorar a qualidade de vida. Unitermos: Insuficiência cardíaca. Reabilitação cardíaca. Qualidade de vida
Abstract The heart failure (HF) is a complex clinical syndrome and of gradual character, considered the final way of all the cardiovascular diseases. It is characterized by hormonal improve activity, low tolerance to the exercise, low supervened, and quality of spoiled life. In the period of 2000 to 2007, the cardiac diseases device had the 2007 composed the third bigger cause of internments for the only system of health in Brazil. Of these, the HF are most frequent, being responsible for more than 2,7 million hospitalizations and being equivalent the 29,35 of the total for cardiovascular illnesses and 3.0% of the grand total. The not medicine boarding in the treatment of patients with HF if has shown useful to assist the management of the symptoms, to reduce the number of internments and to improve the quality of life. Keywords: Heart failure. Cardiac rehabilitation. Quality of life |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
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Introdução
No ano de 2007, as doenças cardiovasculares representaram a terceira causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) com 1.156.136 hospitalizações. A IC é a causa mais freqüente de internação por doença cardiovascular. É mais encontrada na faixa etária de 60 anos, onde mais de 2/3 (69,8%) das hospitalizações foram realizadas. No Brasil, a principal etiologia da IC é a cardiopatia isquêmica crônica associada à hipertensão arterial. Em determinadas regiões geográficas do país e em países de baixas condições sócio-econômicas, ainda existem formas de IC associadas à doença de Chagas, endomiocardiofibrose e a cardiopatia valvular reumática crônica, que são situações especiais de IC em nosso meio (1).
A insuficiência cardíaca é uma síndrome comum que, muitas vezes, representa o estágio final de qualquer doença cardiovascular. Sua prevalência aumenta progressivamente com a idade e de forma exponencial acima dos 60 anos, sendo que seus sinais e sintomas são manifestações provenientes de disfunção do ventrículo esquerdo (2).
A abordagem da IC vem sofrendo intensa modificação nos últimos anos, e a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, principalmente moleculares, induziu uma evolução na definição dessa síndrome. A IC pode desta forma, passa a ser vista como uma condição clínica na qual, reduzem o débito cardíaco e aumentam as pressões venosas, e é acompanhada por alterações moleculares que causam progressiva deterioração do coração e prematura morte das células miocárdicas (3).
Atualmente existem evidências de que a redução do nível de atividade física (secundária a progressão dos sintomas de IC) leva ao descondicionamento físico, que contribui para aumentar ainda mais os sintomas e a intolerância ao exercício. Estudos randomizados documentaram os benefícios do treinamento físico na capacidade funcional máxima e submáxima, na qualidade de vida, na musculatura periférica, no balanço autonômico, no perfil neurohumoral e na redução de re-hospitalizações (3).
As manifestações ventilatórias conseqüentes a IC são conhecidas de longa data, tendo Hope, em 1833, introduzido o termo asma cardíaca. Muito sabe-se que a função respiratória avaliada nestes pacientes está comprometida. As alterações compreendem: irregularidade entre a relação V/Q, a redução da distensibilidade pulmonar, a obstrução de vias aéreas, hiperreatividade brônquica, diminuição da capacidade de difusão pulmonar e redução da força e resistência dos músculos respiratórios (4).
A IC também é caracterizada por hipercatabolismo. A inadequação da ingestão calórica associada a redução de atividade física comporta-se como um estado adicional, propiciando a deterioração progressiva das concentrações de glicogênio e aminoácidos intracelulares e a degradação da proteína muscular. A evolução deste processo culminaria na instalação da caquexia cardíaca, importante fator de prognóstico de qualidade de vida e sobrevida na IC (5).
Conceito
A alta morbidade e mortalidade assim como a persistente intolerância ao esforço físico que ocorre no pacientes com IC crônica apesar da terapêutica farmacológica otimizada, levanta a necessidade de pesquisar novas estratégias de tratamento, como, o treinamento físico, regular e contínuo (6,7).
Atualmente existem evidências de que a redução do nível de atividade física leva ao descondicionamento físico, que contribui para aumentar os sintomas referentes a patologia e a intolerância a atividade física, o que reduz a capacidade funcional. O exercício físico regular promove melhora na qualidade de vida, capacidade funcional, no balanço autonômico, na musculatura esquelética e redução nas re-hospitalizações, sendo considerada um alternativa de terapia não farmacológica (6,7).
Nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca, a perda da capacidade funcional é dependente de alterações centrais e periféricas. As alterações centrais são decorrentes da incapacidade desses pacientes em aumentar adequadamente o volume sistólico e a freqüência cardíaca, resultando em menor fração de ejeção e menor débito cardíaco. A intolerância ao exercício observada nos pacientes com função sistólica preservada e déficit diastólico pode ser explicada pela redução do débito cardíaco secundária à limitação ao enchimento ventricular, com conseqüente prejuízo do mecanismo de Frank Starling. Pacientes com insuficiência cardíaca e hiperatividade simpática apresentam maior intolerância ao exercício quando comparados a pacientes sem disautonomia (6, 8).
O surgimento de fadiga muscular e dispnéia durante o esforço limita a execução das atividades diárias, reduzindo a qualidade de vida. Após um período de treinamento físico regular, ocorre melhora na relação ventilação/perfusão pulmonar, na atenuação da hiperativação de receptores musculares quimiossensíveis e melhora da função respiratória por fortalecimento da musculatura respiratória. Nesses pacientes, o treinamento ajuda a reverter a disfunção endotelial, aumenta o consumo de oxigênio de pico e a potência aeróbica máxima, melhora a capacidade oxidativa do músculo esquelético e reduz a exacerbação neuro-humoral. Devido a esses efeitos, o exercício físico regular foi incorporado às medidas não-farmacológicas para o tratamento da insuficiência cardíaca, resultando em redução da resposta ventilatória durante o esforço, melhora da qualidade de vida e do prognóstico (6,9,10).
Treinamento físico
Até poucas décadas a atividade física foi contra-indicada para indivíduos com insuficiência cardíaca pela hipótese de promover piora da função cardíaca. No final da década de 70, Lee e cols. (11) sugeriram segurança e benefícios do treinamento físico sobre indivíduos com disfunção ventricular, que posteriormente foram confirmados por Conn e cols em 1982 (12). Em 1990, Coats e cols (13) observaram melhora do poder aeróbio e dos sintomas da IC com os exercícios físicos regulares e contestaram a indicação de repouso no tratamento da doença. Estes resultados foram confirmados em estudos randomizados subseqüentes.
Recente revisão da literatura englobou 29 estudos e envolveu 1126 indivíduos com insuficiência cardíaca primária e secundária, classe funcional II ou III (New York Heart Association) e fração de ejeção ventricular esquerda menor de 40%, submetidos a 23 programas de treinamento aeróbio e 6 de resistência muscular localizada. A análise dos resultados comprovou melhora da qualidade de vida, aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2 max), da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos, da carga de trabalho mensurada em watts e do tempo de exercício dos participantes (14).
A reabilitação física melhora a classe funcional (NYHA) de pacientes com insuficiência cardíaca, aumentando a tolerância ao exercício e até a função do ventrículo esquerdo (15). O volume sistólico pode apresentar discreto aumento (16) e a melhora do débito cardíaco e do índice cardíaco no pico de esforço, são atribuídos respectivamente à reversão da incompetência cronotrópica e ao maior enchimento diastólico (17,18,19). Giannuzzi et cols (20) sugerem atenuação do remodelamento ventricular esquerdo pós-infarto do miocárdio em pacientes engajados em programas de condicionamento físico por longo período.
Diversos estudos têm demonstrado que a reabilitação cardíaca melhora a qualidade de vida, a capacidade funcional e proporciona o remodelamento cardíaco (21).
Em janeiro de 2004, foi publicada uma metanálise colaborativa denominada ExTraMATCH (22). O objetivo primário desta publicação que reuniu os dados de nove ensaios clínicos randomizados (ECR) de grupos paralelos foi o de determinar o efeito do treinamento aeróbico por, pelo menos, oito semanas na sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC), decorrente de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo. Oitocentos e um indivíduos de ambos os sexos compuseram a amostra, sendo 395 randomizados para o grupo exercício e 406 para o grupo controle. O desfecho principal foi mortalidade total e o desfecho secundário, a combinação de morte e internação por ICC. Os pacientes foram seguidos por 705 dias em média, ocorrendo 88 mortes no grupo exercício (22%) e 105 no grupo controle (26%). O hazard ratio (razão de azar) foi de 0,65 (IC 95% 0,46-0,92). Foram verificadas 127 internações no grupo exercício versus 173 no controle (razão de azar de 0,72 com IC 95% entre 0,56-0,93). Foi constatada uma clara evidência de que o treinamento físico supervisionado é seguro e que reduz tanto a mortalidade quanto as internações por descompensação da ICC, com um NNT de 17 para prevenir uma morte em dois anos (I, A). Muito recentemente, foi publicada uma revisão sistemática 13 composta por 29 ensaios clínicos randomizados, que arrolou um total de 1126 pacientes com classe funcional NYHA II e III. Os autores concluíram que os programas de reabilitação cardíaca, mesmo aqueles de pequena duração, melhoram a capacidade funcional em média em 2,16 ml.kg-1.min-1 de consumo máximo de oxigênio, aumento médio de 2 minutos e 38 segundos no tempo de exercício e de 41 metros na distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos (4).
O seguimento de pacientes portadores de insuficiência cardíaca em classe funcional II e III, durante 14 meses, revelou que o grupo de pacientes que foi submetido a um programa de exercícios teve um incremento na expectativa de vida de 1,82 ano, em relação aos que não se exercitaram. A intervenção mostrou excelente relação custo/efetividade, com um custo estimado em $1.773 por vida salva ao ano (4,5).
A evolução do conhecimento sobre a fisiopatologia da IC e a evidência dos benefícios da atividade física encontrada nos ensaios clínicos, fez do exercício físico uma importante forma terapêutica na disfunção cardíaca crônica estabilizada. A IC produz sintomas de fadiga e dispnéia progressiva aos esforços ou no repouso que, muitas vezes, é o principal motivo de procura por atendimento médico de urgência (9).
Em 1999, foi publicado o primeiro estudo randomizado com 99 pacientes divididos em grupo intervenção (com exercício) e grupo controle (sem exercício), para determinar se exercício moderado a longo-prazo poderia melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida em pacientes com IC estável. Ao final do período de seguimento de 14 meses, foi constatada melhora na capacidade funcional e na qualidade de vida dos pacientes treinados. O efeito sustentado de melhora funcional parece estar associado com a baixa taxa de readmissão hospitalar por IC e menor taxa de mortalidade. Atualmente a atividade física para pacientes com disfunção ventricular esquerda com sintomas prévios ou atuais (estágio C) recebe grau de recomendação IIa e nível de evidência A (9, 10).
A orientação deve ser individualizada de acordo com o grau de IC e a idade do paciente.Um programa domiciliar de caminhadas é a melhor opção para prevenir as conseqüências negativas, tanto fisiológicas quanto psicológicas da inatividade. Na medida do possível, os pacientes devem aumentar a distância percorrida de modo gradativo (10).
Pacientes com IC estável em uso de betabloqueador seletivo e não-seletivo, submetidos a programa de treinamento físico, também aumentaram a tolerância ao exercício submáximo e do de pico (23)
Durante atividade física aeróbica, indivíduos com IC que apresentam aumentos de variabilidade da FC, embora pequenos, em alguns índices, como por exemplo, o desvio padrão de intervalos RR normais (domínio do tempo), podem estar diminuindo o risco de mortalidade em até 20%. Por essa razão e também pela sua predominância no repouso, a atividade vagal cardíaca tem sido alvo de vários experimentos, especialmente quando relacionados à prática do exercício físico (10).
Quando comparados indivíduos saudáveis com indivíduos portadores de insuficiência cardíaca ou transplantados, os primeiros precisaram de menor tempo para a recuperação da FC pós-exercício máximo; não obstante, a variabilidade da FC medida no domínio da freqüência no pico do exercício não revelou diferenças entre nenhum dos grupos, provavelmente indicando inibição completa da atividade vagal nesta fase (24,25). Os grupos de indivíduos com insuficiência cardíaca ou submetidos a transplante cardíaco reduziram sua FC em menos de 10 batimentos por minuto na fase inicial da recuperação, resultados compatíveis com provável disfunção autonômica e relacionados com elevado risco relativo de mortalidade (26, 27, 28),
Os exercícios físicos regulares atuam sobre o sistema nervoso autonômico e neuroendócrino na insuficiência cardíaca. A redução da atividade simpática e do eixo renina-angiotensina acarreta menor liberação de norepinefrina, melhora da variabilidade RR e da resposta cronotrópica durante o esforço (26, 29, 30). A redução da resistência vascular periférica, associada à correção da disfunção endotelial, atenua o remodelamento cardiovascular e aumenta o fluxo sanguíneo muscular. Com relação ao balanço autonômico o exercício regular promove redução da hiperestimulação simpática e das catecolaminas circulantes resultando na redução do tônus simpático, mensurado através da variabilidade da freqüência cardíaca (31, 32).
São expressivos os benefícios sobre a musculatura esquelética tais como: aumento da proporção de fibras musculares do tipo I, incremento da re-síntese de fosfocreatina, aumento da concentração de adenosina difosfato, do pH intracelular e da razão fosfato/fosfocreatina (33, 34, 35). A atividade física, além de reverter às alterações estruturais e funcionais da musculatura periférica na insuficiência cardíaca, reduz a expressão de citocinas nos músculos, aumenta os fatores anti–apoptóticos e a atividade da citocromo c- oxidase (36), retarda o processo de catabolismo, melhora a relação ventilação-perfusão, a tolerância aos exercícios e a qualidade de vida dos pacientes com insuficiência cardíaca (37, 38).
Na disfunção sistólica ventricular esquerda não se observa relação entre o grau de disfunção avaliada em repouso e a capacidade de exercício, a qual pode ser influenciada pelas modificações na captação periférica de oxigênio, tendo sido demonstrado que a limitação funcional nestes pacientes pode ser atribuída, predominantemente, à redução da captação periférica de oxigênio com menor participação dos fatores centrais (39, 40). Na ultima década foram publicadas numerosas pesquisas demonstrando que a limitação aos esforços nos portadores de insuficiência cardíaca está relacionada a alterações qualitativas e quantitativas da musculatura esquelética, que podem sofrer razoável reversibilidade por meio da atividade física regular (41, 42).
Na insuficiência cardíaca, há maior ativação dos barorreflexos arteriais e cardiopulmonares visando a manutenção da pressão arterial. Há aumento da atividade simpática em repouso e durante o exercício, elevação da FC, redução da variabilidade da freqüência cardíaca e elevada tonicidade simpática vasoconstritora. A atividade física continuada promove um aumento da atividade parassimpática, caracterizada por redução da freqüência cardíaca em repouso e nos esforços submáximos (43).
A estimulação do sistema neuro-hormonal consiste em um dos grandes marcadores da insuficiência cardíaca, caracterizada pelos níveis elevados de noradrenalina plasmática nestes pacientes. Estudo recente em nosso meio de Roveda e cols (44) demonstraram que a atividade nervosa simpática muscular, medida diretamente no nervo peroneiro, aumenta progressivamente do indivíduo saudável para o paciente com disfunção ventricular esquerda e destes para os que apresentavam insuficiência cardíaca avançada, com redução do fluxo sanguíneo renal e muscular. A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona tem sido atribuida à baixa pressão de perfusão renal. Há elevação dos níveis de vasopressina e liberação de peptídeos natriuréticos. Estas alterações fisiopatológicas facilitam a vasoconstrição e a expansão do volume plasmático, contribuindo para a manutenção do débito cardíaco e da pressão arterial sistêmica, reduzindo a capacidade vasodilatadora. A atividade física crônica parece reduzir os níveis de angiotensina II, aldosterona, vasopressina e dos peptídeos natriuréticos (45).
A atividade física restaura a capacidade vasodilatadora em pacientes com insuficiência cardíaca, elevando a síntese endotelial de óxido nítrico. Este efeito vasodilatador não é limitado ao membro treinado e seus benefícios perduram sistemicamente, em média, por até seis semanas após cessar o treinamento (43, 44, 45).
Indicações
Programas de exercícios físicos em associação com o tratamento farmacológico otimizado tem sido recomendados para melhorar a condição clínica e a capacidade funcional de pacientes estáveis classe funcional II e III (NYHA), sendo considerado custo efetivo.
Antes de iniciar um programa de atividade física, os pacientes com insuficiência cardíaca devem estar clinicamente estáveis por período não inferior a 30 dias e submeterem-se a um teste ergométrico, preferentemente com análise direta dos gases expirados. Esta avaliação permite individualizar as diferentes fases metabólicas durante o exercício, desta forma uma determinação individualizada dos limiares ventilatórios, a partir dos quais se estabelece a quantificação metabólica e hemodinâmica da atividade física nestes pacientes. Na impossibilidade da ergoespirometria, um teste ergométrico com cargas progressivas e contínuas, interrompido por sintomas ou sinais, deverá ser realizado (46, 47, 48). É recomendável a realização de um ecocardiograma para avaliação da função ventricular esquerda. Os pacientes que apresentarem menor tolerância ao esforço, resposta isquêmica precoce, fração de ejeção inferior a 30% e valores mais elevados do equivalente ventilatório de CO2 (VE/VCO2), por constituírem um subgrupo de maior risco deverão ser acompanhados com maior atenção. O monitoramento freqüente da pressão arterial e contínuo da freqüência cardíaca com freqüencímetro cardíaco é aconselhável.
Durante as sessões de atividade física, é necessária a supervisão médica contínua, em razão dos riscos potenciais da ocorrência de angina, hipotensão arterial, arritmias ou dispnéia. Profissionais treinados e equipamento de urgência para reanimação cardiorrespiratória devem estar facilmente acessíveis. As sessões de atividade física supervisionada devem ser realizadas no mínimo três vezes por semana durante seis meses. Nos pacientes estáveis pode-se recomendar atividade aeróbica não supervisionada nos demais dias, controlada pelo nível de cansaço e pela freqüência de treinamento estabelecida. A duração do exercício deve ser gradualmente aumentada de acordo com a tolerância do paciente. Poderá ser aplicado, concomitantemente ao treinamento aeróbico, um treinamento de força e de resistência, prioritariamente nas semanas iniciais, os quais proporcionam aumento da flexibilidade, do tônus e massa musculares, com resultados excelentes particularmente nos pacientes com sarcopenia importante (49, 50).
Um dos efeitos mais marcantes e visíveis da atividade física nestes pacientes consiste na melhora da qualidade de vida, atribuída a uma melhor biomecânica com economia da movimentação e conseqüente redução da fadiga, da dispnéia e otimização do perfil psicológico segundo vários estudos (43, 51), Estes benefícios estão relacionados, principalmente a uma melhor condutância vascular com recuperação parcial da disfunção endotelial (52), melhora do perfil neuro-humoral e diminuição de marcador inflamatório (54, 55), resultando em melhora significativa da capacidade oxidativa muscular (44, 53). A figura 6 ilustra redução do marcador inflamatório, proteína C reativa ultra-sensível, com treinamento físico supervisionado por seis meses.
Apesar do efeito benéfico da atividade física no sistema cardiovascular, sabe-se que, durante a pratica de exercício físico intenso, o risco relativo de eventos cardiovasculares é maior que em atividades habituais (56). No entanto, não houve relação exercício-morte em pacientes com insuficiência cardíaca durante mais de 60 mil horas-pacientes de treinamento físico, comparado favoravelmente com exercícios em normais e cardiopatas (57). O programa de treinamento aeróbico contínuo ou intermitente, e exercícios resistidos produzem melhora na capacidade funcional. Entretanto, estudos com exercício aeróbico demonstraram maior aumento do consumo de oxigênio quando comparados com estudos que realizaram apenas exercícios resistidos na insuficiência cardíaca. O aumento da capacidade física na insuficiência cardíaca também foi bem maior quando houve a associação das atividades aeróbica e resistida (57, 58).
Contra-indicações
A prática de atividade física em pacientes com IC classe funcional I, II, e III (NYHA) devem ocorrer com quadro cardíaco compensado, com medicação otimizada, não apresentar angina instável, doenças concomitantes e quadros metabólicos não controlados e problemas ortopédicos e neurológicos graves (6,7,19).
Intensidade
A intensidade da atividade física deverá sempre ser individualizada e progredir gradualmente, em particular nos pacientes com acentuada intolerância ao exercício. Os períodos de aquecimento (pré-exercício) e resfriamento (pós-exercício) devem ser mais prolongados, em média 15 minutos e 10 minutos respectivamente, principalmente para observação de possíveis arritmias.
Quanto a determinação da intensidade ideal de exercícios para pacientes com IC, ainda há controvérsias na literatura. Alguns como Dubach e cols (59) e já citados, defendem altas intensidades com objetivos de modificar parâmetros hemodinâmicos centrais; contudo, a maioria dos programas utilizam níveis de baixa a moderada intensidade entre 60% a 70% do O2 pico para este grupo de pacientes (60).
Wisloff e cols (19) em estudo randomizado com 27 pacientes portadores de IC (pós infarto agudo do miocárdio), com medicação otimizada, foram submetidos a duas formas de tratamento com intensidades diferentes. Um grupo com 70-75% do VO2 de pico, e o outro, com 90-95% do VO2 de pico. Constatou que; exercício de alta intensidade promove o remodelamento cardíaco, detectado em ecocardiograma pré e pós exercício, melhora a capacidade funcional, a qualidade de vida e a função endotelial.
De acordo com a Diretriz Brasileira de IC crônica (6), a intensidade do exercício em portadores de IC deve se inicialmente de 50% e progredir até 80% do VO2 de pico, ou 60-85% da freqüência cardíaca máxima.
Nos pacientes com grande atrofia e fraqueza da musculatura respiratória estudos de Dall’Ago e cols sobre treinamento da musculatura inspiratória por 12 semanas demonstraram aumentou da pressão inspiratória máxima em 115% além de 17 % no VO2 de pico resultando em melhora da resposta ventilatória ao exercício (61). Portando a incorporação de exercícios respiratórios pode fazer parte do programa de reabilitação.
Qualidade de vida
Em função da crescente demanda de pacientes portadores de IC, tornou-se necessário se quantificar o impacto da doença na vida destes pacientes. A comunidade científica já utiliza uma ferramenta, na qual avalia-se a qualidade de vida de pacientes com IC, o Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire (MLHFQ), já validado para o português por Carvalho e cols (62,5).
O MLHFQ trata-se de um questionário desenvolvido especificamente para IC, o que o torna mais próximo a realidade desse tipo de paciente. Sendo que SF-36 (36-item Short-Form Health Survey), desenvolvido para doença crônica, pode divergir em algumas questões do MLHFQ (62,7).
O MLHFQ é composto por 21 questões relativas a limitações que freqüentemente estão associadas com quanto a IC impede que os pacientes vivam como realmente gostariam de viver.
Conclusão
Os mecanismos pelos quais o treinamento físico regular melhora a tolerância ao esforço, atenua e/ou reverte as anormalidades centrais e periféricas associadas a IC permanecem em estudo. Atualmente estão comprovados a melhoria da qualidade de vida, da capacidade funcional, do fluxo sanguíneo para a musculatura periférica metabolicamente ativa, da função vascular endotelial, redução da atividade simpática e de norepinefrina plasmática em repouso. Todas estas alterações são provenientes de programas de treinamento físico. São efeitos prováveis; o aumento do débito cardíaco e do volume sistólico de pico [78], aumento da fração de ejeção e tamanho e número de mitocôndrias , bem como, o percentual de miosina de cadeia pesada nas fibras do tipo I. Aumento da força e massa muscular ocorrem com a prática de exercícios resistidos [79].
Os pacientes que aderem a programas de reabilitação cardiovascular apresentam inúmeras mudanças hemodinâmicas, metabólicas, miocárdicas, vasculares, alimentares e psicológicas, que estão associadas ao melhor controle dos fatores de risco e à melhora da qualidade de vida.
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digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires,
Abril de 2010 |