Educação Física e suas possibilidades de práticas no contexto escolar | |||
*Licenciado em Educação Física, Esp. em Metodologia do Ensino e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer pela LEPEL – FACED – UFBA Universidade Federal da Bahia. Professor da Rede Municipal de Ensino em Janaúba, MG **Professor Licenciado em Educação Física pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XII ***Licenciado em Educação Física pela Universidade do Estado da Bahia Pós Graduando. Especialização em Educação Física Escolar ****Licenciada em Educação Física, Esp. em Educação Física Escolar FG – Faculdade de Guanambi Professora da Rede Municipal de Ensino em Madre de Deus-BA ***Licenciado em Educação Física pela Universidade do Estado da Bahia Pós Graduando. Especialização em Educação Física Escolar |
Marlon Messias Santana Cruz* Wesley da Silva Moraes** João Narciso Barbosa Neto*** Fernanda Caroline Cerqueira Palmeira**** Genildo Pinheiro Santos*** (Brasil) |
|
|
Resumo A educação física escolar vem demonstrando um avanço no seu contexto. Atividades sistematizadas, planejadas, com conteúdos relevantes vêm sendo apresentadas cada vez mais cedo nas aulas. Demonstramos neste trabalho que este modelo não deve ficar distante do cotidiano escolar, pois verificamos que a adesão dos alunos, a esta proposta, foi satisfatória. Projeto de cunho educacional, onde a função social da educação ficou muito explicita. Este trabalho mostra que trabalhar diferentes tendências pedagógicas da educação física escolar é essencial para a prática educativa no ambiente escolar. Unitermos: Educação Física. Escola. Tendências metodológicas
Abstract Physical education school is showing an improvement in context: systematized, planned, with content relevant are being presented earlier in classes. We in this work that this model should not be away daily school, because we see that the accession of students, this proposal has been satisfactory. Project of education, where the social function of education was very explicit. This work shows that different pedagogical work trends physical education schools is essential for the educational practice in the school environment. Keywords: Physical Education. School. Methodological trends |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
1 / 1
Apresentação
As aulas de educação física, hoje em dia, vêm apresentando modelos europeus de fins do século XVIII e início do século XIX. Alguns autores como Cavalcanti (1981 e 1984), Carmo (1990), Medina (1983 e 1987), Costa Pereira (1984), Bracht (1986), Costa (1987), Lopes (1987), Ghirardelli Jr. (1988), Castellani Filho (1989) entre outros, nos mostra que a educação física atualmente desenvolvida no país vem sendo reprodutora de conteúdos militaristas ou tecnicistas, salvam-se algumas exceções de professores preocupados em mostrar aos seus alunos um novo modelo de educação física escolar.
Nessa perspectiva, a educação física escolar seria um componente curricular que se utiliza das atividades físicas institucionais para atingir os aspectos educacionais. Na realidade com raras exceções, parecem limitar-se, em ambos os sexos, ao ensino de práticas esportivas, como também do treinamento esportivo voltado para o esporte escolar ou comunidade, ou ainda, como “disciplinadora” do aluno, no sentido de uma boa conduta no recinto da escola. (KUNZ, 2004).
Tendo em vista a fase atual da educação física com influências e tendências pedagógicas fundamentais de alguns autores, sentimos a necessidade de proporcionar distintos métodos de intervenção nas aulas de educação física de turmas de Ensino Médio do Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães, Guanambi–BA (Município da região Sudoeste do Estado da Bahia, aproximadamente 800 Km da capital do Estado, Salvador), levando em consideração a bagagem sociocultural dos alunos, através de atividades inseridas em diferentes tendências pedagógicas e apresentar cada uma das abordagens que foram construídas pela educação física, pois. “quando conhecemos os pressupostos pedagógicos que estão por trás da atividade do ensino é possível melhorar a coerência entre o que pensamos está fazendo e o que realizamos”. (DARIDO, 2004 p. 05).
Em dias atuais, a educação física escolar deixou de ser um espaço de socialização, integração, desenvolvimento de domínios cognitivos, motores, afetivos de alunos, espaço este onde crianças, jovens e adolescentes perdem a oportunidade, de criar, recriar, avaliar, experimentar, tomar decisões e relacionar-se, para ser um espaço reservado a alunos que demonstram bom desempenho em determinado esporte para preparar equipes competitivas que representem a escola em diferentes locais (NISTA-PICCOLO, 1995). Práticas como esta são extremamente discriminatórias excludentes e fortalecem a idéia da disciplina educação física não seja respeitada como “... componente curricular obrigatório da educação básica, ajustando se às faixas etárias e às condições da população escolar...” (BRASIL, 1996). O tempo dedicado a educação física é insuficiente dentro do currículo, comparado a outras disciplinas, levando-se em conta tudo que ela pode atingir visando à formação de sujeitos críticos, participativos, autônomos, reflexivo, independente, dentre outras qualidades (NISTA-PICCOLO, 1995).
Tendo em vista que grande parte dos professores de educação física não aproveita dos efeitos benéficos que a prática coerente traz, não só para ele professor, mas principalmente para seus educandos, as aulas tornam-se pobres, onde conteúdos tão ricos e complexos reduzem-se a um conteúdo mal sistematizado que é geralmente o futebol, dificultando assim as possibilidades dos educandos tornarem-se cidadãos conhecedores da cultura corporal e usufruir efetivamente desta, para beneficiar-se das inúmeras possíveis vantagens advinda da prática. (IORIO e DARIDO, 2005).
Sabemos que jogos e brincadeiras estão presentes na vida dos seres humanos em todas as suas fases, esta vivência traz uma grande aprendizagem, pois é dotada de grande significado. Contudo, esta vivência, na escola é importante a presença de um mediador. Entendo mediador como professor, porém o professor precisa ser coerente entre a teoria fundamentando a sua prática. Entretanto, alguns alunos não têm a oportunidade de vivenciar e construir conhecimentos partindo de aulas de educação física com atividades lúdicas, prazerosas, críticas, emancipatórias.
Tomando como exemplo um grupo de alunos do ensino médio do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, Guanambi-BA, que não possuem a oportunidade de vivenciar, nas aulas de educação física, várias tendências e abordagens metodológicas deste componente curricular, verificamos a necessidade de dispor a estes grupos aulas de educação física escolar em suas diferentes tendências, como forma de avaliar quais das abordagens apresentadas – críticas, construtivista, jogos cooperativos e militarista – teriam a maior aceitabilidade por estes grupos de alunos apresentados.
O presente trabalho teve como objetivo, aplicar algumas das abordagens construídas ao longo do tempo pela educação física escolar, com o intuito de analisar, a adesão ou aceitabilidade dos alunos das primeiras séries do ensino médio do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, no município de Guanambi – BA, repensando sempre a educação física em todos os seus aspectos, objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação, procurando sempre enfocar o aluno como um ser humano integral, munido não só do corpo e da mente, mas um corpo em todas as suas dimensões, psicológicas, cognitivas, motoras, afetivas e principalmente sociais. (GRESPAN, 2002). Bem como, alguns objetivos específicos, aproximar-se das tendências metodológicas no atual quadro da educação física escolar no Brasil; proporcionar aos alunos reflexões com o propósito de compreensão da finalidade de formação educacional enquanto ser humano; aplicar as tendências metodológicas da educação física; encaminhar uma forma de organização de conteúdo de organização metodológica para o desenvolvimento da educação física escolar; analisar as principais influências e tendências e os seus desdobramentos no processo de construção dos conteúdos escolares; proporcionar momentos de integração, socialização, respeito às diferenças, momentos prazerosos através de atividades lúdicas.
Aspectos metodológicos
O papel do professor de educação física, em qualquer modalidade de ensino, é o de intermediar novos aprendizados, apresentando ao seu aluno o novo e o desconhecido, pois diante do desafio, o aluno tende a assimilar melhor o conhecimento, idealizando os recursos motores e mentais que possuem (SOLER, 2005). Porém, forçar este novo aprendizado não é deixar os alunos ao esquecimento, nós na função de professores – educadores – atuarmos como mediadores entre os conteúdos lecionados e os educandos sempre oferecendo espaços para e reflexão, pois é de extrema importância um elo entre o fazer, saber fazer e quando fazer.
Projeto este que nos orientou no intuito de divulgar e socializar informações junto dos educandos, aquisição dos conhecimentos historicamente produzidos, com trocas mútuas de experiências adquiridas durante o processo. Terá a participação de alunos do ensino médio do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, Guanambi-BA. Foram ministradas 10 (dez) horas-aulas por semana divididas em três dias. As aulas foram orientadas de acordo as abordagens ou tendências da educação física apresentado por Darido, 2001. Bem como, a abordagem militarista como nos mostra Ghiraldelli Jr., 2001.
As aulas foram apresentadas com textos para leitura e reflexão, vídeos com debates sobre o tema proposto e aulas práticas dentro da perspectiva de cada abordagem. Contudo, não podemos deixar transparecer a idéia que a educação física é apenas uma realização de uma atividade física sem significados educacionais e sociais relevantes, pois:
Não posso ser professor sem mal por diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para meu desempenho (FREIRE, 1996)
Então, entendemos que não podemos ser professores sem atuar com postura de educadores, não podemos ser professores e nos abster da função social da educação.
A educação física escolar, tal como a conhecemos hoje, tem suas razões na Europa de fins do século XVIII e início do século XIX. Surgindo no Brasil por volta do século XIX com o nome de ginástica, ligação com a classe militar e médica, sendo então, a educação física, filha legítima do militarismo e adotivas das medicinas higiênicas e eugênicas. Surgiu da necessidade de formar guerreiros, fortes e destemidos. (SOLER, 2003)
No final do século XIX só quem tinha acesso a educação física era a classe dominante e a partir do ano de 1920, temos uma invasão dos métodos ginásticos europeus como o sueco, o alemão e também o francês, os quais faziam parte de um movimento chamado “Movimento Ginástico Europeu”. A educação física era entendida como atividade exclusivamente prática, sem reflexão e crítica sobre sua atuação, afastando-a do currículo escolar (SOLER, 2003)
As aulas de educação física devem ser essencialmente práticas, e não exclusivamente práticas. No estado novo (1937-1945), a educação física fica em poder do governo que faz com que a educação física tenha em destaque o “adestramento”, homem disciplinado, dócil, forte e sadio.
Nos anos 70 e educação física da oportunidade a psicomotricidade passando a promover um envolvimento maior com as escolas. A psicomotricidade é o primeiro movimento mais articulado que surge a partir da década de 70 com idéias contrárias ao modelo esportivista da educação física. De acordo essa concepção, o envolvimento a educação física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos afetivos e psicomotores. Ou seja, esta tendência buscava garantir a formação integral do aluno (SOARES apud DARIDO, 2004).
Nos anos 80 começa a discutir uma educação física para todos. Ampliou-se de uma área biológica, percebendo agora as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas, enxerga o aluno como ser humano integral já não pode ser “cortado em fatias”, passando a trabalhar com esporte, jogo, dança, lutas, práticas, capoeira, enfim, todas as manifestações da cultural corporal do movimento.(BRACHT, 1999)
O corpo é alvo de estudos nos séculos XVIII e XIX, fundamentalmente das ciências biológicas. Assim a educação física por um lado foi direcionada para cumprir a função de colaborar na construção de corpos saudáveis e dóceis, ou melhor, com uma educação estética que permitisse uma adequada adaptação a processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista e por outro lado foi também legitimando pelo conhecimento médico-científico do como que referendava as possibilidades, as necessidades e as vantagens sobre o corpo.
A partir destas idéias buscamos, das mais antigas até as mais atuais tendências da educação física como a educação física Higienista, a educação física Militarista, educação física Pedagogicista, educação física Competitivista e educação física Popular. (GHIRALDELLI JUNIOR, 2001) até as mais atuais como Psicomotricidade, Desenvolvimentista, construtivista, saúde renovada, crítico superadora, crítico emancipatória, jogos cooperativos.
Desenvolvimento das atividades
Para por em pratica esse projeto escolhemos o Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães, município de Guanambi-BA, por ser uma escola que oferece aos seus alunos uma boa infra-estrutura em conjunto a um bom quadro de professores que a principio nos facilitaria na implantação da proposta de trabalho.
Iniciamos a nossa intervenção como aplicação de um questionário com o intuito de verificar qual o entendimento deles, alunos, a respeito da disciplina educação física na escola, bem como, o que eles esperavam das aulas de educação física e o que eles esperavam do trabalho, onde tivemos então a primeira surpresa, pois tivemos respostas bem variadas como, na pergunta “PARA VOCÊS O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA?” Encontramos respostas deste tipo “é uma matéria” (aluno do 1º ano A), “é a educação do físico que treina o corpo, a mente e a saúde do físico” (aluno do 1º ano A), “é jogar futsal” (aluno do 1º ano B), “é uma matéria onde podemos fazer o que queremos” (aluno do 1º ano B), “é um tipo de lazer educativo e saudável” (aluno do 1º ano C).
Na pergunta “O QUE VOCÊ ESPERA DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?” Encontramos resposta deste tipo: “muita disciplina e diversão” (aluno do 1º ano A), “jogar bastante futsal” (aluno do 1º ano A), “que seja compartilhada em tempo iguais entre meninos e meninas” (aluno do 1º ano A), “uma aula coletiva” (aluno do 1º ano A), “melhora o condicionamento físico” (aluno do 1º ano B), “desenvolver músculo e a mente dinâmica” (aluno do 1º ano B), “conhecer regras” (aluno do 1º ano B), “espero que todos os meus colegas participem das aulas” (aluno do 1º ano A), “espero que seja um espaço aberto não só para os praticantes de esportes e sim um espaço lúdico” (aluno do 1º ano C).
Quando perguntamos “O QUE VOCÊ GOSTARIA QUE FOSSE TRABALHADO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?” Encontramos respostas assim: “copa do mundo” (aluno do 1º ano A), “futsal” (aluno do 1º ano A), “alimentação para uma saúde melhor” (aluno do 1º ano A), “a gente já trabalhou quase tudo por isso não espero nada” (aluno do 1º ano A), “outros esportes, pois o futebol já caiu na rotina” (aluno do 1º ano A), “regras práticas de alongamento” (aluno do 1º ano B), “musculação, tênis, e Natação” (aluno do 1º ano B), “dominó, ludo, xadrez e dama” (aluno do 1º ano B), “bastante ludicidade se prendeu a um único esporte” (aluno do 1º ano C), “uma aula “zen”, que precise mais do raciocínio que do corpo trabalhar o corpo e mente” (aluno do 1º ano C).
E por fim perguntamos “O QUE VOCÊ ESPERA DE NÓS, ESTAGIÁRIOS?” Nos chamou atenção estas respostas: “ATENÇÃO” (aluno do 1º ano c), “uma boa amizade, e que de lugar para ter respeito” (aluno do 1º ano C), “paciência e compreensão principalmente com as meninas” (aluno do 1º ano B), “TUDO” (aluno do 1º ano B), “realiza as tarefas de acordo com as aulas” (aluno do 1º ano B), “que dê aulas” (aluno do 1º ano C), “que mude, que faça das nossas aulas semanais vire alo diferente, que tenhamos entusiasmo para assistir as aulas” (aluno do 1º ano C), “... espero que eles entendam os alunos que não entendem muito de futsal (e outras modalidades) como eu. Estagiários por favor “mim” compreende” (aluno do 1º ano A). E no mais nos desejaram sucesso, amizade, boa sorte que levássemos algo de novo para as aulas, demonstrando uma miscigenação de conhecimentos, interpretações e vontades.
Desenvolvemos estes questionários em todas as turmas trabalhadas não em nível de pesquisa, mas como baluarte para nos fundamentar em todo o período de trabalho, entretanto estas respostas destacadas foram as que chamaram mais atenção pelo conteúdo das respostas.
Ao desenvolver as atividades notávamos que de certa maneira a minoria participava das aulas e como após toda prática tinha o momento de reflexão, as respostas não nos convencia já que eles queriam algo novo e era o que estávamos lhes dando.
Isso de certo modo foi muito importante, no inicio achávamos que os culpados realmente éramos nós que apresentamos jogos e brincadeiras onde todos podiam participar ao mesmo tempo, mas talvez não tivéssemos acertado nas escolhas dessas atividades, ou o sistema, uma vez que a educação física continua sendo aplicada se maneira esportivista, excludente e ainda com separação de gêneros, contrapondo nossos objetivos.
Notávamos ainda a felicidade estampada no rosto daqueles que ainda se dispões a brincar e aqueles que observava mesmo da arquibancada entrava no clima ora gritando, ora incentivando, e até mesmo sorrindo. E aí ficávamos a refletir o que está acontecendo? A minoria participava, mas todos se divertem então por que todos não participam no dia seguinte?
Através de uma abordagem criativa, ampla e humana desenvolvemos nosso trabalho em educação física escolar. O sistema capitalista nos obriga a adaptar – se para buscar a sobrevivência. Assim, fica clara a necessidade de práticas de educativas no contexto do ser humano. Porém, estas práticas educativas não devem deixar de fora de seu conteúdo indivíduo algum e deve–se também respeitar cada gesto, gosto, atitude, sem deixar fugir o prazer, sentimento essencial para a prática ser classificada educativa.
Continuamos com nossa intervenção fundamentada em nosso projeto inicial, demonstrando o histórico da educação física e começamos pela tendência militarista, apresentamos aos alunos e explicamos todo o processo histórico desta tendência, desenvolvendo na prática uma aula de Ginástica Calistenica, como nós esperávamos a adesão dos alunos foi pouca, porém a reflexão desta prática foi muito enriquecedora para ambas as partes envolvidas no processo.
Posteriormente apresentamos atividades que desenvolve senso crítico à realidade social, bem como atividade que despertassem valores como, responsabilidade, confiança, entre outros, através de atividades lúdicas e prazerosas. Atividades como o futsal de olhos vendados, futsal misto, meninos e meninas, de mãos dadas. Esta proposta esta inserida na tendência Crítico Superadora, pois mostra a realidade social mostrando meios de transforma – lá. Após cada atividade, como de práxis, posteriormente tinha a reflexão e como se tratava de uma aula crítica não deixamos de lado o confronto com a realidade atual. Trabalhamos também a capoeira como manifestação cultural afro-brasileira precisa ser contemplada nas aulas de educação física escolar como um conteúdo que contribua para a formação dos alunos, pois: “A Capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipação dos negros no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a Capoeira expressa de forma explícita a “voz” do oprimido na sua relação com o opressor” (COLETIVO DE AUTORES, 1992: 57).
Continuamos o desenvolvimento das atividades com uma proposta de cooperação, compreensão de um espírito lúdico e cooperativo, apresentando atividades como o vôlei de lençol e o “basquetinho” que definem – se por um jogo de vôlei com a utilização de lençóis para a condução da bola e um jogo de basquete com a utilização de um colega como aro respectivamente. Estas atividades esta inserida na tendência Jogos Cooperativos pautados na valorização da cooperação em detrimento da competição.
Após, apresentamos aos grupos o que seria um modelo construtivista da educação física, apesar dos grupos serem de ensino médio e o modelo construtivista tem em sua essência, segundo autores, o desenvolvimento para crianças até 11 anos, adaptamos atividades para oferecermos ao grupo uma oportunidade de construção, reconstrução e transformação de regras, desenvolvendo as atividades do mini futsal de o handebol adaptado. Sendo desenvolvida da seguinte forma, a quadra dividida em dois momentos, meia quadra futsal adaptado (golzinho) meio quadra handebol adaptado, proporcionando aos grupos chances de transformar as atividades propostas em relação à opinião em comum do grupo.
Concluímos nossa intervenção com a aplicação da pesquisa, questionários, em todas as turmas trabalhadas com o intuito de avaliar a aceitação das tendências da educação física escolar apresentada no período de estágio. O questionário foi de questões simples e objetivas, com a seguinte pergunta “DAS AULAS MINISTRADAS QUAL A QUE VOCÊ, ALUNO, MAIS GOSTOU DE TRABALHAR?”, no entanto as outras perguntas serviram para os alunos avaliarem nosso trabalho neste período, não estando ligada diretamente à pesquisa. Encontramos respostas variadas, porém nos surpreendemos com algumas.
Responderam o questionário 95 alunos de todas as turmas trabalhadas totalizando, aproximadamente, 63% de todo o grupo, pois trabalhamos com 5 turmas de 30 alunos cada. No item “Outras Respostas” encontramos resposta como, “aulas teóricas”, ou “aulas práticas”, preferimos não computar estas respostas em nenhuma das tendências, pois entendemos que estas não são exclusivamente práticas ou teóricas nos seus conteúdos.
Analisando os dados obtidos verificamos que a tendência Crítico Superadora teve a maior aceitação totalizando 38,94% dos alunos entrevistados e, como prevíamos, a tendência militarista teve o menor índice de aceitação com 6,3% os alunos entrevistados, ainda tivemos a tendência Construtivista com 14,7%, Jogos cooperativos com 12,63%, Todas 14,7%, Nenhuma 1,05%, Outras respostas 11,57%.
Como formato efetivo de aplicação do conceito de uma educação física comprometida com a formação de sujeitos críticos temos consciência de que ao defendermos a possibilidade de inclusão do aluno com deficiência na educação física escolar deve-se avançar às perspectivas mais progressistas de ensino como a perspectiva crítico-superadora.
Sendo a perspectiva crítico-superadora a corrente da educação física que se compromete com a formação de sujeitos históricos visando uma transformação social comprometida com os interesses e necessidades da classe-que-vive-do-trabalho, adota-se tal perspectiva para, a partir da reflexão crítica sobre a cultura corporal, contribuir para a transformação do modelo político-econômico vigente (PINA, 2007 p 03)
Quando falamos da perspectiva crítico-superadora estamos nos baseando no que aponta a obra, Coletivo de Autores (1992), sendo amplamente discutida e sistematizada no processo de redemocratização do país, defendendo, a partir dos interesses da classe trabalhadora, outra concepção para a Educação Física: o seu reconhecimento nas ciências humanas, na área da educação, em contraposição, a perspectiva hegemônica que dominava a prática pedagógica da educação física na área das ciências médicas. Essa perspectiva é crítica parte do real, considerando a totalidade e tendo a história como matriz científica. É superadora, pois tem no seu horizonte histórico a superação da sociedade capitalista para construção de uma sociedade pautada nas necessidades humanas, ou seja, uma sociedade socialista (PARAÍSO, 2007).
A perspectiva crítico-superadora se propõe a constatar a realidade, interpretar, compreender, explicar e intervir novamente no real, ou seja, ela parte do real e retorna a ele. Defende o homem como sujeito histórico e, portanto, responsável por intervir na realidade para transformá-la. Em busca de uma sociedade socialmente referenciada, em busca da emancipação humana. Compreende a Educação Física como uma prática pedagógica, uma disciplina escolar com conteúdos próprios, e de relevância científica e social para a formação dos sujeitos.
Então a opção pela teoria metodológica crítico-superadora se dá por compreendermos que esta concepção/proposição de educação se constitui como uma teoria pedagógica, entendida aqui como os princípios que orientam a prática pedagógica enquanto práxis, que toma como ponto de partida uma determinada lógica e teoria do conhecimento, o materialismo histórico dialético, desenvolvida por Karl Marx e Friederich Engels.
A atual Educação Física em união com a comunidade, sob os fundamentos de um projeto histórico socialista, deve se opor à falta de infra-estrutura das escolas públicas e à exclusão escolar das pessoas com deficiência, por ser um problema que tem causado prejuízos à população, devido à impossibilidade de apropriação dos bens produzidos pela humanidade. Esse problema da exclusão é provocado pelo descaso das instâncias governamentais com as crianças, os adolescentes e as famílias da classe popular que se desestruturam gradativamente em razão da situação de pobreza e miséria cada dia mais gritante na sociedade dividida em classes antagônicas.
É preciso analisar que o sistema, no qual a Educação Física está inserida, não oferece as condições reais de acesso ao ambiente escolar. Pois normalmente ela reflete os interesses da produção e do acúmulo de capital. Nesse contexto o professor de Educação Física, assim como qualquer outro membro da classe trabalhadora, não deve ser visto como o único responsável pela apropriação ativa e consciente do conhecimento pelos alunos, haja vista que ele também é privado das condições reais de acesso às aulas de Educação Física da escola pública no sistema vigente (CRUZ e BARBOSA NETO, 2009).
Nesse sentido, os professores, os alunos, a comunidade escolar em geral, assim como a sociedade, deve esta ciente dos problemas sócio-históricos, pois enquanto as políticas públicas não forem legitimadas e não proporcionarem às pessoas condições reais de acesso à escola, à Educação Física e aos demais bens culturais, esse quadro tenderá a se prolongar por muito tempo e causar danos maiores.
Para que realmente ocorra, nas aulas de Educação Física Escolar, o que foi dito nos parágrafos anteriores, é preciso o professor apresentar uma prática pedagógica condizente com o objetivo a ser alcançado. Assim, todo educador deve ter definido seu projeto pedagógico que irá utilizar durante as aulas, que deve estar ligado aos seus propósitos e concepções sobre sociedade, homem, valores, ética, moral. Esse projeto pedagógico deve estar relacionado com um projeto maior, que é o projeto político-pedagógico da escola, que leva em consideração o meio social no qual está inserido a escola e o aluno, para que dessa formas o que for apresentado na escola tenha significado e sentido para quem aprende, tornando-o participante ativo do processo de transformação social.
Então, para que essa prática pedagógica aconteça é preciso que os professores relacionem a metodologia de ensino, a ser aplicado, com a natureza, com o meio social e com o próprio indivíduo, tendo que para isto traçar metas e ter claro qual a sua real contribuição para formação do sujeito. E é esta metodologia que fará da prática pedagógica do professor uma reprodução ou uma transformação do atual modelo social vigente, nas aulas de Educação Física Escolar.
Considerações finais
Os objetivos e as propostas educacionais da educação física foram se modificando ao longo dos últimos anos e todas estas tendências ainda hoje influenciam, de algum modo, a formação do profissional e a prática pedagógica do professor. Na educação física, como em qualquer outro componente curricular, não existe uma única maneira de pensar e praticar a disciplina na escola.
Segundo Darido (2001), atualmente entende-se a educação física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal, formando o sujeito que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, os esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Trata-se de localizar em cada uma destas práticas corporais produzidas pela cultura os benefícios humanos e suas possibilidades na organização da disciplina no contexto escolar.
A formação omnilateral do ser humano exige superar a forma unilateral, fragmentada e alienada com a qual a escola trata o conhecimento. Ao nos referirmos à formação omnilateral utilizamos a referência de Manacorda (1991, p.81), onde desenvolvimento da formação humana omnilateral deve ser entendida como “o chegar histórico do homem a uma totalidade de capacidades e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de capacidades de consumo e gozo, em que se deve considerar, sobretudo o usufruir dos bens espirituais (plano cultural e intelectual), além dos materiais.”
A formação humana, bem como a formação profissional, se encontra fragmentada no atual contexto social, de forma que não permite de imediato que compreendamos a sua indissociabilidade. Tal compreensão exige que esforços para apreender a atividade humana em toda a sua complexidade, enquanto práxis social, resultante da interação do homem com a natureza e com os outros ser humanos. A práxis social transformadora só poderá ser compreendida e efetivada numa perspectiva libertadora, crítica e criativa (FALCÃO, 2004).
O processo de aplicação da educação física atualmente, predominante na realidade escolar, está estruturado para a competência puramente técnica, apolítica, a-histórica e a-crítica, de modo a satisfazer as necessidades do mercado e das empresas, que relacionam a formação à manutenção dos lucros, conferindo uma formação fragmentada, pulverizada, desconhecendo as capacidades técnica, instrumental, filosóficas, ética e moral.
Portanto ao analisar os dados obtidos, percebemos o grande valor de inserirmos no âmbito escolar atividades sistematizadas, planejadas e de objetivos relevantes, onde os alunos possam ampliar seus referenciais do mundo, sendo capaz de trabalhar com a cultura corporal e cultura corporal do movimento, a fim de se conhecer através da experiência do corpo, pois a educação física escolar não deve ser privilégio daqueles que se dizem dotados de vivencias e técnicas esportivas, ela deve ser ministrada na educação formal, com uma disciplina de valor, de peso formativo, com função educativa. É preciso repensar o processo educacional, com um todo, é preciso preparara a pessoa para refletir sobre a realidade social dede pequenino e não para o mero acúmulo de informações, assim, algo deve ser feito para educar nossos alunos ampliando suas condutas desde o gesto, a fala, a participação ativa, com o objetivo de transformar a conjuntura atual da sociedade onde está inserido.
Referências
BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Caderno Cedes ano XIX, Nº 48, Capinas – SP, Agosto 1999.
BRASIL. Ministério da Educação e do desporto, lei Nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabeleceu as diretrizes curriculares e bases da educação nacional.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
CRUZ, Marlon Messias Santana Cruz. BARBOSA NETO, João Narciso. Educação física para pessoas com deficiência: concepções e críticas. In: Lecturas EF y Deportes: revista digital. Buenos Aires. Ano 14. Nº 128, 2009. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd128/educacao-fisica-para-pessoas-com-deficiencia-concepcoes-e-criticas.htm acesso em 02/09/2009.
DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. Revista Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói: RJ. V. 2, n. 1 (suplemento), 2001
___________. Ensinar/aprender educação física na escola: influências, tendências e possibilidades. In: PEDADOGIA CIDADÃ: caderno de formação: Educação Física/Suraya Cristina Darido e Edson Moraes Maitino, Organizadores, P. 5-22. São Paulo: UNESP, Pró Reitoria de Graduação, 2004.
FALCÃO. José Luiz Cerqueira. O Jogo da capoeira em Jogo e a construção da práxis capoeirana. Tese de doutorado. Faculdade de Educação. UFBA - Salvador, 2004
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessário à pratica educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996 (Coleção Leitura).
GHIRALDELLI Jr. Paulo. Educação Física progressista: a pedagogia crítico – social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Loyola, 2001.
GRESPAN, Márcia Regina. Educação Física no ensino fundamental: primeiro ciclo. Campinas, SP: Papirus, 2002.
IÓRIO, Laércio Schwantes. DARIDO, Suraya Cristina. Capoeira. In Eucação Física na Escola: implicações a prática pedagógica/ Coordenação Suraya Cristina Darido, Irene Conceição Andrade Rangel – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
KUNZ, Elenor. Educação física: ensino & mudanças. 3. Ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. 208 p. (Coleção Educação Física)
MANCORDA, M. A. Marx e Pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1981
NISTA – PÍCCOLO, Vilma L. Educação Física Escolar: ser... ou não ter? Vilma L. Nista Piccolo, org. 3. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1995.
PARAÍSO, Cristina. Possibilidade de organização do trabalho pedagógico na educação física escolar. In: ANAIS III EBEM Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo: a educação para além do capital. Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA. 2007. ISBN 978-85-7395-161-5.
PINA, Leonardo Docena. Educação física para além da lógica do capital: o esporte na perspectiva crítica da cultura corporal. In: Anais III EBEM Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo: a educação para além do capital. Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA. 2007. ISBN 978-85-7395-161-5.
SOLER, Reinaldo. Educação física inclusiva: em busca de uma escola plural. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
______. Educação física escolar. Rio de Janeiro, Sprint, 2003.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires,
Abril de 2010 |