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A lesão medular e o esporte adaptado em cadeira de rodas

La lesión medular y el deporte adaptado en silla de ruedas

 

Programa de Pós-graduação Interunidades em Bioengenharia

EESC – FMRP - IQSC

Universidade de São Paulo – USP

(Brasil)

Fausto Orsi Medola

Valéria Meirelles Carril Elui

Carla da Silva Santana

fmedola@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi reunir conhecimentos acerca da prática do esporte adaptado em cadeira de rodas para pessoas com lesão da medula espinhal. Pretende-se levantar os aspectos específicos da lesão medular, suas conseqüências fisiológicas e o impacto na prática esportiva, bem como dos benefícios desta. As primeiras etapas da aplicação desta atividade como parte do tratamento são contempladas num breve histórico do esporte adaptado. Ainda, propõe-se uma reflexão sobre os desafios na iniciação destas pessoas ao esporte, assim como das competências e responsabilidades dos profissionais diretamente ligados ao processo de reabilitação.

          Unitermos: Traumatismos da medula espinhal. Cadeiras de rodas. Esportes

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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A lesão da medula espinhal

    A lesão da medula espinhal (LME) é um trauma de impacto físico e social ao indivíduo, sendo considerada uma das mais graves e devastadoras síndromes incapacitantes que pode atingir o ser humano, pois causa falência de uma série de funções, dentre elas a locomoção (GREVE, 2001). A principal causa de LME é o trauma, que acarreta seqüelas e profundas modificações na vida de seus portadores, pela paraplegia ou tetraplegia resultante (MUTTI, 2008). Estima-se que no Brasil aproximadamente 11300 pessoas ficam paraplégicas ou tetraplégicas por ano (MANSINI, 2001). A faixa etária mais acometida é a de jovens entre 18 e 40 anos, principalmente do sexo masculino (CRISTANTE, 2005). As conseqüências debilitantes da LME frequentemente levam a comprometimentos na habilidade de realizar as atividades diárias e limitam as funções de mobilidade e participação na comunidade (CHAN et al, 2007). Comprometimento na qualidade de vida e no bem-estar é também relacionado a esta população (CHARLIFUE et al., 1999; Leduc and Lepage, 2002). Vall et al. (2006) realizaram um estudo avaliando a qualidade de vida de pessoas com LME, e verificaram que os pacientes possuem grande comprometimento de sua qualidade de vida, em todos os domínios, principalmente no que se refere aos aspectos sociais.


    Além de sua gravidade e irreversibilidade, exigem um programa de reabilitação longo e oneroso, que na maioria das vezes não leva à cura, mas à adaptação do indivíduo à sua nova condição. Esse processo de reabilitação, no entanto, vai para além da prevenção dos danos causados pela lesão e objetiva principalmente melhora da qualidade de vida através da independência funcional, melhora da autoestima e inclusão social desses pacientes (GREVE, 1999).

    O tratamento da lesão raquimedular consiste em: condutas de emergência, tratamento hospitalar e fisioterapia, terapia ocupacional e reabilitação. Tais lesões geram uma incapacidade de alto custo para o governo e acarreta importantes alterações no estilo de vida do paciente (VALL ET AL, 2006). As melhoras no tratamento médico e cuidados com os indivíduos com lesão medular nas décadas recentes têm prolongado o tempo de vida desses indivíduos (BUDH ET AL, 2007).

A LME: conseqüências para a prática de atividade esportiva

    A LME leva a uma série de alterações que podem comprometer o desempenho durante o exercício. A paralisia musculoesquelética resulta em atrofia muscular. A atrofia dos músculos esqueléticos reduz a capacidade funcional para o exercício voluntário, uma vez que os movimentos primários abaixo do nível da lesão, tais como os músculos das pernas e/ou braços, não podem ser utilizados para exercícios. A paralisia dos músculos abdominais e intercostais diminui a capacidade respiratória, pelo fato desses músculos auxiliarem na ventilação pulmonar. Com relação ao sistema nervoso autonômico, os efeitos da LME caracterizam-se por redução da capacidade de resposta cardiovascular ao exercício, e podem variar de acordo com o nível da lesão. O sistema simpático deficiente limita a capacidade de aumentar a pressão sanguínea e aumentar a freqüência cardíaca durante atividade física vigorosa, limitando o desempenho do atleta (FRONTERA, 2003).

    É comum para indivíduos que perdem o uso dos membros inferiores se tornarem altamente sedentários, contrastando profundamente com o estado físico anterior à lesão, considerando a maior prevalência na população de adultos jovens e ativos (NASH ET AL, 2005). O problema é grave entre os indivíduos com LME - o índice de mortalidade por doenças cardiovasculares é 228% mais alto do que na população em geral (KOCINA, 1997). A inatividade física também pode levar á desmineralização óssea, à atrofia dos músculos esqueléticos e cardíaco, à diminuição da massa corporal magra, à redução do conteúdo de água corporal e do volume sanguíneo e aumento da gordura corporal. (FIGONI, 1993).

Benefícios do esporte para pessoas com LME

    Muitos estudos têm demonstrado benefícios de um programa de exercício regular. De forma geral, promovem a redução do risco de doenças sistêmicas adquiridas tais como doença cardiovascular, diabetes melito do tipo 2 e certas desordens neoplásicas. Além disso, o exercício físico tem sido relacionado com melhora da habilidade funcional e qualidade de vida em indivíduos cadeirantes (MANNS ET AL, 1999; RANDALL, 2003).

    O esporte e o lazer começam a fazer parte do tratamento médico por serem fundamentais no processo de enfrentamento da “desvantagem” pelos deficientes físicos. O esporte tem um papel fundamental na reabilitação: complementa e amplia as alternativas; estimula e desenvolve os aspectos físicos, psicológicos e sociais e favorece a independência (SILVA ET AL, 2005). São objetivos do esporte para paraplégicos e tetraplégicos: promover a educação para a saúde, educar o indivíduo para a vida em sociedade e para o tempo livre, oferecer vivências de êxito, aumentar a tolerância à frustração, promover o contato social, tornar os indivíduos mais independentes, melhorar a auto-imagem e a auto-estima, desenvolver o potencial residual, melhorar a condição orgânica e funcional e aprimorar as qualidades físicas (resistência, força e velocidade). Os benefícios relatados na literatura sobre o treinamento de atletas com LM são: melhora do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo), ganho de capacidade aeróbica, redução do risco de doenças cardiovasculares e de infecções respiratórias, diminuição na incidência de complicações médicas (infecções urinárias, escaras e infecções renais), redução de hospitalizações, aumento da expectativa de vida, aumento nos níveis de integração comunitária, auxílio no enfrentamento da deficiência, favorecimento da independência, melhora da auto-imagem, auto-estima e satisfação com a vida e diminuição na probabilidade de distúrbios psicológicos (SILVA ET AL, 2005).

História do Esporte Adaptado

    O desenvolvimento do esporte para pessoas portadoras de deficiências físicas tem sua origem com a reabilitação dos veteranos da II Guerra Mundial, particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos (MATTOS, 1990). O neurologista inglês Ludwig Guttmann, a pedido do governo britânico, criou o Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville, destinado a tratar homens e mulheres do exército inglês feridos na Segunda Guerra Mundial, e passou a utilizar o esporte como auxílio na reabilitação de seus pacientes, buscando amenizar também os problemas psicológicos advindos principalmente do ócio no hospital (PEDRINELLI, 1994). Os métodos utilizados por ele começaram a se expandir pelo mundo. No Brasil, o desenvolvimento do esporte para pessoas portadoras de deficiência física data de 1958 com a fundação do Clube dos Paraplégicos em São Paulo e do Clube do Otimismo no Rio de Janeiro. Nesta época, o enfoque dado a esta prática era predominantemente médico. Os programas eram denominados ginástica médica e tinham a finalidade de prevenir doenças, utilizando para tanto exercícios corretivos e de prevenção. O esporte adaptado iniciou-se com o basquetebol em cadeira de rodas, começando a aparecer clubes especializados em esportes para portadores de limitação física (MATTOS, 1994). O espírito competitivo existente nestes portadores de limitação física é geralmente alto, tanto pela própria vontade de vencer quanto de mostrar-se capaz.

    Atualmente, com a participação crescente da pessoa com necessidades especiais em atividades esportivas, foram criadas entidades de deficiências afins, todas filiadas ao Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB). A Associação Brasileira de Desporto em Cadeiras de Rodas – ABRADECAR - programa, realiza e fomenta a iniciação e o desporto de alto rendimento em cadeira de rodas (COSTA e SOUSA, 2004).

Conclusões

    O sucesso na vida em geral e no esporte paraolímpico, que hoje já é considerado de alto nível, requer do portador de deficiência (paratleta) um somatório de motivação, trabalho, treinamento, sacrifício, incentivo e oportunidades. Este sucesso do portador de deficiência (paratleta) leva a sua reabilitação no sentido mais amplo da palavra (VITAL, 2002). A atividade esportiva adaptada aparece como interessante possibilidade às pessoas que sofreram lesão da medula espinhal e necessitam de cadeira de rodas para mobilidade, pois representa nova etapa e novo desafio, como continuidade no processo de reabilitação. Trata-se de uma área de atuação relativamente nova e, como tal, exige competências e conhecimentos específicos para os profissionais da reabilitação. A estes, cabe a responsabilidade de apresentar aos pacientes esta nova possibilidade de atividade, e diante de interesse inicial, encaminhá-los para centros de treinamentos competentes para isso. Como afirma Kottke (1994), a introdução da terapia esportiva, assim como a posterior prática dos esportes adequados a cada paciente portador de pequenas e/ou grandes deficiências, o tornará um paratleta que pratica esporte por lazer (não competitivo) ou ainda ser um campeão paraolímpico.

Referências

  • BUDH, C.N.; ÖSTERAKER, A.L. Life Satisfaction in individuals with spinal cord injury and pain. Clinical Rehabilitation, 2007;21:89-96.

  • CHAN, S.C.; CHAN, A.P. User satisfaction, community participation and quality of life among Chinese wheelchair users with spinal cord injury: a preliminary study. Occup. Ther. Int, 2007; 14(3): 123–143.

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  • VITAL, R.; LEITÃO, M.B.; MELLO, M.T.; TUFIK, S. Avaliação clínica dos atletas paraolímpicos. Rev Bras Med Esporte, 2002;8(3):77-83.

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