Reanimação cardiopulmonar: a importância da técnica para o profissional de Educação Física Reanimación cardiopulmonar: la importancia de la técnica para el profesional de Educación Física |
|||
*Oficial do 12º Grupamento de Bombeiros de Bauru Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, SP Laboratório de Qualidade de Vida e Saúde Faculdade Anhanguera de Bauru, Bauru, SP **Laboratório de Mecanofisiologia Faculdade Anhanguera de Bauru, Bauru, SP |
Miguel Ângelo Minozzi* Runer Augusto Marson** runer.marson@unianhanguera.edu.br (Brasil) |
|
|
Resumo Reanimação Cardiopulmonar (RCP) é uma técnica de primeiros socorros para oxigenar e fazer circular o sangue até que seja iniciado o tratamento definitivo no hospital, retardando a morte cerebral. Destaca-se que a morte é a cessação irreversível de todas as funções biológicas e parada cardíaca é a cessação abrupta da função de bombeamento cardíaco, que pode ser reversível, com intervenção rápida, mas que causará a morte em sua ausência. Com a aplicação imediata e correta da técnica de RCP, será possível reverter uma parada cardiorrespiratória. Existem diversas possibilidades de uma pessoa vir a ter uma parada cardíaca, inclusive por esforço físico, principalmente cardiopatas. O professor de educação física deve estar preparado para agir, se esta situação, em especial, acontecer em uma aula. Através de uma revisão de literatura, procurou-se fornecer subsídios técnicos para a interferência com sucesso numa emergência deste tipo. Foi possível concluir que a técnica é simples e de fácil execução, devendo ser ensinada e aprendida pelo público em geral e, principalmente, conscientizando-se que nos casos de parada cardiorrespiratória, na “morte biológica”, o tempo é vital, pois ela pode ser reversível. Unitermos: Reanimação cardiopulmonar. Primeiros socorros. Educação Física |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010 |
1 / 1
Introdução
Imagine a seguinte situação: uma parada cardíaca num aluno, durante uma sessão de ginástica para pessoas da terceira idade, numa academia. Prontamente, o profissional da atividade física treinado para situações como esta, realizará procedimentos corretos e seguros, antes da intervenção médica, visando minimizar a dor, as possibilidades de seqüelas de debilidade e, principalmente, manter a vida, evitando a morte.
Este seria um panorama ideal de uma ação em primeiros socorros. Mas, infelizmente, isto depende, além da boa vontade, da estrutura do local de trabalho, do sistema educacional que o profissional esteve inserido e, do homem, que é provido de sensações e emoções incontroláveis.
Durante o curso de Educação Física, o aluno pode reservar-se ao direito de dizer que não trabalhará com esta ou aquela modalidade esportiva, ou até mesmo não expressar a vontade de trabalhar com escolares, mas em se tratando de primeiros socorros, nos vemos envolvidos em um assunto que servirá para toda a vida, em qualquer lugar ou situação (não se poderá pensar que acidentes somente ocorrerão no trabalho).
Quando retratamos um acidente, imediatamente imaginamos a figura do médico como intervencionista no salvamento de uma vida. Mas, nem sempre (ou quase sempre??) temos a disponibilidade deste profissional no local da ocorrência e, mesmo que a cidade disponha de um serviço de atendimento emergencial, isto demandará um considerável tempo até a chegada no local, o que por menor que seja, poderá representar a duração entre a vida e a morte (em casos muito graves). Então, o que podemos fazer para reverter tal quadro? Ora, se prestarmos os primeiros socorros, logo após o acidente, no local da sua ocorrência, estaremos contribuindo em muito para que a equipe médica tenha chance de lutar e vencer a morte.
Segundo NOVAES e NOVAES (1994), a história dos primeiros socorros remonta de 1859, quando um suíço, que tinha como profissão Administrador de Moinhos, chamado Jean Henry Dumant, teve a oportunidade de observar em Castiglione, na Itália, que os militares feridos dos exércitos de Napoleão III e italiano, morriam por hemorragias e infecções oportunistas, antes da intervenção médica, pois eram muitos e o corpo médico desproporcional. Foi então que reuniu as mulheres da comunidade e mais alguns soldados organizou um "Corpo de Assistência aos Feridos"; assistência essa que era aplicada sem distinção a amigos ou inimigos ("são todos irmãos", nas palavras do benemérito).
Conta a história que Dumant, fez voltar quase que à normalidade a drástica situação de outrora. Quando regressou a Genebra, escreveu extenso relatório, preconizando a criação, de organizações em todos os países, com o objetivo de socorrer os feridos, sem distinção nacionalidade. Dumant, com o apoio de quatro amigos (um militar, um jurista e dois médicos) criou o "Comitê Internacional dos Cinco", conseguindo a adesão de vários países e, em 1863, na Conferência de Genebra, organizou a "Sociedade Internacional Humanitária em Defesa do Ferido de Guerra", hoje denominada "Cruz Vermelha Internacional", que tantos benefícios tem prestado à humanidade.
Finaliza NOVAES e NOVAES (1994) que, em 1870, ao findar a guerra franco-prussiana, Dumant, incentivou a comunidade a que se ensinasse os primeiros socorros a ser aplicados não só no período de guerra, mas aos períodos oriundos de calamidades, catástrofes, etc, instituindo-se, definitivamente, os primeiros socorros.
Um fato que merece reflexão é quanto ao pensamento que deve possuir um socorrista, onde a preocupação principal está no espírito de humanidade. A relevância da preocupação baseia-se no fato que a prestação do socorro, em geral é voluntária, altruísta e a pessoa deve estar imbuída de "humanismo", pois só assim se envolverá com a importância e nobreza de estar participando da tentativa de salvamento de uma vítima ou da diminuição seu sofrimento. ALVES (1978), afirma textualmente que, "só quem salvou uma vida, sabe a sensação de grandiosidade que se apodera de si”.
Para STOECKEL (1979), "é pela prática que se aprende primeiros socorro"! Se falarmos em prática, temos que pensar em simulados de situações de acidentes, que tragam o aprendiz para as proximidades da realidade. É comum testemunharmos comentários de pessoas que já presenciaram um acidente, tomando parte ou não do socorro às vítimas, tais como "eu não posso ver sangue", ou "eu queria ajudar, mas não sabia o que fazer". Quanto mais o aluno vivenciar, mais a situação real lhe parecerá familiar.
Tomando como base os apontamentos de GONÇALVES et al. (1997) e, HOWLEY e FRANKS (2000), notou-se que os assuntos mais importantes, quanto às possíveis ocorrências em casos de acidentes, relacionados diretamente à atividade física são: desobstrução respiratória, reanimação cardiopulmonar, hemorragias, lesões em tecidos moles, lesões músculo - esqueléticas, queimaduras, transporte, entre outros.
A realidade médica mostra que as emergências cardiovasculares possuem proporções endêmicas e, é a principal causa de mortalidade, obrigando, portanto, que medidas preventivas eficientes e eficazes sejam implementadas com urgência (SANTOS et al, 1999).
Mas, enquanto estas medidas não são tomadas, cabe a cada pessoa, individualmente, capacitar-se para enfrentar situações desfavoráveis, seja em casa, no trabalho ou em qualquer outro lugar, podendo oferecer maximização à sobrevida de uma vitima (conhecida ou não) de parada cardio-respiratória.
Constitui lei penal não prestar auxílio a uma pessoa em perigo, pois se abster de fazê-lo é um delito, além de uma falta de solidariedade humana. Desta forma, considera-se também um ato de penalidade a não observância da prevenção de acidentes, nos campos das práticas e na vida profissional como um todo. É neste contexto em que se insere este trabalho.
Com o crescente culto ao corpo, onde as pessoas preocupam - se mais em fazer atividade física na busca de urna satisfação estética, que nem sempre é acompanhada pela saúde, o profissional da atividade física pode deparar-se com indivíduos portadores de fatores de risco coronário (hereditariedade, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, inatividade física, entre outros), propensos a um ataque cardíaco, principalmente se forem mal orientados na quantificação e execução dos exercícios físicos, mas é bom frisar que, como será abordado no trabalho, os programas preventivos e terapêuticos de exercício físico oferecem certa proteção contra a cardiopatia isquêmica (a mais frequente das doenças do coração), devendo, portanto, serem aplicados de maneira metódica e científica«
Além disso, para HOVILEY e FRANKS (2000), a atividade implica em movimento e, com o movimento aumentado, aumenta o risco de lesão. Nos programas de condicionamento físico, a frequência de lesões eleva-se quando a frequência das sessões de exercícios aumenta e, quando a intensidade do exercício é mantida na parte mais alta da faixa de freqüência cardíaca alvo. Afirmam que, o risco de lesão também intensificado pela velocidade aumentada do movimento, pelas mudanças rápidas de direção, em atividades que se concentram em grupos musculares menores; assim como as condições ambientais, tais como calor e frio intensos Continuam, dizendo que a idade, sexo e estrutura do corpo influenciam no risco de lesões. Em geral, pessoas muito jovens e muito velhas são as que se encontram em maior risco e, os indivíduos mais velhos geralmente exigem períodos mais longos para recuperação. Citam que, alguns indivíduos têm condições médicas controladas, que poderiam ser agravadas pelo exercício. Além disso, é importante reconhecer os principais problemas cardiovasculares e respiratórios, casos eles ocorram.
"Os exercícios podem ser agradáveis, podem melhorar sua aparência e fazer você se sentir melhor: tudo o mais, no entanto, não passa de um mito. Eles não tornam as pessoas mais saudáveis e não aumentam sua longevidade. Na realidade, se não ficarmos atentos, podem até nos matar (...) porque boa forma e saúde não são necessariamente a mesma coisa.”, afirma SOLOMON (citado por GONÇALVES et al., 1997). Questões aparentemente fundamentais quando se trata, em situações inesperadas, de prestar primeiros socorros, condição mostrada como frequente para o profissional de educação física e esportes, sobretudo em ambiente escolar. Continua dizendo que, entre essas situações, destacam-se as paradas cardíacas e respiratórias, que exigem a adoção de procedimentos precisos (e imediatos) e, muitas vezes, a vítima necessita ser imobilizada e transportada adequadamente, o que implica a adoção de atitudes técnicas e cuidadosas .
Baseado ainda em GONÇALVES et a!. (1997), evidencia-se que os primeiros socorros não são devidamente explorados na formação acadêmica do profissional de Educação Física, pois ele afirma que com base no conteúdo mínimo estabelecido para o curso superior de Educação Física (Brasil, 1979), a convivência e a interação com a aplicação da sua estrutura curricular em nosso meio, atualmente, vêm revelando, na chamada área biomédica, uma tendência bastante diferenciada. Um conjunto de conhecimentos que geralmente recebe identidade própria pode ser delimitado como constituído por disciplinas de limites claros, como cinesiologia e fisiologia do esforço, em óbvio descompasso com as informações referentes a socorros de urgência, e não raro tratados de forma imprecisa.
Continua afirmando que essas características do aparelho formador de recursos humanos situam - se, no entanto, em completo descompasso com as demandas do sistema utilizador, isto é do mercado de trabalho. Em outras palavras, a atuação profissional do graduado em educação física parece se dar não apenas relacionada ao esporte de elite, mas, sobretudo no âmbito educacional. No fato de lidar fundamentalmente com o corpo e com o grupo faz com que o aluno, ao enfrentar dificuldades e ansiedades em saúde, dirija-se prioritariamente ao professor de Educação Física e não a outro. De igual forma, seus colegas sabem que, de todos os profissionais do ambiente escolar, ele foi o Único que contou com socorros de urgência em sua formação.
É fato notório que devido ao grande número de acidentes que ocorrem, poderemos a qualquer momento estar presente no local onde uma situação de emergência venha a ocorrer. Em particular e, levando em consideração as colocações dos autores acima citados, a atividade física quando deficientemente programada e aplicada, pode resultar em lesões (até matar!!!) e, diretamente o profissional que a conduz é o responsável pela prestação dos primeiros socorros.
Ainda baseado nestes posicionamentos, surge o questionamento sobre a real e séria necessidade da formação e aprimoramento dos profissionais da atividade física em técnicas de primeiros socorros, nos campos teórico e prático, a fim de capacitá-los a solucionar as possíveis (e prováveis) situações emergenciais.
Por lidar com pessoas de todo tipo de idade e cultura, deve o professor prever e prevenir os prováveis acidentes, tomando para si tal responsabilidade. Devido ao grande número de acidentes que ocorrem, poderemos a qualquer momento estar presente em um local onde uma situação de emergência venha a ocorrer. Por isso todas as pessoas devem receber treinamento para saber como prestar socorro às vitimas e, em especial no momento, o profissional de Educação Física. Para HOWLEY e FRANKS (2000), o profissional da atividade física deve estar preparado para lidar com segurança em uma situação de emergência médica, caso isso ocorra, pois certos riscos inerentes estão associados à participação em atividade física. O profissional deve estar atento a estes riscos e tomar providências para controlar os fatores que aumentam o risco de lesões. Para os autores, um planejamento antecipado, treinamento no reconhecimento de lesões e cuidados de emergência, complemento com equipamentos e instalações adequadas, além de aconselhamento na seleção das atividades, ajudam a reduzir a possibilidade de lesão.
Há situações em que o professor de Educação Física poderá ser o único presente, com conhecimento, para socorrer um aluno que teve uma parada cardio-respiratória em qualquer ambiente. Para GONÇALVES et al (1997), alguns princípios básicos não só ajudam muito nos momentos em que se busca dedicar atenção imediata a alguém sob risco eminente (ou atingido por ele), como também permitem evitar a ocorrência de acidentes, Cita que primeiros socorros consistem na atuação imediata prestada a pessoa fisicamente em perigo, a fim de manter suas funções vitais e evitar o agravamento de suas condições até que ela receba assistência mais qualificada. Afirma ainda que, socorros de urgência não se confundem com medicina de urgência. Mas, interessante é quando ele diz que “... prática muito adequada é que se observem princípios gerais com vistas a evitar a ocorrência de acidentes". Esta visão prevencionista é praticada facilmente através de um planejamento bem feito e adequado, reduzindo em muito o risco de lesão, intervenção imediata. Para NOVAES e NOVAES (1994), primeiros socorros é o tratamento aplicado de imediato ao acidentado ou portador de um mal súbito, antes da chegada do médico, GONÇALVES et al. (1997), comenta que a morte súbita é assunto controverso na literatura corrente. Cita que, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1970) elucida que ela pode ocorrer em seis horas, depois de agravo relacionado a doenças cardíacas, ou até mesmo, segundo KULLER et al (1967) atingir até 24 horas. No entanto, esse evento, quando associado ao esporte, geralmente se dá em 30 segundos (PICKERRING, 1979).
É interessante vermos uma definição de primeiros socorros feita especificamente para a área de Educação Física, por MENESES (1983): “...é o tratamento imediato e provisório prestado pelo médico ou pelo técnico, em caos de lesões sofridas durante um treinamento, competição ou prova. Geralmente se presta no local do acidente e, com exceção de certos casos leves, até que se possa por o atleta numa unidade de tratamento especializada, a fim de receber o tratamento definitivo".
Finalizando, GONÇALVES et al. (1997), explica que urgência não significa apenas rapidez e imediatismo, mas, sobretudo competência e clareza quanto ao que deve ser feito. Completando, NOVAES e NOVAES (1994), cita que um. dos fatores mais importantes, se não o mais importante, na eficácia do trabalho do professor de Educação Física é a segurança, para si e para seus alunos, bem como a conscientização de tal fator. Portanto, o professor também poderá ser um difusor não só das técnicas de primeiros socorros, mas também de como evitar acidentes.
Espera-se uma disseminação do processo de ensino da técnica de RCP, visando um aumento na eficiência profissional do professor de Educação Física e sua aplicação com eficácia, se um dia for necessário, pois somente assim uma vítima de parada cardio-respiratória terá chance de sobrevida.
A corrente da sobrevivência
Segundo a Associação Americana de Cardiologia (American Heart Association – AHA), maior organização de voluntários da área de saúde em todo o mundo), em época mais recente, muitos médicos, administradores e pesquisadores têm reconhecido a necessidade de aperfeiçoar o sistema de ACE (Atendimento Cardíaco de Emergência), como um todo para otimizar a sobrevivência do paciente. De acordo com CUMMINS (1997), as comunidades devem identificar os pontos fracos no sistema, implementar modificações ou fortalecê-lo e também otimizar o tratamento para estes pacientes graves.
EISENBERG & MENGERT (2001), diz que, a questão central é verificar se o sistema comunitário de ACE oferece resultados ideais em termos de sobrevivência do paciente. Segue, dizendo que o índice ideal de sobrevivência para parada cardíaca, fora do ambiente hospitalar, é um desafio em todas as comunidades, hoje e no futuro. No entanto, o que é ideal em uma comunidade pode não ser possível em outras. Os primeiros relatórios com tais índices em cidades de tamanho médio forneceram um protótipo do Serviço Médico de Emergência (SME), adotado pela maioria das comunidades. Portanto, para EISENBERG, cada comunidade deve examinar e identificar seus próprios mecanismos, a fim de atingir a meta de excelência nos índices de sobrevivência do paciente.
Para CUMMINS (1999), a sobrevivência à parada cardíaca depende de uma série de intervenções fundamentais. Se uma destas medidas for negligenciada ou atrasada, a sobrevivência não será possível. A expressão “corrente da sobrevivência” é uma metáfora interessante para representar os elementos que compõem o conceito dos sistemas do SME. O conceito destes sistemas resume o que entendemos hoje como a melhor conduta de tratamento para pessoas com morte cardíaca súbita. Os quatro elos desta corrente são: acesso precoce ao sistema SME, RCP precoce, desfibrilação precoce, e atendimento cardíaco avançado precoce.
Pesquisas epidemiológicas e clínicas demonstraram que um SME efetivo, seja ele pré-hospitalar ou hospitalar, depende destes quatro elos interdependentes, segundo CUMMINS (1997).
Ele continua, afirmando que o conceito desta corrente enfatiza alguns princípios importantes:
Se um dos elos for inadequado, os índices de sobrevivência serão baixos. A fragilidade dos componentes do sistema é o maior fator responsável pela variação dos índices de sobrevivência nos últimos 20 anos.
Todos os elos devem ser fortes a fim de garantir a desfibrilação rápida. Infelizmente, intervalos longos entre a chamada e a desfibrilação ocorrem com frequência, e torna-se necessário que os intervalos sejam pequenos a fim de que sejam aumentados os índices de sobrevivência.
Como a corrente tem vários elos, a eficácia de um sistema não pode ser testada pelo exame de um elo individualmente. Ao contrário, o sistema como um todo deve ser testado. O índice sobrevivência na alta do paciente tem sido o “padrão ouro” para avaliar a eficácia do tratamento da parada cardíaca. Cita que, tem havido um progresso considerável, recentemente, no sentido de elaborar procedimentos metodológicos claros para o projeto de estudo, para uma terminologia uniforme e para o relatório de resultados. Tal progresso deverá facilitar pesquisas futuras sobre a RCP e a implementação da corrente para a sobrevivência em cada comunidade.
O primeiro elo: acesso precoce
Segundo CUMMINS (1997), o acesso precoce inclui o ocorrido entre o momento de colapso do paciente e a chegada da equipe de SME. O reconhecimento imediato dos sinais de alerta, tais como dor no peito e dificuldade respiratória, que estimulam o paciente a acionar o número do serviço de emergência médica local antes do colapso, são componentes chave nesta corrente.
O segundo elo: RCP precoce
De acordo com BECKER (1996), a RCP é mais eficiente quando iniciada imediatamente após o colapso da vítima. Diz que, em quase todos os estudos clínicos, a RCP feita por um observador demonstrou exercer um efeito importante para a sobrevivência. A única exceção possível seria quando o intervalo entre chamada e a desfibrilação for extremamente curto. Afirma que, a RCP feita por um voluntário é o melhor tratamento, que um paciente com parada cardíaca pode receber, até chegada de um desfibrilador ou de um serviço de emergência. O treinamento básico em RCP também ensina os cidadãos ter acesso ao sistema de maneira mais eficiente e, reduzindo portanto, o tempo até a desfibrilação. Ele destaca que, a RCP efetuada por um voluntário raramente prejudica a vítima, mesmo quando iniciada de maneira inadequada em pessoas que não estão em parada cardíaca.
O terceiro elo: desfibrilação precoce
COBB et al (1992), afirma que a desfibrilação precoce é o elo da corrente que mais pode aumentar os índices de sobrevivência. Diz que a disponibilidade de desfibriladores externos automáticos (DEA), para um grande número de pessoas treinadas, pode ser a intervenção chave para aumentar as chances de sobrevivência de pacientes com parada cardíaca, fora do ambiente hospitalar. A American Heart Association endossa enfaticamente que cada veículo de atendimento de emergência seja equipado com um desfibrilador e que a equipe seja treinada para usar e operar o aparelho.
A desfibrilação manual exige interpretação por um monitor ou pela leitura da fita. A desfibrilação com desfibriladores automáticos, automáticos-assistidos ou semi-automáticos também é eficaz.
O quarto elo: o SAV imediato
A AHA, considera que o SAV precoce prestado pelos profissionais no local da emergência é outro elo vital para o tratamento da parada cardíaca. O SAV leva o equipamento de suporte à ventilação, estabelece os acessos intravenosos, administra as drogas, controla as arritmias, e estabiliza a vítima para o transporte. Como já foi citado anteriormente, no Brasil são poucas as cidades que dispõe de um serviço de emergência avançado, ou seja, com médicos (no Brasil não existe a figura do paramédico).
Parada respiratória e a insuficiência respiratória
Para BERGERON (1999), parada respiratória significa falta de respiração e, insuficiência respiratória significa que muito embora a respiração ocorra, não é adequada para manter os níveis de oxigênio e de dióxido de carbono no sangue.
Obstrução das vias aéreas
BERGERON continua, dizendo que a causa mais comum para esta obstrução é a oclusão por estruturas das vias aéreas superiores como a língua e a epiglote, uma estrutura com formato de um dedo, localizada perto da parte posterior da garganta. Qualquer condição que leve à inconsciência ou à perda do tônus dos músculos da mandíbula pode levar a língua (ou a epiglote) a cair sobre a parte posterior da garganta e assim obstruir as vias aéreas.
Segundo a CUMMINS (1997), a obstrução das vias aéreas por corpos estranhos foi responsável por 3.805 mortes em 1988 nos Estados Unidos. BERGERON (1999) cita a necessidade de tratamento de emergência adequado para obstrução das vias aéreas por corpo estranho é de vital importância para as medidas de segurança doméstica, em restaurantes, e em outros locais públicos, porém não é o objeto principal desta obra.
Parada respiratória central
Afirma CUMMINS (1997), que o centro respiratório no cérebro deve funcionar para que a respiração ocorra, e estará seriamente comprometido se não houver fluxo de sangue adequado ao cérebro, como no caso de um acidente vascular cerebral (causado pela interrupção do suprimento de sangue a uma área do cérebro), choque, ou parada cardíaca. Poucos segundos após o coração parar de bater, a respiração é interrompida. Na verdade, ele diz, qualquer condição que provoque oxigenação sanguínea inadequada, ainda que com fluxo sanguíneo adequado para o cérebro, pode causar a parada respiratória. Tais quadros incluem overdose de drogas, uso de narcóticos e barbitúricos, trauma crânio-encefálico e doenças ou ferimentos que interfiram na contração normal dos músculos respiratórios.
Doença coronariana ou coronariopatia (DC)
CUMMINS (1999), coloca que a arteriosclerose, também conhecida como “endurecimento das artérias”, inclui uma variedade de condições que causa o espessamento das paredes arteriais e a perda da sua elasticidade. Cita que a aterosclerose é uma forma de arteriosclerose, na qual as camadas internas das paredes arteriais se tornam grossas e irregulares por causa de depósitos de gordura. À medida que estas paredes internas se revestem de camadas destes depósitos, as artérias ficam mais estreitas e o fluxo sanguíneo pelas artérias fica reduzido. Continua, dizendo que a doença arterial coronariana (DAC) caracteriza-se pela presença de aterosclerose nas artérias coronárias.
Manifestações clínicas da Doença Coronariana (DC)
CUMMINS (1999), afirma que pessoas com doença arterial coronariana podem não apresentar sinais da doença (assintomáticas), ou apresentar sinais que sugerem a doença (sintomáticas). Em uma pessoa com DAC, o estreitamento de uma artéria coronária progride com o tempo. Neste período não há um decréscimo significativo do suprimento sanguíneo para o coração capaz de produzir sintomas. Segundo ele, a DC sintomática pode se manifestar como desconforto no peito (angina do peito), ataque cardíaco (infarto do miocárdio), ou morte súbita. Algumas pessoas (especialmente as diabéticas) podem apresentar uma doença coronariana grave ao exame, mas não apresentar sintomas, o que é conhecido como isquemia silenciosa. Estes pacientes apresentam maior probabilidade de óbito ou de ataque cardíaco (em comparação aos que não apresentam isquemia silenciosa).
Angina de peito
CUMMINS (1999), explica que a angina de peito, um sintoma comum da DC, é uma dor ou um desconforto passageiro, resultado da falta de suprimento sanguíneo adequado ao músculo cardíaco. A dor pode estar localizada no centro do peito ou pode ser mais difusa, ou seja, em toda a parte anterior do tórax. Em geral, é descrita como um peso, uma dor que aperta, pressiona, comprime, oprime.
Prossegue, dizendo que a dor pode atingir um dos ombros (em geral o esquerdo) ou os dois, e/ou os braços ou pescoço, mandíbula, costas, ou ainda a porção superior do abdômen (epigástrio). O desconforto, principalmente nos braços, ombros, pescoço, maxilar, costas, ou epigástrio, sem desconforto na parte anterior do peito, também pode ser uma manifestação da angina. E um desconforto recorrente, em geral provocado por qualquer fator que aumente a frequência cardíaca, incluindo exercícios físicos, esforço físico incomum, e estresse emocional ou psicológico. Em geral dura de 2 a 15 minutos. A causa mais frequente da angina é a arterosclerose coronariana. À medida que o estreitamento coronariano aumenta, diminuí a intensidade de esforço físico necessário para a manifestação da angina. A angina é aliviada rapidamente pelo repouso ou pela administração de nitroglicerina. Em caso de DC grave, ou alguns dias ou semanas antes de um ataque cardíaco, a angina pode ocorrer em repouso ou até mesmo acordar alguém do seu sono.
Completa dizendo que, a angina de peito de início recente, a que se agrava (por exemplo, tornando-se mais frequente, durando mais tempo, ou com menor resposta à nitroglicerina ou ao repouso), ou que se manifesta ao repouso é denominada angina instável. Pacientes com esta forma de angina estão sob alto risco de infarto agudo do miocárdio e devem ser hospitalizados imediatamente.
Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)
O mesmo autor, explica que um ataque cardíaco ocorre quando uma área do músculo cardíaco fica sem sangue (oxigênio) por um período prolongado (geralmente mais de 20 a 30 minutos), em geral decorrente de um estreitamento significativo ou da interrupção completa de uma artéria coronária comprometida, provocando a morte das células do músculo cardíaco supridas por esta artéria. Um espasmo em um vaso sanguíneo (espontâneo ou causado por drogas, como a cocaina), também pode provocar um ataque cardíaco. Afirma, ainda que, este ataque, por sua vez, pode causar ritmos elétricos alterados, inclusive a fibrilação ventricular. Coloca que, o sintoma mais comum de um ataque cardíaco é uma forte pressão ou um grande desconforto no peito, persistindo por vários minutos (mais de 15 a 20) e não apresentando alívio imediato ao repouso ou à administração de nitroglicerina. Nas mulheres e nos idosos, no entanto, estes sintomas típicos ocorrem com menor frequência.
Segundo ROBINS (1996), o infarto agudo do miocárdio significa a morte de uma parte do músculo cardíaco decorrente da oxigenaçâo inadequada e é uma outra forma de se referir ao ataque cardíaco. O suprimento inadequado de sangue (oxigenação) pode ser devido a um coágulo na artéria coronária ou ao estreitamento provocado por uma placa aterosclerótica. Cita que, a trombose coronariana é uma outra maneira de se referir ao ataque cardíaco.
Um estudo feito por PHIPPS (2000) sobre a atividade dos pacientes no momento em que o infarto do miocárdio foi desencadeado demonstrou que, 59% estavam em repouso ou dormindo, enquanto 31% estavam fazendo exercício leve a moderado, ou rotineiro. Para RAHE (2000), o estresse emocional e acontecimentos rotineiros que provoquem um impacto pessoal forte (por exemplo, a morte de uma pessoa importante, divórcio, ou perda de emprego) continuam sendo observados com muita frequência antes do infarto do miocárdio e podem estar correlacionados. Conclui que já está comprovado de maneira inequívoca que drogas ilícitas, como a cocaína, causam ataques cardíacos e arritmias ventriculares.
O Emergency Cardiac Life Committe, que faz parte da AHA, cita alguns sinais de alerta do IAM:
Um desconforto no peito é o sinal mais importante de um ataque cardíaco. O desconforto é semelhante à angina em sua localização, características e irradiação; porém, em geral, é mais intenso, dura bem mais e não alivia ao repouso ou à administração de nitroglicerina.
Sudorese, náuseas ou falta de ar.
Uma sensação de fraqueza pode acompanhar o desconforto no peito.
O desconforto pode não ser muito intenso e a pessoa pode apenas ter uma intensa falta de ar.
Pontadas e agulhadas não são, em geral, sinais de ataque cardíaco.
Os sinais podem ocorrer independente do sexo, até em adultos jovens, e a qualquer hora e em qualquer lugar.
Não se deixe enganar pela descrição do paciente que descreve a dor como “aguda”, pois este termo é ambíguo. Alguns pacientes utilizam o termo quando querem dizer “agulhadas” como característica, enquanto que outros usam o termo para se referirem à “intensidade”.
Morte cardíaca súbita (parada cardíaca)
TINTINALLI (1996) diz que a morte súbita ocorre quando o coração ou a respiração é interrompido de maneira abrupta e inesperada. A morte cardíaca súbita, ou parada cardíaca, pode ocorrer como uma manifestação inicial e única da doença coronariana (DC). A morte cardíaca súbita pode ocorrer antes de qualquer outro sintoma, em pessoas com diagnóstico de DC, e especialmente, durante um ataque cardíaco. Em geral ocorre dentro de 1 a 2 horas após o início do ataque cardíaco.
Para DEWOOD (1986), segundos após uma parada cardíaca, a vítima perde a consciência e a respiração é interrompida. Nesta fase inicial, a vítima pode ter uma convulsão. Quanto antes a circulação para o cérebro for restaurada, melhor será a chance de recuperação total da função cerebral. Depois de 4 a 6 minutos da parada cardíaca, em geral ocorrem danos cerebrais significativos.
A doença coronariana é a causa mais comum da parada cardíaca. No entanto, qualquer condição que interfira no suprimento de oxigênio ou de sangue ao coração, ou que cause irritação do músculo cardíaco propriamente dito, pode provocar a parada cardíaca. Estas condições incluem parada respiratória primária, trauma direto ao coração, drogas, ou ainda distúrbios do ritmo cardíaco. Uma vez que o coração não necessita função cerebral normal para continuar batendo, o trauma crânio-encefálico, por si só, não necessariamente leva a parada cardíaca. Em geral, a parada cardíaca é causada pela parada respiratória decorrente de dano cerebral. Uma vez interrompida a respiração, no entanto, o coração pode continuar a bater por vários minutos até que o nível de oxigênio no sangue atinja níveis tão baixos que o coração pára de bater.
Continua, colocando que, em todas as vítimas de morte súbita, a causa direta da parada cardíaca é a fibrilação ventricular (um tremular caótico e descoordenado do músculo cardíaco), que provoca ausência de batimento cardíaco adequado.
Completa, afirmando que em geral, as pessoas ressuscitadas após morte súbita apresentam doença coronariana importante, porém muitas sem evidências de um ataque cardíaco. Na parada cardíaca provocada por fibrilação ventricular, o ritmo anormal raramente pode ser convertido a um batimento cardíaco efetivo sem a desfibriiação elétrica, muito embora a RCP possa manter a perfusão de órgãos vitais por alguns minutos.
O Emergency Cardiac Life Committe (apud CUMMINS, 1997), alerta que se a RCP for iniciada imediatamente e o paciente desfibriiado com sucesso e rapidamente, há uma boa chance de sobrevivência. A desfibrilação precoce é um elo vital na “corrente para a sobrevivência’ e provou ser fundamental para melhores resultados em vitimas de parada cardíaca não hospitalizadas, segundo a AHA. Pode ser realizada por equipe com treinamento mínimo, e com o uso do Desfibrilador Externo Automático (DEA), como já citado anteriormente.
Fatores de risco para DCC
GRUNDY (2000) coloca que, à medida que pesquisadores foram procurando as causas para a “epidemia” de doenças dos vasos sanguíneos, nos Estados Unidos e em muitos outros países, foi encontrada uma associação consistente entre as condições específicas e o comportamento de seu desenvolvimento. À partir desta descoberta de associações, foi desenvolvido o conceito dos “fatores de risco”.
Segundo a American Hearth, hoje sabe-se, com clareza, que o ataque cardíaco ocorre muito mais, frequentemente, em pessoas fumantes e com altos níveis de colesterol, pressão arterial elevada, ou com estilo de vida sedentária. Quanto maior a prevalência destes fatores de risco, maior a probabilidade de um ataque cardíaco (ou de outra doença dos vasos sanguíneos). A AHA, alerta que as pessoas que fumam mais de um maço de cigarros por dia possuem chance maior de ter um ataque cardíaco e morte súbita do que as que não fumam, se, em tudo o mais, forem iguais.
Fatores de risco que não podem ser alterados (“não modificáveis”)
ROBINS (1996) cita alguns fatores de risco que não podem ser modificados ou eliminados, como por exemplo:
Hereditariedade: uma história de doença coronariana prévia em irmãos ou parentes sugere uma maior susceptibilidade derivada de um fator genético.
Sexo: mulheres apresentam incidência menor de aterosclerose coronariana antes da menopausa. No entanto, a incidência aumenta significativamente na mulher após a menopausa, que também apresenta uma evolução clínica pior (quando comparadas aos homens).
Idade: o índice de mortalidade por doenças coronarianas aumenta com a idade. No entanto, aproximadamente uma em quatro mortes ocorre em pessoas abaixo de 65 anos.
Cita MCARDLE que a idade é um fator de risco para DCC, principalmente por causa de sua associação com outros fatores de risco (“os contribuintes”), como hipertensão, lipídios sanguíneos elevados e intolerância à glicose.
Fatores de risco que podem ser mudadas (“modificáveis”)
ROBINS (1996) cita que outros fatores de risco podem ser mudados ou eliminados, como por exemplo:
1. Tabagismo: o índice de ataque cardíaco entre pessoas que não fumam é consideravelmente mais baixo do que entre pessoas que fumam. Para os que deixaram de fumar, o índice de mortalidade diminui progressivamente, atingindo os mesmos níveis de pessoas que nunca fumaram. Diz ROBINS que, está provado que o tabagismo passivo (inalação da fumaça de cigarro ambiental), também, está associado a maior risco de doenças relacionadas ao cigarro. Portanto, todas as pessoas (especialmente aquelas com outros fatores de risco) devem tentar evitar exposição ao tabagismo passivo.
MCARDLE (1998) cita que o tabagismo pode ser um dos melhores prognosticadores de coronariopatia, e o risco está relacionado diretamente ao número de cigarros fumados. A probabilidade de morte por doença cardíaca nos fumantes é quase duas vezes maior que nos não fumantes. Para FOX et al (1992), esse risco de DCC devido ao fumo está associado com mais mortes que a taxa de mortalidade excessiva dos fumantes devida ao câncer de pulmão.
2. Pressão alta: é um fator de risco importante para o acidente vascular cerebral e o ataque cardíaco. FOX et al (1992), cita que a hipertensão arterial em geral não apresenta sintomas específicos, mas pode ser detectada por um exame simples e indolor. Uma pessoa que tem pressão levemente aumentada, em geral, inicia o tratamento com um programa de redução de peso, se estiver acima do peso, e recomendações para restringir o uso de sal (sódio), antes de iniciar qualquer medicação.
3. Níveis altos de colesterol no sangue: muito colesterol pode causar acúmulo nas paredes das artérias e estreitar a passagem do fluxo sanguíneo, provocando ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Um médico pode medir o nível de colesterol no sangue por meio de um teste simples. FOX et al (1992), diz que o organismo recebe o colesterol da dieta e, também produz colesterol. Assim, uma dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol ajuda a baixar os níveis de colesterol no sangue, se este for muito alto. Há também remédios que podem manter os níveis de colesterol dentro da faixa normal.
4. Inatividade física: a falta de exercício ficou claramente estabelecida, como fator de risco para o ataque cardíaco. Quando combinada à comida em excesso, a falta de exercício físico pode causar excesso de peso, o que, por sua vez, torna-se mais um fator contribuinte. Considera FOX et al (1992) que, todas as pessoas devem consultar um médico antes de iniciar um programa de exercícios ou antes de aumentar muito a carga de exercícios, se tiverem mais de 40 anos.
SCHWARTZ et al (1991) afirma que o exercício exerce apenas um efeito pequeno sobre o nível de colesterol. Ainda diz ele que, as intensidades do exercício necessárias para produzir modificações na aptidão cardiovascular não são necessárias para afetar favoravelmente o pertil das lipoproteínas. Completa, dizendo que em geral, os programas padronizados de treinamento de resistência exercem pouco ou nenhum efeito sobre os níveis séricos de triglicerídios, de colesterol ou de lipoproteínas.
Coloca que o excesso de gordura corporal recebeu grande notoriedade como fator de risco para doença coronariana, porém o mais das vezes sua relação é co-dependente de certos fatores, tipo hipertensão, colesterol elevado, diabetes melittus e tabagismo.
A perda de peso e a redução concomitante na gordura corporal, independentemente de ter sido obtida através da dieta ou do exercício, em geral normalizam os níveis de colesterol e de triglicerídios e exercem um efeito benéfico sobre a pressão arterial e o diabetes com início na vida adulta.
O consenso entre as investigações prospectivas mais recentes é que a atividade física regular protege contra a cardiopatia. Conclui, dizendo que o risco relativo de um ataque cardíaco fatal entre os indivíduos sedentários é aproximadamente duas vezes maior que para homens e mulheres mais ativos.
Indícios de DC induzidos pelo exercício
Cita MCARDLE (1998) que vários indícios de DC se tornam evidentes durante o exercício, pois a atividade física cria a maior demanda em relação ao fluxo sanguíneo coronariano.
Afirma que, aproximadamente 30% das manifestações iniciais de DC assumem a forma de dor torácica, denominada angina do peito (angina pectoris). Esta é uma condição temporária, porém dolorosa, indicativa de que o fluxo sanguíneo coronariano (fornecimento de oxigênio) alcançou momentaneamente um nível criticamente baixo.
Essa isquemia miocárdica (que costuma resultar da restrição na circulação coronariana acarretada por aterosclerose) estimula os nervos sensoriais nas paredes das artérias coronárias e no próprio miocárdio. A dor ou desconforto resultante em geral é percebido na região torácica superior, porém com frequência se caracteriza por uma sensação de pressão ou constrição no ombro esquerdo, no pescoço, na mandíbula ou no braço esquerdo.
Muitas pessoas relatam também sensações de “estarem sendo asfixiadas” durante um episódio anginoso. Além da dor, o desempenho cardíaco também é afetado com a angina. Essa função miocárdica deprimida é acompanhada por uma redução no volume de ejeção e no débito cardíaco e, em geral, por uma deterioração na contratilidade do ventrículo esquerdo. Após uns poucos minutos de inatividade, a dor costuma desaparecer, sem qualquer dano permanente ao músculo cardíaco.
O exercício proporciona também uma maneira eficaz de observar os aspectos do ritmo cardíaco. Uma alteração significativa no ritmo cardíaco (arritmia) com o exercício é a ocorrência de contrações ventriculares prematuras ou CVPS. Diz que nessa situação, os ventrículos não são estimulados pela passagem normal da onda de despolarização através do nódulo atrioventricular. Pelo contrário, porções do ventrículo se despolarizam espontaneamente. Essa atividade elétrica desorganizada é evidenciada como um batimento ventricular.
As contrações ventriculares prematuras no exercício em geral prenunciam a presença de doença cardíaca aterosclerótica isquêmica grave, o mais das vezes afetando dois ou mais vasos coronarianos principais. A incidência de morte súbita devida a uma fibrilação ventricular em geral é cerca de 6 a 10 vezes menor nos pacientes cardíacos com CVPS frequentes que naqueles sem essa anormalidade. Com fibrilação, os ventrículos não conseguem contrair-se de uma maneira unificada. Como resultado, o sangue não é bombeado eficientemente e o débito cardíaco sofre uma queda drástica. Se o ritmo ventricular normal não for restabelecido, o resultado será uma morte súbita.
Índices úteis para possível DCC, tais como as respostas da pressão arterial e da frequência cardíaca ao exercício, explicando que, a resposta hipertensiva ocorre durante um teste com exercício progressivo, observando-se um aumento normal e progressivo na pressão sistólica. Acrescenta que para alguns indivíduos, o exercício pode fazer com que a pressão sistólica se eleve bem acima do normal. Essa resposta hipertensiva anormal pode constituir um indício significativo de doença cardiovascular; e, a resposta hipotensiva, que ocorre na usência de elevação na pressão arterial com o exercício, podendo também, refletir uma disfunção cardiovascular.
A resposta da frequência cardíaca um aumento rápido e importante na frequência cardíaca (taquicardia) no início do exercício costuma prenunciar problemas cardíacos; outrossim, as frequências cardíacas do exercício anormalmente baixas (bradicardia) podem refletir uma função anormal do nódulo sinusal do coração.
Teste de esforço
THACKER & BERKELMAN (1988) citam que existem muitos protocolos para o teste de esforço. Em um levantamento nos Estados Unidos, de 1.400 centros que realizam testes com esforço, 71% relataram ter utilizado a esteira rolante, 17% utilizavam a bicicleta ergométrica e apenas 12% realizavam os testes com degraus, Dos testes com esteira rolante, o protocolo de Bruce foi usado em 65,5% e o protocolo elaborado por Balke foi usado em aproximadamente 10%. Para os autores, cada um deles comporta vantagens e desvantagens; por exemplo, o teste de Bruce utiliza um aumento mais brusco na intensidade do exercício entre os estágios. isso significa também que o paciente terá que tolerar o maior nível de exercício.
Para eles, a escolha de um teste de esforço específico deverá basear-se no grupo em particular a ser avaliado para a saúde, idade e estado de aptidão. A duração total do teste deve ser de pelo menos oito minutos e não superior a 15 minutos.
Segundo os mesmos, as bicicletas ergométricas possuem vantagens nítidas para o teste de esforço. Explicam que ao contrário da esteira rolante, na bicicleta ergométrica a produção de potência independe do peso corporal da pessoa e pode ser calculada e regulada facilmente. Concluem, afirmando que a maioria das bicicletas ergométricas é portátil, segura e relativamente barata.
EPSTEIN & MARON (1986), citam que para homens que mostram evidência clínica de cardiopatia, a taxa anual de morte durante um teste de esforço fica entre 2 e 12%. Essa ampla variação na mortalidade esperada se relaciona diretamente ao número e à gravidade de artérias coronárias enfermas. Em geral, se uma pessoa já teve um infarto do miocárdio ou um episódio de angina, o risco de ter outro episódio ou de morrer aumenta para 10 a 30 vezes acima do normal. O elevado risco de morte entre os pacientes com cardiopatia faz surgir algumas dúvidas quanto à validade (conveniência) do teste com esforço em adultos, especialmente nos pacientes que já tiveram infartos do miocárdio ou que demonstraram outros sintomas de cardiopatia ou perfis de risco significativos.
Continuando, afirmam que o valor de um teste de esforço depende de sua capacidade de identificar a existência de cardiopatia. Explicam que existem quatro resultados possíveis de um teste de esforço com exercícios progressivos: positivo-verdadeiro; falso-negativo; negativo-verdadeiro e, falso-negativo.
Admitem, que ocorram resultados falso-negativos com o teste de esforço em 25% dos casos e resultados falso-positivos em 15% dos casos. Os testes tanto falso-negativos quanto falso-positivos podem comportar ramificações dramáticas, especialmente um resultado falso-negativo. Sempre que um teste de esforço indica a presença de cardiopatia, são realizados testes secundários para confirmar o diagnóstico; outrossim, o simples fato do resultado de um teste de esforço ser normal não exclui plenamente a existência de uma cardiopatia. Concluem que o valor preditivo de um teste de esforço anormal é muito maior que o valor preditivo de um teste normal.
MCARDLE (1998) cita que os dados sobre frequência cardíaca e captação de oxigênio (ou intensidade do exercício) obtidos durante o teste de esforço são utilizados para formular a prescrição do exercício. Afirma ele, que se trata de um programa individualizado de exercícios baseado no estado atual de saúde e de aptidão da pessoa, com maior ênfase na intensidade, na frequência, na duração e no tipo de exercício. Finaliza, afirmando que essa abordagem é importante, pois muitas pessoas que começam a exercitar-se não reconhecem suas limitações e podem exercitar-se acima de um nível prudente.
Afirmam que com um programa de exercícios devidamente prescrito e monitorizado, muitos pacientes cardíacos poderão aprimorar com segurança sua capacidade funcional até um grau comparável ao de uma pessoa sadia da mesma idade.
MCARDLE, (1998) cita que os programas de exercícios tanto para prevenção quanto para reabilitação são mais eficazes quando individualizados. Observa-se uma maior adesão aos esquemas com exercícios de intensidade baixa a moderada, que aos programas de atividade física intensa. Conclui que os exercícios prescritos consistem habitualmente em movimentos rítmicos generalizados que induzem uma melhora cardiovascular, como caminhar, trotar, correr, pedalar, nadar.
Considerações finais
O desenvolvimento das técnicas de reanimação é baseado em idéias concebidas, ou acidentalmente descobertas há dezenas de anos e, porque não dizer séculos (a primeira que se conhece está relatada na Bíblia, quando o profeta Elizeu fez respiração boca-a-boca e reanimou o filho da mulher sunamita), mas nenhuma conhecida e aplicada antes da década de 50.
Devido ao grande progresso em reanimação nas últimas décadas, poderemos ter a impressão de que a reanimação cardiopulmonar (RCP) é um método moderno. A revisão da literatura sobre tal assunto, mostra-nos como certas idéias e descobertas em medicina são relegadas ao desconhecido, com prejuízo para a humanidade, sendo redescobertas séculos depois.
Até o ano de 1958, o progresso alcançado no campo da reanimação não trouxe resultados significativos para a sociedade, não por falta de idéias, mas por ausência de comunicação, coordenação de esforços e difusão de conhecimentos existentes. Somente nos últimos 30 anos do século passado os esforços nessa área têm influenciado beneficamente a saúde pública, segundo a American Hearth Association.
A morte súbita por um ataque cardíaco é a emergência clínica mais importante. Tudo indica que muitas vidas podem ser salvas com medidas imediatas, prontas e relativamente fáceis de serem ensinadas e aprendidas.
A primeira “linha de defesa” contra a morte súbita é o leigo que está próximo ao paciente. O preparo baseia-se no treinamento em massa de pessoas por instrutores especializados, difundindo ao máximo a técnica de RCP.
Este trabalho retratou um assunto conhecido, porém pouco divulgado e treinado. A aplicação imediata das técnicas de reanimação é capaz de prevenir a morte e pode ser iniciada sem o uso de equipamento. Um grande número de vidas poderia ser salvo, se suficiente número de pessoas fossem adequadamente treinadas. O conhecimento da técnica de RCP é fundamental não só para os profissionais da área de atividade física, mas para a sociedade como um todo.
Pode-se afirmar que pequenas variações conceituais existem, mas a grande preocupação esta no tempo resposta aplicada na vítima, pois é essencial para que se consiga uma RCP com sucesso.
Normalmente, os cursos de formação de professores de Educação Física têm em seus currículos disciplinas que tratam sobre socorros de urgência, porém, não há obrigatoriedade em se ministrar tais assuntos em todos os cursos, deixando muitos profissionais de aprenderem técnicas que poderiam ensinar futuramente aos seus alunos e, o que é pior, deixa de prestar auxílio, ou o fazem de maneira totalmente equivocada, se necessitar.
O resultado esperado com este trabalho é despertar a consciência dos profissionais que militam na área de atividade física, em particular os professores, sobre a necessidade de conhecer, treinar e divulgar a técnica de RCP. A vida é o maior bem que o ser humano possui e uma das formas de se proteger esse bem é saber prestar socorro de forma correta e no momento certo.
Referências bibliográficas
ALVES, O. J. Noções de primeiros socorros. Rio de Janeiro: Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes,1978.
BECKER L.B. The epidemiology of Sudden death. In: Paradis NA, Halperin HR, Nowak RM (eds.). Cardiac arrest: the science and practice of resuscitation medicine. Baltimore: Williams & Wilkins; 1996.
BERGERON, J. D., BIZJAK, G. Primeiros Socorros. São Paulo: Atheneu, 1999.
COBB LA, Weaver WD, Fahrenbruch CE,et al.Community-based interventions for sudden death.Impact, limitation,and changes.Circulation 1992.
CUMMINS, RO. Suporte avançado de vida em cardiologia (ACLS). Texas: American Heart Association; 1997.
CUMMINS RO. Advanceda Life Support. Amercain Heart Association, 1999.
DEWOOD MA, Stifter WF, Simpson CS, et al. Coronary arteriografic findings soon after non Q wave myocardial infarction. N Engl J Med 1986.
EISENBERG ME & MENGERT TJ. Cardiac resuscitation. N Engl J Med 2001 Apr.
EPSTEIN SE, MARON BJ, ROBERTS WC. Causes of sudden death in competitive athlete. J. Am. Coll. Cardiol.:1986.
FOX et al. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.
FRITZCHE, L. Procedimentos em Situações de Emergência. 2. ed. Recife: Randal Fonseca,1996.
GOLDBERG, S. Descomplicando...Fisiologia. Porto Alegre, RS: ArtMed,1998.
GONÇALVES, A. et al. Saúde Coletiva e Urgência em Educação Física. Campinas, SP: Papirus, 1997.
GUYTON, A. C. Fisiologia Humana. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
HOWLEY, E. T. e FRANKS, B. D. Manual do instrutor de condicionamento físico para a Saúde. Porto Alegre, RS: ArtMed, 2000.
JENKINS, J. L. Manual de Emergências Médicas – Diagnóstico e Tratamento. Rio de Janeiro: MEDSI, 1988.
LANE, J. C. Reanimação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.
MCARDLE, W. D., KATCH, F. I., KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício – Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
MENESES, L. J.S. de. O esporte... suas lesões. Rio de Janeiro: Ediouro, 1983.
NOVAES, J. da S. e NOVAES, G. da S. Manual de Primeiros Socorros para Educação Física. Rio de Janeiro: Sprint, 1994.
OLIVEIRA, M. Fundamentos do Socorro Pré-Hospitalar. 3. ed. Chapecó; Grifos, 1999.
ORTIZ, M. Socorro de Emergência – Guia Prático para Primeiro Atendimento. São Paulo: Atheneu, 1999.
PHIPPS RP. Atheroclerosis: The emerging role of inflammation. Proc Natl Acad Sci 2000.
RAHE, R.H. Recovery from Captivity. Chapter in: G. Fink (Ed) Encyclopedia of Stress, Academic Press, pp 385-388, 2000.
ROBINS, S. et al. Patologia Estrutural e Funcional. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
SANTOS, A R. dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
SANTOS, R. R. et al Manual de Socorro de Emergência. São Paulo: Atheneu, 1999.
SOUZA, R. R. Anatomia para Estudantes de Educação Física. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986.
STOECKEL, W. Socorro de Urgência. Rio de Janeiro: Ediouro, 1979.
THACKER SB & BERKELMAN RL. Public health surveillance in the United States. Epidemiology Reviews:1988 .
TINTINALLI, J. E. et al. Emergências Médicas. 4. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 1996.
ZIN, L. A. Socorros Médicos de Urgência. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
GRUNDY JW, COMES KA, DEROOK FA, et al. Comparison of naïve sixth-grade children with trained professionals in the use of an automated external defibrillator.Circulation.2000.
GRUNDY SR. Discussion. Ann Thorac Surg 1992.
SCHWARTZ R, SHUMAN W, LARSON V, CAIN K, FELLINGHAM G, BEARD J, KAHN S, STRATTO J, CERQUEIRA M, ABRASS I. The effect of intensive endurance exercisetraining on body fat distribution in young and older men. Metabolism, V.40, 1991.
THACKER SB & BERKELMAN RL. Public health surveillance in the United States. Epidemiology Reviews 1988.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 14 · N° 142 | Buenos Aires,
Marzo de 2010 |