A dança no ensino médio: contextualizando o aprendizado El baile en la escuela media: contextualizando lo aprendido Dance in the secondary school: contextualizing learning |
|||
*Licenciada em Educação Física Universidade Nove de Julho, São Paulo **Mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP Docente Universidade Nove de Julho GEPMH - Grupo de Estudos em Pedagogia do Movimento Humano – Uninove GECOM – Membro do Grupo de Estudos sobre Comportamento Motor – Unicid |
Viviane Caldeira Cesar Lombardi Santoso* Alessandro de Freitas** (Brasil) |
|
|
Resumo Houve uma evolução na Dança com o passar dos anos, iniciando com o Ballet Clássico, Jazz, depois outras modalidades, dentre elas a Dança Moderna que busca a expressão mais livre do corpo deixando de ser privilégio de alguns buscando como base os movimentos naturais, propondo um novo olhar para a Dança. Na escola enquanto atividade pedagógica, ensina o aluno a capacidade de se perceber e se posicionar na sociedade, identificando através do movimento seus limites, isso poderá ajudá-lo na construção da personalidade, a entender a importância das regras, o convívio em sociedade, lidar com problemas relacionados à adolescência, o qual muitas vezes herdamos da nossa própria cultura. O objetivo deste estudo é verificar o quanto a dança está presente nas aulas de Educação Física no ensino médio, qual o interesse dos alunos nesse tipo de atividade, se os cursos profissionais de Educação Física possuem embasamento suficiente para realização prática. Foi realizada pesquisa exploratória, destinada a dez professores de Escolas Públicas do Estado de São Paulo, situadas na Zona Leste. Através da análise dos dados verificamos que o conteúdo não foi contemplado para 70% dos professores entrevistados, muitos se formam sem entender plenamente o conteúdo da dança na escola e como esta poderá subsidiar o aprendizado do aluno. Outro dado importante é o preconceito, 80% dos professores alegam que existe e ainda impera na Dança dentro das aulas de Educação Física, podemos destacar como um dos resultados inesperados por conta de toda evolução que tivemos. Unitermos: Dança educacional.Ensino Médio. Aprendizado
Abstract Dance has evolved over the years, starting with Classical Ballet, Jazz, and followed by other genres, like Modern Dance, which seeks a freer expression of the body, no longer remaining a privilege of some people, pursuing natural movements as its basis, and offering a new way to look at Dance. At school, as a pedagogical activity, it teaches the student the ability to perceive himself and take a stand in society, identifying his limits through movement, and so it can help him develop his personality, understand the importance of rules, coexist in society, and deal with issues related to adolescence, which are often inherited from our own culture. The scope of this study is to examine the extent of the presence of Dance within Physical Education classes in Secondary School, the level of interest of the students in such type of activity, and whether professional Physical Education programs are provided with the fundamental resources for its practical implementation. An exploratory research was conducted with ten teachers of Public Schools of the State of São Paulo, located in the Eastern area of the Capital. From the analysis of the data obtained, we found out that the content was not presented to 70% of the teachers interviewed. Many of them graduate without fully understanding the content of Dance in school and how it can contribute to the student's learning. Another important point is the prejudice, since 80% of those teachers assert that it exists and still reigns in Dance within Physical Education classes. It can be noted as one of the unexpected results, on account of our evolutionary stage. Keywords: Educational dance. Secondary School. Learning |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 143 - Abril de 2010 |
1 / 1
Introdução
A dança é utilizada como uma forma de linguagem desde o começo dos tempos, com o passar dos anos foi aperfeiçoada, desenvolveu-se uma técnica que gerou a primeira escola de dança do mundo, inicialmente com o ballet clássico, houve evolução para o jazz, depois outras modalidades. Já foi utilizada na cultuação de deuses no passado, e hoje adquiriu aspecto lúdico onde se fantasia histórias ou se transmite uma mensagem.
A dança pode ser aplicada em qualquer faixa etária, inicialmente com crianças que por vezes é mais fácil de ser aplicada utilizando o lúdico como referencial para o aprendizado, mas a dança pode ser iniciada em qualquer momento da vida, proporcionando a cada momento sensações e benefícios variados.
Este estudo tem como objetivo verificar o quanto a dança está presente nas aulas de Educação Física no ensino médio, qual o interesse dos alunos nesse tipo de atividade, se os cursos profissionais de Educação Física possuem embasamento suficiente para realização prática.
Antigamente vivenciar a prática desde criança eram para poucos, iniciei na dança aos 26 anos sem experiência alguma, tive muitos problemas de equilíbrio, tempo, espaço, entre outros, pois não tive contato com a dança na escola. As aulas de educação física eram um martírio, não possuía afinidade com qualquer jogo com bola, o aquecimento consistia numa corrida de 10 minutos que nunca conseguia acompanhar, era muito desestimulante!
Hoje ainda sinto dificuldades, mas cada ano que se passa, consigo perceber diferenças, isso me estimula a querer aprender mais. Hoje consigo realizar coisas que antes nem sonhava que era capaz, nos estágios observo o quanto uma atividade que hoje aparentemente fácil como o vôlei, quando o professor coloca a rede, a partida não sai do saque, na época em que eu estudava não era diferente, se hoje o é credito tudo à dança.
A dança na escola traz muitos benefícios para o aluno, poderia citar inúmeros, mas focarei alguns, como: ajudar a desenvolver suas habilidades, o que o torna mais sensível a percepção corporal, e num jogo, por exemplo, conseguirá executar os movimentos utilizando músculos e articulações que talvez antes não tivessem consciência de como utilizar.
A dança afeta o humor principalmente dos adolescentes e atua como forma de comunicação. Alunos passam muito tempo sentados em sala de aula, logo problemas posturais são comuns, podemos ajudá-los na prevenção do problema, não que seja nossa responsabilidade, mas se podemos ir além dos benefícios, minimizar problemas, por que não? Afinal somos educadores.
A dança no decorrer da história perdeu seu significado, na escola ela deve ser aplicada em qualquer faixa etária, mas quando se fala de dança é por vezes mais fácil pensarmos em crianças menores, pois adolescentes são mais exigentes e pouco motivados por natureza, esse trabalho visa repensar no significado da dança e como ela pode ajudar nessa transição.
História da Dança
A dança vem sendo uma forma de linguagem desde o começo dos tempos, segundo Oliveira (2001, p.14)
“Uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi a dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por todos os povos, desde o paleolítico superior.”
Desde há muito tempo o homem se apropriou de movimentos e gestos para manifestar suas emoções, entender e ser entendido, sem perceber utilizavam a dança pois, era uma manifestação instintiva do homem.
A dança também era utilizada em qualquer lugar ou momento histórico, transmitiam o estado de espírito dos povos e sua cultura (NANNI, 2003, p.7), ou seja, sempre expressavam situações do “quotidiano” se utilizando da linguagem corporal em momentos como na caça, na pesca, nos funerais, cultuação de deuses do passado, como cortejar uma dama, etc., uma diversidade de manifestações em suas emoções.
As artes deixam de estar a serviço da igreja e tornam-se como símbolo de riqueza e poder para aristocracia (SBORQUIA, 2002). Com o passar dos anos foi aperfeiçoada, desenvolveu-se uma técnica que gerou a primeira escola de dança do mundo, inicialmente com o ballet clássico, sua evolução para o jazz, depois outras modalidades.
Em contraposição enquanto o ballet exprimia representações do “quotidiano” e as emoções apenas nas apresentações, seus movimentos foram codificados e a expressão natural do corpo caiu em desuso, surge uma nova modalidade, a dança moderna que busca a expressão mais livre do corpo deixando de ser privilégio de alguns. Um dos seus precursores foi Laban que vê uma nova perspectiva da dança apropriando-se da exploração da base dos movimentos naturais, uma característica peculiar do ser humano (LABAN, 1978).
Hoje a dança reaparece adquirindo aspecto lúdico onde se fantasia histórias ou se transmite uma mensagem, no “quotidiano” volta a ser percebida e compartilhada.
“... é fundamental para este homem, que partiu de nômade a sedentário, ainda oprimido pelo tempo e espaço, pelas situações cotidianas, vislumbrar-se com uma dança que possa ser democrática, rompendo com a idéia de que a dança “é privilégio de alguns (GARIBA, 2002, p.2).”
O objetivo da Dança na Educação Física
Podemos dizer que a Educação Física e a dança se completam porque ambas possuem como eixo o movimento do corpo e suas teorias se difundem, segundo Edson Claro (1988 p. 67) “... A Dança e a Educação Física se completam... a Educação Física necessita de estratégias de conhecimento do corpo e a Dança das bases teóricas da Educação Física”;
Tanto a Dança como a Educação Física não priorizam o desenvolvimento de habilidades, mas sim fazer o aluno perceber como pode se movimentar de formas diversas, entendendo o significado e o objetivo da atividade proposta para desenvolver autonomia e ainda dividir seus conhecimentos com a sociedade.
A Dança enquanto atividade pedagógica ensina o aluno a capacidade de se perceber e se posicionar na sociedade, identificando através do movimento seus limites, isso poderá ajudá-lo na construção da personalidade, a entender a importância das regras e o convívio em sociedade (NANNI, 2003).
Oliveira (2001) fala sobre movimento consciente. É importante que as pessoas se movimentem tendo consciência de todos os gestos pensando e sentindo o que realizam. É necessário que tenham a sensação de si mesmos, caso contrário, estaremos diante da deseducação física.
Na nossa vida trazemos nossa herança cultural, onde muitas vezes outros decidem o que é melhor para nós, acabamos por acomodar esses conceitos e acreditar verdadeiramente neles. A dança e a Educação Física possuem o mesmo objetivo de promover situações onde o aluno possa refletir como isso o afeta e aos demais colegas, solucionando problemas, fazendo adaptações no decorrer do percurso conforme a necessidade, tomando decisões em grupo sobre possíveis situações escolhendo a melhor solução com criatividade e autonomia (FIAMONCINI, 2003).
Podemos expressar nossos sentimentos também influenciados pela música, que possui papel fundamental para a criatividade e aprendizagem de movimentos, devemos estar em sintonia com ela, e descobrindo seu ritmo. Pois:
“Dançar sem música não libera os estímulos espontâneos e ouvir uma música e não se movimentar é quase impossível, pois as ligações das raízes dos nervos auditivos estão largamente espalhadas pelo nosso corpo e são mais longas que quaisquer outros nervos”. (VERDERI, 2000: 33).”
Os benefícios da Dança na Escola
Sendo a adolescência um período de maiores transformações corporal, psíquico e social, a dança poderá proporcionar benefícios mais significativos nesta fase da vida.
Brikman (1989) defende que o trabalho relacionado à dança, realizado na Educação Física Escolar, deve ser adequado a cada etapa do desenvolvimento humano. Assim, o trabalho será diferenciado conforme a faixa etária de crianças, adolescentes e adultos.
Através da dança os alunos nessa fase principalmente poderão retratar e canalizar o seu humor, transpondo seus sentimentos mais íntimos em forma de expressão corporal, mesmo inconscientemente.
“atividades que favoreçam a sensação de alegria (aspecto lúdico), que a partir daí, ela possa retratar e canalizar o seu humor, seu temperamento, através da liberdade de movimento, livre expressão, e desenvolvimento de outras dimensões contidas no inconsciente (KATZ, 1987: 10).”
Do ponto de vista social, o conhecimento direto da dança permite uma percepção crítica, tanto da dança quanto de suas relações consigo e com o mundo. A dança desenvolve atenção, memória, raciocínio e imaginação, com vantagens no estudo, no trabalho, nas amizades e no lazer. "Entre outros benefícios, a dança proporciona: melhoria nas relações interpessoais, ajuda na saúde mental, redução de ansiedade, stress e sedentarismo (MARQUES, 1997).”
Como Pereira (2001, p.61) afirma:
“... a Dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, pode-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e / com outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos; movimentos livres (...). Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho do / para o aluno com a sua corporeidade por meio dessa atividade.”
Na sala de aula os alunos passam muito tempo sentados, o que pode prejudicar o aprendizado, o não se movimentar pode ser confundido com disciplina (SCARPATTO, 2001).
Um dos problemas do aluno permanecer muito tempo na mesma posição e estar inquieto é a postura, os alunos passam muito tempo na escola, na maior parte do tempo sentados, como somos educadores devemos prevenir o problema não se esquecendo de que o professor é o exemplo do aluno, e ele deve se preocupar em como se comporta, sua postura deve ser modelo (STRAZZACAPPA, 2001). Não estamos falando apenas na postura corporal, mas também na postura ética. A dança pode auxiliar o aluno se perceber nas aulas e prestar mais atenção em si mesmos em momentos fora da aula.
Influências culturais
Podemos encontrar dificuldades para despertar no aluno o interesse em atividades de dança, destacaremos dois aspectos que são diretamente influenciados pela cultura: movimentos que envolvem partes íntimas do corpo e movimentos estipulados pela sociedade com padrões estéticos influenciáveis principalmente na adolescência (ARAÚJO, 1997).
A própria cultura faz distinção de rapazes e garotas, onde o rapaz joga futebol e a garota é excluída, esse senso comum está mudando, e tanto na dança como na Educação Física a vivência é para todos. O preconceito muitas vezes acontece por parte dos rapazes, o bem conhecido machismo ou chauvinismo masculino, como certos tipos de dança geram preconceitos, há a necessidade de mostrar a importância do que o aluno está aprendendo, isso ajudará a quebrar tabus que muitas vezes faz parte da sua herança cultural.
Sendo assim, há uma dicotomia entre cultura e o papel da Educação física, pois se a Educação física é formação de seres humanos e não apenas de homem ou mulher, e o que aprendemos é ampliação do acervo motor utilizando a dança como forma de comunicação (FIAMONCINI, 2003, p.97), por que ainda se ouve dizer que a separação de meninos e meninas na Educação Física sempre foi assim? É necessário um novo olhar para esse conceito.
Segundo GARAUDY apud BÉJART (1980) dançar é tão importante para uma criança quanto falar, contar ou aprender geografia. É fundamental para a criança que nasce dançando, não desaprender essa linguagem pela influência de uma educação repressiva e frustrante.
Influências da mídia
A mídia exerce grande influência principalmente nos adolescentes, podemos observar danças que são demasiadamente sensuais, ou danças mais acrobáticas que envolvem os adolescentes com mais facilidade. Há programas de TV que apresentam danças mais técnicas como, por exemplo, “a dança dos famosos”, que são danças restritas para os mesmos, neste contexto o adolescente cria uma imagem errada da dança de modo geral. O professor pode utilizar das mídias e seus produtos para chegar até o aluno ajudando-o a perceber o que é bom e o que é ruim para acrescentar à sua vivência (ARAÚJO, 1997).
Ainda podemos resgatar na mídia algumas danças, como por exemplo: no comercial da lavadora de roupas podemos comparar com a dança educacional em alguns aspectos, pois os movimentos que expressam são criativos e tem haver com o produto; ou comercial de remédio para dor onde se exploram os movimentos de dança; até mesmo o comercial onde se faz a dança dos canos de PVC.
Muitos adolescentes têm problemas com a imagem do seu corpo, e o aumento do número de jovens que sofrem com transtornos da imagem, como bulimia, anorexia e vigorexia (excesso de exercício), é um reflexo da obsessão com as formas do corpo, por estereótipos estipulados pela sociedade e pela mídia (BETTI, 2005)
Esses valores dessa nova sociedade consideram os outros fora de padrão, a obesidade, sobrepeso e formas mais arredondadas geram afastamento social e problemas psicológicos tais como depressão e angústia. É de suma importância o professor vivenciar para poder entender o que acontece com o aluno, como no caso de uma professora que participou de um exercício onde deveria ser carregada, por um momento hesitou, pois fazia uma imagem errada de si mesma que muitas vezes não corresponde à realidade, depois do exercício ela conseguiu refletir sobre o assunto e se sentiu bem melhor (STRAZZACAPPA, 2001).
A formação dos profissionais da área
A dança pode sofrer preconceito dos próprios professores, que acabam dando outro nome a esta, como: aula de recreação, considerando a “dança um luxo de menor importância no currículo de disciplinas (STRAZZACAPPA, 2001, p. 74).” É necessário ter uma contextualização para trabalhar com a dança e educação física. O ensino universitário na área da dança “não vem sendo capaz de suprir as demandas do mercado, deixando em aberto suas responsabilidades (MARQUES, 1999, p. 54).”
“É certo que a pouca utilização desta atividade em propostas escolares, pode ser um reflexo de sua situação nos cursos de graduação em Educação Física (licenciatura), da visão com que os graduandos têm a respeito da dança e, conseqüentemente do enfoque que a mesma tem recebido, além da falta de licenciatura em cursos superiores de dança (RANGEL 2002, p. 61)”
Os cursos de licenciatura não estão suprindo as necessidades dos futuros professores, quando se conhece qualquer tipo de dança é um pouco difícil assimilar como funciona a dança educativa, e mesmo para os que não conhecem há certa dificuldade para entendê-la.
Segundo Katz (1987, p. 10) diz:
“Durante muito tempo, Dança e Educação Física foram inimigas. Em São Paulo, derrubada das trincheiras coube a Edson Claro, um pioneiro. Vindo da Educação Física, descobriu a Dança e, nessa descoberta, a força educacional de uma aliança entre elas. Como falta cientificidade ao ensino da dança e arte ao da educação física, o método que Edson Claro... pode enriquecer a prática da Dança e também a da Educação Física. Porque o que mais tem feito falta no desenvolvimento dos dois setores é o debate fundamentado. Sem informação não se sai do lugar... Devemos usar essa aliança para promover desde experiências que possibilite o aprimoramento de sua criatividade e interpretatividade.”
Em contraposição, o fato do surgimento de cursos de graduação de Dança que segundo Sborquia (2002), quem deveria lecionar dança na escola seria o licenciado em Dança e não o professor de Educação Física (MILANI, 2007).
Muitos professores esperam receita de bolo para ensinar dança, ela os define como os professores que quando está próximo um evento que são obrigados a preparar com os alunos, preferem copiar fórmulas prontas, ao invés de buscar aprender a trabalhar com o corpo na prática antes de dar aulas, cursos como esse são necessários principalmente para quem não tem afinidade em dança, e quem já o tem é necessário compreender as diferenças existentes na dança educacional (STRAZZACAPPA, 2001)
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Convido o (a) Sr. (Sra) Professor (a) a participar da pesquisa: A Dança no Ensino Médio: Contextualizando o Aprendizado.
A seleção para este trabalho foi aleatória e sua participação não é obrigatória, a qualquer momento você pode desistir de participar ou retirar seu consentimento, sua recusa não trará nenhum prejuízo na sua relação com o pesquisador ou com a instituição , asseguramos que não há riscos relacionado com sua participação.
Os objetivos deste estudo é verificar o quanto a dança está presente nas aulas de Educação Física no ensino médio, qual o interesse dos alunos nesse tipo de atividade e se os cursos profissionais de Educação Física possuem embasamento suficiente para a prática.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em ajudar a verificar na prática o quanto a dança está sendo aplicada, contribuindo com dados para se repensar a dança como instrumento educacional para o ensino médio.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais, asseguramos o sigilo sobre sua participação, os seus dados serão protegidos e não serão divulgados, não haverá identificação assegurando a sua privacidade.
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar do Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
DADOS DO PESQUISADOR PRINCIPAL (ORIENTADOR)
Prof. MS. Alessandro de Freitas
São Paulo, _____ de _______________ de 2009.
________________________________________
Assinatura
Metodologia
Segundo Lakatos (2005), Pesquisa Exploratória é o estudo preliminar realizado com a finalidade de melhor adequar o instrumento de medida à realidade que se pretende conhecer. Uma de suas características refere-se à especificidade das perguntas que desde o começo da pesquisa foi utilizada como única maneira de abordagem.
A pesquisa integra-se ao planejamento da pesquisa principal, sendo de suma importância para mostrar a realidade de forma verdadeira, feito através de perguntas específicas que conferem direção à pesquisa projetando a mente do autor na pesquisa. Há um esforço grande do pesquisador para controlar os efeitos distorcivos de sua subjetividade naquilo que está sendo perguntado, embora não possa ser totalmente controlada o que importa é o grau de controle possível de ser feito.
Amostra
Esta pesquisa exploratória foi destinada a dez professores de Escolas Públicas do Estado de São Paulo, situadas na Zona Leste. A seleção para este trabalho foi aleatória.
Materiais e métodos
Foi elaborado um questionário com dez perguntas relacionadas ao tema, sendo sete questões fechadas, uma questão semi-aberta e duas questões abertas.
Formulário: Dança no Ensino Médio
Trabalho de Conclusão de Curso: A Dança no Ensino Médio: Contextualizando o Aprendizado
Nome da Escola:_____________________________________________________
Endereço:___________________________________________________________
Professor: ( ) Feminino ( ) Masculino
1 - Há quanto tempo você ministra as aulas de Educação Física escolar?
( ) 1 ano ( ) 2 anos ( ) 3 anos ( ) 4 anos ( ) 5 anos ou mais
2 - O conteúdo dança abordado no curso profissional de Educação Física atingiu as expectativas para sua aplicação pratica?
( ) sim ( ) não
3 - Nas suas aulas de educação física o conteúdo dança está inserido para o ensino médio?
( ) sim ( ) não
4 – Em que momento é trabalhado o conceito Dança na Educação Física?
R:____________________________________________________________________________________________________________________________________
5 - Você se sente capacitado para aplicar o conteúdo dança na escola?
( ) sim ( ) não
6 - Quantas aulas por ano você aplicaria esse conteúdo?
( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 10 ou mais.
7 – Você já fez algum curso de dança após sua formação acadêmica em Educação Física?
( ) sim ( ) não
8 – Dê uma nota de 0 a 10 quanto ao interesse dos alunos para esse tipo de atividade:
( ) 1 a 5 ( ) 5 a 10.
9 - Há algum tipo de preconceito da parte dos alunos em relação à dança? Qual?
( ) sim ( ) não
R:_________________________________________________________________
10 – Cite uma atividade aplicada pelo professor onde inclua a dança para o ensino médio.
R:____________________________________________________________________________________________________________________________________
Resultados de Discussão
Foram selecionadas quatro dentre as dez questões para análise.
A questão dois aborda se o conteúdo dança do curso profissional de Educação Física atingiu as expectativas para sua aplicação prática, segue o seguinte resultado:
Gráfico 1. Conteúdo Dança e aplicação prática
Como estudante observei que a dificuldade de entendimento sobre o conteúdo foi geral, e isso fica nítido quando assistimos o resultado final do curso, na Dança durante a Semana da Educação Física. Através dos dados podemos verificar que o conteúdo não foi contemplado para 70% dos professores entrevistados, muitos se formam sem entender plenamente o significado da dança na escola e como esta poderá subsidiar o aprendizado do aluno, outros esperam receita de bolo para aplicação prática esquecendo a parte primordial que é a criatividade e autonomia do aluno (PEREIRA, 2001) com movimentos livres, pois somos humanos e não robôs, para esse desenvolvimento precisamos de estímulos de pessoas capacitadas.
Há uma rivalidade entre Dança e Educação Física (KATZ 1987), mas para as duas áreas faltam fundamentação, nos cursos de Dança não há licenciatura, ou seja, professores capacitados para atuar na escola, e na Educação Física, falta fundamentação da dança enquanto prática havendo a necessidade da procura de cursos extra-curriculares para aprofundamento que nem sempre atenderão as expectativas enquanto dança educacional. Em um dos questionários uma professora reclama sobre a realidade do governo da Rede Pública não fornecer cursos de capacitação para a dança e não obter verba para se especializar.
A questão quatro aborda em que momento é trabalhado o conceito Dança na Educação Física através dos dados:
Gráfico 2. Momento em que a Dança é utilizada
Podemos observar que de dez professores apenas três denominam a dança como atividade de dança, o que não é recomendável (STRAZZACAPPA, 2001), a denominação é fundamental no aprendizado para o aluno entender o que está fazendo, o professor é espelho para os alunos, se há preconceito os alunos o reproduzirão. O fator preocupante é se o professor já não teve uma boa base para aplicação prática, não saberá utilizar a dança em todo seu potencial (RANGEL, 2002).
Datas comemorativas – O sujeito 1 somente aplica a Dança na semana da criança, o sujeito 2 em festividades, ainda vemos que a dança só acontece por obrigação talvez da própria escola em datas comemorativas, que por um lado é favorável pois pelo menos ela é aplicada, e por outro lado, por não ser aplicada como conteúdo perde a especificidade e o aluno não consegue associar o conhecimento.
Atividade de dança – O sujeito 3 iniciou este ano e está seguindo o material apostilado da rede, como não consta a Dança ele não a aplica. Esse material foi proposto com o propósito de que todos aprendam o mesmo conteúdo, mas acabou virando lei, por termos uma vastidão de conteúdos na Educação Física seguir ao pé da letra acaba com a criatividade do professor lecionar. Devemos seguir sim o conteúdo mas nada impede de acrescentar mais conhecimento à vivência do aluno desde que com objetivo, a não ser que a escola imponha essa condição. O sujeito 4 foi muito vago, dizendo que trabalharia Dança sempre que for passada uma atividade sobre o tema. O sujeito 5 tentou passar o conteúdo mas não obteve sucesso, ele respondeu que a dança não estava inserida no conteúdo e confunde a dança com recreação, então voltamos a primeira questão o que é a dança na escola?
Exposição cultural – Sujeito 6 traz uma proposta interessante de exposição cultural, apresentou uma atividade de Dança bem interessante, ele foi um dos poucos que fez curso após a formação.
Conceito de expressão corporal – O sujeito 7 trabalha somente como conceito de expressão corporal e conhecimento de movimentos humanos, a dança somente como conceito perde sua especificidade, os alunos devem experimentar os movimentos, ficou vago que tipo de movimento estamos falando, se for movimentos do “quotidiano” é um bom começo para se entender o que é a dança educacional.
Alongamento e aquecimento - O sujeito 8 trabalha a Dança somente como alongamento e aquecimento, o professor pode se apropriar do conteúdo dança como estratégia para tal, mas se ele aplica somente quatro aulas por ano deste conteúdo não obterá os benefícios da dança educacional, outro problema é que poderia confundir os alunos se a aula se trata de aquecimento ou dança?
Pós aula – O sujeito 9 utiliza a dança como estratégia para aqueles que não querem participar de atividades desportivas, o grande problema é que a dança é para todos, todos devem experimentar independente da faixa etária, uma vez que ele utiliza desta estratégia somente neste momento, os alunos que gostam das atividades desportivas nunca irão participar, e ele não deixa claro que tipo de ensaio eles fazem e se há supervisão da parte do professor.
Ginástica Rítmica – O sujeito 10 se apropria da ginástica rítmica, a Dança e a Ginástica Rítmica tem muito em comum, o ritmo, a coreografia, mas os movimentos são específicos. A GR é uma estratégia assim como a Dança, pelo vasto conteúdo, seria impossível trabalhar ambas, muitos professores fazem essa confusão, o professor pode iniciar aplicando a dança fazendo interdisciplinaridade com a GR desde que isso fique bem claro para o aluno poder entender as diferenças.
A questão nove aborda se há algum tipo de preconceito da parte dos alunos em relação à dança e qual seria? Segue os dados:
Gráfico 3. Preconceito na escola
Gráfico 4. Tipo de preconceito
Podemos observar que a herança cultural de diferenças entre sexos ainda é grande, muitas vezes o aluno não entende mas está reproduzindo os conceitos conservadores de sua família. Em relação a Dança, muitos rapazes não se sentem à vontade com muitos movimentos, principalmente que envolva a libido (sexual), é um tabu que pode ser quebrado pelo professor, depende de como ensina e o que ensina, mostrar o quanto utilizamos a dança no “quotidiano” é um bom começo, e por ser a dança educacional de movimentos mais livres o aluno fica à vontade para se movimentar como se sente melhor, a parte conceitual é favorável para resolução desse problema.
Na questão dez o professor poderia propor uma atividade do conteúdo dança para o ensino médio, essa questão é importante para saber o que o professor compreendeu que é a Dança Educacional.
Gráfico 5. Proposta de atividade relacionada à Dança
Dança com música – O sujeito 3 propõe executar movimentos com membros superiores ao som de uma música, determinando o gênero. O sujeito 9 propõe criar movimentos com pés, mãos e braços, em diferentes ritmos.
Em branco – O sujeito 2 não aplica o conteúdo dança, por isso não pôde me indicar uma atividade.
Não Trabalhou – O sujeito 1 só aplica dança no dia das crianças e o conteúdo dança não está inserido nas aulas de Educação Física escolar.
Espetáculo – O sujeito 4 propõe um festival de Dança dos anos 70, 80 e 90. O sujeito 7 propõe elaboração de espetáculo e eventos previstos no calendário.
Ginástica rítmica – O sujeito 10 propõe a Ginástica Rítmica ou eventos previstos no calendário.
Folclore, danças regionais, festas típicas – O sujeito 8 propõem feira das nações, além do conteúdo dos PCNS.
Atividade recreativa – O Sujeito 5 propõe atividade recreativa (não descreveu a atividade) em grupo ou individual, em círculos, no período do aquecimento ou final da aula.
Dança do espelho – O sujeito 6 propõe que os discentes estejam dispostos lado a lado em frente a outra fileira, a fileira principal executa o movimento e a segunda copia, enquanto as duas fileiras circulam em rodízio.
Podemos perceber a dificuldade do professor em apresentar uma aula que envolva Dança educacional, algumas atividades foram bem interessantes, mas a grande maioria dos professores tiveram dificuldade em descrever a atividade, colocando conceitos como os PCNS ou sendo vagos na resposta.
Voltamos a grande problemática do início que é a formação de profissionais capacitados para atuar na área (RANGEL 2002).
Afinal com quem a escola pode contar como professor atuando na Dança escolar? Na Dança faltam profissionais da área educacional e na Educação Física falta aplicação prática. Quem oferece cursos para professores são os licenciados em Dança, mas se não há licenciados para tal, esses cursos são realmente eficientes?
Outro problema é que a Dança passou a ser obrigatória em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB, Lei nº 9.394), o ensino de arte nas quatro linguagens: música, teatro, dança e artes visuais (GURGEL, 2009), e muitos profissionais já atuantes desde a época não atualizaram seus currículos, como podem se apropriar dos conteúdos sem terem cursado? Simplesmente não aplicam, ou por falta de capacitação por parte do governo, ou por falta de verba, o que resulta em defasagem no aprendizado de seus alunos.
Há também os professores que aplicam estratégias que mais o interessa ou domina, deixando de lado conteúdos importantes para o desenvolvimento do aluno, claro que não conseguiremos aplicar tudo o que aprendemos, e muitas vezes temos que buscar conhecimento de áreas que não dominamos bem, mas estamos falando de conteúdo obrigatório.
Muitas das perguntas levantadas precisam ser estudadas e aprofundadas, provavelmente não se tem resposta para muitas delas, o objetivo desse trabalho é apontar os problemas para que no futuro possam ser solucionados.
Considerações finais
Considerando que a Dança é para todos, em qualquer faixa etária, o estudo realizado para elaboração dessa pesquisa vem embasar o trabalho feito pela pesquisadora que tem como fundamento principal a aplicação prática da Dança no Ensino Médio na Educação Física Escolar.
A pesquisa feita com professores de Educação Física Escolar destaca sua pouca utilização dentro do proposto para a área pela falta de compreensão do que vem a ser dança escolar. Apesar disso, encontramos unanimidade entre eles ao dizer que a Dança deve constar no componente curricular da Educação Física no Ensino Médio.
O primeiro passo a dar é o professor entender o que é a dança na escola, só assim ele poderá montar atividades aplicando seu conteúdo, despertando no aluno a dança que faz parte do nosso “quotidiano”, a qual nos expressamos e somos entendidos, que se perdeu no tempo e faz parte da nossa vida.
Precisamos mostrar uma dança sem preconceitos, onde todos participem, e mesmo com toda influência cultural, o aluno poderá perceber por si o objetivo por trás de cada movimento.
Sabemos que o professor precisa adaptar o conteúdo à realidade do aluno, mas uma das grandes dificuldades é aplicar o conteúdo na prática, o professor precisa entender como funciona a Dança para poder montar atividades que possam atender às necessidades do aluno dentro de sua realidade, e usá-la em conjunto com outras modalidades interdisciplinarmente, o uso da criatividade é fundamental, afinal não estamos querendo alunos críticos e criativos? Pois, o professor também deve usar desses recursos para suas aulas.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, M.V.B. A Dança: Laboratório Multicultural – Relato de Experiência. CORPORIS – Revista da Escola Superior de Educação Física da UPE. a.2 n.2 p.15-21. jan/dez. Pernambuco:1997.
BARBOSA, C. L. de A. Educação Física escolar da alienação à libertação, 3ed. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 93.
BARROS, Ricardo do Rêgo: Imagem Corporal e Atividade Física - Pediatra- Chefentes SBP-AMB/ Especialista em Medicina do Esporte SMDE- AMB e do Serviço de Adolescentes da UFRJ/ Especialista em Pediatria e Medicina de Adolescentes.
BETTI, M., Corpo Cultura, mídias e Educação Física: novas relações no mundo contemporâneo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 79, 2005. http://www.efdeportes.com/efd79/corpo.htm
BRIKMAN, Lola. A Linguagem do Movimento Corporal - 2. ed. São Paulo: Summus, 1989.
CUNHA, M. Aprenda dançando, dance aprendendo. 2ed. Porto Alegre: Luzatto, 1992. p. 11-13.
CLARO, E. Método Dança na educação física, Robe Editorial, 1987.
FIAMONCINI, L., SARAIVA M.C. Dança na escola: A criação e a co-educação em pauta. Editora Unijuí – RS, 2001.
GARAUDY, R. Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
GARIBA, C. M. S. Personal Dance: Uma proposta empreendedora.. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)- Programa de pós graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis - 2002.133f
GOMES, Antônio S. Milani / Uma análise fenomenológica do dançar nos discursos dos formandos em educação física - São Paulo, 2007.
GURGEL T., O corpo dançante - Revista Nova Escola, editora abril, São Paulo, p.48, n.226, outubro 2009
HELENA KATZ – Prefácio do livro Método Dança na educação física, Robe editorial, 1987.
LABAN, R. Domínio do Movimento. São Paulo, Summus,1978.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2001.
MARQUES, I.A Ensino da dança hoje: Textos e contextos. São Paulo: Cortez. 1999, p.54.
NANNI, D. Dança educação, pré-escola á universidade, 2 ed. Rio de Janeiro, Sprint 2003. p. 7-79.
OLIVEIRA, V.M. O que é Educação Física. São Paulo: Brasiliense, 2001.p.14-96.
PEREIRA, S. R. C. et al., Dança na escola: desenvolvendo a emoção e o pensamento - Revista Kinesis, Porto Alegre, n.25, p.60-61, 2001
RANGEL, N. B. C. Dança educação, educação física: proposta de ensino da dança e o universo da educação física - Jundiaí: Fontoura. 2002, p.61.
SBORQUIA, S. P. A dança no contexto da Educação Física: os desencontros entre a formação e a atuação profissional (Dissertação de mestrado) Faculdade de Educação Física. Campinas - Unicamp, 2002.
STRAZZACAPPA, M., A Educação e a Fábrica de Corpos: A Dança na Escola, Cadernos Cedes, ano XXI, n º 53 abril 2001.
VERDERI, E.B. Dança na escola. 2 ed. Srint. Rio de Janeiro - 2000. p. 33.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
revista
digital · Año 15 · N° 143 | Buenos Aires,
Abril de 2010 |