Situação atual da dança do ventre: efeitos da globalização | |||
Bolsista de Mestrado do CNPq Graduação em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas Graduação em Licenciatura em Educação Física na UNESP - Campus Rio Claro Mestranda do Departamento de Educação Física da UNESP - Rio Claro |
Sandra Aparecida Queiroz Kussunoki (Brasil) |
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Resumo
O artigo aborda aspectos históricos da dança do ventre, sua origem em
rituais de fertilidade da terra e das mulheres, e suas transformações
no tempo. Relata alguns efeitos da globalização nas apresentações da
dança, nos corpos das dançarinas e no seu significado, tanto nos locais
de origem como no mundo. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010 |
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A dança do ventre tem sua origem em um ritual sagrado relacionado à fertilização da terra e das mulheres, anterior à civilização dos sumérios. Naquela época, as criaturas existentes no mundo eram consideradas filhos da Deusa, e as mulheres dançavam intencionando receber a força da Grande Mãe. Estas danças primitivas foram iniciadas pelos pré-sumérios, na região da Mesopotâmia, aproximadamente há dez mil anos.
Os sumérios chegaram por volta de 3.500 anos a.C. e seus rituais eram liderados por sacerdotisas, que dançavam com movimentos semelhantes aos da dança do ventre. Os locais sagrados eram pontos de reunião, nos quais o nascimento e a morte eram celebrados com dança e outras manifestações. Pela crença das mulheres, a Deusa as protegeria na hora do parto. Freqüentemente o ato de parir custava a vida da mãe, numa época sem tecnologia hospitalar ou medicamentos, como antibióticos. Com confiança na Deusa, as mulheres se preparavam psicologicamente, e pela fé, resistiam melhor à gestação e ao parto. Muito desta preparação concreta e física obtinham pela prática da dança, pois desta forma fortaleciam abdômen e pernas, e treinavam a respiração e movimentos ondulatórios da musculatura do baixo ventre.
Desta época até os dias de hoje, seu caráter se modificou muito. No Egito faraônico, a dança era uma prática das sacerdotisas, nos interiores dos templos e nos eventos oficiais. Após a invasão árabe, passou a ser exibida também na forma de entretenimento para convidados nos palácios. Ao fim do califato em 1258 e com a radicalização do Islamismo, entrou numa época de declínio. Ainda no Egito, por volta do século XVI a dança começou a ser executada em locais de prostituição. Com a sua divulgação e prática mundiais, em todos os países aonde é praticada existe a ocorrência de dança do ventre nestes locais, sem as suas formas técnica e artística
Atualmente, além de fazer parte de uma manifestação cultural local, as mulheres das tribos beduínas do deserto ainda praticam esta dança com a finalidade de se prepararem para o parto. Elas se reúnem em torno da parturiente para realizarem exercícios relativos à dança, para que estes, executados pela parturiente, contribuam na redução das dores e do tempo do parto.
Um dos efeitos negativos da globalização que tem ocorrido, é a repressão à prática desta dança em algumas tribos beduínas, por causa dos aspectos relativos à sensualidade e vulgaridade atribuídos atualmente a essa dança, sobre os quais essas tribos possuem preconceito, por questões culturais e religiosas.
Novos estilos têm surgido, em diversos países, sendo grande a contribuição dos Estados Unidos e Brasil. Fusões de passos de dança árabe com dança flamenca, como nos estilos tribais; na indumentária; coreografias com passos de dança do ventre em outros ritmos musicais, como o rock e samba, utilização de passos de balé clássico e contemporâneo nas apresentações, e até mesmo o uso da sapatilha de ponta. Inovações com profusão de fusões, tanto de estilos da própria dança como nas músicas ou roupas, ou de significados, como as que estão ocorrendo praticamente em todas as manifestações artísticas e culturais da modernidade tardia, no mundo inteiro.
Quanto à forma do corpo, observa-se nas dançarinas atuais uma tendência a apresentarem corpos mais magros, próximos aos do padrão estético atual. A diferença corporal maior é observada nos corpos das dançarinas dos países árabes, pois naquele local, no passado recente, outro padrão estético, de um corpo feminino com mais volume, representava para aquele povo uma mulher mais atraente, e também mais saudável e fértil. Portanto, existiam mais mulheres apresentando-se nestas danças com volume corporal maior, em forma de gorduras localizadas. Esta alteração de modelo de corpos reflete o fenômeno da globalização e os fluxos culturais entre nações, já que com a proliferação dos meios de comunicação eletrônicos as culturas tornaram-se mais expostas a influências exteriores, possibilitando identidades compartilhadas entre indivíduos distantes no espaço e no tempo. Com esta exposição a influências diversas, torna-se difícil manter tradições intactas, podendo ocorrer o fenômeno da homogeneização cultural.
Paralelo a isso, o fascínio pela diferença capitaliza a alteridade, formando os nichos de mercado. A exploração das diferenças locais é uma das formas de obtenção de dividendos dentro da globalização. No entanto, as sociedades que compõem essa alteridade, normalmente por sua etnia, estão abertas às influências ocidentais em suas culturas. Esses locais não são mais fechados e puros, e cada vez é mais evidente que a globalização está surtindo seus efeitos por todo o mundo.
Referencias
González Salvado, V. y Barcala Furelos, R.J. (2004) Danza del vientre: el renacer de un mito. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 78. http://www.efdeportes.com/efd78/danza.htm
Queiroz Kussunoki, S.A. y Aguiar, C.M. (2008) A Dança do Ventre e suas relações com o padrão estético corporal. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 127. http://www.efdeportes.com/efd127/a-danca-do-ventre-e-suas-relacoes-com-o-padrao-estetico-corporal.htm
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digital · Año 14 · N° 142 | Buenos Aires,
Marzo de 2010 |