Nível de hidratação pré-competição em atletas de futsal | |||
*Universidade Vale do Rio Doce – Univale, MG **Universidade São Judas Tadeu – USJT, SP (Brasil) |
Fabrícia Geralda Ferreira* Wellington Segheto** |
|
|
Resumo A gravidade especifica da urina (GU) é um método prático e de baixo custo utilizado para estabelecer o estado de hidratação de um indivíduo. No entanto, pouco se sabe sobre a hidratação pré-jogo de jogadoras de futsal. O propósito deste estudo foi avaliar o nível de hidratação por meio da GU de atletas de futsal feminino, antes de uma partida dos Jogos do Interior de Minas - JIMI/2008 em sua 3ª fase. Foram avaliadas 10 atletas com idade de 19,8 ± 4,1 anos e VO2máx de 56,3 ± 5 ml (kg.min) -1antes da segunda partida da fase classificatória do JIMI/2008. As atletas forneceram amostra de urina minutos antes do Jogo para que fosse avaliado seu nível de hidratação por meio de refratômetro portátil. Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados. A GU média das atletas foi de 1025,4 ± 3,9, sendo que dentre as 10 jogadoras avaliadas apenas uma apresentava nível de hidratação adequado. As atletas iniciaram a partida com níveis hídricos inadequados o que poderia contribuir para diminuição do desempenho, o que demonstra a necessidade de informações quanto à forma correta de se hidratar. Unitermos: Futsal. Hidratação. Desidratação. Gravidade da urina |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
1 / 1
Introdução
Há vários anos a comunidade científica busca estabelecer o método ideal para identificação do estado de hidratação de atletas durante o exercício, sendo que até o momento ainda não há consenso (10). A não identificação de um método ideal muitas vezes dificulta o estabelecimento de estratégias corretas de reposição hídrica, uma vez que dependendo do método escolhido para monitoração do nível de hidratação os resultados podem ser contraditórios(4).
Entre os métodos existentes, a gravidade especifica da urina (GU) destaca-se como método não invasivo, prático, de baixo custo(8) sendo utilizados em diversos estudos(2, 5, 6, 9, 12, 13) com a finalidade de identificação rápida do nível de hidratação dos praticantes de exercício.
Embora possamos encontrar na literatura investigações a cerca do estado de hidratação de atletas usando a GU, estudos que visem identificar o nível de hidratação pré-exercício em atletas brasileiros são escassos. Esta ausência de investigações é preocupante, pois em eventos esportivos de longa duração disputados em situações de calor extremo associado à dificuldade técnica de se estabelecer reposição hídrica em freqüência adequada, pode fazer com que o atleta apresente distúrbios graves quando iniciam a atividade já desidratado (7). Assim, caso os treinadores tenham conhecimento prévio do nível hídrico inicial de seus atletas, podem promover correção e evitar que tais níveis se agravem.
Na modalidade futsal a situação não é diferente, ou seja, pouco se sabe sobre a hidratação pré-jogo aplicada no período competitivo real de uma equipe, o que poderia ajudar consideravelmente no desempenho dos atletas, pois o futsal atual é caracterizado por intensas movimentações ao longo do jogo, acarretando uma perda hídrica considerável.
No futsal, em função das regras da modalidade, são permitidas diversas substituições ao longo de uma partida o que facilita a reposição hídrica. Apesar desta característica peculiar a modalidade, já que no futebol de campo o jogo possui uma dinâmica diferente, as movimentações no futsal são mais intensas acarretando assim maiores perdas hídricas e consequentemente maiores níveis de desidratação.
Diante disso, o propósito deste estudo foi avaliar o nível de hidratação por meio da GU de atletas de futsal feminino antes de uma partida da 3ª fase dos Jogos do Interior de Minas – JIMI, edição 2008.
Procedimentos metodológicos
Este estudo seguiu os princípios éticos em pesquisa com seres humanos, de acordo com a resolução do Conselho Nacional de Saúde nº196/96, em consonância com as propostas das Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e 1993). As voluntárias receberam esclarecimentos detalhados sobre os procedimentos que seriam utilizados na coleta de dados e, em seguida, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Amostra
Participaram do estudo 10 atletas do sexo feminino com média de idade 19,8 ± 4,1 anos, VO2máx de 56,3 ± 5 ml (kg.min)-1 e freqüência de treino de 6x na semana, com duração total de 2h.
Procedimento experimental
Este estudo foi desenvolvido durante uma partida da 3ª fase do JIMI que ocorreu na cidade de Ipatinga / MG no mês de outubro de 2008. Para identificação do estado de hidratação por meio da GU as atletas forneceram uma amostra de no mínimo 1mL de urina minutos antes do inicio do Jogo para que fosse avaliado seu nível de hidratação utilizando refratômetro portátil. Adotou-se como pontos de referência para estabelecimento do nível de hidratação das atletas os pontos de corte de Casa et al.(3). Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados.
Resultados
A Figura 1 apresenta os valores individualizados de GU, enquanto a Tabela 1 apresenta os pontos de corte de Casa et al. (3) que foram utilizados como padrão.
Figura 1. Gravidade da urina de cada uma das atletas voluntárias no estudo
Tabela 1. Índices do estado de hidratação segundo Casa et al.(3)
Estado de Hidratação |
Gravidade específica da urina |
Euhidratado |
<1.010 |
Desidratação mínima |
1.010 - 1.020 |
Desidratação significativa |
1.021-1.030 |
Desidratação grave |
> 1.030 |
A GU média das atletas foi de 1025,4 ± 3,9 (1.018 – 1.030), sendo que dentre as 10 atletas avaliadas apenas uma apresentava nível de hidratação adequado segundo Casa et al. (3), que estabelece como ponto de corte 1020. Isto demonstra que segundo a metodologia utilizada 90% das atletas iniciaram a partida já significativamente desidratadas.
Discussão
Diante dos dados apresentados na Figura 1 é importante ressaltar que o fato destas atletas iniciarem a prática esportiva já desidratadas pode ocasionar comprometimento no seu desempenho. Assim, as mesmas devem ser orientadas quanto à importância de se hidratarem antes durante e depois de qualquer atividade (1,11).
Os dados encontrados neste estudo corroboram com os achados de Vimieiro-Gomes e Rodrigues (12) que investigando jogadores de voleibol encontraram uma média de GU de 1024 ± 4, o que indica desidratação significativa (3).
Outro estudo que verificou a GU de atletas pré-atividade foi o de Finn e Wood (5) que encontrou 6% dos atletas sendo classificados como severamente desidratados, 50% significativamente desidratados, 30% minimamente desidratados e apenas 14% bem hidratados.
Aragón-Vargas et al. (2) também encontraram atletas desidratados antes da prática de atividade, sendo a média de GU encontrada por eles de 1.018±0.008, com variação de 1.003 - 1.036.
Como pode ser verificado em nosso estudo assim como nos estudos descritos acima, atletas de diferentes modalidades iniciam a prática de sua atividade já desidratados, devendo ser conscientizados da importância da hidratação para a performance.
Deve-se levar em consideração também que a utilização da GU pode fazer parte da rotina diária de controle do atleta, quanto ao nível de hidratação, de preferência associada ao controle da perda de massa corporal, pois desta forma seus resultados são mais confiáveis (4).
Conclusão
Baseando no ponto de corte estabelecido na literatura de GU >1020 as atletas iniciaram a partida com níveis hídricos inadequados o que poderia contribuir para diminuição do desempenho, o que demonstra a necessidade de informações quanto a forma correta de se hidratar.
Referências bibliográficas
American College Sports Medicine (ACSM). Exercise and fluid Replacement. Med Sci Sports Exerc. 2007; 39 (2): 377-399.
Aragón-Vargas LF, Moncada-Jiménez L, Hernández-Elizondo J, Barrenechea A, Monge- Alvaeado M. Evaluation of pre-game hydration status, heat stress, and fluid balance during professional soccer competition in the heat. European Journal of sports Science. 2009; 9(5): 269- 276.
Casa DJ, Armstrong l, Hillman SK, Montain SJ, Rich BE, Rich BSE et al. National Athletic Trainers’ Association Position Statement: Fluid Replacement for Athletes. J Athl Train. 2000; 35(2): 212–224.
Ferreira FG. Hidratação e perda hidromineral em corredores e indivíduos ativos [dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2007.
Finn JP, Wood RJ. Incidence of pre-game dehydration in athetes competing at an international event in dry tropical conditions. Nutr Diet. 2004;61(4):221-225.
Godek SF, Godek JJ, Bartolozzi AR. Hydration status in college football players during consecutive days of twice-a-day preseason practices Am J Sports Med. 2005; 33(6): 843–851.
Marins JCB, Dantas E, Navarro S. Deshidratación y ejercicio físico, Selección, 2000; (3):149 – 163.
Oppliger R, Bartok C. Hydration testing of athletes. Sport Med. 2002; 32(15): 959–971.
Pinheiro LRL, Abreu RSL, Kroef MB, Barbosa ES, Santos Junior DM, Gomes FC, et al. Modificações nos indicadores do estado de hidratação de candidatos ao curso de ações de comando após marcha de 20Km. Rev Educ Fís. 2006; (134): 41-47.
Prado ES, Barroso Sh S, Góis, HO; Reinert T. Estado de hidratação em nadadores após Três diferentes formas de reposição hídrica na cidade de Aracaju – SE. Fit Perf J. 2009; 8(3): 218-225.
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte. 2009; 15(3).
Vimieiro-Gomes AC, Rodrigues LOC. Avaliação do estado de hidratação dos atletas, estresse térmico do ambiente e custo calórico do exercício durante sessões de treinamento em voleibol de alto nível. Rev Paul Educ Fís. 2001; 15(2): 201-211.
Wingo JE, Casa DJ, Berger EM, Dellis WO, Knight JCH, Mcclung JMM. Influence of a pre-exercise glycerol hydration beverage on performance and physiologic function during Montain-bike races in the heat. J Athl Train. 2004; 39(2): 169-175.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires,
Abril de 2010 |