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Desempenho competitivo em natação. 

Um estudo a partir de resultados e dados etários

Rendimiento competitivo en natación. Un estudio a partir de resultados y datos etarios

 

Núcleo de Estudos do Movimento Humano

Departamento de Educação Física

Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Lavras, MG

(Brasil)

Tiago Arrais Biihrer

Guilherme Silva Umemura

Américo Perangeli

Marcelo de Castro Teixeira

Sandro Fernandes da Silva

Alessandro Teodoro Bruzi

sandrofs@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Poucas são as produções quando se trata de observar o currículo competitivo de jovens atletas em nível regional, estadual e nacional. Logo, para um estudo dessas condições, na modalidade de natação, o artigo traz dados demográficos e resultados de atletas incluídos neste quadro de atuação. Para efetuar a pesquisa foram usados dados de 10 atletas sendo cinco de cada gênero. Um levantamento geral sobre a freqüência de resultados, de cada atleta, foi realizado a partir de classes de desempenho. Também foi observada a média das idades de iniciação, tempo médio até que ocorresse o abandono da vida competitiva, os tempos médios que os atletas levaram para atingir o auge de seus resultados e por quanto tempo permaneceram os obtendo. Os resultados indicam que, para o grupo feminino, a média da idade de início em competições é 13,4 anos, enquanto que para o masculino é de 13,8. Os homens competiram em média cinco anos e as mulheres quatro. Em competições regionais, homens e mulheres tiveram desempenho, na maioria das vezes entre os 3 primeiros colocados, já em competições estaduais os homens obtiveram desempenho mais freqüente entre os 8 primeiros colocados, enquanto que as mulheres, abaixo dos 8 classificados. Observou-se também que o tempo médio para os atletas atingirem seus melhores resultados após o inicio de suas vidas competitivas é de 0,7 anos e o tempo médio em que se mantêm atingindo seus melhores resultados é de 2,2 anos. A partir desses resultados, concluiu-se que há uma tendência dos homens competirem por mais tempo além de manterem um desempenho competitivo melhor em competições estaduais. Também se observou a rapidez com que esses atletas chegaram ao pico de desempenho, o que leva a crer que, nesse caso, os atletas começaram a competir após certo tempo de prática. Além disso, um resultado interessante, é que a idade em que os atletas abandonam a vida competitiva se aproxima da idade que os adolescentes encerram o ensino médio.

          Unitermos: Desempenho competitivo. Natação. Resultados

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010

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Introdução

    O esporte tem cada vez mais assumido um importante papel no que se refere à formação integral de crianças e adolescentes (SILVA; FERNANDES; CELANI, 2001). A natação, como um dos esportes, atrai para a sua prática, em nosso país, muitos indivíduos, de ambos os gêneros, e por diversos motivos. Conforme Andrade, Salgueiro e Marquez (2006) os principais fatores que atraem recém-nascidos, crianças, adolescentes, adultos e idosos para a prática da natação se relacionam com a necessidade de desenvolver novas habilidades motoras, melhorar a saúde, necessidade de socialização e a cooperação entre iguais. Não somente direcionado a objetivos relacionados à formação integral do ser humano, este esporte vem apresentando cada vez mais incentivos a disputa entre clubes e academias, o que mantêm assim uma alta freqüência competitiva. Logo, ao nos remetermos a competições esportivas, não há como pensar em esporte sem pensar em rendimento e / ou rendimento máximo tendo como pressuposto que “não faz sentido 'fazer desporto' sem tentar ganhar (a si, aos outros)” Vilas-Boas (2006). Devido a este aspecto competitivo forte desta modalidade que abrange uma expressiva amplitude etária, um fenômeno fidedigno a ser investigado é especialmente a competição e a especialização precoce. A iniciação esportiva pode ser definida como o período em que a criança começa a aprender de forma planejada e especifica aspectos gerais e específicos acerca de uma ou mais modalidades esportivas (RAMOS; NEVES, 2008). Santana (2005) diz que a iniciação esportiva deve atender às necessidades motoras e humanas da criança, tendo como objetivo a prática esportiva que dê continuidade a seu desenvolvimento de forma integral e não implicando em competições regulares. Isto quer dizer que devemos levar em consideração variáveis competitivas expressivas como, por exemplo, as idades de inicio da participação em eventos, que nem sempre vão ao encontro do recomendado Böhme (2000). O desrespeito por essas variáveis leva ao que denominamos de especialização esportiva precoce, que, segundo Kunz (1994), é um processo que ocorre quando crianças são submetidas antes da puberdade a um treinamento físico específico, planejado e organizado em longo prazo. Isto pode estar associado à má formação e atuação de professores / treinadores / instrutores fazem com que a iniciação esportiva seja confundida com a especialização precoce, que tem conseqüências como o prévio abandono da prática esportiva.

Objetivo

    A partir desta preocupação esse estudo tem como foco central investigar o tempo de prática e se o desempenho durante os anos competitivos pôde influenciar na continuidade da vida esportiva. Além disso, o estudo leva em consideração outras variáveis expressivas no âmbito competitivo da natação como o tempo de competição e aspectos etários dos atletas da modalidade.

Metodologia

    Amostra: Foram selecionados, aleatoriamente, 10 ex-atletas, dos quais cinco de cada gênero, ex-competidores filiados à Federação Aquática Mineira (FAM) pelo Lavras Tênis Clube (LTC), do município de Lavras, estado de Minas Gerais, Brasil.

    Método: Foi adotada uma estratégia de análise da história competitiva dos ex-atletas avaliados por meio de avaliação dos arquivos de resultados e fichas de registros junto à FAM. Para esta análise histórica das competições, foram adotadas as seguintes medidas:

  1. Tempo do período competitivo;

  2. Média da idade de início nas competições oficiais;

  3. Tempo que o atleta levou de sua primeira competição até o seu melhor resultado;

  4. Tempo que seguiu adquirindo este melhor resultado;

  5. Desempenho dos atletas em competições regionais, estaduais e nacionais.

    O desempenho dos atletas foi definido por meio de três classificações denominadas “D”, especificadas na tabela abaixo.

Tabela 1. Classificação do desempenho

Categoria de desempenho "D"

Abrangência da categoria

D1

Medalhistas

D2

Oito primeiros lugares

D3

Demais posições

    Estatística: A partir da medida descritiva “Moda”, verificou-se a predominância de desempenho em competições regionais, estaduais e nacionais de cada um desses ex-atletas. Para o desempenho “D” para cada nível de competição, regional e estadual, foi adotado o procedimento estatístico “média”, seguindo o critério: se um atleta adquiriu a terceira colocação quatro vezes num campeonato regional e duas vezes classificou-se abaixo das três primeiras colocações a ele é atribuído o desempenho D1 regional.

Resultados

    Posteriormente, analisaram-se simultaneamente os desempenhos em cada nível de competição de todos os ex-atletas e aplicou-se a mesma medida descritiva para extrair um grau de desempenho que representasse todos os ex-atletas nos diferentes gêneros. Por exemplo, em competições regionais, quatro das cinco atletas femininas atingiram D1, logo para mulheres o desempenho em competições regionais foi classificado D1 devido à freqüência.

    No gráfico 1 comparamos a idade em que os atletas começaram a participar de competições e analisamos também a idade em que eles abandonaram as competições. Verificamos que em media os atletas iniciaram a competir aos 13 anos e abandonaram a pratica esportiva aos 18 anos.

Gráfico 1. Comparação das idades em competição

    Como na tabela abaixo, em competições regionais, homens e mulheres tiveram desempenho D1, já em competições estaduais os homens obtiveram desempenho D2, enquanto que as mulheres apresentaram desempenho D3.

Tabela 2. Freqüência de rendimento dos atletas

  

Classificação por freqüência dos atletas

  

Competições Regionais

Competições Estaduais

Masculino

D1

D2

Feminino

D1

D3

    No gráfico 2 mostramos que o tempo médio para os atletas atingirem seus melhores resultados após o inicio de suas vidas competitivas são de 12,8 meses anos e o tempo médio em que se mantêm atingindo seus melhores resultados são de 26,4 meses. No gráfico 3 observamos o numero de competições em que os sujeitos conseguiram manter um melhor resultado, foi possível visualizar que 50% da amostra conseguiu manter os melhores resultados da carreira esportiva por no máximo 5 competições.

Gráfico 2. Tempo na performance

 

Gráfico 3. Distribuição do numero de competições no pico da performance

Discussao

    Um dos principais achados em nosso estudo foi que uma grande aproximação nos dados quando comparados em relação aos gêneros, porém há uma tendência dos homens competirem por mais tempo e de manterem um desempenho competitivo melhor em competições estaduais, além de iniciarem a competir um pouco mais tarde. Esse maior tempo de competição dos homens pode estar relacionado à maturação fisiológica do homem ser tardia em relação ä mulher, fazendo com que o gênero masculino alcançasse seu melhor nível competitivo numa idade superior à do grupo feminino (TOURINHO; TOURINHO FILHO, 1998). Considerando a idade de início em competições e período competitivo em cada um dos grupos é possível perceber que a idade de encerramento da vida competitiva coincide aproximadamente com o fim do ensino médio da educação básica. Neste período que no país exige tempo e dedicação aos estudos para o ingresso em boas universidades por meio do vestibular, fator de ansiedade extrema e cobranças extensivas (D’ÁVILA; SOARES, 2003), além de exaurir psicologicamente os atletas. A competição é um fator gerador de estresse independente do nível, sobretudo estresse causado por fatores individuais, relacionados à exigência de treinadores e familiares além de regimes longos de treinamento segundo o estudo de Rose Júnior (2002), as competições forçam os atletas a fazerem escolhas e abandonar o nível competitivo do esporte, coincidindo com os resultados encontrados no presente estudo. Uma das limitações de nossa investigação foi o fato de não levarmos em consideração outros fatores de abandono no esporte, como aponta o estudo de Dias e Teixeira (2007) que identificou mais variáveis que são levadas em consideração quando se fala em abandono esportivo, como “número de horas treinadas por semana, metas não alcançadas, preocupação menor com os resultados, cobranças por parte de pais e treinadores, as quais os atletas não sabem se conseguirão atingir”. Além disso, percebe-se uma diferença de aproximadamente cinco anos entre a idade de início em competições neste estudo quando comparada aos dados do estudo de Silva, Fernandes e Celani (2001), no qual a média de idade para iniciação em esportes individuais é de nove anos. Observa-se também a rapidez com que esses atletas chegaram ao pico, o que leva a crer que nesse clube os atletas começam a competir após algum tempo de prática uma vez que isso incentiva o aluno privando-o de frustrações excessivas no inicio da carreira. Essa rápida aquisição de forma física e resultados é um indicio de trabalho de especialização precoce, o que afeta a formação escolar e leva a criança a unilateralizaçao dos movimentos (KUNZ, 1994). Segundo Santana (2005), os jovens que apresentam um início de prática esportiva com grande formação competitiva, apresentam riscos evidentes de um abandono precoce do esporte como o estresse de competição, a saturação desportiva e o risco maior de lesões, principalmente pela exposição a cargas excessivas sem o corpo estar preparado para absorvê-la.

    Como apresentado, são muitos os fatores que afetam o abandono esportivo. Em nosso estudo ficamos focado no rendimento esportivo sendo como o fator primordial para que ocorra esse fenômeno, mas observamos que muitos outros fatores podem influenciar na saída do esporte, entre eles o estudo; a influência dos pais e a saturação esportiva e especialização precoce, que são variáveis fundamentais ao estudar esse fenômeno.

Considerações finais

    Este estudo fornece dados específicos de competições em atletas de faixas etárias que vão de 10 a 21 anos. Dessa forma, sugere-se que estudos com diferentes faixas etárias forneceríam dados a serem comparados em relação à idade de abandono das competições e os tempos relacionados ao auge da vida competitiva. Além de identificar os fatores que indicam se houve especialização precoce, e como essa especialização interfere no abandono esportivo.

Referências

  • ANDRADE, A.; SALGUEIRO, A.; MARQUEZ, S. Motivos para a participação esportiva em nadadores brasileiros. Fitnes & Perfomance Journal, v. 5, n. 6, p. 363-369, 2006.

  • BÖHME, M.T.S. Programas de iniciação e especialização esportiva na grande São Paulo. Revista Paulista de Educação Física, v. 15, n. 2, p. 184-195, 2000.

  • D’AVILA, G. T; SOARES, D.H.P. Vestibular: fatores geradores de ansiedade na cena da prova. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v.4, n.1/2, p. 105-116, 2003.

  • ROSE JÚNIOR, D. Competição como fonte de estresse no esporte. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 10, n. 4, p. 19-26, 2002.

  • DIAS, M.H.; TEIXEIRA, M.A.P. Estudo exploratório sobre o abandono do esporte por jovens tenistas. Revista Brasileira de Psicologia e Esporte, v. 1, n. 1, 2007.

  • KISS, M.A.P.D.M.; BÖHME, M.T.S.; MANSOLDO, A.C.; DEGAKI, E.; REGAZZINI, M. Desempenho e Talento Esportivos. Revista Paulista de Educação Física, v. 18, p. 89-100, 2004.

  • KUNZ, E.. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.

  • RAMOS, A.M., NEVES, R.L.R. A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade – notas introdutórias. Pensar a Pratica, v. 11, n. 1, p. 1-8, 2008.

  • SANTANA, W.C. Uma proposta pedagógica para o futsal na infância. Disponível em: http://www.pedagogiadofutsal. com.br/texto_029.htm. Acesso em: 20 Dez. 2009.

  • SILVA, F.M. ; FERNANDES, L. ; CELANI, F.O. Desporto de crianças e jovens: um estudo sobre as idades de iniciação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 1, n. 2, p. 45-55, 2001.

  • TOURINHO, L.S.P.R.; TOURINHO FILHO, H. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação Física, v. 12, n. 1, p. 71-84, 1998.

  • VILAS-BOAS, J.P. Perspectivas do desporto de alto rendimento: de um caso particular - a natação - para um ensaio de generalização. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 20, n. 5, p. 173-175, 2006.

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