Motivos de adesão à prática de atividades físicas em academias femininas Motivos de adhesión a la práctica de actividades físicas en gimnasios que concurren exclusivamente mujeres |
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* Autora. Licenciada em Educação Física (FAGOC) Graduanda em Bacharelado em Educação Física (FAGOC) Professora da Academia Performance, em Ubá –MG** Orientadora, Mestre em Didática da Educação Física (UFRJ) Professora da Faculdade Governador Ozanan Coelho (FAGOC) (Brasil) |
Anizielle Aparecida de Lima* Roseny Maria Maffia** |
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Resumo Foi abordada, neste estudo, a prática de atividade física por mulheres em uma academia feminina; objetivando verificar os motivos que levaram mulheres à escolha de uma academia exclusivamente feminina, em detrimento da mista. A academia selecionada para esse estudo é a única da cidade que tem como característica atender somente o público feminino. A amostra da pesquisa foram cinqüenta mulheres com idade entre 15 a 46 anos que representa todas as participantes de atividade física em uma academia exclusivamente feminina, localizada na cidade de Ubá - MG. Utilizou-se como instrumento um questionário semi-estruturado. Constatou-se que a preferência delas por uma academia exclusivamente feminina está primeiramente relacionada à: poder usar roupas mais a vontade; não ter a presença de homens; e o tratamento ser diferenciado para mulheres. Outros motivos, também percebidos e importantes, foram: o fato de ter mulheres como profissionais; e a higiene. Verificou-se também que a procura por uma atividade física está relacionada à estética e à auto-estima, sendo que, com o avançar da idade, há uma variação desses motivos, ficando clara uma maior preocupação com a saúde e o sedentarismo. Unitermos: Academia feminina. Academia de ginástica
Abstract It was addressed in this study, physical activity by women in a female academy, aiming to verify the reasons for women choosing a gym exclusively female, to the detriment of the enterprise. The academy selected for this study is the only city that features only serve the female audience. The study sample were fifty women aged 15 to 46 years that represents all participants of physical activity in an exclusively female academy, located in the creek - MG. Used as a tool semi-structured questionnaire. It was found that their preference for a female only gym is primarily related to: being able to wear more comfortable, not the presence of men, and the treatment is different for women. Other reasons, also noticed and important, were the fact that women as professionals, and hygiene. There was also demand for a physical activity is related to aesthetics and self-esteem, and, with advancing age, a range of reasons and they showed more concern for the health and lifestyle. Keywords: Female academy. Gym academy |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
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Introdução
O sedentarismo, caracterizado pela ausência de atividade física, é considerado a doença do século e está associado ao comportamento cotidiano, decorrente dos confortos da vida moderna e como enfatizam Pitanga e Lessa (2005), a diminuição das oportunidades de praticar atividades físicas é resultado do processo de industrialização. Afirmam, ainda, que diversos autores têm demonstrado associação entre sedentarismo e agravos cardiovasculares, câncer, diabetes e saúde mental, estando também ligado à hipertensão arterial e diabetes, além de ser mais prevalente em mulheres, idosos e pessoas de baixa escolaridade.
Conforme destacado por Colaboradores da Wikipédia (2009) o sedentarismo também pode provocar um processo de regressão funcional, perda de flexibilidade articular, além de ser a principal causa do aumento da ocorrência de várias doenças como a hipertensão arterial, diabetes, obesidade, aumento do colesterol e infarto do miocárdio, além de atuar direta ou indiretamente na causa da morte súbita.
A causa do sedentarismo vem do avanço tecnológico mundial e da concentração da população nas grandes cidades, ocasionando falta de tempo e excesso de trabalho. Como conseqüência disso, a procura por serviços de uma academia torna-se necessária, com o objetivo de solucionar tal problema, ou minimizá-lo (PEREIRA, s.d.).
Além disso, conforme enfatizou Guarnieri JC. (1997, citado por Tahara et al., 2003), a preocupação cada vez maior da população com a melhoria da qualidade de vida e a conscientização a respeito da importância do exercício físico, também proporcionaram um grande aumento de público nas academias de ginástica.
Portanto, as pessoas procuram, cada vez mais, locais para a prática de atividade física orientada por profissionais da área. Percebe-se, com isto, que o número de academias também tem aumentado em nosso país. Da Costa et al. (1996, citado por Fernandes et al. s.d.) afirmam que as academias de ginástica surgiram na década de 30 e, por volta de 1970, ganharam uma dimensão e desempenharam um grande papel social com o crescimento do movimento fitness, em todo o mundo. No final dos anos 70 e início dos 80, houve uma grande explosão do número de academias de ginástica por todo o país. Essa rápida expansão fez com que outras atividades alternativas surgissem, além da ginástica, musculação, dança e lutas.
Percebe-se, nos dias atuais, a busca por uma atividade física que, além de atingir os objetivos dos praticantes, também lhes dê prazer, vem sendo uma opção na vida das pessoas.
Aspecto importante é o que relata Cunha (1999, citado por Marcellino (2003) ao destacar que variam muito os motivos que levam as pessoas a freqüentarem academias. Entre eles, estão a busca da melhoria da condição física e da saúde. Relaciona ainda, a busca do relaxamento, descarga de energia e higiene mental e coloca também que algumas pessoas procuram as atividades por recomendação médica.
Reforçando e complementando essa idéia, Castro et al. (2009, p.95) afirmam que os itens relacionados à saúde e ao condicionamento físico foram os mais indicados na maioria das variáveis analisadas em seu estudo. Porém, eles destacam
a possibilidade de que os sujeitos da pesquisa tenham se valido de uma “resposta politicamente correta”, já que a proteção da saúde constitui-se em uma espécie de marca discursiva recorrente entre os especialistas da área da saúde e nos meios de comunicação de massa. Portanto, trata-se de um motivo bastante disseminado na sociedade.
Os referidos autores acrescentam que os motivos relacionados à estética e ao prazer também aparecem entre os mais indicados, porém, com menos força que os anteriormente citados.
Como decorrência dessas necessidades, Marcellino (2003) afirma que as academias vêm ocupando cada vez mais espaço no contexto social, como organizações especializadas, prestadoras de serviços relacionadas com as atividades motoras, ou físico-esportivas, ou do movimento, de acordo com a nomenclatura utilizada. Complementando, Coelho Filho (2000), também citado pelo autor, distingue duas realidades de academias de ginástica: as menores, onde as relações são mais pessoais, e as maiores, mais impessoais nas relações. Aponta também, o privilégio dado para os profissionais do sexo masculino em grandes academias e o equilíbrio entre os dois sexos nas pequenas.
Fato interessante a ser considerado é o surgimento de academias com estilos diferenciados, direcionadas a grupos específicos. Um exemplo disso são as academias com acesso exclusivo para mulheres, contrapondo-se ao padrão de academia mista, freqüentada por todos os grupos de pessoas.
A esse respeito, Neiva et al, (s.d) apontam para o fato de que, apesar de homens e mulheres estarem cada vez mais próximos da igualdade, no que se refere ao acesso a lugares públicos e privados, ainda é necessário criar estratégias para facilitar o acesso para as mulheres. Algumas das estratégias se constituem pela delimitação de espaços privados, com acesso exclusivo de mulheres. Os autores destacam como exemplo, as academias de ginásticas exclusivamente femininas, onde se aceitam apenas mulheres como proprietárias, funcionárias e alunas. Enfatizam também que o número de academias ditas “femininas” vem crescendo rapidamente, o que em décadas passadas era incomum.
Além disso, a mulher pode ser considerada como a maioria dos freqüentadores das aulas de ginástica nas academias. Fernandes (2005) mostra isto em seu estudo, apontando o fato de ter optado pela pesquisa com as mulheres, pois na academia selecionada por ele, 60 a 70% dos participantes de ginástica, entre 25 e 35 anos, eram mulheres.
Porém, de acordo com Robertson e Mutrie (1989, citados por Balbinotti e Capozzoli, 2008), para participar de um programa de atividade física regular, mulheres adultas, ainda encontram um grande número de barreiras a vencer, por exemplo, na família e no trabalho.
Complementando, um estudo realizado por Caparroz (2008), com indivíduos adultos de ambos os sexos, em academias da cidade de Jales, SP, mostrou que a prática regular de atividade física resultou em uma alteração positiva em relação às emoções, proporcionando maior disposição, prazer, melhora do humor, diminuição da tensão, além de relaxamento aos participantes. Desse modo, esses podem ser estes alguns dos motivos que levam as mulheres à prática regular de atividade física, pois com sua entrada no mercado de trabalho, elas acabam tendo dupla jornada, conciliando os serviços domésticos e o seu próprio emprego, o que pode acarretar altos níveis de estresse e baixa auto-estima.
Por outro lado, estudo de Salles-Costa et al. (2003, citados por Neiva et al., s.d.) sobre a prática de atividade física de lazer, na perspectiva de gênero, mostrou que a inatividade é maior entre as mulheres. As causas para isto seriam as múltiplas jornadas de trabalho limitando o tempo para o lazer. Apontando uma contradição, as autoras colocam o fato de as mulheres terem uma percepção mais sensível do corpo do que os homens, o que naturalmente as faria procurar pela atividade física, com o objetivo de se conseguir através dela um corpo delineado e o controle do peso.
Porém, o que chama a atenção é a necessidade, que algumas mulheres têm, de procurar um ambiente “especificamente feminino” para a prática de atividades físicas, considerando que as academias mistas, assim como as modalidades por elas oferecidas, são acessíveis a todos. Acrescenta-se a isto, o fato de que hoje já não se justifica mais separar homens e mulheres com base nas diferenças biológicas entre eles, reforçadas pela função dos papéis sociais que cada um deveria desempenhar. No entanto, nesses espaços específicos, só entram mulheres.
Com base nisso, questiona-se o que leva essas mulheres a escolher uma “academia feminina”? Quais seriam seus interesses e necessidades?
Assim, esse estudo teve como objetivo verificar os motivos que levam as mulheres a escolher uma academia exclusivamente feminina, em detrimento da mista.
Metodologia
Optou-se, nesse estudo, pela abordagem qualitativa, por se tratar de um nível da realidade que não pode ser quantificado, não requerendo o uso de métodos e técnicas estatísticas. De acordo com Deslandes (1994, citada por PEIXOTO, 2005), a pesquisa qualitativa trabalha com universo de significados, aspirações, crenças, valores, e atitudes que não podem ser reduzidas a operações de variáveis. E ainda, do ponto de vista do procedimento técnico classifica-se este estudo como um levantamento, pois envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.
A amostra foi composta de 50 indivíduos do sexo feminino, com idade entre 15 a 46 anos, que representam todas as praticantes de atividades físicas em uma academia exclusivamente feminina, localizada na cidade de Ubá - Minas Gerais.
A academia selecionada para esse estudo é a única na cidade, que tem como característica atender somente o público feminino. Considerada como de médio porte, ela oferece, às freqüentadoras, musculação e ginástica, sendo esta nas modalidades: Jump, Aero Boxe, Spinning e Power Mix.
Com o objetivo de verificar quais são os motivos que levam as mulheres a freqüentar uma academia exclusivamente feminina, foi elaborado e utilizado, como instrumento de coleta de dados, um questionário semi-estruturado contendo onze questões.
Questionário é definido como um instrumento de investigação apresentado por escrito ás pessoas, composto por questões que têm por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, situações vivenciadas, expectativas, interesses, etc. O questionário semi-estruturado é aquele onde os indivíduos podem expressar suas opiniões através de questões abertas e onde os mesmos escolhem a resposta que melhor representa sua opinião através de questões fechadas (GIL, 1999).
Após a elaboração, passou-se à etapa de validação do questionário, por dois especialistas. Foram, então, feitas modificações por eles sugeridas, sendo assim validado para sua aplicação, o que foi realizado pela própria pesquisadora.
Finalmente, os dados foram analisados e discutidos com base em referenciais teóricos sobre atividades em academias, enfocando especialmente aqueles que abordam o público feminino. Para esta análise foi feito um agrupamento por faixa etária, estabelecendo-se cinco categorias (15 a 20 anos; 21 a 25 anos; 26 a 30 anos; 31 a 40 anos e 41 a 50 anos).
Resultados e discussão
Com a finalidade de melhor visualização dos participantes, a amostra pôde ser caracterizada, a partir dos dados coletados nos questionários, conforme quadro representativo:
Idade |
Número de Participantes |
Tempo que freqüenta esta academia |
Pratica outra atividade |
||||||
Sim |
Não |
||||||||
N |
% |
< de 1 ano |
1 a 2 anos |
2 a 3 anos |
N |
% |
N |
% |
|
15 a 20 anos |
08 |
16% |
07 |
0 |
01 |
1 |
2% |
07 |
14% |
21 a 25 anos |
11 |
22% |
09 |
02 |
0 |
2 |
4% |
09 |
18% |
26 a 30 anos |
12 |
24% |
06 |
02 |
04 |
1 |
2% |
11 |
22% |
31 a 40 anos |
12 |
24% |
06 |
03 |
03 |
0 |
- |
12 |
24% |
41 a 50 anos |
07 |
14% |
03 |
01 |
03 |
0 |
0 |
07 |
14% |
Total |
50 |
100% |
31 |
08 |
11 |
04 |
8% |
46 |
92% |
Quadro I. Caracterização da amostra
Verifica-se que 92% das entrevistadas não praticam atividade física em outro local e, entre aquelas que praticam (8%), as atividades citadas foram: futebol e futsal na faculdade, caminhada de rua e mountain bike na trilha. Assim, percebe-se que nenhumas delas frequenta outra academia, clube, ou salão.
A primeira pergunta objetivou conhecer os motivos que levaram as participantes a freqüentar uma academia, sendo que como resposta, as participantes puderam marcar mais de um item, dentre as opções disponíveis.
Os resultados são apresentados separadamente por faixa etária, possibilitando verificar características próprias de cada grupo. Desses motivos, a saúde, a estética, a melhora da auto-estima e sair do sedentarismo, são as opções mais citadas em todos eles. Na medida em que a idade aumenta, verifica-se maior importância dada à saúde e ao “sair do sedentarismo”, acontecendo o inverso com a estética e a auto-estima, que têm os seus resultados mais altos nos grupos de faixa etária mais baixa.
Gráfico I. Motivos para freqüentar uma academia
Tal fato também é abordado por Marcellino (2003), ao afirmar em seu estudo que saúde e condicionamento físico, estética, relaxamento, fazer amigos e encontrar amigos são os motivos por ordem que levam os alunos a freqüentarem as academias.
Ao analisar os motivos iniciais de adesão de um grupo de adultos, com idade entre 40 e 60 anos, à prática de atividade física, Knijnik e Santos (2006) identificaram também aspectos semelhantes: ordem médica; lazer e qualidade de vida; estética; saúde (ou condicionamento físico). Enfatizaram que apesar da principal adesão destes indivíduos não ser de cunho estético, os mesmos demonstraram certa preocupação com a imagem corporal perante a sociedade. Para eles, vários autores apontam como aspectos comuns às pessoas para o início da prática: conhecimento dos benefícios trazidos à saúde; o prazer da prática; conhecimento da melhora dos aspectos sociais e psicológicos e a melhora estética.
Porém, a “estética” apontada nesse estudo como um dos motivos para freqüentar uma academia, também é citado por Neiva et al. (s.d.) ao afirmarem que as mulheres buscam uma silhueta definida, um corpo perfeito, o que reflete sua vulnerabilidade à influência da cultura da estética em nossa sociedade.
Outros aspectos são considerados por, Caparroz (2008) ao apontar que os sujeitos de sua pesquisa afirmaram que a pratica de atividade física alterou positivamente suas emoções proporcionando melhora no humor, relaxamento, mais disposição, prazer e diminuição da tensão.
Em estudo feito por Balbinotti e Capozzoli (2008) concluiu-se que, quando o motivo é relacionado à saúde, as mulheres aderem nominalmente mais à prática regular de atividade física do que os homens.
Levando em consideração o tempo de prática de atividade física e as modalidades oferecidas, Dreher & Godoy (2003, citados por Pereira, s.d) dizem que as novas exigências do cotidiano moderno passam por uma adequação do corpo em busca de uma boa qualidade de vida. E esta adequação acontece através de atividades físicas desenvolvidas em academias de ginástica e musculação.
Em relação aos motivos que as levaram a optar por “esta academia” (local da pesquisa), na terceira pergunta cada participante também poderia marcar mais de uma opção. De modo geral, as opções mais marcadas, em cada uma das faixas etárias, foram: o fato de ela ser exclusivamente feminina; sua localização (exceto no grupo de 41 a 50 anos, onde a opção não foi escolhida) e seus profissionais. Por outro lado, o que menos motivou a escolha por esta academia, em cada uma das faixas etárias, foi o “preço” (Gráfico II).
Gráfico II. Motivos da escolha por esta academia/por faixa etária
Independentemente da faixa etária, pode-se afirmar que a prioridade na escolha dessa academia, para a maioria de suas freqüentadoras, foi a sua exclusividade no atendimento à clientela feminina (Gráfico III).
Gráfico III. Motivos da escolha por esta academia/geral
Este é um aspecto abordado por Neiva et al. (s.d.) quando afirmam que a jornada dupla de trabalho da mulher reduz o seu tempo livre, fazendo com que as academias femininas se tornem uma oportuna opção por oferecerem programações especiais para suas clientes, onde elas se exercitam em tempo reduzido.
Para verificar os motivos pelos quais as praticantes preferem uma academia feminina, foi pedido, na pergunta cinco, que elas os enumerassem, numa ordem de importância. Assim, considerando como de maior importância somente os três primeiros resultados de cada opção, os principais motivos são: poder usar roupas mais a vontade; não ter a presença de homens; e o tratamento ser diferenciado para mulheres (marcados como primeira opção). Como segundo motivo, os itens mais marcados foram: poder usar roupas mais a vontade; e, com o mesmo número de respostas, o tratamento ser diferenciado para mulheres e o fato de ter mulheres como profissionais. Foram marcados como terceiro motivo, na escala de importância: a higiene; não ter a presença de homens; e o tratamento ser diferenciado para mulheres (Gráfico IV).
Gráfico IV. Preferência por academia feminina
Neiva et al. (s.d.) também chamam atenção para a possibilidade dessas academias representarem espaços para as mulheres que não se vêem dentro de um padrão de corpo belo e saudável, e procuram alternativas para a prática de atividades físicas. Isto porque elas não querem sentir-se incomodadas pelos olhares críticos masculinos nas academias convencionais.
Dentre as atividades oferecidas pela academia, solicitou-se na questão seis, que elas marcassem a(s) modalidade(s) por elas praticada(s). De acordo com as respostas, verificou-se que uma participação quase absoluta nas atividades de musculação, sendo que nas demais modalidades a participação é bastante pulverizada.
Gráfico V. Modalidades praticadas
De acordo com as respostas dadas à pergunta sete, percebeu-se que a presença de um homem durante a prática de atividade física incomodaria a 48% das mulheres pesquisadas, sendo que as demais (52%) disseram não incomodá-las.
A partir das justificativas de seis participantes que disseram não se incomodar com a presença de homens, percebeu-se que, na verdade, elas se preocupam com esta presença. Para melhor entendimento, tais posicionamentos são aqui transcritos, destacando-se as faixas-etárias dessas participantes.
Quadro II. Justificativas apresentadas, por faixa etária, sobre a presença masculina
Faixa etária
Nº de justificativas
Justificativas
15 a 20 anos
2
“Mas se não estiver, melhor, porque acho que a maioria das pessoas que malham aqui preferem esta academia por não ter homens”
“Porque se for um não, se for mais, aí sim”
21 a 25 anos
1
“Se for somente um, não iria incomodar, talvez possa ser um professor”
26 a 30 anos
1
Apenas um homem não, mas se for mais de um sim
31 a 40 anos
2
“Seria um profissional também ou um amigo”
“Mas fico mais a vontade só com mulheres”
Observa-se, desta forma, que apesar de terem respondido que a presença de homens não as incomodaria preferem praticar as atividades só com mulheres.
Entre as participantes que afirmaram se incomodar com essa presença, a grande maioria justificou sua resposta afirmando que “não se sentiriam à vontade, sem liberdade”.
Retomando a fala de Neiva et al.(s.d., p.8) [...] espaços para as mulheres que não se percebem dentro de um padrão de corpo belo e saudável, e procuram alternativas para a prática de atividades físicas. Não querem sentir-se incomodadas com a presença de mulheres mais belas ou olhares críticos masculinos nas academias convencionais.
Levando em consideração o objetivo dessa pesquisa, 31 (62%) das entrevistadas responderam, na pergunta oito, que já freqüentaram uma academia mista e 19 (38%) disseram que não. Para estas, foi solicitado que explicitassem os motivos pelos quais nunca o fizeram. No quadro II estão transcritos os motivos apresentados por elas.
Idade
Número de
Participantes
Motivos
N
%
15 a 20 anos
06
32%
Porque nunca tive oportunidade;
Sem motivos;
É a primeira fez que faço academia;
Pois nunca tive interesse;
Porque não tem nada a ver;
Não se manifestou
21 a 25 anos
04
21%
Por opção e falta de tempo;
Não me sinto a vontade;
Nunca tive coragem nem vontade;
Nunca freqüentei uma academia, é a primeira vez;
Não se manifestou
26 a 30 anos
03
16%
Porque é desconfortável;
Nunca pratiquei atividade física.
Não se manifestou
31 a 40 anos
02
10%
Eu prefiro só para mulheres, você fica mais à vontade e a a localização da academia é perto da minha casa;
Comecei aqui.
41 a 50 anos
04
21%
Só de mulheres a gente fica mais a vontade;
Três delas não se manifestaram
Total
19
100%
Quadro III. Motivos pelos quais não freqüentaram uma academia mista
Observou-se que entre aquelas que nunca freqüentaram academia mista, a maior incidência se deu na faixa etária de 15 a 20 anos. Pelos motivos apresentados por elas, entende-se que justamente pela pouca idade, podem não ter tido oportunidades anteriores. Para as demais faixas etárias, suas colocações serviram para reforçar a preferência das participantes por academias onde não há a presença masculina.
As três últimas perguntas (9, 10 e 11) foram dirigidas apenas às pessoas que já praticaram atividades físicas em academias mistas, sendo nesse estudo, a maioria das participantes (31, correspondendo a 62% das entrevistadas).
Especificando, na pergunta nove, os motivos que as levaram a mudar para a academia feminina, de modo geral e em ordem crescente foram: por ser exclusivamente feminina; higiene; e conforto. O índice de respostas para cada opção apresentada pode ser visto no quadro IV.
Quadro IV. Motivos que as levaram a mudar para a academia feminina
Opções
Número de
respostas
Preço
02
Conforto
05
Tratamento oferecido pelos profissionais
04
Religião
01
Modalidades oferecidas
04
Por ser exclusivamente feminina
13
Higiene
11
Aparelhagem
04
Porque minhas amigas praticam
04
Vontade do meu marido/companheiro
03
Outros
09
Os motivos mencionados, ao marcarem a opção “outros” foram: Gosto dos profissionais (uma participante); localização (por quatro participantes); mudança de cidade (por duas participantes); e as pessoas são legais e ótimos profissionais (uma participante).
Procurando saber, na pergunta 10, quais as modalidades que elas praticavam na academia mista, os resultados foram: musculação (25); jump (01); Power Mix (0); Spinning (01); Aeroboxe (01); e Outras (05: dança, step; natação, axé e Fight Max), conforme Gráfico VI.
Gráfico VI. Modalidades praticadas em academias mistas
Na última pergunta, procurou-se saber se a troca de uma academia mista por uma exclusivamente feminina trouxe alguma mudança com relação à prática de atividade física de cada uma das participantes. Dentre as respostas obtidas, 18 (58%) delas afirmaram que houve mudanças e 13 (42%) disseram que não. Apesar de ter sido solicitada uma justificativa para as respostas dadas, nem todas o fizeram. Dessa forma, encontram-se descritos, no Quadro V, as que foram colocadas.
Justificativas
Sim
Não
Fiquei mais à vontade;
Nós mulheres ficamos mais a vontade;
Passei a praticar mais vezes e ter ânimo vendo outras mulheres bonitas;
Passei a ficar mais a vontade e concentrada no exercício
Porque a personal dá mais atenção;
Por ser localizada perto da minha residência
Tenho mais liberdade.
Porque eu fiquei mais à vontade
Tive maior vontade de praticar os exercícios.
Continuou a mesma coisa;
Pratico exercícios porque gosto;
Porque as duas são boas.
Os exercícios que eu fazia na outra academia, continuo fazendo aqui, pois a que eu freqüentava também era feminina
Faço a mesma prática
Quadro V. Justificativas em relação à mudança para uma academia feminina
Verificou-se que a maioria das mudanças percebidas pelas participantes refere-se ao fato de se sentirem mais à vontade, na academia feminina, em detrimento da mista. Além disso, elas também se sentiram mais motivadas para a prática de atividades físicas. Por outro lado, as participantes que não perceberam mudanças, em sua maioria, referiram-se ao mesmo tipo de atividade praticada nas duas academias, como justificativa.
Concordando com o que foi colocado pelas freqüentadoras da academia feminina, Neiva et al. (s.d.) defendem a idéia de que as atividades praticadas pelas mulheres não devem ser diferentes daquelas praticadas pelos homens, visto que as restrições feitas às mulheres, ao longo da história, baseavam-se tanto na “natureza do sexo” como também em preconceitos e superstições da época, vistos como um problema social. Complementam e enfatizam ainda os autores, que o processo de expansão das academias mistas foi gradativo e que as praticantes femininas foram mais representativas após a década de 1980, coincidindo com a superação da proibição das práticas de lutas e levantamento de peso, entre outras, pelas mulheres. Para eles, a diferenciação básica entre a academia mista e a feminina é que nesta última o método de treinamento tem duração menor (menos tempo na academia) e o ambiente é próprio para as mulheres.
Considerações finais
Num primeiro momento, os dados coletados nesse estudo mostraram que as motivações das mulheres, participantes desta pesquisa, para freqüentar uma academia, estão relacionadas à: saúde, estética, auto-estima e sair do sedentarismo. Percebeu-se que, de acordo com a faixa etária, há uma variação nesses motivos. Assim, com o avançar da idade, elas se preocupam mais com a saúde e o sedentarismo, enquanto as mais jovens visam à estética e uma melhor auto-estima.
Como freqüentadoras que são de uma academia feminina, as participantes, independentemente da faixa etária, afirmaram que essa escolha se pautou na questão de sua exclusividade no atendimento à clientela feminina.
A preferência delas por uma academia exclusivamente feminina está primeiramente relacionada à: poder usar roupas mais a vontade; não ter a presença de homens; e o tratamento ser diferenciado para mulheres. Outros motivos, também percebidos e importantes, foram: o fato de ter mulheres como profissionais; e a higiene. Percebeu-se, ainda, até mesmo no posicionamento daquelas que já freqüentaram uma academia mista anteriormente, que a presença de homens durante a prática de atividade física as incomoda, pois entre mulheres elas se sentem mais à vontade, com maior liberdade, além de mais motivadas.
Finalmente, verificou-se na literatura consultada, um enfoque diferenciado que aponta para uma procura por academias reservadas, com determinações no padrão estético esperado para as mulheres. Como demarcar as diferenças de gênero não tenha sido objetivo nessa pesquisa, vislumbra-se uma possibilidade para novos estudos científicos, aprofundando sua análise nesta perspectiva.
Cabe ainda ressaltar que, apesar de não se justificar mais uma separação entre homens e mulheres por diferenças biológicas ou por papéis sociais que cada um deve desempenhar, em se tratando da prática de atividade física, muitas mulheres preferem espaços exclusivamente femininos.
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ANEXO
QUESTIONÁRIO
Academia:_______________________________________________________
Idade: _____________________
1) Porque você freqüenta uma academia?
( ) para sair do sedentarismo
( ) para ter mais disposição
( ) por prazer
( ) para melhorar o humor
( ) diminuição da tensão
( ) relaxamento
( ) diminuir o estresse
( ) melhorar a auto-estima
( ) estética
( ) saúde
( ) exigência médica
( ) outros ____________________________________
2) Você pratica alguma atividade física em outro local?
( ) não
( ) sim. Qual(is) e onde?______________________________________________
__________________________________________________________________
3) Porque você optou por esta academia?
( ) sua localização
( ) o conforto
( ) o preço
( ) o(s) profissional(ais)
( ) a(s) modalidade(s) oferecida(s)
( ) a aparelhagem
( ) por ser exclusivamente feminina
( ) Indicação de amigos
( ) outro(s).Quais? __________________________________________________
__________________________________________________________________
4) Há quanto tempo você freqüenta esta academia?
( ) Menos de 1 ano
( ) 1 a 2 anos
( ) 2 a 3 anos
( ) 3 a 4 anos
( ) mais de 4 anos
5) Enumere em ordem crescente os motivos de sua preferência por uma academia feminina (começando pelo mais importante):
( ) o tratamento é diferenciado para mulheres
( ) por poder usar roupas mais à vontade, sem constrangimentos
( ) minha religião
( ) por não ter a presença de homens
( ) higiene
( ) por ter orientação de mulheres (profissionais)
( ) porque minha(s) amiga(s) pratica(m)
( ) por vontade do meu marido (companheiro)
( ) outra(s). Enumere-as também:
( ) _________________________
( ) _________________________
( ) _________________________
( ) _________________________
( ) _________________________
6) Qual(is), das modalidades oferecidas, você pratica?
( ) musculação
( ) jump
( ) power Mix
( ) spinning
( ) aeroboxe
7) A presença de um homem durante a prática de sua atividade física te incomodaria?
( ) sim
( ) não
Justifique sua resposta: ____________________________________________________________________________________
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8) Você já freqüentou alguma academia mista?
( ) sim
( ) não. Porque?
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SOMENTE se você respondeu “SIM”, na pergunta anterior, RESPONDA AS PRÓXIMAS:
9) Qual(ais) motivo(s) te levou(aram) a mudar de academia?
( ) preço
( ) conforto
( ) tratamento oferecido pelos profissionais
( ) religião
( ) modalidades oferecidas
( ) por ser exclusivamente feminina
( ) higiene
( ) aparelhagem
( ) porque minha(s) amiga(s) pratica(m)
( ) vontade do meu marido (companheiro)
( ) outro(s). Qual(ais)?
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10) Qual(ais) modalidade(s) você praticava na academia mista?
( ) musculação
( ) jump
( ) power mix
( ) sppining
( ) aeroboxe
( ) outra(s). Qual(is)?
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11) A troca de uma academia mista por uma exclusivamente feminina trouxe alguma mudança em relação à sua prática de atividade física?
( ) sim
( ) não
Justifique:
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digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires,
Abril de 2010 |