Reflexão a cerca dos jogos na escola: entre a exclusão e a inclusão Reflexión acerca de los juegos en la escuela: entre la exclusión y la inclusión Reflection about the games at school: between exclusion and inclusion |
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*Professor do Curso de Educação Física da UNOESC Campus de Videira, SC **Graduada em Educação Física da UNOESC Campus de Videira, SC |
Ms. Aguinaldo Cesar Surdi* Eluane Scur Bridi** (Brasil) |
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Resumo O texto faz uma reflexão sobre os jogos na escola nas aulas de educação física e sua relação com a inclusão e a exclusão dos alunos nas atividades propostas pelo professor. O direcionado do texto vai ser guiado para uma educação inclusiva que possibilite utilizar como fonte de aprendizado a individualidade e as experiências individuais dos alunos. Dentro de um ambiente de cooperação o processo de aprendizagem deve ser oportunizado de forma mais igual para todos. Atualmente os jogos competitivos e excludentes ainda são prioritários nas escolas, o que mostra um certo descaso com o aprendizado reflexivo e humano dos alunos. Unitermos: Jogo. Escola. Inclusão. Exclusão
Abstract The paper reflects on the games at school in physical education classes and their relation to the inclusion and exclusion of students in the activities proposed by the teacher. The targeted text will be guided to an inclusive education that allows use as a source of individuality and learning experiences of individual students. Within an environment of cooperation the process of learning should be nurtured in a more equal for everyone. Currently the exclusionary and competitive games are still priority in schools, which shows a certain disregard for the reflective learning and human development of students. Keywords: Game. School. Inclusion. Exclusion |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
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Introdução
A educação escolar é uma das práticas sociais mais importante para a formação das pessoas, já que tem a função de ensinar os aspectos éticos e morais abrindo oportunidades para discussões e reflexões nas aulas e permitindo a construção de princípios e valores dignos de uma vida em sociedade.
O esporte como prática corporal encontra-se inserido de uma maneira fortemente presente no ambiente escolar. Inúmeros discursos, principalmente de nossos governantes, apresentam-no como fator de inclusão social.
No entanto, quando nos voltamos para a essência, para o fio condutor das atividades esportivas destacamos: a competição, a vitória, a conquista, entre outros. Por outro lado, os objetivos do esporte acarretam à maioria dos alunos a experiência da exclusão social, pois nem todos possuem aptidões físicas para participarem de certas atividades onde o principal objetivo é a vitória.
Muitos profissionais da área de Educação Física adotam como prática profissional docente uma perspectiva técnica no processo de aprendizagem. Essa visão prioriza os objetivos e o resultado final, desprezando o processo, conforme cita Gómez (1997, p. 32).
Infelizmente, os professores acabam priorizando os mais habilidosos, excluindo os menos aptos, que na maioria das vezes, não jogam ou são os últimos a serem escolhidos, ou participam dos jogos somente de corpo presente ou, ainda, quando sua equipe vence, o mérito é sempre dos outros e quando perde a culpa é dele.
De acordo com os PCN (1997), a Educação Física necessita trazer uma proposta que procure democratizar, humanizar e, principalmente, diversificar suas práticas pedagógicas, ultrapassando a visão apenas biológica e incorporando áreas e dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos.
Jogos escolares: inclusão ou exclusão?
Jogo é toda e qualquer competição em que as regras são feitas ou criadas num ambiente restrito ou até mesmo de imediato. O que se entende como jogo abrange uma infinidade de ações e atividades. Tudo o que vivemos pode tomar parte na brincadeira. O mundo mágico do jogo torna possível todo tipo de conexões ou interações para atingir diversas realizações. Os atos dos jogos são produtos da ilusão, da vontade, da alegria, do otimismo. No jogo, podemos conseguir tudo o que desejamos. O benefício dessa prática preenche o desejo de realização e nos proporciona prazer ou satisfação.
O jogo pode ser definido como uma atividade ou ocupação voluntária, onde o real e a fantasia se encontram, que possui características competitivas, ocorre num espaço físico e de tempo determinados, desenvolvem-se sob regras aceitas pelo grupo participante, e são, em geral, a habilidade física, o desempenho intelectual diante das situações de jogo.
Huizinga apud Mello (1996, p. 52) diz que a competição é própria do jogo, e quando vista no sentido de autodesenvolvimento, de colaboração entre colegas, pode ser altamente educativa.
Os jogos nos possibilitam trabalhar as mais varidas formas de movimentos. Dentro dos jogos apresentam-se vários questionamentos, buscando respostas variadas, acontecendo assim a troca de experiencias e a vivencia de movimentos diversos, surgindo dificuldades a serem discutidas para assim favorecer a aprendizagem.
Os jogos são de grande importancia durante a vida escolar dos alunos, mas dentro deles á duas versões: a inclusão e a exclusão, existem diferentes exemplos que podemos citar. Um deles é, por vezes, de caráter competitivo e excludente, priorizando os conceitos de capacidades e habilidades motoras tais como: agilidade, velocidade, equilíbrio etc., no qual, muitas vezes, o menos habilidoso é deixado de “lado” pelo grupo, por ele próprio, ou até mesmo pelo professor. Exemplos desta natureza podem ser problemáticos se não forem respeitadas algumas considerações, tais como os diferentes níveis de potencialidade e oportunidade de participação. Entende-se assim, que é possível excluirmos tanto aqueles alunos com grande bagagem motora, que podem até se tornar atletas futuramente, quanto os que terão a Educação Física apenas como forma de manifestação participativa. Há muitas outras situações de exclusão além dos “talentos motores”, tais como: racial, de biótipo, das pessoas com alguma deficiência (física, auditiva, visual, mental e múltiplas), de gênero, entre outras.
O tema inclusão é de extrema relevância para o desenvolvimento dos alunos, da turma em que eles estão englobados, dos professores, da escola em geral e, conseqüentemente, da sociedade em que estão inseridos. Eles são seres humanos, com direitos e deveres. São, acima de tudo, cidadãos.
Conforme Coelho (2001), um ser humano, recheado de sentimentos humanitários, sabe e vive a grandeza de todo e qualquer parceiro, principalmente quando este é diferente de nossos referenciais. Assim, devemos evidenciar a pessoa, como um ser humano, antes de qualquer diferença. O fato é que somos diferentes! Vale ressaltar que não desejamos ocultar a diferença e sim evidenciá-la de forma que ela não seja “ridicularizada”, mas respeitada. O respeito à diferença deve ser estimulado no processo de ensino escolar para ser concretizado dentro e fora deste contexto.
A inclusão é um processo que envolve dinamismo, mudanças de atitudes e muita reflexão em torno da escola e da sociedade (CARVALHO, 1998). A inclusão, na concepção de Ferreira (1993), nada mais é do que inserir, introduzir, fazer parte, não apenas com outro indivíduo, mas sim com todas as pessoas de “modo igualitário”, pois vivemos em uma sociedade e não isolados uns dos outros. Deste modo, um mundo inclusivo é aquele em que todas as pessoas têm oportunidades de ser e estar inseridas na sociedade de forma participativa.
Por inclusão entendemos ser um processo que engloba a educação inclusiva, que é sua prática ao setor educacional. A inclusão remete ao conceito de inclusão social como argumenta Sassaki (1997, p. 41):
Conceitua-se inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidade para todos.
Para se obter uma escola inclusiva é importante compreender e reconhecer as diferenças de cada pessoa, perceber que o tempo não é igual para todos. É de extrema importância não rotular os alunos. É tempo de acabar com o preconceito e a discriminação, refletindo e agindo em busca de uma cidadania mais justa para todos (LIMA, 2001). Diferenciar e classificar os alunos dentro das suas possibilidades de atuação e participação em aula são atos de grande importância para o professor e completamente distintos da famosa “rotulação”. Sabe-se que é a partir dessa diferenciação e classificação que o planejamento irá se desenvolver e ser modificado conforme as necessidades de cada turma.
O planejamento não deve assumir um papel inflexível. Temos que trabalhar conforme as necessidades do grupo. Ao longo da caminhada, muitas vezes, é preciso desviar o trajeto e para isso alguns atalhos podem existir, outros percursos podem surgir... Não serão atalhos aleatórios, mas sim coerentes com a proposta pedagógica da escola e com os interesses de cada turma.
Os parâmetros curriculares nacionais, do Brasil, advogam um princípio muito importante para a prática da Educação Física Escolar, que é o princípio da inclusão, dizendo que:
[...] a inclusão do aluno é o eixo fundamental que norteia a concepção e a ação pedagógica da Educação Física Escolar, considerando todos os aspectos ou elementos, seja na sistematização de conteúdos e objetivos, seja no processo de ensino e aprendizagem, para evitar a exclusão ou alienação na relação com a cultura corporal de movimento. (BRASIL, 1998, p.30).
Ainda, que:
[...] a sistematização de objetivos, conteúdos, processos de ensino e aprendizado e avaliação têm como meta a inclusão do aluno na cultura corporal de movimento, por meio da participação e reflexão concreta e efetiva. Busca-se reverter o quadro histórico da área de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultante da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência. (BRASIL, 1998b, p. 19).
Estes princípios devem sustentar os trabalhos desenvolvidos no âmbito escolar, possibilitando, desta forma, a participação de todos.
Baseando-se em Sassaki (1997), temos alguns princípios básicos da inclusão: a valorização do indivíduo, a aceitação das diferenças, o convívio com a diversidade e o aprendizado através da cooperação. Tendo em vista tudo isso, podemos caminhar por “atalhos” a fim de atingir o objetivo da inclusão.
Cooperação, de acordo com Ferreira (1986, p.479) é uma palavra originária do latim, que significa o “ato ou efeito de cooperar”. Esta significa “operar ou obrar simultaneamente, trabalhar em comum; colaborar, cooperar para o bem público; cooperar em trabalhos de equipe; ajudar, auxiliar, colaborar”.
Os Jogos Cooperativos tiveram origem em meados de 1950 devido às preocupações da valorização exacerbada da individualidade e da competição excessiva, e da necessidade de criar atividades que desenvolvessem e/ou conscientizassem as habilidades interpessoais positivas em busca da “Paz Mundial”. O Brasil começa a se preocupar com essas questões aproximadamente em 1980 (BROTTO, 2001).
Estes jogos possuem dois eixos principais: a participação de todos e um objetivo comum do qual todos se beneficiam. Nos esportes, a questão da cooperação é muito importante, principalmente entre os integrantes da mesma equipe. Mas podemos pensar também com relação a todos os atletas, pois estes cooperam com a regra para a realização do jogo.
Tomando por base o mesmo autor, é possível oferecer aos educandos diferentes níveis de cooperação dentro dos Esportes, fazer também muitas atividades com a simplicidade, sem perder a motivação e o prazer de se jogar com o outro. Não há rigidez na aplicação dos diferentes tipos de Jogos Cooperativos. O que existem nos jogos e que podem ser descobertos pelo grupo de alunos e professor são novas soluções e novos caminhos.
Considerações finais
Podemos concluir que o esporte bem trabalhado, definido como “da escola” torna-se um instrumento muito potente para a promoção da inclusão, respeitando as características e as individualidades do nosso grupo de alunos, entendendo o sentido e a execução de cada movimento, compreendendo virtudes e limitações, individuais e de seu grupo.
Quando negamos essa realidade, focando o esporte de rendimento, o esporte “na escola”, acabamos promovendo a exclusão em nosso grupo. Muitas vezes, resultados competitivos são atingidos, a escola vence campeonatos, o professor é prestigiado, muitos alunos sonham com o sucesso esportivo, mas o preço dessas conquistas será pessoas adultas, no futuro, negando a prática esportiva porque passaram pela experiência da exclusão na idade escolar.
Vê-se, portanto, que os Jogos Cooperativos também podem se tornar um ótimo instrumento dentro do processo pedagógico, voltado para a Educação Física Escolar. Um de seus propósitos, nessa direção, percebe-se pela potencialidade de desenvolver o conteúdo Esporte através destes jogos e que, por sua vez, podem contribuir com o processo de inclusão. Conteúdos estes necessários de conhecimento para ser trabalhado e aplicado nas escolas, levando em consideração as suas condições sociais, culturais, políticas e econômicas.
Como educadores devemos afastar qualquer tipo de exclusão, a fim de promovermos a inclusão em nossas aulas de Educação Física e nos esportes em geral.
Referencias bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, 1998.
BROTTO, LIMA; Educação Física escolar: o impacto do processo de inclusão. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 119, 2009. http://www.efdeportes.com/efd119/educacao-fisica-escolar-o-impacto-do-processo-de-inclusao.htm
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
MELLO, Alexandre Moraes, Psicomotricidade, Educação Física, Jogos Infantis. 3ª edição. São Paulo, SP: Ibrasa, 1996.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.
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