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Introdução

    O nível de atividade física é uma importante variável, pela qual podemos determinar se o indivíduo apresenta um comportamento de risco, para doenças crônicas não transmissíveis, para isto, o nível de atividade física deve ser mensurado, por instrumentos de fidedignidade comprovada, e se possível, que seja um instrumento de baixo custo, tornando-se aplicavél a grandes populações.

    Segundo AINSWORTH et al. (1994)(1) existem métodos diretos e indiretos de aferição da atividade física e do gasto energético. Entre os diretos têm-se para aferição da atividade física: a observação comportamental, os acelerômetros e pedômetros; para o gasto energético: a calorimetria direta e a água duplamente marcada; Entre os indiretos têm-se para aferição da atividade física: os questionários do tipo recordatórios ou diários; para o gasto energético: a calorimetria indireta e a freqüência cardíaca.

    O questionário, quando validado, pode apresentar relativa facilidade pelas suas formas de aplicação, auto-preenchidos ou por meio de entrevistas, apresentando um baixo custo favorecendo então o estudo de grupos populacionais numerosos. O questionário pode ser utilizado de três formas: os diários, que aferem as atividades físicas realizadas num período de tempo ou conforme a realização de cada atividade; os recordatórios, que mensuram por meio da freqüência, duração e tipo da atividade praticada no último dia, semana ou mês; e os históricos quantitativos que proporcionam a determinação do volume das atividades de lazer e ocupacionais pelo período de um ano ou até por toda a vida.

    Segundo Florindo et al (2006) ⁽²⁾, ainda são escassos os instrumentos para avaliação da atividade física em crianças e adolescentes. Os questionários são bons aliados para mensurar o nível de atividade física de crianças e adolescentes, pois fornece, além da quantificação, informações a respeito de comportamento de risco a saúde. Porém, existe certa dificuldade quanto a precisão desta mensuração em escolares no ambiente natural ⁽³⁾.

    O Centro de Controle de Doenças (CDC) desenvolveu o “Youth Risk Behavior Survey System” (YRBSS)⁽⁴⁾, que avalia o comportamento de risco de crianças e adolescentes em vários aspectos, como uso de drogas, ingestão de bebidas alcoólicas, uso de cigarro, acesso a armas de fogo, hábitos alimentares e prática de atividade física.

    O Youth Risk Behavior Survey foi utilizado no Brasil ⁽⁵⁾ com o objetivo de determinar a relação do tempo gasto assistindo TV e a aptidão física de escolares, o nível de atividade física foi determinado pela transformação dos resultados em METs, mas não apresentou valores significativos de reprodutibilidade nas questões sobre a frequência em atividades de intensidade leve (r=0,32), moderada (r=0,55) e vigorosa (r=0,25).

    Outros questionários estão sendo utilizados por pesquisadores brasileiros^{(2, 6-10)}, porém ainda não existe um consenso sobre um instrumento para avaliar o nível de atividade física em crianças.

    Devido a dificuldade em identificar um instrumento para mensurar a atividade física nessa faixa etária, o presente estudo teve como objetivo validar o questionário adaptado de atividade física Youth Risk Behavior Survey (YRBS) para escolares de 9 a 12 anos.

Métodos

    Este estudo fez parte do Projeto Longitudinal de Crescimento e Desenvolvimento de Ilhabela, desenvolvido pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, que desde 1978 vem estudando o desenvolvimento, crescimento e aptidão física nos escolares de uma região de baixo nível sócio econômico⁽¹¹⁾.

    A amostra foi composta por 65 escolares (33 meninos e 32 meninas) com idade média de 10 ±1,1 anos, matriculados na Rede Estadual do município de Ilhabela, durante os anos de 2005 e 2007. Os escolares foram escolhidos por conveniência segundo os critérios de inclusão do estudo, todos receberam informações do estudo previamente ao aceite de participação.

    Os critérios de inclusão foram: ter entre 9 e 12 anos de idade, ter completado a bateria de testes do Projeto Longitudinal de Crescimento e Desenvolvimento de Ilhabela pelo menos uma vez de 2005 a 2007, e ter preenchido o diário relacionado aos dados oriundos do pedômetro.

Questionário Youth Risk Behavior Survey (YRBS)

    O questionário Youth Risk Behavior Survey (YRBS) foi traduzido para o português pelo CELAFISCS, adequando os itens referentes a atividade física à realidade brasileira, porém não foram realizadas todas as etapas que compreendem a adaptação transcultural de um instrumento.

    Este instrumento era composto por 11 perguntas fechadas e abertas, as quais tinham por objetivo quantificar a freqüência de atividades físicas leves, moderadas e vigorosas. Outras questões contemplavam informações sobre os hábitos de atividade física como: a prática, o tipo, a participação em equipes esportivas, a forma de transporte utilizada de casa para escola, o tempo de deslocamento, participação na aula de Educação Física e duração efetiva da participação dos escolares na aula. Também, pode-se determinar o tempo (em horas) por dia assistindo televisão em um dia de semana, final de semana e as horas destinadas a vídeo game ou computadores. Todas as informações contidas no questionário eram referentes aos últimos sete dias precedentes a entrevista.

    O questionário foi aplicado por entrevista, conduzida pelo pesquisador responsável deste estudo em dois momentos diferentes: previamente ao recebimento do pedômetro, teste 1 e imediatamente após a devolução do aparelho teste 2.

Pedômetro

    O pedômetro da marca Digi-Walker SW-200 foi utilizado no estudo de validade, como padrão de referência para mensuração de atividade física. Ele quantifica o número de passos realizados em período determinado ou indeterminado.

    Logo após o preenchimento completo do questionário, o aparelho foi entregue ao escolar,. Que foram orientados a preencher um diário composto de informações sobre as atividades realizadas durante o respectivo dia de uso do aparelhos. O pedômetro foi utilizado na altura da cintura, fixado ao lado direito durante por pelo menos 12 horas por dia, exceto para tomar banho e dormir.

    Como realizado por Tudor-Locker em 2005⁽¹²⁾ foi utilizados dados de três dias, sendo dois dias da semana e um dia no final de semana, coletados com o pedômetro.

Analise dos dados

    O cálculo do nível de atividade física, fazendo uso dos dados do questionário adaptado YRBS, foi conduzido da seguinte forma:

• N de dias/semana x tempo (minutos) = Nível de atividade física semanal

• Tempo (minutos) AM + tempo (minutos) AV = Tempo total (minutos) em AF

• AM – atividade física moderada; AV – atividade física vigorosa e AF – atividade física.

    Utilizou-se como ponto de corte a recomendação de atividade física para crianças e adolescentes, que preconiza o envolvimento regular com atividades físicas de intensidade moderadas a vigorosa por pelo menos 300 minutos por semana ⁽¹³⁾. Diante disto, a amostra foi divida em dois grupos: os que alcançam a recomendação e os que não alcançam a recomendação de atividade física.

    Com o objetivo de estabelecer a reprodutibilidade do questionário, ele foi replicado em 58 escolares (30 meninos e 28 meninas) em dois momentos (teste 1 e teste 2) com intervalo de sete dias. Os valores do teste 1 foram utilizados como medida para correlação com o pedômetro.

    Dos dados coletados com uso do pedometro, houve perda amostral de dezesseis ⁽¹⁶⁾ casos por anotarem incorretamente as informações ou perda do diário de dados oriundos do pedômetro, seis se recusaram em utilizar o pedômetro e um aparelho foi perdido.

Analise estatística

    Para o estudo de validação do questionário utilizou-se a correlação de Spearman Rho para avaliar a associação dos resultados do questionário adaptado YRBS em minutos de atividade física com o número de passos avaliados pelo pedômetro.. O teste “t” de Student para amostras independentes foi utilizado para comparação dos resultados entre os gêneros, A correlação de Spearman Rho foi utilizada para realizar o teste de reprodutibilidade do questionário Youth Risk Behavior Survey (YRBS) e o nível de significância adotado foi de p<0,05. A análise estatística foi conduzida pelo pacote estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 13.0.

Resultados

    As características antropométricas dos escolares estão apresentadas na Tabela 1, não sendo observadas diferenças significativas entre meninos e meninas, em nenhuma das variáveis.

Tabela 1. Padrão das características antropométricas dos escolares, dividido por gênero

    A Tabela 2 apresenta os valores de freqüência (dias/semana) e de duração (minutos/semana) em cada intensidade de atividade física relatada pelos escolares. Observou-se que os escolares realizavam com maior frequência atividades físicas de intensidade leve, seguidas por atividades moderadas e vigorosas, respectivamente. Porém, a mesma tendência não acontence na análise da duração, com os escolares passando mais tempo em atividades leves e vigorosas.

Tabela 2. Frequência (dias/semana), duração (minutos/semana) em atividade física por semana segundo a intensidade e número de passos por dia.

    A Tabela 3 mostra os valores de reprodutibilidade para cada intensidade do nível de atividade física, leve , moderado e vigorosa. Foi possível observar correlação significativa de intensidade leve a moderada para as três intensidades de atividade física avaliadas pelo questionário YRBS com o número de passos pelo pedômetro (leve 0,33; moderado 0,49 e vigoroso 0,32).

Tabela 3. Valores de reprodutibilidade das questões sobre nível de atividade física do Youth Risk Behavior Survey

    Na Tabela 4 estão apresentados os valores de correlação entre a média do número de passos e o tempo em minutos gastos em atividade física durante a semana, em cada intensidade. Foi encontrada uma correlação baixa, porém significativa entre os instrumentos na intensidade vigorosa (0,28). Analizando por gênero, somente as meninas apresentaram valores significativos na intensidade vigorosa (0,57) e a combinação moderada/vigorosa (0,49).

Tabela 4. Correlação entre o nível de atividade física mensurado pelo número de passos com o pedômetro e o total de minutos por semana nos diferentes tipos de intensidade.

    Na tabela 5 é apresentada a porcentagem de escolares que alcançam a recomendação de 300 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa, sendo que 50,8% dos escolares alcançam 300 minutos de atividade física por semana.

Tabela 5. Frequência de escolares que realizam 300 minutos de atividade fisica por semana.

Discussão

    Pesquisador es internacionais vêm desenvolvendo questionários com a intenção de mensurar o nível de atividade física de crianças e adolescentes ^(14-17). No Brasil alguns pesquisadores estão replicando estes questionários estrangeiros, porém sem apresentar valores de validade para população brasileira ⁽⁶⁾.

    Em uma revisão da literatura brasileira realizada por Tassitano et al 2007 ⁽³⁾, apresenta-se diferentes estudos utilizando questionários com objetivo de determinar o nível de atividade física habitual em crianças e adolescentes, e conclui que ainda não existe um consenso sobre um questionário específico para essa finalidade.

    O Centro de Pesquisas Epidemiológicas, da Universidade Federal de Pelotas, desenvolveu um questionário com a classificação igual ao do presente estudo, sendo sedentário as crianças que não alcançavam 300 minutos de atividade física por semana⁽⁷⁾. No entanto, os resultados de validação e reprodutiblidade do estudo ainda não foram publicados.

    Em estudo anterior com questionário YRBS⁽¹⁸⁾, apresentou em crianças com média de idade de 12 anos, um coeficiente de correlação baixo entre o questionário YRBS e o sensor de movimento Actigraph, que variou de 0,19 a 0,23 na intensidade moderada e de 0,23 a 0,26 na intensidade vigorosa. A reprodutibilidade das questões de intensidade moderada e vigorosa obtiveram coeficientes de correlação moderados de 0,51 e 0,46, respectivamente. No presente estudo, encontramos associação do questionário com o pedômetro, na intensidade vigorosa com valor semelhante a do presente estudo (0,28).

    Analisando diversos estudos que usaram questionários em amostras de idades semelhantes as do presente estudo, e com número de avaliados que variou de 30 a 90 escolares ^{(2, 19-21, 22{Florindo, 2006 #9)} verificou-se que os valores de associação de diferentes tipos de instrumentos, como sensores de movimento, frequêncimetro cardíaco, teste de aptidão cardio-respiratória com questionários, variaram de 0,18 a 0,72, semelhantes ao apresentado neste estudo, de 0,28. No entanto, quando analisamos somente a associação com os sensores de movimento, que expressaram os resultados em minutos, os coeficientes variaram de 0,36 e 0,43.

    As dificuldades de mensuração de atividade física nas diferentes fases da vida e, em especial, entre crianças e idosos, foram relatadas em vários estudos^(23-25). São diversos os fatores que podem influenciar a resposta a um questionário, como grau de literalidade, desenvolvimento cognitivo, identificação de tempo, intensidade das atividades físicas e interesse em avaliar seu desempenho físico.

    A utilização de questionário para mensurar o nível de atividade física apresenta algumas limitações pela utilização do método recordatório, porém não existe ainda um instrumento isento de erros ou restrições, sendo que para levantamentos epidemiológicos o custo-benefício dos questionários se mostra mais viável.

    Os resultados obtidos neste estudo mostraram uma certa inconsistência, na medida em que os valores de reprodutibilidade das questões de nível de atividade física foram de intensidade baixa a moderada, sendo que estes valores foram significativos para os meninos, e os valores de correlação com o número de passos significativos para as meninas.

    Tal fato pode ter ocorrido devido ao pequeno número de escolares na amostra ou a não realização de algumas etapas metodológicas, que não foram previstas na elaboração do projeto, como a não realização da tradução semântica do questionário, a escolha de intervalo de uma semana para a realização do teste de reprodutibilidade.

    O presente estudo apresentou um instrumento com valores de reprodutibilidade e validade semelhantes a outros questionários que se propõe avaliar essa população específica. Assim, é preciso cautela no uso deste instrumento em crianças e pré-adolescentes, uma vez que as questões do questionário YRBS apresentaram reprodutibilidade e associação com o pedômetro, de baixa a moderada.

    Seria conveniente realizar uma pesquisa com tradução semântica do instrumento, amostra aleatória e maior quantidade de indivíduos.

Trabalho dos Autores

• Cesar Miguel Momesso dos Santos e Fernanda Cruciani responsáveis pela coleta de dados, levantamento bibliográfico e escrita da pesquisa.

• Timóteo Araújo realizou a análise estatística, descrição dos resultados e seleção das referências.

• Sandra Marcela Mahecha Matsudo revisora da estruturação metodológica, delineamento e escrita da pesquisa.

• Victor Matsudo orientador geral da pesquisa.

Referência

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