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Sobrepeso e obesidade em crianças de acordo 

com o nível socioeconômico na cidade de Ubá, MG

Sobrepeso y obesidad en niños de acuerdo con el nivel socioeconómico en la ciudad de Ubá, MG

 

Curso de Educação Física

FAGOC, Faculdade Governador Ozanan Coelho

(Brasil)

Ramon Teixeira Ciconha

Cristiano Diniz da Silva

Miguel Araújo Carneiro Júnior

Wellington Segheto

teixeirinhaciconha@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          A obesidade infantil vem apresentando um rápido aumento nas últimas décadas. Com isso o objetivo deste estudo foi avaliar a ocorrência de sobrepeso e obesidade de acordo com o nível socioeconômico de crianças de 7 a 10 anos na cidade de Ubá – MG. Foi realizado um estudo com 111 crianças (48 meninos e 63 meninas), onde foi aplicado um questionário para determinação do nível socioeconômico e a mensuração da estatura e peso corporal para determinação do IMC. Foi encontrada uma ocorrência de 16,21% de sobrepeso e 18,01% de obesidade no total da amostra avaliada. Nenhuma das crianças pertencentes à classe A1 apresentou sobrepeso ou obesidade. As crianças da classe A2 apresentaram os maiores valores 50% e 33,34% tanto para o sobrepeso quanto para a obesidade respectivamente. Nos meninos, os valores de sobrepeso e obesidade foram de 16,67% e 22,91%, e nas meninas de 15,87% e 14,29%, respectivamente. Os valores médios de IMC para meninos e meninas foram de 18,06 ± 2,79 kg/m2 e de 17,05 ± 3,34 kg/m2, respectivamente. A ocorrência de sobrepeso e obesidade foi de 30% e 20% na escola municipal, 10,53% e 12,28% na escola estadual e 17,64% e 26,47% na escola particular. A ocorrência de sobrepeso e obesidade em relação ao nível socioeconômico demonstrou que nenhuma das crianças pertencentes à classe A1 apresentou sobrepeso e/ou obesidade; as crianças pertencentes à classe A2, apresentaram os maiores valores tanto para o sobrepeso quanto para a obesidade e a maior porcentagem de crianças pertencentes à classe C, não foi fator determinante para ocorrência superior de sobrepeso e obesidade nesse grupo.

          Unitermos: Crianças. IMC. Obesidade. Nível socioeconômico

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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Introdução

    O crescente aumento da gordura corporal tem sido alvo de discussão de diversos segmentos, dentre eles pode-se destacar a nutrição, a medicina, a educação física, entre outros. Cada vez mais homens e mulheres tornam-se obesos, sendo que a ausência de atividades físicas, as modificações nos hábitos alimentares, o nível socioeconômico e as mudanças no estilo de vida, principalmente aquelas decorrentes dos avanços tecnológicos, tem sido apontado como alguns dos principais fatores que contribuem para o aumento considerável dos índices de obesidade.


    Um dos fatores que pode ser determinante nesse aumento de peso em crianças e adolescentes é o nível socioeconômico. Sabe-se que um alto nível socioeconômico contribui para uma maior disponibilidade de alimentos e um maior acesso à moderna tecnologia, o que pode contribuir favoravelmente para diminuição do gasto energético desses indivíduos. Além disso, a limitação da utilização de espaços para a prática de atividades físicas pode contribuir para o agravamento dessa condição Silva et al. (2005).

    Por outro lado, indivíduos de classes econômicas mais baixas tendem a ter um estilo de vida diferente daqueles de alto poder aquisitivo, podendo ter mais espaço para prática de atividades físicas, que pode contribuir para um maior gasto energético. Todavia os hábitos nutricionais desses indivíduos são caracterizados pelo consumo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras, além do que esse indivíduo tem menos acesso a informações nutricionais adequadas, sendo que esses fatores podem ser determinantes no aumento do peso corporal Brasil et al. (2007).

    O estudo de Silva et al. (2005), destaca e reforça as informações anteriores quando destaca que o nível socioeconômico interfere na disponibilidade de alimentos e no acesso à informação, bem como pode estar associado a determinados padrões de atividade física, constituindo-se, portanto, em importante determinante da prevalência da obesidade.

    Alguns estudos tendo como enfoque as variáveis sobrepeso e obesidade na cidade de Ubá – MG foram realizados, tais como os de Ferreira (2006) que constatou uma ocorrência de 32,8% de sobrepeso e 23,7% de obesidade em crianças de 7 a 10 anos de 14 escolas públicas, e o de Linhares (2007) que constatou 21,39% de sobrepeso e 9,29% de obesidade em crianças de 6 a 10 anos de escolas privadas. Porém não foi encontrado nenhum estudo comparando as crianças de escolas públicas e privadas, bem como estabelecendo relações entre sobrepeso, obesidade e nível socioeconômico.

    Diante disso, percebe-se uma lacuna quanto à relação do nível socioeconômico e a ocorrência de sobrepeso e obesidade, bem como do comportamento destas variáveis quando comparadas crianças da rede privada e pública de ensino. Com isso o objetivo do nosso estudo foi avaliar a ocorrência de sobrepeso e obesidade de acordo com o nível socioeconômico de crianças de 7 a 10 anos na cidade de Ubá – MG.

Materiais e métodos

    Para descrição dos procedimentos metodológicos foram adotados os critérios determinados por Thomas et al. (2007).

População e amostra

    A população deste estudo foi formada por meninos e meninas na faixa etária de 7 a 10 anos de idade, regularmente matriculados na rede de ensino público e privado da cidade de Ubá - MG, no segundo semestre de 2008.

    Para compor a amostra do estudo, foi selecionada de forma intencional, uma escola de cada um dos segmentos de ensino: uma escola da rede municipal, uma escola da rede estadual e uma escola da rede privada.

    Os sujeitos das amostras foram selecionados dentre todos os alunos que atendiam os critérios de inclusão, pelos quais deveriam estar matriculados na escola no ano letivo de 2008, terem completado em 2008 a idade mínima de 7 e a máxima de 10 anos, além de estarem com o termo de consentimento livre e esclarecido assinado e o questionário socioeconômico devidamente preenchido pelo responsável no momento da coleta de dados. Inicialmente, foram entregues 440 termos de consentimento livre e esclarecido, divididos da seguinte forma: 164 na escola da rede municipal, 175 na escola da rede estadual e 101 na escola da rede privada.

    Após os procedimentos descritos e conforme os critérios de inclusão, a amostra deste trabalho foi formada por 48 crianças do gênero masculino e 63 crianças do gênero feminino, divididas entre três segmentos de ensino.

Procedimentos para coleta de dados e instrumentos utilizados

    Para viabilização do estudo foi feito contato com os diretores das escolas para apresentação do trabalho, e seus objetivos. Após a autorização do diretor, conversamos com os alunos para entrega do termo de consentimento livre e esclarecido e do questionário socioeconômico para preenchimento dos responsáveis, bem como foram definidas as datas para realização das medidas antropométricas. Os dados foram coletados na segunda quinzena de setembro e na primeira quinzena de outubro de 2008.

    A mensuração da estatura e do peso corporal foi realizada de acordo com os procedimentos propostos por MARINS & GIANNICHI (2003), através de uma balança e um estadiômetro da marca Filizola®, com precisão de 0,1 kg e 0,5 metros, respectivamente. A balança era aferida a cada 10 indivíduos avaliados.

    O índice de massa corporal (IMC) foi determinado a partir da relação entre o peso em quilogramas e o quadrado da estatura em metros (peso (kg) /estatura2 (m)). Após a determinação do IMC, foi verificada a incidência de sobrepeso e obesidade de acordo com o gênero e idade, utilizando os valores propostos pela Força-Tarefa Internacional para Obesidade (Cole et al., 2000).

    Para determinação do nível socioeconômico foi utilizado o questionário do Critério de Classificação Econômica do Brasil CCEB (2003).

Análise dos dados

    Foram utilizados procedimentos estatísticos descritivos. Todos os resultados foram apresentados em porcentagens, média e desvio padrão. Os testes t pareado e não-pareado foram utilizados apenas para as comparações entre os valores de IMC entre as diferentes idades e entre os meninos e meninas. Adotou-se um nível de significância de P < 0,05. Utilizou-se o programa SigmaStat 3.0 para realização das análises.

Resultados e discussão

    Ao analisarmos a ocorrência de sobrepeso e obesidade em nosso estudo, foi constatada uma prevalência total de 16,21% de sobrepeso e 18,01% de obesidade no total da amostra avaliada.

    A avaliação do nível socioeconômico demonstrou que a maioria 53,15% e 18,02% das crianças deste estudo está na classe C e D, sendo essas classes definidas como de menor poder aquisitivo. Na escola municipal e estadual a maioria 80% e 64,91% dos estudantes pertencem à classe C, enquanto que na escola particular 35% à classe B2.

    A ocorrência de sobrepeso e obesidade em relação ao nível socioeconômico demonstrou que nenhuma das crianças pertencentes à classe A1 foram classificadas com percentil superior a 85 (sobrepeso ou obesidade). A maior porcentagem de crianças na classe C não foi fator determinante para esta classe apresentar valores superiores de ocorrência de sobrepeso e obesidade, sendo que a classe A2, considerada de alto poder aquisitivo, apresentou os maiores valores tanto para o sobrepeso quanto para a obesidade, figura 1.

    Tais resultados estão de acordo com o estudo de Brasil et al. (2007) quando afirmam que o nível socioeconômico influencia os altos percentuais de excesso de peso encontrados em crianças da rede privada de ensino. No trabalho de Silva et al. (2005), ao analisarem os indicadores de condições socioeconômicas, perceberam que o sobrepeso foi mais frequente em escolares e adolescentes de boa condição financeira, quando comparados àqueles de baixa condição socioeconômica. Quanto à obesidade, os autores também encontraram uma maior prevalência em pré-escolares e nos escolares de boa condição socioeconômica em relação aos de baixa condição.

    Percebe-se que os dados constatados neste estudo, no que se refere à condição socioeconômica estão de acordo com a literatura. O estudo de Ronque et al. (2005) destaca que diferente do observado em países desenvolvidos, o alto nível socioeconômico parece contribuir negativamente para a prevalência de sobrepeso e obesidade, aumentando os riscos para o desenvolvimento de disfunções metabólicas em idades precoces.

    Ao analisarmos a ocorrência de sobrepeso e obesidade em meninos e meninas, verificamos que nos meninos os valores de sobrepeso e obesidade foram de 16,67% e 22,91%, respectivamente. No gênero feminino, os valores de sobrepeso e obesidade foram inferiores ao gênero masculino, sendo que 15,87% das meninas apresentaram sobrepeso e 14,29% obesidade. Os valores médios de IMC para meninos e meninas foram de 18,06 ± 2,79 kg/m2 e de 17,05 ± 3,34 kg/m2, respectivamente.

    Em estudo realizado por Abrantes et al. (2002), com crianças e adolescentes das regiões sudeste e nordeste do Brasil, foram encontrados resultados inversos, sendo que a prevalência de obesidade foi maior no gênero feminino 10,3% quando comparado ao gênero masculino 9,2%. Esses resultados são similares aos encontrados por Giugliano e Carneiro (2004) que identificaram uma ocorrência de obesidade de 21,1% para os meninos e 22,9% para as meninas. Por outro lado, assim como nesse estudo, Soar et al. (2004) encontraram uma prevalência de sobrepeso e obesidade mais elevada no gênero masculino.

    A ocorrência de sobrepeso e obesidade quando levou em consideração os três segmentos de ensino avaliados, foi superior na escola municipal, enquanto na escola estadual foram encontrados os menores índices destas variáveis (Figura 2).

    Quando se analisa somente o sobrepeso, os alunos da escola municipal apresentaram 30% de ocorrência, seguida pela escola da rede privada com 17,64% e da estadual com 10,53%. Para a ocorrência de obesidade, os maiores índices foram encontrados na escola privada, sendo que 26,47% das crianças apresentaram valores superiores ao percentil 95, enquanto na escola municipal esses valores foram de 20% e na escola estadual de 12,28%.

    Ao analisar todos os alunos das escolas públicas (municipal e estadual) notou-se uma ocorrência de 20,26% de sobrepeso e 16,14% de obesidade, sendo estes resultados inferiores aos apresentados por Ferreira (2006), que realizou um estudo em Ubá com 14 escolas, todas da rede pública de ensino, e constatou 32,85% de sobrepeso e 23,70% de obesidade entre todos os alunos. Ao fazermos uma comparação entre o estudo de Ferreira (2006) com a escola particular do presente estudo, notamos que o sobrepeso no estudo citado foi maior do que os dados constatados neste trabalho (32,85% e 17,64%, respectivamente), porém os valores encontrados em nosso estudo para a obesidade (26,47%) foram superiores quando comparados aos 23,70% encontrados por Ferreira (2006).

    Em um outro estudo realizado com escolares na cidade de Ubá, avaliou-se a ocorrência de sobrepeso e obesidade em crianças da rede particular de ensino. Encontrou-se uma maior incidência de sobrepeso nas meninas de 9 anos (25,0%), 8 anos (39,02%), 7 anos (24,32%) e 6 anos (25,0%) em comparação aos meninos nas mesmas idades, sendo que a incidência foi superior nos meninos apenas na idade de 10 anos (22,85%). Em relação à obesidade, para todas as idades, as meninas apresentaram valores superiores aos meninos (Linhares, 2007).

    Nota-se que os dados constatados e descritos no estudo de Linhares (2007), referentes aos índices de sobrepeso para todas as idades, foram superiores ao encontrado neste estudo, independente do segmento de ensino (público ou privado).

    Os resultados do presente trabalho foram inferiores aos encontrados por Brasil et al. (2007) quanto ao índice de sobrepeso e obesidade em alunos de escolas da rede privada, e superiores em escolas da rede pública. De acordo com os dados citados pelos autores, foram encontrados cerca de 54,5% das crianças com excesso de peso e 42,8% com sobrepeso nas escolas da rede privada, enquanto nas escolas da rede pública os valores foram de 15,6% e 5,1%, respectivamente para o excesso de peso e sobrepeso.

    A análise do IMC em função da idade cronológica mostrou que no gênero masculino, o maior valor médio foi encontrado na idade de 10 anos, sendo que não houve diferença significativa (P > 0,05) entre as idades neste gênero. Ao avaliar as meninas, percebeu-se que o maior valor médio encontrado para o IMC foi na idade de 9 anos, sendo que dos 9 aos 10 anos houve uma diminuição no IMC entre as meninas, embora em nenhuma das idades foram encontradas diferenças significativas (P > 0,05). Ao compararmos os resultados médios do IMC entre os gêneros de acordo com a idade cronológica, foram encontradas diferenças significativas (P = 0,007) somente na idade de 10 anos, conforme apresentado na figura 3.

    Em estudo realizado por Linhares (2007) na cidade de Ubá, foram encontrados valores médios de IMC superiores nas meninas quando comparados aos meninos. Cabe ressaltar que no trabalho deste autor foram avaliadas somente crianças da rede particular de ensino. Por outro lado, no estudo de Brasil et al. (2007), não foram encontradas diferenças significativas entre qualquer das faixas etárias, tanto para o sobrepeso quanto para a obesidade. Todavia Ronque et al. (2005), apresentaram resultados bem próximos a este trabalho, sendo que os autores encontraram diferenças de sobrepeso e obesidade entre os gêneros aos 9 e 10 anos de idade.

Conclusões

  • A ocorrência de sobrepeso e obesidade em relação ao nível socioeconômico, demonstrou que nenhuma das crianças pertencentes à classe A1 apresentou sobrepeso e/ou obesidade;

  • As crianças pertencentes à classe A2, considerada de alto poder aquisitivo, apresentaram os maiores valores tanto para o sobrepeso quanto para a obesidade;

  • A maior porcentagem de crianças pertencentes à classe C não foi fator determinante para ocorrência superior de sobrepeso e obesidade.

Referencias

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