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A construção da identidade profissional docente no estágio curricular

supervisionado na percepção dos acadêmicos da licenciatura em

Educação Física do CEFD/UFSM

La construcción de la identidad profesional docente en las prácticas supervisadas 

según los estudiantes de la licenciatura en Educación Física del CEFD/UFSM

 

Doutor em Educação

Doutor em Ciência do Movimento Humano

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSM)

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM)

Hugo Norberto Krug

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Esta investigação objetivou analisar os traços caracterizadores do processo de construção da identidade profissional docente durante o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) III na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma e estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário com uma pergunta aberta. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram vinte e nove (29) acadêmicos do 7º semestre do Curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2009. Concluímos que foi possível identificar quinze traços caracterizadores da construção da identidade profissional docente percebidos pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio. O que mais chamou à atenção neste rol de traços caracterizadores é que ‘a grande maioria (doze) está relacionada aos saberes práticos ou experienciais’ desenvolvidos/aprendidos pelos futuros professores durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado.

          Unitermos: Educação Física. Formação de professores. Formação inicial. Estágio Curricular Supervisionado. Identidade profissional docente

 

Artigo elaborado a partir do projeto de pesquisa denominado “O Estágio Curricular Supervisionado na

formação inicial de professores de Educação Física: um estudo de caso na Licenciatura do CEFD/UFSM”

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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Introduzindo a investigação

    Segundo Conceição e Krug (2007) a Educação Física no Brasil, bem como a formação do professor para atuar nesta área de conhecimento é uma discussão de longínquos anos e com perspectivas que se diferem de acordo com cada momento histórico.

    Uma destas perspectivas destaca que a formação é definida não só como uma atividade de aprendizagem situada em tempos e espaços limitados e precisos, mas, também, como a ação vital de construção de si próprio, onde a relação entre os vários pólos de identificação é fundamental. Essa construção de si próprio é um processo de formação. Este processo é definido como uma função permanente, que dá forma e ritmo e põe em contato diferentes fontes de conhecimento (PINEAU apud MOITA, 1992).

    Este autor escreve que a unidade do ser é atravessada e questionada por dois tipos de pluralidades: uma pluralidade sincrônica de trocas incessantes e de múltiplas componentes internas e externas e de uma pluralidade dicotômica de diferentes momentos, de diferentes fases de transformação do ser. Compreender como cada pessoa se formou é encontrar as relações entre as pluralidades que atravessam a vida.

    Assim, para o mesmo autor, ninguém se forma no vazio. Formar-se supõe troca, experiência, interações sociais, aprendizagens, um sem fim de relações. Ter acesso ao modo como cada pessoa se forma é ter em conta a singularidade de sua história e, sobretudo o modo singular como age, reage e interage com os seus contextos. Um percurso de vida é assim um percurso de formação, no sentido em que é um processo de formação.

    Dominicé (apud MOITA, 1992) define o processo de formação como um conjunto complexo em movimento, uma globalidade própria à viva de cada pessoa. Só é possível ter acesso a essa globalidade e complexidade a partir da identificação de processos parciais de formação enquanto linhas de força, de componentes, de traços dominantes de uma história de vida. È na confluência desses processos parciais que é possível encontrar uma lógica singular, um modo único de os gerir, que é denominado processo global de formação.

    Desta forma, Moita (1992) destaca que o processo de formação pode ser considerado a dinâmica em que se vai construindo a identidade de uma pessoa. Processo em que cada pessoa, permanecendo ela própria e reconhecendo-se a mesma ao longo de sua história, se forma, se transforma, em interações.

    De acordo com Pimenta e Lima (2004) os estudos e pesquisas sobre a identidade docente têm recebido à atenção e o interesse de muitos educadores na busca da compreensão das posturas assumidas pelos professores. Assim, discutir a profissão e profissionalização docente requer que se trate da construção de sua identidade.

    Ainda para estas autoras a identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério. No entanto, é no processo de sua formação que são consolidadas as opções e intenções da profissão que o curso se propõe a legitimar.

    Neste mesmo direcionamento Guimarães (2004) destaca que os cursos de formação inicial podem ter importante papel na construção ou fortalecimento da identidade docente, na medida em que possibilitam a reflexão e a análise crítica de diversas representações sociais historicamente construídas e praticadas na profissão. Salienta que é no confronto com as representações e as demandas sociais que a identidade construída durante o processo de formação é reconhecida, para o qual são necessários os conhecimentos, os saberes, as habilidades, as posturas e o compromisso profissional. Trata-se, pois, de nos estágios se trabalhar a ‘identidade em formação’, definida pelos saberes, e não ainda pelas atividades docentes.

    Segundo Pimenta e Lima (2004) o Estágio Curricular Supervisionado como “campo de conhecimentos e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas ao exercício docente” (p.61).

    Buriolla (apud PIMENTA; LIMA, 2004) destaca que o estágio é o lócus onde a identidade profissional é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica, por isso, deve ser planejado gradativa e sistematicamente com essa finalidade.

    Pimenta e Lima (2004) reforçam esta idéia destacando que o estágio é um lugar de reflexão sobre a construção e o fortalecimento da identidade docente.

    Assim, dentro do quadro amplo da formação de professores focamos o nosso interesse investigativo na formação de professores de Educação Física e, particularmente, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mais precisamente no Estágio Curricular Supervisionado (ECS) do Curso de Licenciatura do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), pois concordamos com o que afirmam Ivo e Krug (2008), de que estudar o quê acontece e quem envolve esta disciplina é tarefa daqueles que se preocupam com uma formação de qualidade para os futuros docentes.

    Convêm salientar que a atual grade curricular (2005) do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM proporciona o Estágio Curricular Supervisionado I, II e III nos 5º, 6º e 7º semestres do mesmo, realizados respectivamente no Ensino Médio, nas Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental e nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com carga horária de 120 horas destinadas a cada estágio, somando-se a estas 360 horas, mais 45 horas de Seminário em Estágio Curricular Supervisionado, no 8º semestre do Curso, totalizando então 405 horas.

    Considerando-se, então, este contexto, foi que originou-se a seguinte questão problemática norteadora desta investigação: Quais foram os traços caracterizadores do processo de construção da identidade profissional docente durante o Estágio Curricular Supervisionado III1 (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental) na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM?

    A partir desta questão problemática estruturamos o objetivo geral como sendo: Analisar os traços caracterizadores do processo de construção da identidade profissional docente durante o Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental) na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.

    Para justificar a realização desta investigação citamos Ilha et al. (2009) que consideram que o Estágio Curricular Supervisionado é um espaço em que o acadêmico venha a se constituir enquanto profissional da educação. Embora essa constituição perpasse toda a sua trajetória escolar/acadêmica e o seu desenvolvimento profissional, é através do estágio que ocorre uma maior aproximação com a realidade escolar e o início da profissão, bem como, a consolidação e criação de um modelo próprio de ação docente construído através das relações entre a experiência e o conhecimento.

A metodologia da investigação

    A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa.

    Conforme Triviños (1987, p.125), a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica “surge como forte reação contrária ao enfoque positivista nas ciências sociais”, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a realidade social como uma construção humana. O autor explica que na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.

    Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.

    Já, segundo Lüdke & André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza “a interpretação em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que:

    O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.

    De acordo com Goode & Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações.

    O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com uma pergunta aberta, que foi respondido por vinte e nove (29) acadêmicos do 7º semestre do Curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2009. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A fim de preservar as identidades dos participantes, estes receberam uma numeração (1 a 29).

    A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário (...), de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo & Bervian (1996) relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.

    Pergunta aberta “destina-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.138).

    A questão norteadora que compôs o questionário estava relacionada com o objetivo geral desta investigação e foi a seguinte: 1) Como você construiu a sua identidade de professor de Educação Física durante o seu Estágio Curricular Supervisionado III?

    A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como um:

    Conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

    Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.

    Para Bardin (1977), a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente aprendido.

Os resultados da investigação

    Pela análise das informações identificamos e analisamos os seguintes “traços caracterizadores” da construção da identidade profissional docente pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM durante o Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental):

1.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Enfrentando ou procurando soluções para os problemas/dificuldades surgidos’.

    Doze (12) acadêmicos declararam que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘enfrentando ou procurando soluções para os problemas/dificuldades surgidos’. Segundo Perrenoud (1997) ser professor significa saber exercer a profissão em condições muito adversas. Já Silva e Krug (2007) destacam que uma das principais contribuições positivas do ECS para a formação profissional em Educação Física é o enfrentamento dos problemas/dificuldades da docência.

    Citamos as falas dos acadêmicos em que esse traço caracterizador pode ser identificado: “Ao procurar soluções para os problemas que surgiram (...)” (Acadêmico 2); “Deparando-me com dificuldades (...) que aconteceram no dia-a-dia com a turma nas aulas” (Acadêmico 7); “(...) procurando estratégias para sanar as dificuldades” (Acadêmico 8); “Aprendendo e entendendo como trabalhar com as dificuldades que eram apresentadas” (Acadêmico 9); “Enfrentando os problemas que apareciam (...)” (Acadêmico 10); “Através das dificuldades encontradas (...) buscar medidas (...)” (Acadêmico 12); “(...) A adversidade talvez tenha sido nosso principal pilar (...)” (Acadêmico 13); “Acho que enfrentando cada problema (...) e estudando sobre como enfrentá-lo” (Acadêmico 14); “Superando as dificuldades através de pesquisas e muita dedicação” (Acadêmico 17); “Superando as dificuldades, ganhando bagagem e recursos” (Acadêmico 21); “(...) os problemas (...) e as soluções (...)” (Acadêmico 27); e, “(...) vivenciando os momentos (...) em que ocorreram problemas que precisei enfrentar e resolver” (Acadêmico 29).

    Assim, podemos destacar que estas falas dos acadêmicos aproximam-se do afirmado por Nóvoa (1995) de que a base do processo identitário do professor são os três “A”: o “A” de Adesão, o “A” de Autonomia e o “A” de Autoconsciência. Nas falas os acadêmicos reportam-se ao “A” de Autonomia, que Nóvoa destaca que é a autonomia de julgamentos e decisões, porque na escolha das melhores maneiras de agir, jogam-se decisões de ordem profissional e pessoal.

2.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aprendendo a planejar as aulas’.

    Nove (9) acadêmicos manifestaram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aprendendo a planejar as aulas’. Conforme Marques e Krug (2009) na grade curricular da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM os estágios são as disciplinas que mais se articulam com a realidade da docência na escola e assim sendo, estas devem necessariamente privilegiar a prática do planejar, tanto no que se refere ao planejamento geral como também na elaboração do plano de aula, buscando oferecer uma base teórico-metodológica para que os acadêmicos entendam sua importância e aprendam a planejar de forma responsável e organizada, pois, de acordo com Serrão (2006, p.138), “o planejamento é visto como um instrumento que permite ao sujeito que realiza a atividade estabelecer o norte de sua própria atividade, definindo os objetivos da mesma e abrindo um leque de caminhos possíveis”.

    As falas dos acadêmicos sobre esse traço caracterizador foram as seguintes: “(...) fazendo planejamentos (...)” (Acadêmico 3); “Aprendendo a (...) planejar as aulas, (...)” (Acadêmico 4); “Através do planejamento, (...)” (Acadêmico 6); “(...) fazendo planejamento (...)” (Acadêmico 11); “Primeiramente pensei no planejamento (...)” (Acadêmico 22); “(...) preparando aulas (...)” (Acadêmico 24); “(...). Fazendo planos de aula (...)” (Acadêmico 25); “A construção foi feita (...) com o planejamento das aulas. (...)” (Acadêmico 28); e, “(...), com a preparação das aulas (...)” (Acadêmico 29).

    No direcionamento destas falas dos acadêmicos podemos citar Pimenta e Lima (2004) que afirmam que todas as atividades do estágio ajudam a construir a identidade docente.

3.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Estabelecendo uma boa relação com os alunos’.

    Seis (6) acadêmicos disseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘estabelecendo uma boa relação com os alunos’. Cunha (1996) diz que a aula é um lugar de interação entre pessoas e, portanto, um momento único de troca de influências. Assim, a relação professor-aluno no sistema formal é parte da educação e insubstituível na sua natureza.

    Este traço caracterizador pode ser identificado nas seguintes falas: dos acadêmicos: “(...), através da melhoria da relação professor-aluno (...)” (Acadêmico 2); “(...), construindo um relacionamento com os alunos (...)” (Acadêmico 10); “(...). Criando um vínculo muito forte com os alunos (...)” (Acadêmico 11); “Sendo um professor amigo dos alunos” (Acadêmico 19); “(...) e tendo uma boa relação com os alunos” (Acadêmico 23); e, “(...). O relacionamento com os alunos foi bom (...)” (Acadêmico 28).

    Podemos considerar que estas falas dos acadêmicos aproximam-se do que destacam Pimenta e Lima (2004) de que o estágio com suas experiências docentes com os alunos assumem um papel relevante na formação do professor e na construção de sua identidade.

4.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Experienciando, vivenciando a docência’.

    Também seis (6) acadêmicos declararam que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘experienciando, vivenciando a docência’. Para Pereira (1996) e Pimenta e Lima (2004) o estágio é essencial à formação do futuro professor, pois lhe proporciona um momento específico de aprendizagem da profissão docente. Já Ilha et al. (2009) salientam que o estágio pode ser compreendido como uma experiência, ou seja, como um conjunto de vivências significativas através das quais o estagiário identifica, seleciona, destaca os conhecimentos necessários e válidos para a atividade profissional. Também Silva e Krug (2007) colocam que uma das principais contribuições positivas do ECS para a formação profissional em Educação Física é a possibilidade de uma maior experiência da atuação como professor na opinião dos estagiários.

    Este traço caracterizador pode ser identificado nas seguintes falas dos acadêmicos: “(...). Todos os acontecimentos, todas as aulas foram importantes para a construção do meu ‘ser professor’” (Acadêmico 3); “(...) com o desenvolvimento das aulas (...)” (Acadêmico 11); “(...) experienciando vivências, (...)” (Acadêmico 12); “Nas experiências (...)” (Acadêmico 13); e, “(...) vivenciando (...)” (Acadêmico 24).

    Assim, podemos destacar que estas falas dos acadêmicos aproximaram-se do colocado por Pimenta e Lima (2004) de que as aprendizagens, as experiências e as vivências, promovidas pelo estágio realizado na escola ajudam a construir a identidade docente do futuro professor.

5.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Trocando idéias com os colegas e professores’.

    Cinco (5) acadêmicos depuseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘trocando idéias com os colegas e professores’. Krug (2004a) salienta que é necessário que os professores conversem entre si sobre a Educação Física. Troquem idéias. Fiquem em dúvida sobre a forma como estão conduzindo suas práticas profissionais, pois só assim poderão detectar pontos positivos e negativos no que estão fazendo. Só assim poderão ver o quanto estão contribuindo para que as aulas tenham um papel significativo na vida dos alunos. Segundo Ferreira e Krug (2001) deve-se facilitar a troca de experiências entre os acadêmicos-estagiários, para se criar um ambiente propício para o desenvolvimento intelectual, estimulando-os a expor os seus saberes, a criticar e enriquecer as suas práticas, através da pesquisa e das experiências de seus colegas.

    Destacamos as falas dos acadêmicos em que esse traço característico pôde ser identificado: “(...) com meus professores” (Acadêmico 1); “(...) com os professores e colegas” (Acadêmico 10); “(...) trocando idéias com o professor e os colegas (...)” (Acadêmico 15); “(...) trocando experiências com os colegas da disciplina” (Acadêmico 18); e, “(...) na conversa com colegas (...)” (Acadêmico 27).

    Desta forma, podemos salientar que estas falas dos acadêmicos aproximam-se do afirmado por Pimenta (1997; 2002) de que a identidade profissional do professor se constrói, também a partir de sua rede de relações com os outros professores, nas escolas e em outros agrupamentos, entre outros fatores.

6.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aprendendo a refletir sobre a prática pedagógica’.

    Quatro (4) acadêmicos afirmaram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aprendendo a refletir sobre a prática pedagógica’. De acordo com Furter (apud FERREIRA; KRUG, 2001) a reflexão é uma qualidade muito necessária ao professor, sobretudo quando adota uma atitude de busca, sempre mais rigorosa, de pesquisa e de avaliação, de aperfeiçoamento permanente, pois a reflexão é, ao mesmo tempo, crítica, dialética e renovadora. Já Xavier (1996) destaca que o docente pode e deve aprender a melhorar a sua prática através da reflexão sobre a experiência de sua própria tarefa de ensinar. Salienta ainda que o professor ao refletir sobre a sua prática, ao identificar e diagnosticar os problemas surgidos, ao planejar intencionalmente a possibilidade de intervir em determinada situação, utilizando metodologias apropriadas, desenvolve sua profissionalidade e competência pedagógica. No entendimento de Ferreira e Krug (2001), o ECS é o espaço da formação inicial do professor de Educação Física mais apropriado para desenvolver a autonomia profissional e uma atitude crítico-reflexiva sobre a prática pedagógica.

    As falas dos acadêmicos sobre esse traço caracterizador foram as seguintes: “Através da reflexão sobre minhas atividades” (Acadêmico 6); “(...). refletindo sobre as atividades e atitudes (...) procurando melhorar (...)” (Acadêmico 25); “(...) pelas reflexões durante as atividades (...)” (Acadêmico 26); e, “(...) refletindo sobre a minha prática (...)” (Acadêmico 27).

    Assim, podemos destacar que estas falas dos acadêmicos aproximam-se do afirmado por Nóvoa (1995) de que a base do processo identitário do professor são os três “A”: o “A” de Adesão, o “A” de Autonomia e o “A” de Autoconsciência. Nas falas os acadêmicos reportam-se ao “A” de Autoconsciência, que Nóvoa destaca que em última análise tudo se decide na atitude reflexiva do professor sobre a sua própria ação. Já Krug (2004b) destaca que as novas tendências de formação que abordam o processo de construção da identidade do professor são as que valorizam o professor reflexivo, pois colocam o professor como um intelectual em processo contínuo de formação.

7.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Conhecendo a realidade escolar’.

    Também quatro (4) acadêmicos disseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘conhecendo a realidade dos alunos’. De acordo com Marques; Ilha e Krug (2009) a realidade do dia-a-dia da escola é uma instância privilegiada para a formação dos acadêmicos de Educação Física e sua interação com o ambiente escolar o que possibilita aos mesmos ter conhecimentos sobre os alunos, seus interesses, bem como os professores e a escola como um todo.

    Este traço caracterizador pode ser identificado nas seguintes falas dos acadêmicos: “Conhecendo a realidade dos alunos (...)” (Acadêmico 8); “Avaliando as necessidades dos alunos (...)” (Acadêmico 16); “(...) conhecendo melhor os alunos (...)” (Acadêmico 18); “(...) a realidade dos alunos (...)” (Acadêmico 22).

    No direcionamento destas falas dos acadêmicos podemos citar Pimenta e Lima (2004) que dizem que o estágio ao promover a presença do aluno-estagiário no cotidiano da escola, abre espaço para a realidade e para a vida e o trabalho do professor na sociedade e que isto colabora com a construção da identidade do estagiário.

8.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Percebendo e reafirmando a escolha de ser professor’.

    Dois (2) acadêmicos depuseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘percebendo e reafirmando a escolha de ser professor’. Conforme Ilha et al. (2009) o estágio para alguns acadêmicos é uma experiência de confirmação da escolha profissional, pois estes têm a oportunidade de verificar como é a dinâmica da profissão de professor de Educação Física.

    Foram as seguintes as falas dos acadêmicos em que esse traço caracterizador foi identificado: “(...). Percebi que escolhi a profissão certa e que trabalhar com crianças. Comentando com amigos, (...), fui alertada do meu espírito de professor fazendo-me perceber que, mais uma vez, quero seguir este caminho” (Acadêmico 11); e, “(...) fez eu me enxergar com outros olhos, me ver professora. (...)” (Acadêmico 27).

    Desta forma, podemos salientar que estas falas aproximam-se do afirmado por Pimenta e Lima (2004) de que o estágio pode contribuir com a construção da identidade docente ao integrar, entre vários aspectos, os aspectos subjetivos da profissão, que dizem da identificação e da adesão dos sujeitos a ela, para que os candidatos a essa profissão digam, para si, que querem ser professores. Já Nóvoa (1995) coloca que a base do processo identitário do professor são os três “A”: o “A” de Adesão, o “A” de Autonomia e o “A” de Autoconsciência. Assim, as falas anteriormente citadas aproximam-se do “A” de Adesão. Adesão à profissão professor.

9.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Unindo teoria e prática’.

    Também dois (2) acadêmicos manifestaram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘unindo teoria e prática’. Segundo Miranda (2008) o estágio pedagógico constitui-se num espaço privilegiado de interface da formação teórica com a vivência profissional. Essa interface teórico-prática compõe-se de uma interação constante entre o saber e o fazer, entre os conhecimentos acadêmicos disciplinares e o enfrentamento dos problemas decorrentes da vivência de situações próprias do cotidiano escolar. Já Ilha et al. (2009) ressaltam que o estágio não deve ser considerado como ‘aplicação de teorias’, mas como resultado de uma construção teórica desenvolvida ao longo do curso de formação inicial, cujo currículo se constrói e se desenvolve na inter-relação teoria-prática. Neste mesmo direcionamento, citamos Tardif (2002) que afirma que a prática profissional não é a simples aplicação de teorias elaboradas fora dela, mas um espaço original e relativamente autônomo de aprendizagem e de formação para os futuros professores. Nesse sentido, a formação profissional é redimensionada para a prática e, por conseguinte, para a escola enquanto lugar de trabalho dos professores. Finalmente, Silva e Krug (2007) destacam que o aprendizado de associar teoria e prática é uma das principais contribuições positivas do ECS para a formação profissional em Educação Física na opinião dos estagiários.

    As falas citadas a seguir foram aquelas que identificaram esse traço caracterizador: “Através da junção entre teoria e prática (...)” (Acadêmico 3); e, “(...). Quando juntei a teoria estudada na prática das aulas (...)” (Acadêmico 22).

    Desta forma, estas falas dos acadêmicos vão no direcionamento do que coloca Pimenta (1997; 2002) de que uma identidade profissional se constrói também, entre outras coisas, do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, pois assim é que acontece a construção de novas teorias.

10.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Conhecendo a realidade da escola’.

    Ainda dois (2) acadêmicos declararam que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘conhecendo a realidade da escola’. Pimenta e Lima (2004) destacam que é importante desenvolver nos alunos futuros professores habilidades para o conhecimento e a análise das escolas, bem como das comunidades onde se insere. Já Ilha e Krug (2008) colocam que o futuro professor necessita compreender a complexa realidade que encontrará ao se inserir no âmbito escolar. Ainda Ilha et al. (2009) afirmam que o estágio deve ser percebido como um espaço formativo e de compreensão da realidade da escola, pois este é o campo de trabalho do futuro professor.

    Este traço caracterizador foi identificado nas seguintes falas: “(...) entrando na realidade das escolas. (...)” (Acadêmico 3); e, “Conhecendo melhor a realidade da escola (...)” (Acadêmico 18).

    Assim, podemos destacar que estas falas dos acadêmicos aproximam-se do afirmado por Pimenta e Lima (2004) de que o curso, o estágio, as aprendizagens das demais disciplinas e experiências e vivências dentro e fora da universidade ajudam a construir a identidade docente. O estágio ao promover a presença do aluno-estagiário no cotidiano da escola, abre espaço para a realidade e para a vida e o trabalho do professor na sociedade.

11.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aprendendo a ter responsabilidade na formação dos alunos’.

    Dois (2) acadêmicos afirmaram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aprendendo a planejar as aulas’. Segundo Bolzan (2002) a tomada de consciência do papel do professor, entendida aqui, como elemento dinamizador do processo de escolarização e, portanto, organizador da intervenção pedagógica a ser implementada, é fundamental, considerando a importância da redimensão das práticas escolares vigentes. Já Batista e Codo (1999) destacam que o papel do professor, hoje em dia, não é apenas informar ou transmitir o saber, mas também formar e educar.

    Citamos as falas dos acadêmicos em que esse traço caracterizador pode ser identificado: “Aprendendo a ter responsabilidade na formação dos alunos (...)” (Acadêmico 4); e, “O compromisso com a escola, com os alunos (...) proporcionaram-me ser professora de Educação Física (...)” (Acadêmico 29).

No sentido destas falas citamos Pimenta e Lima (2004) que dizem que a identidade construída durante o processo de formação inicial para ser reconhecida é necessário um compromisso profissional. Podemos inferir que este compromisso profissional pode ser com a formação dos alunos. Compromisso, enfim, com os resultados de qualidade do ensino.

12.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aprendendo a aprender’.

    Ainda dois (2) acadêmicos disseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aprendendo a aprender’. Conforme Maschio (2009) ser professor é um processo de aprender a aprender. Garcia (1999) destaca que os professores são sujeitos que aprendem. Isto requer que a investigação sobre o desenvolvimento profissional continue para compreender como os professores aprendem novas formas de pensar o ensino e a aprendizagem dos conteúdos, assim como as condições que facilitam as aprendizagens dos professores.

    Destacamos as falas dos acadêmicos em que esse traço característico pôde ser identificado: “(...) sempre com a vontade de aprender e aprendendo (...)” (Acadêmico 1); e, “A partir de um processo evolutivo no qual fui aprendendo a aprender (...)” (Acadêmico 20).

    Estas falas dos acadêmicos podem ser respaldadas por Pimenta e Lima (2004) que destacam que na formação do professor é preciso enfocar que sua aprendizagem de ensinar será boa quando se basear em seu aprender a profissão e na construção de sua identidade, na valorização social da profissão e na formação contínua.

13.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aprendendo com os alunos’.

    Também dois (2) acadêmicos depuseram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aprendendo com os alunos’. Segundo Pimenta e Lima (2004) sendo o estágio um lugar de reflexão sobre a construção e o fortalecimento da identidade deve explorar o aprendizado com os outros.

    Citamos as falas dos acadêmicos em que esse traço caracterizador pôde ser identificado: “(...). Aprendi muito com o contato com as crianças” (Acadêmico 5); e, “(...). Lidando com o aluno (...)” (Acadêmico 15).

    Estas falas dos acadêmicos vão no direcionamento de Pimenta e Lima (2004) que destaca que a identidade vai sendo construída com as experiências e a história pessoal, no coletivo da sociedade.

14.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Aos poucos’.

    Ainda dois (2) acadêmicos afirmaram que construíram sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘aos poucos’. Segundo Pimenta e Lima (2004) a identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério, entretanto, é o estágio, por excelência, um lugar de reflexão sobre a construção e o fortalecimento da identidade.

    As falas dos acadêmicos sobre esse traço caracterizador foram as seguintes: “Aos poucos (...)” (Acadêmico 1); e, “(...). Aos poucos (...)” (Acadêmico 11).

    No direcionamento destas falas dos acadêmicos citamos Deroeut (apud MOITA, 1992) que destaca que a identidade profissional dos professores é uma construção que tem uma dimensão espaço-temporal, atravessa a vida profissional desde a fase da opção pela profissão até a aposentadoria, passando pelo tempo concreto da formação inicial e pelos diferentes espaços institucionais onde a profissão se desenrola.

15.     Construí minha identidade de professor de Educação Física... ‘Organizando o ensino’.

    Um (1) raro acadêmico manifestou que construiu sua identidade de professor de Educação Física, durante o ECS III, ‘organizando o ensino’. Serrão (2006) reforça que o papel do professor na organização do ensino é insubstituível, porque ele é o responsável por criar situações que promovam a superação dos problemas de aprendizagem, considerando o nível de desenvolvimento dos alunos e instigando a atuação destes ao encontro da zona de desenvolvimento proximal ou potencial, através das atividades de estudo. Segundo Rego (1998) a zona de desenvolvimento proximal ou potencial é a distância entre aquilo que o aluno é capaz de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ele realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de desenvolvimento potencial).

    Foi a seguinte a fala do acadêmico em que esse traço caracterizador foi identificado: “Organizando o ensino (...)” (Acadêmico 25).

    Esta fala pode ser respaldada por Nóvoa (1995) que destaca que o processo identitário passa também pela capacidade de exercermos com autonomia a nossa atividade, pelo sentimento de que controlamos o nosso trabalho. A maneira como cada um de nós ensina, está diretamente dependente da imagem que temos da profissão, está em relação direta com aquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino.

Concluindo a investigação: uma possível síntese sobre o estágio e a construção da identidade profissional docente

    Pela análise das informações obtidas concluímos que foi possível identificar vários (15) traços caracterizadores da construção da identidade profissional docente percebidos pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio. Foram eles: 1) Enfrentando ou procurando soluções para os problemas/dificuldades surgidos; 2) Aprendendo a planejar as aulas; 3) Estabelecendo uma boa relação com os alunos; 4) Experienciando, vivenciando a docência; 5) Trocando idéias com os colegas e professor; 6) Aprendendo a refletir sobre a prática pedagógica; 7) Conhecendo a realidade dos alunos; 8) Percebendo e reafirmando a escolha de ser professor; 9) Unindo teoria e prática; 10) Conhecendo a realidade da escola; 11) Aprendendo a ter responsabilidade na formação dos alunos; 12) Aprendendo a aprender; 13) Aprendendo com os alunos; 14) Aos poucos; e, 15) Organizando o ensino.

    O que mais chamou à atenção neste rol de traços caracterizadores da construção da identidade profissional docente percebidos pelos acadêmicos é que ‘a grande maioria (doze) está relacionada aos saberes práticos ou experienciais’ (1; 2; 3; 4; 6; 7; 9; 10; 11; 12; 13; 15) desenvolvidos/aprendidos pelos futuros professores durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado. Este fato é destacado por Krüger et al. (2008) que apontam para a importância dos acadêmicos perceberem os saberes práticos ou experienciais no processo de ‘aprender a ser professor’, que também se torna importante para compreenderem os espaços e os tempos dos processos de ensino-aprendizagem e do comprometimento do próprio acadêmico com o estágio, logo com a sua formação, com o seu desenvolvimento profissional e com a construção de sua identidade profissional. Entretanto, consideramos ainda importante citar Miranda (2008, p.18) que salienta que o acadêmico em situação de estágio está com a sua “identidade em formação, respaldada pelos saberes instituídos e pelo confronto das representações acerca desses saberes e das demandas educacionais e sociais”. Também Pimenta e Lima (2004) vão neste direcionamento, pois afirmam que nos estágios deve-se trabalhar a identidade em formação, definida pelos saberes, e não ainda pelas atividades docentes. E, nesse sentido, Dubar (1997, p.255) diz que:

    [...] o processo identitário auto-alimenta-se da vontade de ‘nunca ser aquele que todos julgam que é’ que encontra no ato de formação sua última confirmação. À pergunta ‘mas afinal, quem é você’ o indivíduo só pode responder ‘eu estou em formação’.

    Entretanto, outros três (3) traços caracterizadores da construção da identidade profissional docente pelos acadêmicos chamaram à atenção.

    O primeiro traço a ser destacado foi ‘aos poucos’, o qual mostra a perspectiva de incompletude, pois, segundo Mizukami (2000, p.143), “os processos de aprender a ensinar e de aprender a profissão, ou seja, de aprender a ser professor, de aprender o trabalho docente, são processos de longa duração e sem um estágio final estabelecido a priori”.

    O segundo traço a ser destacado foi ‘trocando idéias com os colegas e professor’, o qual mostra que a identidade docente não se constrói no isolamento profissional. E, neste direcionamento citamos Thives (2007) que diz que a identidade tem premissas coletivas, e que estas vão gerar uma identidade profissional, a partir de elementos justapostos do individual e do grupal. Essa identidade coletiva é produzida por indivíduos que interagem, constroem e negociam repetidamente as relações que os ligam uns aos outros, pois os professores que se reconhecem como integrantes de um grupo, agem como membros atuantes, na identidade grupal, buscando assim a sua identidade profissional, tendo o seu outro colega como uma referência. O outro se apresenta como uma grande bússula, muitas vezes, direcionando suas ações e reações a partir de vivências observadas, contadas e até experienciadas. Para Pimenta (1997) constituir-se um profissional docente é apropriar-se das vozes, atitudes dos outros que nas suas ações de diálogo constroem sentidos para uma ação docente. Assim, a experiência do outro, imbricada com a experiência do sujeito histórico e social vai se configurando em novos princípios, orientações e inspirações para a produção de novas referências para a concepção de um novo profissional. Desta forma, podemos inferir que tudo isto cabe também ao acadêmico em formação, particularmente durante o ECS. Entretanto, citamos Gouveia (apud GALINDO, 2004) que diz que a identidade é essencialmente subjetiva. Ela é o conjunto de representações do ‘eu’, onde o sujeito confirma que é continuamente igual a si mesmo e distinto dos outros. Assim, a identidade está sempre em construção.

    Finalmente, o terceiro traço caracterizador foi ‘percebendo e reafirmando a escolha de ser professor’. Pimenta e Lima (2004) dizem que o estágio docente é importante para que os candidatos a essa profissão digam, para si, que querem ser professores.

    Assim, nos apoiando em Nóvoa (1992) podemos salientar que a construção da identidade profissional docente percebida pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFDD/UFSM, durante o ECS, balizada pelos traços caracterizadores destacados nesta investigação, demonstrou que a identidade dos mesmos, não é ou foi um produto destes traços e sim, que estes traços mostraram que o ECS foi um espaço de construção de maneiras de ‘ser’ e ‘estar’ na profissão professor de Educação Física, pois cada acadêmico se apropriou e/ou incorporou diferentes traços caracterizadores representativos de sua vivência e/ou experiência no estágio. Desta forma, citamos Pimenta (2002) que afirma que a identidade é um processo de construção de sujeitos historicamente situados. Assim, lembramos ainda Pimenta (1997), que diz que o desafio dos cursos de formação inicial de professores é o de colaborar no processo de passagem dos alunos de se ver como aluno ao ver-se como professor, ou seja, de construir a sua identidade de professor.

    Para finalizar, recomendamos a realização de investigações mais aprofundadas sobre a formação inicial dos professores de Educação Física e em particular sobre o ECS, pois este momento é muito importante para uma formação de qualidade.

Nota

1.     Optamos pelo ECS III por este ser o último estágio dos acadêmicos e, portanto, significando a última experiência com a escola na grade curricular do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.

Referências

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